Os Egípcios

Muitas barreiras pareciam separar o Egito da Terra Prometida. Ele estava num continente diferente, separado da Palestina pela rochosa Península do Sinai e pelos pântanos e lagos que havia entre o Mediterrâneo e o mar Vermelho. O Egito era rico em safras, gado e metais preciosos, enquanto a Palestina tinha poucos artigos para oferecer. A cultura do Egito era radicalmente diferente daquela dos cananeus e dos israelitas, o seu povo provinha de uma raça diferente. Não obstante, algumas voltas inesperadas da história reuniram egípcios e israelitas, e o Antigo Testamento refere-se ao Egito mais de 550 vezes. Durante séculos, o Egito governou a região costeira da Palestina; sua cultura e religião dominaram desde Gaza até Suez.

O POVO EGÍPCIO E SUA LÍNGUA

Não conhecemos a exata origem racial do povo egípcio, porém suas estátuas e pinturas de templos dão-nos um quadro detalhado deles durante os tempos bíblicos, e os corpos embalsamados dos monarcas egípcios também nos evidenciam a sua aparência. Os egípcios eram, em geral, de estatura mais ou menos baixa, pele bronzeada, cabelo castanho eriçado, típico dos povos situados nas costas sulistas do Mediterrâneo. Os negros do interior do Nilo não desceram o rio e não se misturaram com os egípcios até mais ou menos 1500 a.C. (Não sabemos, porém, se a “mulher etíope” com quem Moisés se casou era negra — cf. Números 12:1.)

Por contraste, os israelitas vieram dos bandos errantes de pastores que viviam ao longo das margens ao norte do deserto da Arábia. Assim, Abraão e seus descendentes eram, provavelmente, quase da mesma altura dos egípcios, mas tinham cútis cor de oliva, e cabelo castanho-escuro ou preto. Os egípcios referiam-se aos povos de outras terras segundo a localização geográfica de origem: “os líbios”, os “núbios” e assim por diante. Mas a si próprios se chamavam simplesmente de “o povo”.1 Sua língua provinha de uma base histórica camito-semítica. Em outras palavras, ela apresentava traços de línguas faladas no Norte da África (“camítico”, supostamente da família de Cão, Gênesis 10:6-20) e do Sul da Ásia Menor (“semítico”, supostamente da família de Sem, Gênesis 10:21-31). Embora a estrutura fundamental da língua egípcia (tal como as formas verbais) parecesse com as línguas semíticas como o hebraico, era muito mais parecida com as línguas camíticas dos vizinhos africanos do Egito ao longo da costa do Mediterrâneo.

O capitão Bouchard, do exército de Napoleão, descobriu a Pedra de Roserta no norte do delta do Nilo em 1799. Ela continha uma inscrição em três línguas — grego e duas formas de egípcio — em honra a Ptolomeu V Epifânio, governante helenístico do Egito que viveu 200 anos antes de Cristo. Um físico inglês por nome Thomas Young e um linguista francês chamado Jean François Champollion usaram a porção grega da pedra para decifrar os dois escritos egípcios. Champollion e Young verificaram que um dos textos egípcios da Pedra de Rosetta usava a escrita demótica (do grego demótikos; “pertencente ao povo”); esta era uma forma simples de escrever que os egípcios começaram a usar por volta de 500 a.C. A língua do outro texto era a clássica chamada hieróglifos (do grego heiroglyphikos, “inscrições sagradas”). Champollion e Young decifraram ambos os textos egípcios em 1822, e seu trabalho abriu o caminho para o estudo da literatura egípcia antiga.

GEOGRAFIA E AGRICULTURA

O território do Egito cobria a costa nordestina da África, limitado pelo deserto do Saara a oeste, pelas florestas tropicais da Núbia ao sul, pelo mar Vermelho ao leste, e pelo Mediterrâneo ao norte. O rio Nilo era como a corrente sanguínea do Egito antigo. As águas do rio traziam vida às campinas tostadas que o povo egípcio cultivava nos tempos bíblicos. Mas o Nilo era imprevisível, tornando-se, na época da inundação, um tirano feroz, destruidor, que arrasava as casas dos camponeses e arruinava safras vitais. O rio era ao mesmo tempo bênção e maldição para os lavradores egípcios (fellahin).

