O Anel dos Nibelungos (Ato 1 – 1/4)

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O Ouro do Reno

I – Um anão entre as ninfas

Um novo dia nasce sobre o majestoso Reno, rio de águas límpidas e cristalinas.

Uma névoa, fina como uma gaze, paira sobre o grande espelho liquefeito que a corrente ondula suavemente. No fundo do rio, pode-se ver o recorte das grandes pedras em meio ao balanço dos liquens esverdeados que se movem numa coreografia lenta e elegante.

De repente, próximo a uma das margens, as águas começam a se tornar ligeiramente trêmulas; uma forma vaga sobe rapidamente das profundezas em direção à superfície. Aos poucos, a imagem vai ganhando contornos cada vez mais definidos, até que uma face fresca e molhada, finalmente, irrompe do espelho, lançando para o alto uma chuva de gotas cristalinas. A forma, agora, tem a tridimensionalidade das belezas concretas. Trata-se de uma mulher – ou para sermos mais exatos -, de uma ninfa: ela é a bela Flosshilde de cabelos dourados, uma das guardiãs do rio. A jovem, alçando-se até manter o busto para fora da água, assim permanece por alguns instantes, virando, de quando em quando, a cabeça para os lados; seus olhos atentos observam o céu, que adquire nos poucos um tom intensamente anil. A névoa, contudo, ainda paira sobre a superfície, como uma película algodoada e resistente. A ninfa, então, mergulha abruptamente de volta para as profundezas, fazendo com que o espelho movente das águas feche-se outra vez sobre os seus cabelos dourados.

Um silêncio feito apenas dos ruídos da natureza volta a reinar, porém, não por muito tempo; um pouco além de onde a primeira ninfa fizera sua aparição, surge outra da mesma espécie, produzindo, agora, um franco espalhafato. Desta vez, os cabelos da ninfa são da cor da noite, que recém partiu; seu rosto, tão belo quanto o da jovem de fios domados, trai um ai de indisfarçada malícia.

Após dar algumas braçadas vigorosas, a bela Wellgunde (este é seu nome) deita-se sobre a superfície do espelho com os braços e pernas abertos, deixando que a correnteza a faça rodopiar, lentamente, como uma descuidada estrela das águas. Os dedos gelados da névoa, ao mesmo tempo, percorrem a sua pele exposta, fazendo com que a delicada penugem que envolve o seu corpo se arrepie; um sorriso alegre e prazeroso brinca em seus lábios. Mas, de repente, tão rápida quanto surgira, ela já desaparece outra vez, deixando sobre a superfície do espelho apenas o desenho de três pequenos círculos, perfeitos e simétricos, que agora crescem e se expandem para os lados até alcançarem, quase desfeitos, as margens do majestoso rio.

O sol agora já subiu o suficiente para despejar seus raios sobre a totalidade do Reno, a ponto de esquentar as suas águas e dissolver aquele fino manto esbranquiçado que ainda teimava em velá-lo; pedaços da grande cortina desfeita rompem-se e se espalham por toda a extensão do rio, começando a subir em direção ao céu, onde terminam dissolvidos pelo calor.

É neste instante que uma última e linda cabeça, de cabelos vermelhos e molhados, vem à tona. De seus alvos braços (que ela estende para o alto, num espreguiçar deliciado), pendem algumas algas finas e esverdeadas, que se aderem, firmemente, à pele clara e macia de suas costas. Esta jovem ruiva é Woglinde, a terceira das encantadoras ninfas que protegem as águas do Reno. Juntas, as três nadam sobre a superfície, saudando o novo dia com risos e brincadeiras.

– Ei, Woglinde! – diz Flosshilde, abanando à ninfa ruiva – Aproxime-se de nós!

A loira e a morena chapinham com os pés na água, enquanto aguardam a chegada da amiga. Mas esta parece um tanto arredia naquela manhã.

– Vamos, o que há? – diz a impaciente Wellgunde, puxando para trás os seus longos cabelos negros.

A ninfa ruiva dá um mergulho e desaparece; assim submersa, ela desce até as profundezas, fazendo algumas piruetas, enquanto tenta afastar da cabeça um certo pressentimento que a incomodara a noite toda. De repente, ela toma um susto: ao seu lado, está Wellgunde de cabelos negros, que a toma pelos ombros.

– O que você tem, amiga? Acordou doente esta manhã? – diz a outra.

– Não, não é nada… – responde Woglinde.

– Então, venha, vamos nos divertir!… – diz a morena, puxando a amiga.

