Os últimos dias de Loki

Balder estava morto, e os deuses ainda choravam sua perda. Estavam tristes, e chuva cinzenta caía sem parar, e não havia alegria na terra.

Loki, quando retornou de uma de suas viagens a lugares distantes, não estava arrependido.

Era época do festival de outono no salão de Aegir, onde os deuses e elfos estavam reunidos para beber a cerveja recém-fermentada do gigante do mar, feita no caldeirão que Thor trouxera da terra dos gigantes, muito tempo antes.

Loki estava lá. Ele bebeu a cerveja de Aegir além da conta, bebeu além da alegria, do riso e das trapaças, e entrou em uma reflexão sombria. Quando ouviu os deuses elogiarem o criado de Aegir, Fimafeng, pela agilidade e diligência, saltou da mesa, apunhalou Fimafeng e o matou na hora.

Os deuses, horrorizados, levaram Loki do salão para a escuridão lá fora.

O tempo passou. O banquete continuou, embora mais contido.

Houve uma comoção na porta, e, quando os deuses e as deusas se viraram para descobrir o que estava acontecendo, viram que Loki tinha voltado. Ele estava parado na entrada do salão, olhando fixamente para todos com um sorriso sardônico.

— Você não é bem-vindo aqui — disseram os deuses.

Loki os ignorou. Ele foi até onde Odin estava sentado.

— Pai de Todos. Eu e você misturamos nosso sangue há muito, muito tempo, não foi?

Odin assentiu.

— É verdade.

Loki abriu um sorriso ainda maior.

— Você não jurou na época, ó, grande Odin, que só beberia a uma mesa de banquete se Loki, seu irmão de juramento, bebesse com você?

O olho cinza de Odin encarou os olhos verdes de Loki, e foi Odin quem desviou o olhar.

— Que o pai do lobo festeje conosco — anunciou Odin, contra sua vontade, e fez seu filho Vidar se afastar e abrir espaço para que Loki se sentasse ao lado dele na mesa.

Loki sorriu com malícia e prazer. Pediu mais da cerveja de Aegir e bebeu depressa.

Naquela noite, o deus da trapaça insultou todos os deuses, um a um. Disse aos deuses que eram covardes, disse às deusas que eram ingênuas e lascivas. Cada insulto vinha entrelaçado de verdade suficiente para remoer a ferida. Ele os chamou de tolos, lembrou-os de coisas que eles achavam estar esquecidas havia tempo. Escarneceu e zombou, retomou escândalos antigos, e não parava de deixar todos infelizes, até que Thor chegou.

Ele terminou a conversa de maneira bem simples: ameaçou usar Mjölnir para calar a boca maligna de Loki para sempre e mandá-lo a Hel, direto para o salão dos mortos.

Loki, então, deixou o banquete. Mas, antes de sair, cambaleante, virou-se para Aegir:

— Você faz uma boa cerveja — disse ao gigante do mar. — Só que nunca mais haverá outro festival de outono aqui. Chamas consumirão este salão, e o fogo queimará sua pele, arrancando-a da carne. Tudo que você possui lhe será tirado. Isso eu juro.

E saiu andando, deixando os deuses de Asgard, embrenhando-se na escuridão.

II

Na manhã seguinte, Loki estava sóbrio. Ele pensou no que fizera na noite anterior. Não sentiu vergonha, pois a vergonha não fazia parte de seus modos, mas sabia que tinha ido longe demais.

Loki tinha uma casa em uma montanha perto do mar, então decidiu esperar ali até que os deuses tivessem esquecido aquela história. A casa ficava no cume da montanha e tinha quatro portas, uma de cada lado, permitindo que ele visse o perigo se aproximando de qualquer direção.

Durante o dia, Loki se transformava em salmão e se escondia no poço abaixo da cascata de Franang, uma queda d’água alta que despencava pela encosta da montanha. Um riacho conectava o poço a um pequeno rio, e o rio desembocava no mar.

Loki gostava de ter planos e de ter planos reserva. Na forma de salmão, sabia que estava razoavelmente seguro. Os deuses não conseguiam pegar salmões enquanto eles nadavam.