O rio Nilo regava um vale verde que variava de um e meio a trinta e dois quilômetros de largura. Os egípcios davam ao rico solo deste vale o nome de ‘Terra Negra”, e ao deserto que o circundava, “Terra Vermelha”. No mês de junho, as chuvas da África Central e as neves da Abis-sínia elevavam o nível das águas do rio para mais de quatro metros e meio acima das margens. A inundação atingia Siene (a moderna Assuã) nos meados de junho, e o rio permanecia inundado por mais de uma semana. Normalmente, os fellahin ficavam contentes de ver o Nilo cobrir suas terras, pois sabiam que deixariam para trás uma camada profunda de lodo que lhes daria uma colheita abundante naquele outono. Se o Nilo não subia tanto como de costume, teriam um “ano magro” (cf. Gênesis 41:30ss.), mas se subisse com muita velocidade, destruía tudo em sua passagem. Dessa maneira, os camponeses e os pastores viviam à mercê do rio. Na cidade de Heliópolis, o Nilo dividia-se para formar o braço Rosetta e o braço Damietta, depois se ramificava nas muitas artérias do delta. Os pequenos braços do rio ziguezagueiam pelo delta, irrigando a terra mesmo durante os meses secos do inverno. Por este motivo, o delta tornou-se a “cesta de pão” do Egito.

O Nilo era a mais importante rota comercial do Egito. Visto que os ventos predominantes sopravam para o sul, os barcos podiam navegar rio acima. As águas eram tranquilas num percurso de quase mil quilômetros, desde a costa do Mediterrâneo até Siene. Ali as caravanas vindas do Nilo Superior descarregavam suas cargas, que eram despachadas para o exterior. (Os egípcios denominavam a terra do rio acima [sul] desde Siene, “Alto Egito”, enquanto a terra do rio abaixo [norte] era chamada “Baixo Egito”. Logo acima de Siene estava a primeira de sete cataratas — quedas d’água que impediam a navegação. Assim, a cidade portuária naturalmente se tornou um importante ponto de referência para os egípcios.).

“. . .Desde tempos pré-históricos, os egípcios eram um povo de vida fluvial, e em [3000 a.C] haviam levado seus barcos para o mar aberto. . . . No mar Vermelho os navios egípcios dominavam o comércio em direção ao sul até à terra do incenso, mirra, resinas e marfim. . . .”

Ao expandir seu comércio e tornar-se uma nação próspera, o Egito teve de desenvolver melhores métodos agrícolas. As safras de alimento e de fibras têxteis eram os esteios de sua economia, por isso os agricultores tinham de imaginar métodos mais eficazes de irrigação, tirando o máximo proveito de sua estreita faixa de terra ao longo do Nilo. Construíram barragens para proteger as colheitas nos anos em que a inundação era forte, drenaram os pântanos da região do delta, instalaram dispositivos toscos de madeira a fim de elevar a água do rio para efeitos de irrigação, e abandonaram o trabalho manual com a enxada em favor dos arados de madeira puxados por bois. Comparada com o vale luxuriante do Nilo, a região costeira oriental era árida e hostil. “Ao longo da costa parece que sempre houve muitas lagoas, separadas do mar por barreiras baixas de areia, e usadas como salinas. Nos tempos gregos e romanos, a maior delas era conhecida como Charco, ou Pântano Serboniano [Sirboniano]. Tinha uma reputação péssima. A areia seca que o vento soprava através do pântano dava-lhe a aparência de terreno sólido, capaz de aguentar os que se aventurassem a andar sobre ele, só até ao ponto além do qual já não podiam fugir ou ser salvos, havendo tragado mais de um infeliz exército.”.

A temperatura e a umidade do delta e das regiões costeiras eram elevadas no verão, e a chuva era pesada no inverno. Um vento quente, abrasador, conhecido como Khamsin, soprava através do delta entre março e maio, deixando as pessoas fatigadas e irritáveis. O vento Sobaa gerava tempestades cegantes de areia, capazes de sepultar uma caravana em minutos. Esse clima variável causava muitas doenças. Com efeito, Moisés advertiu os israelitas de que se não fossem fiéis a Deus, o Senhor os afligiria com as “doenças malignas dos egípcios” (Deuteronômio 7:15; 28:60). Soldados do exército de Napoleão sofreram de furúnculos e febre quando se acamparam no Baixo Egito, e até mesmo visitantes modernos acham difícil adaptar-se ao clima local. Não obstante, o clima do Egito beneficiava o povo de outras maneiras. As brisas cálidas do Mediterrâneo davam ao Egito uma estação de plantio que durava o ano inteiro, o que os fellahin exploravam até aos extremos de suas capacidades técnicas. Ao mesmo tempo, a sequidão das terras áridas ao longo da margem do Nilo preservava os corpos embalsamados (múmias) dos faraós e outras relíquias. E as terras desoladas ao redor do Egito criavam fronteiras naturais que podiam ser defendidas com razoável facilidade.

