A morte de Balder

Nada existe que não ame o sol. Ele nos dá calor e vida, derrete a neve e o gelo cruéis do inverno, faz as plantas crescerem e as flores desabrocharem. Ele nos dá as longas tardes de verão, quando a escuridão nunca chega. Ele nos salva dos dias cruéis do auge do inverno, quando a escuridão só é rompida por algumas horas, e o sol é frio e distante, como o olho pálido de um cadáver.

O rosto de Balder brilhava como o sol, e ele era tão bonito e carismático que iluminava qualquer ambiente. Balder era o segundo filho de Odin, amado pelo pai e por todas as coisas. Era o mais sábio, mais doce e mais eloquente de todos os deuses Aesir. Pronunciava seus julgamentos e suas sentenças, e todos se impressionavam com sua sabedoria e justiça. Sua casa, o salão chamado Breidablik, era um lugar de alegria, música e conhecimento.

A esposa de Balder era Nanna, a quem Balder amava — e apenas a ela. O filho deles, Forseti, estava crescendo para ser um juiz tão sábio quanto o pai. Nada havia de errado com a vida ou o mundo de Balder, exceto uma coisa.

Balder tinha pesadelos.

Sonhava com mundos destruídos, com o Sol e a Lua sendo devorados por um lobo. Sonhava com sofrimento e morte sem fim. Sonhava com escuridão, com cárcere. Irmãos matavam irmãos em seus sonhos, e ninguém podia confiar em mais ninguém. Em seus sonhos, uma nova era chegaria ao mundo, uma era de tempestades e assassinatos. Balder acordava desses sonhos aos prantos, mais perturbado que se pode descrever.

Balder procurou os deuses e contou a eles sobre seus pesadelos. Nenhum deles sabia o que dizer, mas também ficaram preocupados — todos, exceto um. (Quando ouviu Balder falar dos sonhos ruins, Loki sorriu.)

Odin decidiu descobrir a causa dos sonhos do filho. Vestiu o manto cinza e o chapéu de abas largas, e, quando perguntavam seu nome, dizia que era Andarilho, filho de Guerreiro. Ninguém sabia as respostas para suas perguntas, mas lhe falaram sobre uma vidente, uma sábia que entendia todos os sonhos. A mulher poderia ajudá-lo, disseram, mas estava morta havia muito.

O túmulo da sábia ficava no fim do mundo. Depois dele, a leste, ficava o domínio dos mortos que não morreram em batalha, governado por Hel, filha de Loki com a gigante Angrboda.

Odin viajou para leste e parou ao chegar ao túmulo.

O Pai de Todos era o mais sábio dos Aesir e, além disso, tinha dado um olho em troca de mais sabedoria.

Ele parou junto à sepultura, no fim do mundo, e, bem ali, invocou as runas mais sombrias e clamou poderes antigos, há muito esquecidos. Queimou coisas e disse coisas, fez encantamentos e exigências. Um vento tempestuoso açoitou seu rosto — até que o vento morreu, e uma mulher surgiu diante dele, do outro lado da fogueira, com o rosto envolto em sombras.

— Foi uma jornada difícil, voltar da terra dos mortos — disse a mulher. — Estou enterrada há muito tempo. Chuva e neve caíram sobre mim. Não o conheço, homem que me invocou. Como o chamam?

— Me chamam de Andarilho — respondeu Odin. — Meu pai era Guerreiro. Conte-me notícias de Hel.

A sábia morta o encarou.

— Balder está vindo para nós — revelou ela. — Estamos fermentando hidromel para ele. Haverá desespero no mundo dos vivos, mas, no mundo dos mortos, haverá apenas alegria.

Odin perguntou quem mataria Balder, e a resposta o deixou chocado. Perguntou, então, quem vingaria a morte de Balder, e a resposta o deixou intrigado. Perguntou quem choraria por Balder, e a sábia o encarou, do outro lado do próprio túmulo, como se o visse pela primeira vez.

— Você não é Andarilho. — Seus olhos mortos piscaram, sua expressão mudou. — Você é Odin, que sacrificou a si mesmo, muito tempo atrás.

— E você não é nenhuma sábia. Você é aquela que, em vida, foi Angrboda, amante de Loki, mãe de Hel, de Jörmungund, a serpente de Midgard, e do lobo Fenrir — retrucou Odin.

A gigante morta sorriu.