Mas Loki começou a desconfiar de si mesmo e se perguntou: Poderia haver um modo de pegar um peixe nas águas profundas do poço, sob a cachoeira?

Como ele, o ser mais astuto de todos, o criador de planos mais perspicaz, pegaria um salmão?

Loki pegou um novelo de fio de urtiga e começou a tecê-la e dar nós para fazer uma rede de pesca, a primeira já criada. Sim, pensou. Se eu usasse esta rede, poderia pegar um salmão.

Agora vou elaborar outro plano, pensou. O que fazer se os deuses tecerem uma rede como esta?

Ele examinou a rede e pensou: Salmões podem saltar. Podem nadar rio acima e subir cachoeiras. Eu poderia saltar por cima da rede.

Alguma coisa chamou sua atenção. Ele espiou para fora pela primeira porta, depois por outra. Levou um susto: os deuses subiam a encosta da montanha e estavam quase chegando a sua casa.

Loki lançou a rede no fogo e a viu queimar com satisfação. Então entrou na cascata de Franang. Na forma de um salmão prateado, Loki foi levado pela cachoeira e desapareceu nas profundezas do poço fundo na base da montanha.

Os Aesir chegaram à casa. Esperaram junto de cada porta, para impedir a fuga de Loki, caso ele ainda estivesse ali dentro.

Kvásir, o mais sábio dos deuses, entrou pela primeira porta. Já estivera morto, e hidromel fora feito de seu sangue, mas agora estava vivo outra vez. Soube, pelo fogo aceso e pela taça de vinho pela metade ao lado da lareira, que Loki estivera ali momentos antes da chegada dos deuses.

Porém, não havia pista de seu possível paradeiro. Kvásir examinou o céu. Então baixou os olhos para o chão e a lareira.

— Ele foi embora, aquela doninha ardilosa — reclamou Thor, entrando por outra das quatro portas. — Pode ter se transformado em qualquer coisa. Nunca vamos encontrá-lo.

— Não seja precipitado — retrucou Kvásir. — Veja.

— São apenas cinzas — disse Thor.

— Mas note o padrão que formam — insistiu Kvásir.

Ele se abaixou, tocou as cinzas no chão ao lado do fogo, cheirou-as e as levou à boca.

— São as cinzas de uma corda que foi jogada no fogo e queimada. E a corda foi feita com aquele novelo de urtiga ali no canto.

Thor revirou os olhos.

— Duvido muito que as cinzas de uma corda queimada vão nos dizer o paradeiro de Loki.

— Será? Mas veja o padrão, losangos entrelaçados. E os quadrados são perfeitamente regulares.

— Kvásir, você está desperdiçando nosso tempo admirando as formas das cinzas. Isso é tolice. Cada momento que passamos olhando as cinzas é um momento a mais para Loki escapar.

— Talvez você tenha razão, Thor. Mas para fazer quadrados tão regulares na corda seria preciso algo para espaçá-los, como aquele pedaço de madeira no chão a seus pés. E seria preciso amarrar uma extremidade da corda a alguma coisa para tecê-la, como aquela vara que se projeta do chão, bem ali. Aí seria necessário dar nós, torcer e amarrar a corda, de modo que um só pedaço de fio formaria uma… Hum… Eu me pergunto qual nome Loki deu a esta invenção. Vou chamá-la de rede.

— Por que você continua falando essas besteiras? — indagou Thor. — Por que está observando cinzas, galhos e restos de madeira quando poderia estar perseguindo Loki? Kvásir! Enquanto você pensa e fala bobagem, ele está escapando!

— Acho que o melhor uso de uma rede como esta seria para pegar peixes — afirmou Kvásir.

— Não aguento mais você e suas tolices — reclamou Thor, com um suspiro. — Então essa coisa é usada para pegar peixes? Ora, bom para você. Loki devia estar com fome, então deve ter tentado pescar para comer. Loki inventa coisas. É o que ele faz. Ele sempre foi inteligente. Por isso o mantínhamos por perto.

— Você tem razão. Mas pergunte a si mesmo por quê, se fosse Loki, você inventaria algo para pegar peixes e depois jogaria sua criação no fogo quando descobrisse que estávamos chegando.