RELIGIÃO E HISTÓRIA

Quando Mâneto (c. 305-285 a.C), sacerdote egípcio, escreveu em grego uma história do Egito, dividiu a história dos reis em 30 (mais tarde ampliou para 31) períodos conhecidos como “dinastias”. As dinastias foram depois agrupadas em reinos: o Antigo Reino (c. 2800-2250 a.C; dinastias 3-6), o Reino Médio (c. 2000-1786 a.C; dinastias 11-12), e o Novo Reino (1575-1085 a.C; dinastias 18-20). Mâneto denominou o tempo dos últimos faraós como Período Recente (c. 663-332 a.C; dinastias 26-31). As duas primeiras dinastias pertenciam ao Período Dinástico Primitivo (3100-2800 a.C). Entre o Antigo e o Médio Reino e entre o Médio e o Novo Reino houve tempos tumultuosos, conhecidos respectivamente como Primeiro e Segundo Período Intermediário. O período entre o Novo Reino e o Período Recente foi conhecido como Terceiro Período Intermediário (1085-661 a.C.) A conquista de Alexandre Magno introduziu um novo período na história do Egito, conhecido como Período Ptolemaico (332-30 a.C)-Com a vitória sobre Cleópatra VII, Augusto incorporou o Egito como província romana (30 a.C.-395 d.C). O desenvolvimento da religião egípcia é examinado no capítulo “Religiões e Culturas Pagãs”, mas aqui devemos observar a lealdade de diferentes faraós a diferentes deuses. As crenças religiosas dum faraó muitas vezes revelavam algo de seu caráter pessoal e ambições políticas.

A. Período Dinástico Primitivo e Antigo Reino. Antes de Mena ter unido o Egito (c. 3200 a.C),
a terra estava dividida em dois reinos que aproximadamente correspondiam ao Alto Egito e Baixo Egito.
Seth, o deus padroeiro da cidade de Ombos, havia-se tornado o deus do Baixo Egito enquanto Hórus,
deus padroeiro da cidade de Behdet, se tornara o deus do Alto Egito. Quando Mena de Tínis uniu os dois
Egitos (c. 3200 a.C), fez de Hórus o deus do céu, o deus nacional, e reivindicou ser a encarnação de
Hórus. Quase todos os faraós do Antigo Reino (2800-2250 a.C.) fizeram o mesmo, e os egípcios criaram
uma grande coleção de mitos a respeito de Hórus.

B. Primeiro Período Intermediário. Ao Antigo Reino seguiu-se o Primeiro Período Intermediário. Desta vez a sublevação social presenciou o colapso total do governo central. Os príncipes e barões locais adquiriram poder durante a sexta dinastia, e por fim tornaram-se completamente independentes. Os governadores de Tebas restauraram a ordem à nação conturbada durante a décima primeira dinastia, mas não puderam unir de novo o país. Foi nesse tempo que Abraão foi para o Egito fugindo da fome na Palestina (Gênesis 12:10-20). O “faraó” que Abraão tentou enganar pode ter sido um rei de Tebas, mas é muito provável que fosse um governante da região do Alto Egito.

C. O Reino Médio. O Reino Médio teve início por volta de 2000 a.C, quando Amenemés I de Tebas obrigou os príncipes da terra a, de má vontade, dedicar-lhe lealdade. Amenemés fez de Amun o deus de Tebas, o deus nacional de seu novo Reino Médio. Erigindo a Amun como o símbolo espiritual de sua nova dinastia, Amenemés pôs à prova a lealdade política de seus súditos. Os egípcios leais adoravam Amun em obediência a seu novo faraó, da mesma forma como em tempos posteriores os patriotas de um país cerravam fileiras em torno de sua bandeira. Por mais de 200 anos (2000-1780 a.C.) os faraós Amenemés e Senusret (Sesóstris) usaram Tebas como sua sede central de poder e adoraram Amun como o “rei dos deuses”. José foi levado ao Egito como escravo por volta de 1876 a.C. (cf. Gênesis 37:5-28). Alguns anos mais tarde ele se tornou o vizir (um oficial que ocupava o primeiro posto abaixo de faraó) num Egito unido, poderoso (cf. Gênesis 41:38-46). Durante esse período do Reino Médio o Egito estava despertando para o mundo. Trocava artigos de comércio com Creta, Palestina, Síria e outras terras. A arte e a literatura floresceram e de modo geral prevaleciam condições pacíficas. Quando Jacó e sua família migraram para o Egito, sem dúvida sentiram-se seguros de ataque e perseguição.