— Vá para casa, pequeno Odin. Fuja, fuja de volta para seu salão. Ninguém virá me ver até que meu amado, Loki, escape de seus grilhões e retorne para mim, até chegar o Ragnarök, o fim dos deuses, que destruirá a todos.

Então havia apenas sombras naquele lugar.

Odin partiu com o coração pesado e muito em que pensar. Nem os deuses podem mudar o destino, e se ele quisesse salvar Balder teria que fazê-lo com astúcia — e precisaria de ajuda.

Outra coisa que a gigante morta dissera o perturbara.

Por que ela falou sobre Loki escapar de seus grilhões?, perguntou-se Odin. Loki não está preso. Então pensou: Pelo menos, ainda não.

II

Odin guardou o que descobriu para si, mas contou a Frigga, sua esposa, mãe dos deuses, que os sonhos de Balder eram verdadeiros, e que havia quem desejasse o mal de seu filho favorito.

Frigga refletiu. Prática como sempre, ela respondeu:

— Não acredito. Não vou acreditar. Não há nada que despreze o sol, o calor e a vida que ele traz à terra, e, portanto, não há nada que odeie meu filho Balder, o Belo.

E saiu para garantir que assim fosse.

Frigga caminhou pela terra, exigindo que todas as coisas que encontrava jurassem nunca fazer mal a Balder, o Belo. Falou com o fogo, que prometeu que não o queimaria; a água jurou nunca afogá-lo; o ferro nem qualquer um dos metais iria cortá-lo. Pedras prometeram jamais machucar sua pele. Frigga falou com árvores, animais e aves e todas as coisas que rastejam, voam e andam sobre quatro patas, e toda criatura prometeu que sua espécie jamais feriria Balder. As árvores concordaram, cada uma falando por sua espécie — carvalho e freixo, pinheiro e faia, bétula e abeto —, que sua madeira jamais seria usada para ferir Balder. Frigga conjurou doenças e conversou com elas, e todas as doenças e enfermidades que podiam ferir ou machucar concordaram em nunca tocar seu filho.

Nada parecia insignificante demais para Frigga, exceto o visco, uma trepadeira que vive em outras árvores. Parecia pequena demais, jovem demais, insignificante demais, e ela o ignorou.

E, quando todos tinham jurado não ferir seu filho, Frigga voltou para Asgard.

— Balder está seguro — contou aos Aesir. — Nada pode feri-lo.

Todos duvidaram, até mesmo Balder. Frigga pegou uma pedra e a atirou na direção do filho. A pedra desviou.

Balder riu, alegre, e foi como se o sol tivesse nascido. Os deuses sorriram. E então, um a um, atiraram suas armas em Balder, e todos ficaram atônitos e impressionados. Espadas não o tocavam, lanças não perfuravam seu corpo.

Todos os deuses ficaram felizes e aliviados. Havia apenas dois rostos em Asgard que não radiavam alegria.

Loki não sorria nem ria. Ele observou enquanto os deuses atacavam Balder com machados e espadas, deixavam cair rochas enormes sobre ele, ou tentavam acertá-lo com grandes porretes nodosos de madeira — e todos riam quando os porretes, espadas, rochas e machados evitavam Balder ou o tocavam com leveza. Loki ficou pensativo e desapareceu nas sombras.

O outro era o irmão de Balder, Hod, que era cego.

— O que está acontecendo? — perguntava o cego. — Alguém, por favor, pode me contar?

Mas ninguém falava com ele. Hod ouvia felicidade e alegria e queria fazer parte daquilo.

— Você deve estar muito orgulhosa de seu filho — comentou uma mulher simpática para Frigga. A deusa não a reconheceu, mas a mulher abria um enorme sorriso quando olhava para Balder, e Frigga estava realmente orgulhosa do filho. Todos o amavam, afinal. — Mas não vão acabar machucando o coitadinho? Jogando coisas nele desse jeito? Se eu fosse a mãe dele, temeria por meu filho.

— Nada vai machucá-lo — respondeu Frigga. — Nenhuma arma pode ferir Balder. Nenhuma doença. Nenhuma rocha. Nenhuma árvore. Fiz todas as coisas que existem e que podem feri-lo jurarem.

— Isso é ótimo — respondeu a mulher simpática. — Fico feliz. Mas tem certeza de que não esqueceu nada?

— Nada — respondeu Frigga. — Todas as árvores. A única a que não me dei ao trabalho de pedir foi o visco, uma trepadeira que cresce nos carvalhos a oeste de Valhala. Mas é jovem e pequena demais para causar qualquer estrago. Não há como fazer um porrete de visco.