— Porque… — começou Thor, franzindo a testa e refletindo. Fazia um esforço tão grande que dava para ouvir um trovão distante acima das montanhas. — É…

— Exatamente. Porque você não ia querer que a encontrássemos. E a única razão para não querer isso é para impedir que nós, os deuses de Asgard, fizéssemos uso desta rede para aprisionar você.

Thor assentiu, hesitante.

— Entendo. — Então, depois de um tempo, disse: — É, acho que é isso mesmo. — E, um pouco depois: — Então Loki…

— … está escondido na forma de um peixe no poço de águas profundas ao pé da cachoeira. Sim, exatamente! Eu sabia que você ia chegar lá, Thor.

Thor balançou a cabeça, animado, sem muita certeza de como chegara àquela conclusão vendo cinzas no chão, mas feliz por saber onde Loki estava escondido.

— Vou descer até o poço com meu martelo. E vou… Eu vou…

— Vamos precisar ir até lá com uma rede — interveio Kvásir, o deus sábio.

Kvásir pegou o que restava do fio de urtiga e o pedaço de madeira. Amarrou a extremidade do cordame à vara e começou a enrolar o fio em torno dela, tecendo-o de um lado para o outro e por dentro. Mostrou aos demais deuses o que estava fazendo, e logo todos estavam tecendo e dando nós. Uniu as redes que fizeram umas às outras, até terem uma rede tão grande quanto o poço, então tomaram o caminho até a beira da cascata na base da montanha.

Havia um córrego que saía do poço na parte onde ele transbordava. Esse córrego descia em direção ao mar.

Quando chegaram à base da cascata de Franang, os deuses desenrolaram a rede que tinham feito. Era enorme e pesada, comprida o suficiente para ir de um lado a outro do poço. Foi preciso todos os guerreiros Aesir para segurar uma de suas extremidades, e Thor segurou a outra.

Os deuses começaram passando a rede de um lado do poço, logo embaixo da queda d’água, então foram avançando aos poucos até o outro lado. Não pegaram nada.

— Com certeza tem alguma coisa vivendo aí embaixo — disse Thor. — Eu senti quando a criatura fez força contra a rede. Mas ele nadou mais para o fundo, para dentro da lama, e a rede passou.

Kvásir coçou o queixo, pensativo.

— Sem problema. Precisamos fazer de novo, mas dessa vez vamos botar pesos no fundo da rede, para que nada possa passar por baixo dela.

Os deuses juntaram pedras pesadas com furos e amarraram cada uma à base da rede, como um peso, e entraram no poço outra vez.

Loki ficara satisfeito consigo mesmo na primeira vez que os deuses entraram em seu poço. Simplesmente nadara para baixo, para o fundo lamacento, e se enfiara entre duas pedras chatas para esperar enquanto a rede passava acima dele.

Mas estava preocupado. No escuro e no frio, pensou no que acontecera.

Não podia se transformar em mais nada até sair da água, e, mesmo que o fizesse, os deuses iriam atrás dele. Não: era mais seguro permanecer na forma de salmão. Mas, como salmão, estava cercado. Teria que fazer o que os deuses não estavam esperando. Os deuses esperariam que ele seguisse para o mar aberto, onde estaria em segurança, mesmo que fosse fácil capturá-lo no rio que levava do poço à baía.

Os deuses não esperariam que ele nadasse de volta por onde viera. Queda d’água acima.

Os deuses puxaram a rede pelo fundo do poço.

Estavam atentos ao que acontecia nas profundezas, então foram tomados de surpresa quando um peixe maior que qualquer salmão que já tinham visto saltou por cima da rede com um movimento da cauda e começou a nadar rio acima. O salmão enorme subiu a cachoeira a nado, saltando e desafiando a gravidade como se tivesse sido jogado para o alto.

Kvásir gritou com os Aesir, ordenando que formassem dois grupos, um em cada extremidade da rede.

— Ele não vai ficar muito tempo na cachoeira. Fica exposto demais. Sua única chance é chegar ao mar. Então os dois grupos vão continuar arrastando a rede — instruiu Kvásir, o mais sábio dos deuses. — Enquanto isso, Thor, você vai caminhar pelo meio da água, e, quando Loki tentar outra vez aquele truque de saltar por cima da rede, você o agarra no ar como um urso pegando um salmão. Mas não o deixe escapar. Ele é traiçoeiro.