D. Segundo Período Intermediário. Pouco antes de 1700 a.C. os hicsos (“governantes estrangeiros”) tomaram o controle do Egito e fizeram de Mênfis sua nova capital. Adotaram o deus local de Heliópolis, Rê, como o deus nacional de seu novo reino. Rê era outro deus do Sol; os artistas o representavam como um homem-falcão com um disco solar sobre a cabeça. Os hicsos usavam Rê para acentuar que Heliópolis dominava todo o Egito. Em realidade, os hicsos controlavam somente o Baixo Egito, enquanto os reis do vale do Nilo Superior se mantiveram firmes em seus próprios domínios locais. O Egito dos hicsos não estava tão bem organizado quanto estivera sob o Antigo Reino e o Reino Médio, mas a sua literatura e cultura ultrapassaram de longe tudo o que havia na Palestina naquele tempo, que estava também em caos político e econômico. Alguns estudiosos crêem que o Êxodo ocorreu durante o período dos hicsos; outros, porém, contraditam esta opinião. Infelizmente, a Bíblia e a evidência arqueológica não se reforçam neste ponto. O capítulo “Cronologia do Antigo Testamento” discute a data mais provável do Êxodo (1446 a.C). Foi, provavelmente, um governante hicso o “novo rei sobre o Egito, que não conhecera a José” (Êxodo 1:8). É provável que os hicsos semíticos receassem uma rivalidade da parte dos israelitas e desejassem suprimi-los tanto quanto possível. Mesmo depois que os hicsos foram destronados, os governantes do Egito continuaram a oprimir os hebreus.

Depois de um século, mais ou menos, o rei Kamés de Tebas quebrou o poder dos hicsos e uniu de novo a nação sob a cidade de Tebas. Kamés, seu irmão mais novo Ahmose (Ahmés) e seus sucessores reformaram a religião do Egito uma vez mais. Essas alterações religiosas eram uma tática política. Os sacerdotes que controlavam os vários santuários e vilas lutavam para adquirir poder político sobre o faraó. Restauraram o culto de Amun, combinaram-no com a religião de Rê e deram ao novo deus nacional o nome de Amun-Rê. Isso abriu o caminho para uma nova época na política egípcia, chamada Novo Reino (1575-1085 a.C). Ahmose casou-se com a própria irmã, princesa Ahmose-Nofretari, e alegou que ela era esposa de Amun. Isso deu a ambos prestígio espiritual

O Vale dos Reis: Durante mil anos, os faraós do Egito foram sepultados na área deserta conhecida como Vale dos Reis. Localizado ao longo do Nilo, próximo da cidade de Tebas, tornou-se o lugar de repouso de trinta ou mais reis, dentre eles os maiores que o Egito já conheceu. A cultura egípcia tomava grande cuidado na preparação dos mortos, para garantir-lhes segurança no além-túmulo. Acreditava-se que se devia colocar no túmulo do morto tudo o que fosse necessário para tornar-lhe feliz a vida no além. Assim os reis enchiam seus túmulos com grande riqueza e depois marcavam o local com um enorme monumento de pedra (pirâmide). Empregavam-se muitos operários para construir os esmerados túmulos, e sabiam que dentro destes jaziam tesouros de toda espécie. A fim de proteger esses tesouros, o rei da dinastia reinante contratava guardas para patrulhar o vale. A despeito dessas precauções, os ladrões de sepulturas começaram a saquear os túmulos, despojando-os de tudo. Assim, muitos dos reis foram mudados para locais secretos de sepultamento a fim de proteger seus corpos e es-quifes. O rei Tutmés, grandemente perturbado por esta pilhagem, decidiu manter em segredo o local de seu túmulo. Contratou um amigo de confiança, Ineni, para supervisar a construção. Acredita-se que Ineni contratou prisioneiros para realizar o trabalho e, concluída a obra, matou-os a fim de manter o segredo real. Até este plano falhou, pois os ladrões continuaram a saquear as riquezas dos túmulos. Quando, em 1899, se descobriu o túmulo do rei Tutmés, pouco restava nele, exceto o maciço sarcófago de pedra. Nenhuma área jamais foi cercada com tal mistério como o Vale dos Reis. As suas riquezas evocavam maldade nos corações de homens que buscaram despojá-lo por completo. Até 1800 os homens ainda continuavam a buscar sua riqueza. Contudo, o vale foi finalmente salvo pelos esforços dos arqueólogos que desenterraram o maior achado até agora, o túmulo do rei Tu-tancâmen.