— Ora, ora — comentou a mulher simpática. — Visco, é? Bem, para falar a verdade, eu também não teria me preocupado com isso. É uma erva muito frágil.

A mulher simpática estava começando a lembrar alguém, mas antes que Frigga pudesse pensar em quem, Tyr ergueu uma rocha enorme com a mão esquerda boa, levantou-a bem acima da cabeça e a jogou no peito de Balder. A rocha virou pó antes mesmo de tocar o deus reluzente.

Quando Frigga se virou para voltar à conversa, a mulher simpática já tinha ido embora, e Frigga não pensou mais nela. Pelo menos, por ora.

Loki, em sua própria forma, viajou para oeste de Valhala. Parou perto de um grande carvalho. Aqui e ali pendiam touceiras de folhas de visco e bagas brancas pálidas, parecendo ainda mais insignificantes quando vistas ao lado da grandiosidade do carvalho. Cresciam direto da casca da árvore. Loki examinou as bagas, os caules e as folhas. Pensou em envenenar Balder com as bagas do visco, mas isso seria simples e óbvio demais.

Se fosse fazer mal a Balder, ia ferir o maior número de pessoas possível.

III

O cego Hod estava em um canto, ouvindo do gramado a felicidade e os gritos de alegria e assombro, suspirando. Ele era forte. Mesmo sem a visão, era um dos deuses mais fortes. E, no geral, Balder sempre se assegurava de que o irmão fosse incluído. Dessa vez, até Balder o esquecera.

— Você parece triste — disse uma voz familiar.

Era a voz de Loki.

— É difícil, Loki. Todos estão se divertindo muito. Eu ouço suas risadas. E Balder, meu irmão amado, parece muito feliz. Só gostaria de poder fazer parte da festa.

— Mas essa é a coisa mais fácil de resolver que existe — respondeu Loki. Hod não podia ver a expressão em seu rosto, mas Loki parecia muito prestativo, muito amigável. E todos os deuses sabiam que Loki era esperto. — Estenda a mão.

Hod o fez. Loki pôs alguma coisa em sua palma e fechou os dedos de Hod em torno.

— É um pequeno dardo de madeira que eu fiz. Vou levar você até perto de Balder e apontá-lo na direção certa, aí você arremessará o dardo em seu irmão com toda a força que tiver. Jogue com tudo. E todos os deuses vão rir, e Balder vai saber que até seu irmão cego participou de seu dia de triunfo.

Loki conduziu Hod através da multidão, na direção do burburinho.

— Aqui — disse Loki. — Este é um bom lugar. Agora, quando eu disser, lance o dardo.

— É só um dardo pequeno — comentou Hod, infeliz. — Queria atirar uma lança ou uma pedra.

— Um dardo pequeno vai servir — respondeu Loki. — A ponta é bem afiada. Pode atirar, como instruí.

Um urro poderoso de celebração fez-se ouvir, seguido de uma risada: Thor usara um porrete de nó de espinheiro coberto de pregos de ferro afiados para golpear o rosto de Balder. O porrete desviou por cima da cabeça do deus reluzente no último instante, e Thor pareceu que estava valsando. Tinha sido muito engraçado.

— Agora! — sussurrou Loki. — Agora, enquanto todos estão rindo.

Hod lançou o dardo de visco, como fora instruído. Esperava ouvir vivas e risos. Ninguém riu, e ninguém deu vivas. O salão foi tomado pelo silêncio. Hod ouviu ofegos de surpresa e um murmúrio baixo.

— Por que ninguém está comemorando? — perguntou o cego. — Eu joguei um dardo. Não era grande nem pesado, mas vocês devem ter visto. Balder, meu irmão, por que você não está rindo?

E então ele ouviu um lamento alto, penetrante e terrível, e reconheceu a voz. Era sua mãe chorando.

— Balder, meu filho. Ah, Balder, ah, meu menino.

Foi assim que Hod soube que seu dardo tinha atingido o alvo.

— Que terrível. Que triste. Você matou seu irmão — explicou Loki.

Mas não parecia triste. Não parecia nem um pouco triste.

IV

Balder jazia morto, ferido por um dado de visco. Os deuses se reuniram, chorando e rasgando seus trajes. Odin não quis se pronunciar, e disse apenas:

— Não haverá vingança contra Hod. Ainda não. Não agora, nem aqui. Estamos em um local de paz sagrada.

