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O Governo Dinástico em Ur

Os primeiros estágios do crescimento da realeza neste importante centro cultural sumério culminaram na Primeira Dinastia de Ur, durante a qual reinaram quatro reis, por um período de cento e setenta e sete anos, de acordo com a lista de reis. Uma pequena tábua de calcário desenterrada por Woolley em Tell elObeid e datada de 2700 a.C. provou ser contemporânea da Primeira Dinastia de Ur. Nela está escrito, “A-Anne-pad-da, rei de Ur, filho de Mes-Anne-pad-da, rei de Ur, construiu isto para sua Senhora, Nin-kharsag”, o que imediatamente confirmou a afirmação da lista de reis sumérios de que Mes-Anne-pad-da foi o fundador da Primeira Dinastia.

O templo, em cujas fundações foi encontrada a tábua, tinha estado por muito tempo em ruínas, mas apresentou evidências impressionantes do nível elevado que a cultura tinha alcançado na Primeira Dinastia de Ur. Fragmentos de touros de cobre foram desenterrados juntamente com colunas decoradas e frisos em mosaicos retratando a vida rural. Uma indicação ainda mais impressionante do esplendor deste período resultou da escavação de um cemitério em Ur, que no seu nível inferior continha o que parecia ser as sepulturas de figuras da realeza. As sepulturas eram construídas com blocos de calcário, que provavelmente tinham sido trazidos do deserto há cerca de quarenta e oito quilômetros de distância. Quando a terra superficial tinha sido removida, viu-se que as sepulturas continham duas câmaras abobadadas com pedra. Embora alguns destes sepulcros tivessem sido saqueados, um deles, que tinha permanecido incólume, continha os restos de uma mulher identificada como rainha Shub-ad. Ela tinha sido sepultada com vestes cerimoniais, que incluíam uma coberta para a cabeça com ornamentos em ouro e lápis-lazúli. Perto de seu ataúde foram encontrados alguns vasos de ouro decorados com caneluras e outras ornamentações.

Debaixo da sepultura de Shub-al está a de A-bar-gi, identificado a partir de um selo cilíndrico encontrado em sua câmara mortuária. Woolley julgou que A-bar-gi fosse esposo da rainha Shu-ad, e a descoberta posterior de uma grande cova funerária adjacente à sepultura indicou que os dois personagens eram de uma importância incomum. A escavação da cova revelou que mais de sessenta pessoas tinham sido sepultadas com A-bar-gi, enquanto a rainha Shub-ad tinha um grupo mais modesto de acompanhantes — de cerca de vinte e cinco pessoas. Com base na aparência dos restos, ficou evidente que os acompanhantes tinham ido voluntariamente ao encontro da morte, pois não se observaram sinais especiais de violência nos esqueletos. Eles pareciam ter se vestido cerimonialmente para a ocasião, e ter sido acompanhados na morte por uma procissão de bois e carros. Os corpos estavam dispostos de maneira ordenada, trajando roupas e joias bem arrumadas. Woolley concluiu que o amargo ritual de sacrifício deve ter tido considerável esplendor e pompa, e sido restrito à honra dos personagens mortos da realeza.

Uma grande quantidade de artefatos interessantes foi recuperada da sepultura, incluindo uma magnífica harpa, intrincadamente decorada com trabalhos de mosaico, uma grande variedade de recipientes em metal e pedra, ornamentos de ouro e prata com desenhos complicados, e alguns artigos com incrustação de lápis-lazúli, obsidiana, e outras pedras semi-preciosas. O padrão do artesanato alcançado na execução dos artigos em prata e ouro é tão avançado como qualquer outro que o mund o tenha conhecido como exemplifica bem o maravilhoso talento artístico exibido no famoso capacete dourado de Ur. Este espécime magnífico de arte em metal foi recuperado de um sepulcro cujo ocupante, segundo as inscrições, era “Mes-kalam-dug, Herói da Boa Terra”. Ele foi confeccionado em ouro batido e moldado na forma de uma peruca, com as mechas separadas de cabelo simetricamente em relevo, enquanto que os fios eram representados individualmente por meio de linhas gravadas com precisão.

Habilidosa restauração de um painel em mosaico encontrado em um sepulcro real em Ur forneceu novos exemplos do gosto e do talento artístico dos sumários, enquanto, ao mesmo tempo, retratou a natureza dos equipamentos militares nas dinastias mais antigas. O painel é o “Estandarte” de Ur,29 assim chamado porque provavelmente era levado como bandeira nas procissões. Dois painéis principais retratam os temas de Guerra e Paz, por meio de três fileiras de figuras em conchas com lápis-lazúli. A fileira inferior do lado que representava a guerra continha diversos carros de quatro rodas, cada um deles puxado por quatro jumentos, e conduzindo o cocheiro e um guerreiro, ambos armados com lanças leves. O painel do meio retratando a infantaria completamente armada e ordenada mostrava soldados usando pesadas túnicas e capas. Eles levavam machados nas mãos, e nas cabeças, capacetes de cobre. Precedendo-os, iam soldados da infantaria com armas leves, levando cimitarras, adagas, machados e lanças curtas.

O painel superior mostrava um personagem real em pé, diante do seu carro, para receber os prisioneiros, enquanto o outro lado do Estandarte usava a cena de um suntuoso banquete real para ilustrar o tema da Paz. O painel restaurado indica que o elevado grau de inteligência que possuíam os sumérios era aplicado a interesses militares, tanto quanto a culturais, e esta era, provavelmente, a razão pela qual os sumérios foram capazes de sobreviver por tanto tempo como uma força militar. O seu uso de carros nas guerras estabeleceu o padrão para outras nações, enquanto a existência de infantaria indica um considerável grau de conhecimento e habilidade táticos. Nos sepulcros sumérios foram encontrados muitos tipos de pontas de flechas de pedra, levando os estudiosos à suposição de que agrupamentos de arqueiros faziam parte da força militar do início do período dinástico.

Uma das cidades-estado que travou guerra com Ur nesta época foi Lagash (Tello), que se localizava a aproximadamente oitenta quilômetros ao norte. Seu governante, Eannatum, lutou contra Quis, Mari, Ur, Umma e Uruk, e retratou suas vitórias em monumentos de pedra. Mas quando Lugalzaggesi tornou-se governador de Umma, recuperou a honra da cidade, derrotando Urukagina, rei de Lagash, e mais tarde estendeu suas conquistas a Uruk e Ur. A lista de reis registra que o seu reinado formou a terceira Dinastia de Uruk, e ele foi sem dúvida uma das figuras mais proeminentes da história suméria.

——- Retirado de R. K. Harrison – Tempos do Antigo Testamento.


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