— Já vi ursos pegarem salmões pulando no ar — disse Thor. — Sou tão forte e tão rápido quanto qualquer urso. Vou conseguir.

Os deuses começaram a arrastar a rede rio acima, na direção do local onde o enorme salmão prateado aguardava pacientemente.

Loki tramava e planejava.

Conforme a rede se aproximava, ele soube que chegara o momento crítico. Tinha que saltar por cima dela como fizera antes, e dessa vez ia correr na direção do mar. Ficou tenso como uma mola prestes a se soltar, então se lançou no ar.

Thor foi rápido. Viu o salmão prateado brilhar ao sol e o agarrou com as mãos enormes, como um urso faminto. Salmões são peixes escorregadios, e Loki era o mais escorregadio dos salmões. Ele se debateu e tentou escapar através dos dedos de Thor, mas o deus apenas apertou com mais força e o segurou bem firme pelo rabo.

Dizem que, desde então, os salmões ficaram com corpos mais estreitos perto da cauda.

Os deuses trouxeram a rede e a envolveram bem em torno do peixe e o carregaram. O salmão começou a se afogar no ar, ávido por água, e então se debateu e se contorceu. Não demorou para eles estarem carregando um Loki ofegante.

— O que vocês estão fazendo? — perguntou ele. — Para onde estão me levando?

Thor simplesmente balançou a cabeça e grunhiu, mas não respondeu. Loki perguntou aos outros deuses, mas nenhum deles lhe disse o que estava acontecendo, e nenhum o olhava nos olhos.

III

Os deuses entraram em uma caverna e, com Loki amarrado entre eles, desceram para as profundezas da terra. Estalactites pendiam do teto, e morcegos agitavam as asas e voavam. Eles desceram mais. Logo o caminho ficou estreito para carregar Loki, então o deixaram caminhar entre eles. Thor ia imediatamente atrás, com a mão no ombro do traidor.

Desceram por muito tempo.

Nas profundezas da caverna havia ferretes no fogo, e três pessoas esperavam por eles. Loki os reconheceu antes mesmo de ver seus rostos, e ficou arrasado.

— Não — pediu. — Não os machuque. Eles não fizeram nada de errado.

— Eles são seus filhos e sua esposa, Loki, forjador de mentiras — explicou Thor.

Havia três grandes pedras chatas naquela caverna. Os Aesir puseram as pedras de lado, e Thor pegou o martelo. Ele abriu um buraco no meio de cada pedra.

— Por favor, soltem nosso pai! — pediu Narvi, o filho mais velho de Loki e Sigyn.

— Ele é nosso pai — interveio Vali, o filho mais novo. — Vocês juraram que não iam matá-lo. Ele é irmão por jura de sangue de Odin, o mais alto dos deuses.

— Nós não vamos matá-lo — disse Kvásir. — Diga-me, Vali, qual a pior coisa que um irmão pode fazer com outro?

— Trair — respondeu Vali, sem hesitar. — Matar seu irmão, como Hod matou Balder. Isso é abominável.

— É verdade que Loki é irmão por jura de sangue dos deuses, e não podemos matá-lo — concordou Kvásir. — Mas não somos ligados a vocês, seus filhos, por nenhum juramento.

Kvásir disse aquelas palavras para Vali. Palavras de mudança, palavras de poder.

Vali perdeu a forma humana, dando lugar a um lobo com espuma manchando o focinho. A inteligência de Vali desaparecia de seus olhos amarelos, sendo substituída por fome, por raiva, por loucura. Ele olhou para os deuses, para Sigyn, que fora sua mãe, e então viu Narvi. Soltou um rosnado baixo e prolongado do fundo da garganta, e os pelos de seu pescoço se eriçaram.

Narvi deu um passo atrás, apenas um passo, e o lobo se lançou sobre ele.