— Quem dentre vocês quer ganhar minhas boas graças indo até Hel? — perguntou Frigga. — Talvez ela deixe Balder retornar para este mundo. Nem Hel pode ser tão cruel a ponto de mantê-lo para si… — Ela pensou por um momento. Hel era, afinal de contas, filha de Loki. — E vamos oferecer um resgate para que ela nos devolva Balder. Algum de vocês está disposto a viajar ao reino de Hel? Pode ser que não voltem.

Os deuses se entreolharam. Então um deles levantou a mão. Era Hermód, chamado de Ágil, criado de Odin, o mais rápido e mais ousado dos jovens deuses.

— Eu vou até Hel — anunciou. — Vou trazer Balder, o Belo, de volta para nós.

Mandaram buscar Sleipnir, o garanhão de Odin, o cavalo de oito patas. Hermód o montou e se preparou para descer cavalgando, sempre mais fundo, até saudar Hel em sua grande muralha, onde apenas os mortos entram.

Enquanto Hermód cavalgava pela escuridão, os deuses preparavam o funeral de Balder. Pegaram seu cadáver e o puseram em seu navio, Hringborn. Queriam lançar o navio ao mar e queimá-lo, mas não conseguiam afastá-lo da costa. Todos empurraram e fizeram força, até mesmo Thor, porém o navio permaneceu imóvel na costa. Só Balder fora capaz de lançar aquele navio, e ele estava morto.

Os deuses mandaram chamar Hyrrokkin, uma gigante, que chegou até eles montada em um lobo enorme e portando serpentes. Ela foi até a proa do navio de Balder e empurrou com toda a força. Conseguiu lançar o navio ao mar, mas o empurrão foi tão violento que os troncos de rolagem sobre os quais a embarcação se apoiava pegaram fogo, e a terra tremeu, agitando as ondas do mar.

— Eu devia matá-la — comentou Thor, ainda chateado pelo próprio fracasso em lançar o navio, e agarrou o cabo de Mjölnir, seu martelo. — Ela está sendo desrespeitosa.

— Você não vai fazer nada disso — retrucaram os outros deuses.

— Não estou nada feliz — reclamou Thor. — Vou matar alguém logo, logo, só para aliviar a tensão. Vocês vão ver.

O corpo de Balder foi trazido pela praia de cascalho grosso, carregado por quatro deuses: oito pernas o levaram diante dos reunidos. Odin era o primeiro, à frente da multidão enlutada, com seus corvos empoleirados no ombro, e atrás dele vinham as Valquírias e os Aesir. Havia gigantes do gelo e gigantes das montanhas no funeral de Balder; havia até anões, os artífices astutos de debaixo da terra, pois todas as coisas que existem choraram a morte de Balder.

A esposa de Balder, Nanna, viu o corpo do marido passar. Ela chorou, o coração sucumbiu, e Nanna caiu morta à beira d’água. Os deuses a carregaram para a pira funerária e puseram seu corpo ao lado do de Balder. Por respeito, Odin pôs seu bracelete, Draupnir, na pira; era o objeto milagroso feito para ele pelos anões Brokk e Eitri, que a cada nove dias gotejava oito braceletes de igual pureza e beleza. Em seguida, Odin sussurrou um segredo no ouvido do morto, e ninguém além dele e Balder jamais saberá o que foi sussurrado.

O cavalo de Balder, portando sua armadura, foi conduzido até a pira e sacrificado ali, para poder servir seu mestre no mundo vindouro.

A pira foi acesa. Ela queimou e consumiu o corpo de Balder e o corpo de Nanna, junto com seu cavalo e seus pertences.

O corpo de Balder flamejou como o sol.

Thor parou diante da pira funerária e ergueu Mjölnir bem alto.

— Eu santifico esta pira! — proclamou, lançando olhares mal-encarados para a gigante Hyrrokkin, que ele ainda achava que não estava se comportando de maneira adequadamente respeitosa.

Lit, um dos anões, passou à frente de Thor para conseguir ver melhor a pira, e Thor, irritado, o chutou no meio das chamas, o que o fez se sentir um pouco melhor — e fez com que todos os anões se sentissem bem pior.

— Não estou gostando disso — reclamou Thor, impaciente. — Não estou gostando nada disso. Espero que Hermód, o Ágil, consiga convencer Hel. Quanto antes Balder voltar à vida, melhor para todos nós.