Num instante, ambas estão de volta à superfície, onde a loira Flosshilde as aguarda, já impaciente. Durante toda a manhã, as três amigas assim permanecem, percorrendo o leito amplo do rio, ora em vigorosas braçadas, ora deixando seus corpos boiarem ao sabor da correnteza. Mas elas não imaginam – à exceção de Flosshilde, que desde cedo pressente algo -, que um par sinistro de olhos as observa desde as primeiras horas da manhã.

Oculto sob a espessa ramagem das árvores que se espalha por ambas as margens do Reno, está um pequeno e discreto ser, que faz desta sua circunstância um eficiente aliado para disfarçar a sua esquiva atitude.

– Tão lindas…! – sussurra ele, pela milésima vez, com a boca colada ao tronco de uma das árvores, que serve de anteparo à sua minúscula indiscrição. – O que mais guardarão estas beldades, além da própria beleza?

Finalmente, abandonando a segurança do seu esconderijo, ele decide que já é tempo de tentar uma aproximação.

– Sim ou não, vamos lá! – diz o anão, levando nas mãos, estrategicamente posto, o seu gorro, pois teme trair seu desejo por uma funesta inadvertência. Aos poucos, avança, desviando dos troncos até alcançar as margens do rio.

Agora, completamente a descoberto, a sua figura escura está nitidamente, recortada num pequeno relevo, diante da floresta verde às suas costas.

A primeira a notar a presença do anão é Wellgunde dos cabelos negros.

– Ei, amigas, vejam! – grita ela. – Temos companhia!

O anão, embora já tivesse decidido revelar a sua presença, dá dois passos para trás, embola os pés e termina por cair na relva. Sua atitude é a de quem tivesse sido flagrado em uma atitude criminosa.

– Há! Há! Há! – gargalha Wellgunde, acompanhada pelas demais. – O que houve, Alberich, perdeu a compostura?

O anão põe-se em pé com um pulinho tão rápido e desajeitado, que quase perde o equilíbrio e rola outra vez pelo chão. O riso das ninfas ecoa por toda a extensão do rio, indo perder-se dentro da floresta fechada.

– Mais uma vez nos espiando, seu pequeno enxerido? – diz a loira Flosshilde.

– Eu, espionando?… – grita o anão, furioso. – Ora, bem, não… Quer dizer, sim…

De repente, o anão resolve mudar de tática. “São tão belas…! Quem sabe, se não admitirão a minha presença, caso eu resolva usar de belas palavras?”, pensa ele, rapidamente.

– Está bem, estava sim observando-as, pronto!… Vocês são tão belas, que… bem…

gostaria de me juntar a vocês!

– Juntar a sua pele escura e fuliginosa às nossas peles alvas e limpas? -diz a ruiva Woglinde.

– Alberich, você devia saber que, como todo bom Nibelungo, você não passa de um monstrinho! – diz-lhe a loira Flosshilde. – Vamos, chegue mais um pouco até a margem e veja seu reflexo nas águas.

Alberich, cauteloso, avança até o espelho das águas: há quanto tempo não observa a sua figura! Na verdade, nas profundezas da terra, lugar onde ele e seu povo habitam, não há espelho algum. Quando fixa, porém, seus olhos sobre a sua imagem refletida, leva um tremendo susto: Wellgunde, a mais maliciosa das três ninfas, surge de dentro d’água num arremesso, dando-lhe um verdadeiro banho.

– Há! Há! Há! – diz ela, sem conseguir conter o riso. – Vejam, o pequeno Alberich: parece um sapo encharcado!

O anão está paralisado feito uma estátua de jardim e suas barbas molhadas gotejam como se fossem a bica de uma fonte.

– Talvez isto sirva para acalmar seus instintos…! – diz a ruiva Woglinde.

Mas Alberich não se rende tão fácil. E já tem, agora, um belo pretexto para juntar-se a elas dentro do rio.

– Sim ou não, vocês me obrigam a dar um belo mergulho! – diz o anão, começando a amontoar na relva as peças encharcadas de seu vestuário.

Num instante, Alberich está dentro d’água, nu como veio ao mundo. Mas seu corpo é tão peludo, que quase não se percebe a sua minúscula nudez.

As ninfas, espavoridas, afastam-se, misturando gritos de deboche e de medo. Os bracinhos de Alberich chapinham na água, em completo descompasso com o ritmo dos seus minúsculos pés.

– Oh, parece um cachorrinho encharcado! – grita Flosshilde.

– Parece um sapo barbudo! – diz Woglinde.

– Pior: parece mesmo um nibelungo! – exclama Wellgunde.

Alberich tenta persegui-las, sem perceber que não tem a menor chance de alcançá-las. As ninfas fingem estar exaustas, mas, quando ele vai tocá-las com suas mãos encardidas, elas, rapidamente, esquivam-se e lá fica o pobre anão a maldizê-las com seu pequenino punho erguido.

