A morte de Josué deixou os hebreus órfãos da sua liderança decidida, e então se seguiu um período que testemunhou a degeneração da unidade nacional e a ascensão de uma atividade tribal mais individualista. A resistência aos invasores israelitas foi a característica desse período, tornando-se necessário reconquistar e consolidar alguns dos territórios que tinham sido conquistados sob Josué. Uma das razões para o sucesso da oposição dos cananeus era a condição inferior da tecnologia dos hebreus, especialmente no assunto das bigas puxadas a cavalo e outras armas de guerra, tais como o forte arco asiático composto. Quando surgia uma situação de emergência, um juiz era escolhido por Deus para levar o povo à vitória e, como consequência, essa fase da história dos hebreus ficou conhecida como período dos juízes.
Esse período foi marcado pela crescente idolatria dos israelitas e pela ascensão de uma poderosa resistência dos cananeus em muitas partes da Palestina. Eglom, rei de Moabe, escravizou alguns dos israelitas por dezoito anos, mas, finalmente, foram libertados por Eúde. Jabim, rei de Hazor, representava uma formidável ameaça à segurança dos israelitas por causa do poderio e da mobilidade das suas forças armadas. Seu general, Sísera, que comandava um grupo de novecentas bigas revestidas de ferro, movimentava-se à vontade entre as tribos do norte. Débora, a juíza e profetisa, nomeou Baraque como comandante das forças hebraicas mobilizadas para derrotar os homens de Hazor e na batalha que se seguiu Sísera foi derrotado. Ele fugiu e procurou um aliado, Héber, o queneu, cuja esposa Jael lhe deu abrigo e depois o matou quando adormeceu devido ao cansaço. O magnífico cântico de Débora (Juizes 5) celebra a derradeira derrota de Jabim e suas forças numa linguagem raras vezes sobrepujada pela beleza e vigor da sua expressão.
Midianitas e Amonitas
A economia das tribos dos hebreus sofria um sério golpe com as incursões dos midianitas. Eles formavam um povo nômade que cavalgava camelos e obedecia ao costume de atacar as plantações israelitas na época da colheita e aterrorizar a população em geral. Aliaram-se aos amalequitas e instalaram tal opressão sobre os hebreus que estes foram obrigados a fugir para lugares seguros nas montanhas. Essa situação foi finalmente corrigida por Gideão, que deu início à sua campanha contra os midianitas com um dramático ataque sobre as práticas idolatras de Israel (Jz 6.25 e versículos seguintes). Em seguida, uniu as tribos do norte (Zebulom, Aser e Naftali) à sua própria tribo (Manasses), e com um selecionado exército de homens armados com tochas, trombetas e cântaros, causou uma total confusão entre os midianitas e amalequitas num ataque surpresa realizado durante a noite. A vitória enfureceu os efraimitas que se sentiram menosprezados por não terem sido convidados a lutar junto com as forças de Gideão. Mas somente quando foram cumprimentados pela captura dos príncipes midianitas, Orebe e Zeebe, essa lacuna foi sanada. Gideão conseguiu restabelecer a adoração a Jeová, embora evidentemente a idolatria nunca estivesse muito longe do pensamento dos israelitas (Jz 8.27). Devido ao seu desejo de manter os conceitos teocráticos da lei, se recusava a aceitar a ideia do preceito da hereditariedade no governo, e essa foi uma das causas da dissensão que ocorreu entre os seus filhos depois da sua morte.
Um lapso subsequente de idolatria levou uma outra calamidade aos israelitas, manifestada sob a forma da opressão amonita. Um campeão da causa de Deus apareceu na pessoa de Jefté, o gileadita, um homem que possuía iniciativa e consideráveis habilidades (Jz 11.17 e versículos seguintes), e que finalmente conquistou uma decisiva vitória sobre os amonitas. Novamente foi despertado o ciúme dos efraimitas, e seguiu-se um triste espetáculo de guerra entre as tribos, cujo resultado foi a derrota dos últimos.
Os Filisteus
Após a morte de }efté, a nação de Israel foi governada por uma série de juízes e, durante esse período, a opressão exercida pelos filisteus tornou-se ainda mais aguda. Os filisteus eram um povo marítimo, de origem não semita, que havia imigrado do Egeu, particularmente da antiga Caftor (Creta) para Canaã por volta de 1175 a.C, e que se estabeleceu na planície costeira. Pequenos grupos de filisteus já havia se concentrado na fronteira ao sul da Palestina na época dos Patriarcas (Gn 26.1,14), mas a imigração do décimo segundo século tinha um aspecto diferente.
Eles haviam sido expulsos de Creta e da Ásia Menor por invasores vindos do norte e, antes de se estabelecerem em Canaã, haviam atacado o Egito. Foram repelidos por Ramsés II e sofreram grandes perdas numa batalha naval que os forçou a mudar sua atenção para as áreas costeiras localizadas no sudoeste da Palestina. Lá, estabeleceram uma confederação de cinco cidades, Gaza, Gate, Asquelom, Asdode e Ecrom das quais dependia grandemente o seu poderio militar.
Além de manter uma rígida organização política, seu poder também se estendia à área econômica da vida israelita. Os filisteus haviam aprendido o uso do ferro com os hititas, que controlavam a manufatura e a exportação desse metal. Com o declínio do poder dos hititas, por volta de 1200 a.C, os filisteus passaram a adquirir o monopólio do fornecimento de ferro, usado para modelar implementos agrícolas de vários tipos, inclusive foices, martelos e arados. A fim de assegurar a estabilidade e a permanência do seu poderio militar, equiparam seus exércitos com armas manufaturadas a partir do ferro. Além disso, suas forças gozavam da mobilidade fornecida por bigas revestidas de ferro com as quais atacavam os inimigos. Esse avanço tecnológico, combinado com o espírito conservador israelita, deu aos filisteus uma distinta vantagem nas esferas militares e econômicas de Canaã, proporcionando-lhes uma situação que não tardaram a explorar.
Durante o período dos Juízes os israelitas travaram esporádicos conflitos com os filisteus e, durante esse período de ascendência dos filisteus, um dos heróis de Israel foi Sansão, um homem que tinha uma força física superior, mas cujo caráter moral era indiferente. E provável que a moderna Wadi el-Seirar tenha sido o lugar de algumas das suas façanhas que, embora dramáticas na sua natureza, não foram suficientes para libertar Israel da opressão dos filisteus.
——- Retirado de R. K. Harrison – Tempos do Antigo Testamento.
Leia também:
- Canaã e o Deserto
- Data do Êxodo
- O Período dos Macabeus
- Os Patriarcas na Palestina
- Israel No Egito
- Do Egito Antigo ao Período de Amarna
- Os Heteus (ou Hititas)
- A Ascensão de um Governo Centralizado em Israel
- Ugarite e o Egeu
- A Cidade de Jericó
- A Conquista de Canaã
- O Monólito Merneptá
- Jerusalém e os Filisteus
- A Religião dos Cananeus
[…] A Ascensão dos Juízes […]
[…] A Ascensão dos Juízes […]
[…] A Ascensão dos Juízes […]
[…] A Ascensão dos Juízes […]
[…] A Ascensão dos Juízes […]
[…] A Ascensão dos Juízes […]
[…] A Ascensão dos Juízes […]
[…] A Ascensão dos Juízes […]