Jerusalém e os Filisteus

Neste post, veremos o rumo de Israel depois da morte de Saul, o primeiro rei.


EMBORA A AMEAÇA IMEDIATA AO BEM-ESTAR DE DAVI TIVESSE SIDO removida pela morte de Saul, a vitória dos filisteus em Gilboa gerou um estado de crise na história política dos israelitas. Eles não só haviam perdido a liderança, mas também perderam o controle do fértil vale de Jezreel, que se estendia a sudeste do monte Carmelo até o rio Jordão. A estrada principal da Síria ao Egito, cruzava a parte norte deste vale, enquanto que no sul, se localizava a principal rota comercial entre Damasco e Jerusalém. O vale tinha, por muito tempo, sido cobiçado pelos invasores da Palestina por causa de sua importância estratégica, e com os filisteus no controle, o declínio da sociedade hebreia foi virtualmente assegurado.

A Unção de Davi

Ainda mais séria foi a rivalidade interna que se levantou sobre a questão de um sucessor para Saul. As tribos do norte permaneceram leais à casa do rei morto, e aceitaram o governo de Isbosete, o quarto filho de Saul. Com a ajuda de seu general, Abner, ele estabeleceu a sua capital em Maanaim na TransJordânia, enquanto Davi voltou para a tribo de Judá e se estabeleceu na antiga cidade de Hebrom. Aqui Davi foi ungido governante sobre a casa de Judá, e governou por sete anos. Sob tais circunstâncias, a guerra entre ele e os sucessores de Saul foi quase inevitável, e uma batalha entre os grupos opositores de guerreiros (2 Sm 2.15) iniciou o processo de deterioração que culminou na extinção da casa de Saul. Abner discutiu com Isbosete a respeito de uma das concubinas reais, e imediatamente transferiu a sua lealdade a Davi na esperança de que este gesto permitisse que Davi se tornasse governante das tribos israelitas do norte, bem como de Judá. Mas Abner descobriu que como um pré-requisito à aceitação de sua lealdade, Davi exigiu o retorno de sua ex-esposa Mical, casada naquela época com Paltiel (Palti).

Se a ideia do matriarcado estivesse em vigor em qualquer grau, este passo constituiria uma preliminar necessária ao reconhecimento de Davi como rei sobre Israel, além de ser governante de Judá. Quando, para a satisfação de Davi, este assunto foi resolvido, Abner trabalhou para influenciar as tribos do norte em favor da aceitação de Davi como rei, e ele também poderia se tornar comandante das forças de Judá, se não fosse pelo ciúme de Joabe, cujo irmão ele havia matado anteriormente. Joabe havia aliado as suas forças com as de Davi, e havia assumido o comando em Hebrom, de forma que o aparecimento de Abner representava uma ameaça à sua posição como general. Em consequência disso, Joabe o matou a sangue frio, um ato que gerou uma furiosa repreensão por parte de seu senhor. Apesar da delicadeza da situação, Davi a usou como vantagem política dando a Abner um enterro honroso, impressionando assim as tribos do norte com a sua própria magnanimidade e sinceridade.

A turbulenta carreira de Isbosete terminou em seu assassinato, cometido por dois de seus seguidores, que levaram a sua cabeça a Davi em Hebrom. Longe de serem recompensados, eles foram mortos como assassinos comuns, um ato que aumentou ainda mais o prestígio de Davi no norte. O tempo foi então tido como que chegado para que os povos do norte transferissem a sua lealdade ao novo rei, e assim, entraram em um relacionamento de aliança com Davi através do qual ele se tornaria o seu governante. Tendo aceitado esta responsabilidade, a sua tarefa imediata foi implantar a unidade política das tribos por meio de um reino estabelecido.

O Estabelecimento de uma Capital

A questão de estabelecer uma cidade como capital do reino era de alguma importância, e Davi demonstrou uma considerável perspicácia política escolhendo uma localidade que ficava fora do alcance territorial estrito das tribos israelitas, e que, ao mesmo tempo, ficava perto do centro de seu país recentemente unido. A capital proposta era Jerusalém, que na época era uma fortaleza dos jebuseus, firmemente estabelecida sobre um platô rochoso há mais de novecentos metros acima do nível da planície do Jordão em Jerico. Os defensores nativos consideravam a cidade tão invencível que escarneciam de Davi e seus homens de uma maneira que logo se arrependeriam. O modo preciso como a “Fortaleza de Sião” foi tomada é incerto, e até recentemente, a passagem que diz respeito à sua conquista (2 Sm 5.8) parecia indicar acesso por meio de um “canal” (versão ARC) ou “túnel da água” (versão NTLH). Quando Sir Charles Warren estava conduzindo as primeiras escavações em Jerusalém, esta teoria pareceu estar fundamentada na descoberta de um sistema de água subterrâneo instituído pelos habitantes cananeus do local por volta de 2000 a.C.