E. O Novo Reino. O Novo Reino começou, formalmente, quando Amenófis I (Amenotepe I), filho de Ahmose, sucedeu-o no trono em 1546 a.C. Observe-se que Amenófis deu a si o nome de Amun-Rê, deus de seu pai; também ele se denominava “Filho de Rê”. Aos poucos os egípcios passaram a considerar os seus faraós como deuses encarnados, e os adoravam como tais. Por exemplo, a história egípcia oficial dizia que quando Tutmés II morreu (c. 1504 a.C.), “ele foi para o céu e mesclou-se com os deuses”.5 Outros faraós do Novo Reino adotaram o costume de dar a si próprios o nome de Amun-Rê (p. ex., Amenófis, Tutancâmen). Quando Hatshepsut assumiu o poder de faraó após a morte de Tutmés II (ela foi a única mulher a fazer tal coisa), deu a si própria o nome de “Filha de Rê”. Ela se descrevia como “totalmente divina”, e dizia que todos os deuses do Egito prometeram protegê-la. Seu filho, Tutmés III, também tinha essa idéia de proteção divina para o faraó. Quando seu general, Djehuti, conquistou uma grande vitória em Jope, ele enviou uma mensagem a Tutmés III, que dizia: “Regozije-se! Seu deus Amun livrou-o do inimigo de Jope, todo o seu povo e toda a sua cidade. Envie gente para levá-los como cativos, a fim de que o senhor possa encher a casa de seu pai Amun-Rê, rei dos deuses, com escravos. . . .”6 Os faraós subseqüentes do Novo Reino, especialmente Amenófis III (1412-1375 a.C), construíram grandes túmulos para si próprios que exaltavam os poderes de Amun-Rê. O deus era o direito deles à imortalidade. Amenófis IV absteve-se da adoração de Amun-Rê em favor de Aton, deus do Sol. Akhnaton foi o novo nome que ele deu a si próprio e fundou uma nova capital em Amama, onde tentou estabelecer a Aton como o novo deus universal do Egito. Mas após a sua morte em 1366 a.C, seu sucessor Tutancâmen levou de volta a capital para Tebas e restaurou Amen-Rê como o deus principal do império. O túmulo de Tutancâmen continha muitos símbolos de Osíris, o deus dos mortos, e outra evidência indica que o culto a Osíris estava-se tornando mais proeminente nessa época.

O idoso rei Ramessés I iniciou a décima nona dinastia com seu breve reinado de meio ano (1319- 1318 a.C). Esta dinastia restaurou a glória do antigo Egito por pouco tempo, após a desordem política que Akhnaton havia causado. Seti I, filho de Ramessés, começou novas guerras de conquista que o levaram à Palestina, expulsando dali os hititãs. Os faraós dessa dinastia estabeleceram sua capital em Carnaque, no delta do Nilo. Embora ainda prestassem homenagem a Amun-Rê, eles elevaram o culto de Osíris a novo nível de favor real. Dedicaram a cidade de Abidos em honra de Osíris, e glorificaram o deus dos mortos nos túmulos majestosos que erigiram em Abu Simbel e nos templos de Medinet Abu. Os faraós Ramessés também exaltaram o culto de Rê-Harakhti, no qual combinavam as qualidades de Hórus (o deus do céu) e Rê (o deus do Sol). Mas ainda consideravam Amun-Rê como o deus principal de seu sistema religioso. Ramessés II escolheu seu filho, Memeptá, para sucedê-lo, em 1232 a.C. Memeptá e os restantes reis da décima nona dinastia aos poucos foram perdendo o poder que os reis Ramessés haviam adquirido; mas Memeptá realizou incursões implacáveis contra a Palestina. Os arqueólogos traduziram uma inscrição de uma coluna de pedra chamada Esteia de Israel, na qual Memeptá descreve suas vitórias nessa região: “Vencida está Asquelom; Gezer está dominada; Yanoam tornou-se como aquilo que não existe; Israel está devastado, sua semente acabou. . . .”7 Essas incursões teriam ocorrido durante o tempo dos juizes; portanto, a descrição de Memeptá confirma a situação desorganizada em Israel, onde “outra geração após deles se levantou, que não conhecia ao Senhor, nem tampouco as obras que fizera a Israel” (Juizes 2:10). Contudo, os problemas de Merneptá em sua terra não lhe permitiram permanecer na Palestina, de modo que ele deixou as tribos dispersas de Israel à mercê dos filisteus.