V

Hermód, o Ágil, cavalgou por nove dias e nove noites sem parar. Cavalgou cada vez mais fundo, atravessando a escuridão crescente, que ia de uma leve obscuridade até o crepúsculo e a noite, até uma escuridão sem estrelas, como breu. Tudo o que via era algo dourado brilhando à frente, ao longe.

Foi se aproximando cada vez mais, e a luz foi ficando mais clara. Era ouro, e era o telhado de sapê da ponte sobre o rio Gjaller, pela qual todos os que morrem devem passar.

Ele reduziu a velocidade de Sleipnir até um passo lento enquanto atravessavam a ponte, que se agitava e balançava.

— Qual é o seu nome? — perguntou uma voz feminina. — Quem são seus pais? O que você está fazendo na terra dos mortos?

Hermód não respondeu.

Chegou à outra extremidade da ponte, onde havia uma donzela. Era pálida e muito bonita, e o olhou como se nunca tivesse visto alguém como ele. Seu nome era Modgud, e ela era a guardiã da ponte.

— Ontem, a ponte foi cruzada por homens mortos o suficiente para encher cinco reinos, mas você sozinho a fez balançar mais do que eles, embora houvesse homens e cavalos além da conta. Posso ver o sangue vermelho sob sua pele. Você não é da cor dos mortos, que são cinzentos, verdes, brancos e azuis. Há vida sob sua pele. Quem é você? Por que está viajando para Hel?

— Eu sou Hermód. Sou filho de Odin e estou indo para Hel montando o cavalo de Odin para encontrar Balder. Você o viu?

— Ninguém que o viu jamais poderia esquecê-lo — respondeu a mulher. — Balder, o Belo, atravessou esta ponte há nove dias. Foi para o grande salão de Hel.

— Eu agradeço — disse Hermód. — É para lá que devo ir.

— Basta ir sempre para baixo e para o norte — instruiu a mulher. — Continue descendo, e continue seguindo para o norte. E vai chegar ao portão de Hel.

Hermód seguiu em frente. Cavalgou rumo ao norte, descendo a trilha até ver um enorme muro alto e os portões para Hel, que eram mais altos que a árvore mais alta. Então apeou e apertou a cilha do cavalo. Montou de novo e, segurando firme a sela, encorajou Sleipnir a ir cada vez mais rápido. Até que saltou — um salto como nunca fora nem seria dado por nenhum outro cavalo —, passando por cima dos portões e aterrissando em segurança do outro lado, nos domínios de Hel, onde nenhuma pessoa viva podia entrar.

Hermód seguiu até o grande salão dos mortos, desmontou e entrou andando. Balder, seu irmão, estava sentado à cabeceira da mesa, no lugar de honra. Balder estava pálido, sua pele tinha a cor do mundo em um dia cinza, quando não há sol. Ele estava sentado, bebendo o hidromel e comendo a comida de Hel. Quando viu Hermód, o convidou a se sentar à mesa. Ao lado de Balder estava Nanna, sua esposa, e, ao lado dela, mas não com o melhor dos humores, estava um anão chamado Lit.

No mundo de Hel, o sol nunca nasce, e o dia não pode começar.

Hermód olhou para o outro lado do salão e viu uma mulher de beleza peculiar. O lado direito de seu corpo era rosado, mas o esquerdo era escuro e deteriorado, como o cadáver de alguém enforcado em uma árvore na floresta ou congelado na neve e encontrado apenas uma semana depois. E Hermód soube que aquela era Hel, a filha de Loki que o Pai de Todos nomeara governante das terras dos mortos.

— Eu vim por Balder — anunciou Hermód a Hel. — O próprio Odin me mandou. Todas as coisas estão de luto por ele. Você precisa devolvê-lo.

Hel estava impassível. Um olho verde encarava Hermód, junto com um olho morto e afundado.

— Eu sou Hel — disse a mulher, simplesmente. — Os mortos vêm a mim, e não retornam para as terras dos vivos. Por que eu deveria libertar Balder?

— Todas as coisas choram por ele. Sua morte une a todos em infelicidade, deuses e gigantes do gelo, anões e elfos. Os animais choram por ele, e as árvores também. Até os metais choram. As pedras sonham que o bravo Balder vai retornar às terras que conhecem o sol. Deixe-o partir.

Hel não respondeu. Ela observou Balder com seus olhos descombinados, então soltou um suspiro.

