O sentimento de que a divindade se manifestava sobre as montanhas levou à construção de santuários não só sobre colinas naturais mas também sobre socos artificiais. Entre os mais antigos templos da Mesopotâmia, alguns são construídos sobre um alto terraço, como em Uruk, em Khafadjeh, em El-Obeid, em Uqair e em outros lugares. Ao se elevar pela superposição de andares, e dele se tomando o elemento principal da estrutura, esse soco deu origem a um tipo de arquitetura religiosa característica da Babilônia e das regiões que sofreram sua influência: as torres de andares, os zigurates.
Eles são encontrados sobretudo na Baixa Mesopotâmia mas também na Assíria e na margem síria do Eufrates, em Mari, e na Pérsia, em Susã e perto daí em Tchoga-Zanbil, onde um grande zigurate acaba de ser descoberto: ele tem 105 metros de lado na base e devia se elevar a mais de 50 metros. Essas enormes construções eram simplesmente envasamentos: os textos e os monumentos pictóricos no informam que eles tinham em seu topo um santuário e as escavações provam que havia um outro santuário em sua base. Há duas maneiras de explicar essa dualidade: ou pensava-se que o deus residia no santuário do topo de onde descia para se manifestar no santuário de baixo, ou o do topo era simplesmente um lugar de repouso para o deus que vinha sobre a terra, uma passagem que ele atravessava para chegar no santuário de baixo, que era sua residência terrena mais durável. A verdade é que a ideia expressa pelo zigurate parece ser a de uma “montanha” onde o deus encontra seu fiel, um escabelo gigante onde o deus desce e aonde o fiel sobe para se encontrarem.
O zigurate da Babilônia se chamava E-temen-an-ki, “templo do fundamento do céu e da terra”. Sua base quadrada tinha 91 metros de lado e, segundo o testemunho de uma tabuinha cuneiforme e de Heródoto, sua altura pelo menos igualava esse número. Os textos só o mencionam a partir do século VII a.C. mas ele já devia existir bem antes e foi muitas vezes destruído e restaurado. É a ele, ou a uma outra torre em ruínas da Babilônia, que se ligou a tradição bíblica da Torre de Babel, Gn 11.1-9. Os construtores tinham procurado nela fazer seu deus mais próximo, mas a torre desabou e o autor teólogo interpretou essa ruína como um castigo divino para os homens cujo orgulho tinha desejado escalar o céu.
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——- Retirado de: Vaux – Instituições de Israel no Antigo Testamento.
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