Narvi era corajoso. Ele não gritou, nem mesmo quando o lobo que fora seu irmão o despedaçou, rasgando e abrindo sua garganta e espalhando suas entranhas pelo chão de pedra. O lobo que tinha sido Vali uivou uma vez, um uivo alto e longo saindo de suas mandíbulas encharcadas de sangue. Em seguida saltou por cima da cabeça dos deuses e saiu correndo para a escuridão da caverna. Ele jamais tornaria a ser visto em Asgard, não até o fim de tudo.

Os deuses forçaram Loki a subir nas três pedras enormes. Puseram uma delas sob seus ombros, uma por baixo da cintura e a outra entre os joelhos. Pegaram as tripas esparramadas de Narvi e as enfiaram pelos buracos que tinham feito nas pedras, amarrando bem o pescoço e os ombros de Loki. Envolveram as entranhas de seu filho em torno de sua cintura e seus quadris, amarraram os joelhos e pernas tão firme que ele mal conseguia se mexer. Os deuses transformaram os intestinos do filho assassinado de Loki em correntes tão apertadas e tão fortes que podiam ser feitas de ferro.

Sigyn, esposa de Loki, assistiu ao marido ser amarrado com as entranhas de seu filho e nada disse. Ela chorava em silêncio pela dor do marido, pela morte e desonra dos filhos. Segurava uma tigela, embora ainda não soubesse por quê. Quando os deuses a levaram até ali, disseram a ela para ir à cozinha buscar a maior tigela que encontrasse.

Skadi, filha do falecido gigante Thiazi, esposa de Njord, dos belos pés, entrou na caverna. Ela carregava algo enorme nas mãos, algo que se remexia e contorcia. Ela se debruçou sobre Loki e pôs a criatura acima dele, envolvendo-a nas estalactites que pendiam do teto da caverna, de modo que a cabeça ficou logo acima da do deus da trapaça.

Era uma cobra de olhos frios. A língua movimentava-se com rapidez, as presas gotejavam veneno. A cobra sibilava, e uma gota de veneno pingou de sua boca no rosto de Loki, queimando seus olhos.

Ele gritou, retorcendo-se e debatendo-se de dor. Tentou sair do caminho, tirar a cabeça de baixo do veneno. Mas os grilhões que antes eram as tripas de seu próprio filho o prendiam com firmeza.

Um a um, os deuses deixaram o local, os rostos marcados por uma satisfação terrível. Logo, restou apenas Kvásir. Sigyn olhou para o marido amarrado e para o cadáver estripado do filho assassinado pelo lobo.

— O que você vai fazer comigo? — perguntou ela.

— Nada — respondeu o deus sábio. — Você não está sendo punida. Pode fazer o que quiser.

Então, ele deixou a caverna.

Outra gota do veneno da serpente caiu no rosto de Loki, que gritou e se contorceu, forçando os grilhões. A própria terra se moveu quando ele se debateu.

Sigyn pegou a tigela e foi até o marido. Ela não disse nada — o que poderia dizer? —, mas ficou ao lado da cabeça de Loki, com lágrimas nos olhos, usando a tigela para pegar as gotas de veneno que caíam das presas da cobra.

Tudo isso aconteceu muito tempo atrás, em uma era esquecida, nos dias em que os deuses ainda caminhavam pela terra. Tanto tempo que as montanhas daqueles dias se desgastaram, e os lagos mais profundos se transformaram em terra seca.

Sigyn ainda aguarda ao lado da cabeça de Loki, como fez desde o primeiro dia, olhando fixamente para seu rosto belo e retorcido.

A tigela que ela segura se enche devagar, uma gota de cada vez, mas, com o tempo, fica cheia de veneno até a borda. É só então que Sigyn se afasta de Loki. Ela esvazia a tigela, e, enquanto está longe, o veneno da serpente cai no rosto e nos olhos de Loki. Ele tem convulsões, se agita, se move violentamente, se sacode, se torce e se retorce, a ponto de fazer a terra toda tremer.

Quando isso acontece, nós aqui, em Midgard, chamamos de terremoto.

Dizem que Loki ficará ali, amarrado na escuridão sob a terra, com Sigyn a seu lado, segurando a tigela para coletar o veneno acima de seu rosto e sussurrando que o ama, até a chegada do Ragnarök, que trará o fim dos dias.

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