– Malditas ninfas! Sim ou não, eu as agarrarei!…

Mas Alberich está cansado demais. Antes de desistir, porém, o anão tem a atenção despertada por um brilho que parece provir das profundezas.

– Que luz dourada é esta?… – diz ele, esfregando os olhos.

Uma nuvem oculta o Sol parcialmente, e o brilho, por alguns breves instantes, quase desaparece. Mas logo os raios do ardente astro mergulham outra vez sob a água, descendo até o leito rochoso do rio. O brilho intenso e dourado reaparece, reverberando com uma nitidez ainda maior, como se um segundo sol estivesse a dormir nas profundezas do Reno.

– Mas… isto é ouro puro! – exclama Alberich, extasiado. – De onde surgiu?

Alberich retorna à superfície. As ninfas se afastaram um pouco e descansam, agora, sobre a relva.

– Ei, belas ninfas! – grita Alberich, rompendo outra vez a linha d’água. -Que ouro todo é aquele que se esconde no leito do rio?

– É o Ouro do Reno, seu tolo! – diz Wellgunde, num tom de desdém.

– Ora, e para que serve um monte de ouro escondido?! – exclama Alberich, sem nada entender.

– Para embelezar o rio e iluminar nossas almas.

– Você quer dizer que aquele ouro todo serve apenas para brilhar, enquanto vocês brincam aqui em cima?

– Exatamente, tal qual aquele outro – diz Woglinde, apontando para o Sol. “Que tolas!”, pensa o anão, mergulhando outra vez nas profundezas.

“Enquanto nós, anões, passamos noite e dia a cavar em nossas escuras cavernas para arrancarmos da rocha algumas lascas deste maravilhoso metal, estas desmioladas têm aqui, ao alcance das mãos, esta verdadeira mina submersa! Ora, sim ou não, isto não é justo!”

– E vocês se julgam muito ricas, decerto! – diz o anão, disposto a provocar as ninfas.

Alberich sabe que ali há algum segredo que, uma vez descoberto, o permitirá apossar-se de todo aquele ouro.

– Este ouro não tem valor algum, eis o que é!

– Claro que tem, seu tolo! – exclama, por fim, Wellgunde dos cabelos negros.

– Ora, se tivesse não estaria jogado lá no fundo, misturado às algas e aos excrementos dos peixes!

As ninfas, esquecidas da figura ridícula do nibelungo, estão incomodadas, agora, com o seu desprezo.

– E se eu lhe disser, anão idiota, que aquele que forjar um anel com o Ouro do Reno poderá vir a ser senhor do universo? – diz Wellgunde, puxando o nariz protuberante de Alberich.

No mesmo instante, as amigas arregalam os olhos para a ninfa indiscreta; em seguida, arrastam-na para as profundezas do rio, para admoestá-la.

– Vocês está louca, Wellgunde? – diz a loira Flosshilde. – Como pôde revelar o segredo do Ouro do Reno a este miserável nibelungo?

– Ora, acalme-se, Flosshilde! – retruca a morena. – Você se esqueceu de que há uma condição para que alguém possa forjar o anel?

No mesmo instante, todas se acalmaram. Sim, há uma condição, que Alberich jamais poderá cumprir – pelo menos elas assim imaginam.

Mas o que elas não sabem é que o anão havia escutado toda a conversa, escondido atrás de um rochedo submerso.

“Condição?! Que condição?…”, pensou o anão, intrigado.

De volta à superfície, ele decide voltar à carga.

– E se eu decidir forjar o anel, quem me impedirá? As ninfas riem. Não, ele jamais poderia!

– E por que não? Se jamais poderei, por que não me revelam a razão?

– Porque, para forjar o anel, é preciso antes renunciar ao amor, Alberich! E você não passa de um tolo apaixonado! – diz Wellgunde, passando os braços ao redor do pescoço do anão. – Você estaria disposto a renunciar para sempre ao nosso amor?

Alberich arregala os olhos. No mesmo instante, seu desejo pelas ninfas desaparece.

Desvencilhando-se da ingênua ninfa, ele mergulha até o ouro, esquecido delas e de seu desejo. Alberich, como todo bom anão, só tem olhos, agora, para o ouro, que faísca diante de seus ávidos olhos. Sim, elas deveriam conhecer melhor a natureza de um verdadeiro nibelungo!

– Ora, a coisa é tão simples assim? – diz Alberich, esfregando as pequeninas mãos. –

Pois, sim ou não, que assim seja: a partir deste momento, renuncio para sempre ao Amor e o amaldiçoo eternamente!

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II – O preço do Valhalla


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