Por causa de sua localização, Jerusalém era deficiente no suprimento de água e dependia grandemente de cisternas e reservatórios subterrâneos. A fonte mais próxima ficava no vale de Cedrom, a sudeste do monte conhecido como Ofel, e era chamada de Fonte de Giom. Ainda mais ao sul, abaixo da junção dos vales de Cedrom e Hinom, ficava uma outra fonte de água, chamada fonte de Rogel. Warren descobriu que os jebuseus haviam cavado um túnel através da rocha, conforme o padrão dos túneis em Gezer e Megido, que retiravam água da caverna na qual a Fonte de Giom desaguava, levando-a por baixo do monte Ofel, a uma profunda cavidade há cerca de doze metros abaixo da superfície. Este reservatório era acessado por meio de um duto vertical, e era comparativamente fácil para os habitantes descerem vasos para dentro da cavidade e obter a quantidade necessária de água.

Embora não fosse impossível obter acesso à fortaleza por esta rota, isto apresentaria imensos obstáculos a um grupo de ataque. No entanto, não é necessário argumentar a favor deste procedimento, porque estudos ugaríticos têm mostrado que a palavra traduzida como “canal” ou “túnel de água” é uma palavra cananeia que significa “gancho”. Desse modo o acesso para a cidade foi obtido por meio de arpeis, escadas com ganchos, e outros mecanismos de natureza semelhante. Escavações feitas em Sião, o monte oriental mais baixo de Jerusalém, desenterraram um muro de pedra sólida no qual uma grande abertura havia sido feita, provavelmente datando da época de Davi.

Jerusalém foi formalmente estabelecida como a capital da nação dos hebreus, e se tornou conhecida como a “Cidade de Davi”. Ficando fora da jurisdição tribal, ela devia lealdade somente ao rei, e em seus primeiros estágios era uma cidade comparativamente pequena com cerca de oito acres, povoada pelos seguidores pessoais de Davi. O novo governante aplicava a sua perspicácia às considerações religiosas, bem como a assuntos nacionais e sociais, dando um passo importante em direção à centralização da religião dos hebreus em Jerusalém, transferindo os sobreviventes do massacre de Nobe para a sua fortaleza, e levantando um tabernáculo para abrigar a Arca. Este objeto de culto sagrado foi conduzido para o seu novo lugar de repouso em procissão, e Davi, extasiado pelas maravilhas do Senhor, dançou diante do grupo, o que desgostou a sua refinada esposa Mical.

O Declínio do Poder Filisteu

O crescimento do jovem reino era observado com alguma apreensão pelos filisteus, que invadiram o território em duas ocasiões com a intenção de subjugar a fortaleza de Jerusalém. Mas Davi os superava em estratégia, e prosseguiu em suas vitórias invadindo a Filístia, ocasião em que Gate caiu em seu poder (1 Cr 18.1). Tendo anulado a ameaça militar do poder filisteu, Davi voltou a sua atenção para os outros inimigos inveterados de Israel, as nações da Transjordânia. Combinando conquista militar com habilidade diplomática, Davi foi capaz de estender as fronteiras do seu reino ao norte até a Síria central e a nordeste até o vale do Eufrates (2 Sm 8). Os filisteus foram reduzidos à condição de tributários, e o acúmulo de despojos de suas conquistas fez de Davi um governante rico e poderoso. Em seguida aplicou as suas energias à organização do seu reino e, seguindo os padrões egípcios, até certo ponto, como um meio de centralizar a autoridade, desenvolveu um sistema de oficiais administrativos que respondia somente a ele, além de restringir a autonomia das tribos. O seu exército aumentou em tamanho e eficiência, e foi acrescido de tropas mercenárias de Caftor e de outros lugares, que lhe eram completamente leais.

Davi combinou os dons de sua personalidade à perspicácia de tratamento, tornando-se assim o governante mais popular da história da monarquia hebraica. De certo modo, resumiu as aspirações de cada pessoa humilde através de sua ascensão ao poder. Assim que assumiu o controle, suas habilidades eram tais que conseguiu aplacar a maioria dos seus adversários e estabelecer alianças políticas de extrema importância. Sua bondade de coração foi ilustrada pela maneira como tratou Mefibosete, o filho aleijado de Jônatas, restaurando-lhe os bens de Saul e fornecendo-lhe o sustento à custa do governo. Tal líder inspirou lealdade e generosidade em seus seguidores, e isto resultou em gestos como o de Joabe em Rabá-Amom, que deu a Davi a honra de conquistar a cidade (2 Sm 12.27,28).

——- Retirado de R. K. Harrison – Tempos do Antigo Testamento.


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