— Ele é o ser mais belo, e acho que talvez seja o melhor ser que já chegou aos meus domínios. Mas se é verdade o que você diz, se todas as coisas choram por Balder, se todas as coisas o amam, então vou devolvê-lo a vocês.

Hermód se jogou a seus pés.

— Que gesto nobre de sua parte. Obrigado! Obrigado, grande rainha!

Hel baixou os olhos para ele.

— Levante-se — mandou. — Não falei que vou devolvê-lo. Essa tarefa é sua, Hermód. Vá e pergunte. Questione todos os deuses e gigantes, todas as pedras e plantas. Pergunte a tudo. Se todas as coisas do mundo chorarem por ele e quiserem seu retorno, devolverei Balder aos Aesir e à luz do dia. Mas se uma só criatura não chorar, ou se falar contra ele, então Balder fica comigo para sempre.

Hermód se levantou. Balder o conduziu para fora do salão e entregou a ele o bracelete de Odin, Draupnir, para devolver ao pai como prova de que Hermód estivera em Hel. Nanna deu a ele um robe de linho para Frigga e um anel de ouro para Fulla, criada de Frigga. Lit apenas fez caretas e gestos rudes.

Hermód montou outra vez em Sleipnir. Dessa vez, os portões de Hel estavam abertos para ele, que saía, refazendo seus passos. Ele atravessou a ponte e, por fim, tornou a ver a luz do dia.

Em Asgard, Hermód devolveu o bracelete Draupnir a Odin, o Pai de Todos, e relatou tudo que acontecera e tudo que vira.

Enquanto Hermód estava no mundo inferior, Odin tivera um filho para substituir Balder. Esse filho, chamado Vali, era filho dele com a deusa Rind. Antes de ter um dia de idade, Vali encontrou e matou Hod. E a morte de Balder foi vingada.

VI

Os Aesir enviaram mensageiros pelo mundo. Os mensageiros dos Aesir cavalgavam como o vento e perguntavam a toda coisa que encontravam se ela chorava por Balder, para que Balder pudesse ser libertado do mundo de Hel. As mulheres choravam, e os homens e as crianças e os animais também. As aves choravam por Balder, assim como a terra, as árvores e as pedras — até os metais que os mensageiros encontraram choravam por Balder, do jeito que uma espada de ferro frio chora quando é tirada do frio congelante e levada para a luz do sol e para o calor.

Todas as coisas choravam por Balder.

Os mensageiros estavam retornando da missão triunfantes e extremamente felizes. Balder logo estaria de volta em Asgard.

Eles descansaram em uma montanha, em uma saliência ao lado de uma caverna, e comeram sua comida, beberam seu hidromel, contaram piadas e riram.

— Quem está aí? — chamou uma voz do interior da caverna, de onde saiu uma velha gigante. Havia algo vagamente familiar nela, mas nenhum dos mensageiros sabia dizer ao certo o quê. — Eu sou Thokk — disse ela, cujo nome significa “gratidão”. — Por que vocês vieram aqui?

— Perguntamos a todas as coisas que existem se elas choravam por Balder, que está morto. O belo Balder, morto por seu irmão cego. Pois cada um de nós sente a falta de Balder como sentiria falta do sol no céu se ele nunca mais brilhasse outra vez. E todos choramos por ele.

A gigante coçou o nariz, pigarreou e cuspiu na pedra.

— A velha Thokk não vai chorar por Balder — declarou, sem rodeios. — Vivo ou morto, o filho de Odin nunca me trouxe mais que tristeza e aborrecimento. Fico feliz que ele esteja morto. Um bom destino para esse traste. Que Hel fique com ele.

Então andou lentamente de volta para a escuridão da caverna e sumiu de vista.

Os mensageiros voltaram a Asgard e contaram aos deuses o que tinham visto, e que haviam falhado em sua missão, pois uma criatura não chorara por Balder e não queria que ele retornasse: uma velha gigante em uma caverna nas montanhas.

A essa altura, já tinham percebido com quem a velha Thokk se parecia: ela se movia e falava de forma muito parecida com Loki, filho de Laufey.

— Suponho que fosse mesmo Loki disfarçado — comentou Thor. — Claro que era ele. É sempre Loki.

Thor pesou seu martelo, Mjölnir, e reuniu um grupo de deuses para procurar por Loki em busca de vingança, mas o encrenqueiro ardiloso não estava à vista. Ele estava escondido, bem longe de Asgard, muito satisfeito com a própria esperteza, esperando a perturbação passar.

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