Faraó Setnakht uniu de novo as cidades-estados egípcias por volta de 1200 a.C. Seu filho, Ramessés III (1198-1167 a.C), rechaçou as invasões dos “Povos do Mar” — filisteus que desembarcavam nas praias mediterrâneas do Egito. Seus artistas gravaram grandes inscrições em relevo no Templo de Medinet Abu, as quais descrevem essas vitórias. Mas Ramessés III morreu às mãos de um assassino, e seus sucessores aos poucos perderam o controle do governo. Por ironia da sorte, os sacerdotes de Amun adquiriram maior prestígio durante os mesmos períodos.

O Canal Nilo—Mar Vermelho: A ideia de um canal ligando os mares Mediterrâneo e Vermelho tem cerca de 4000 anos. O primeiro canal foi, provavelmente, construído pelo Faraó Sesóstris I (reinado de 1980-1935 a.C.). O comércio do Egito com o exterior, -a época, era monopólio real. Os faraós do geino Médio acreditavam em buscar o favor de «eus vizinhos. Sesóstris I ou um outro faraó daquela era construiu um canal para ampliar o comércio com seus vizinhos sulistas em Punt (possivelmente a Somália moderna). Durante o tempo dos faraós, o rio Nilo dividia-se em três grandes braços que passavam pelo delta e iam desaguar no mar Mediterrâneo. O braço que ficava no extremo oriental (obstruído por sedimento desde o tempo de Cristo) foi o braço do qual se construiu o canal Nilo— Mar Vermelho. O canal parece ter percorrido desde o Nilo em Bubastis (a Zagazig moderna) através da terra de Gósen até unir-se ao lago Timsá. Ali ele virava para o sul, passando pelo lago Amargo, e outro canal o ligava com o mar Vermelho. A mais antiga informação escrita a respeito do canal é a inscrição de uma das expedições comerciais de Hatshepsut ao Punt. Restos da obra de alvenaria do canal mostram que ele tinha cerca de 45 m de largura e 5 m de profundidade. Aos poucos o canal foi obstruído por tempestades de areia e caiu em desuso. Por volta de 600 a.C, o Faraó Neco tentou reabrir o canal. Heródoto registrou o empreendimento: “O comprimento desse canal é igual a quatro dias de viagem e sua largura suficiente para permitir a passagem de duas trirremes (embarcações de guerra) lado a lado. … Na execução desta obra por ordem de Neco, pereceram não menos de 10.000 egípcios. Afinal, ele desistiu do empreendimento, sendo admoestado por um oráculo de que todo o seu trabalho reverteria em vantagem a um bárbaro.” Estrabão (c. 63 a.C.-21 d.C.) declarou que Dario da Pérsia deu prosseguimento à obra, e então parou diante da falsa opinião de que o nível do mar Vermelho era superior ao do Nilo e inundaria o Egito. Os ptolomeus tornaram o canal navegável por meio de comportas. Durante a ocupação romana, Trajano, imperador romano (reinado de 98-117 d.C.) adicionou um braço ao canal. Este mais tarde caiu em desuso, como se dera com o canal anterior. Um califa muçulmano ordenou a seus homens que obstruíssem parte do canal como ato de guerra no ano 767 d.C, e jamais foi reaberto. O Canal de Suez, aberto em 1869, liga diretamente o mar Vermelho ao Mediterrâneo, sem utilizar o Nilo.

F. Terceiro Período Intermediário. Por volta de 1100 a.C, um general núbio por nome Paneshi nomeou Hrihor, um de seus lugares-tenentes, como sumo sacerdote de Amun em Carnaque. Hrihor logo se tornou comandante-chefe do exército e destronou a Ramessés XI (1085 a.C), o que deu início a um novo modelo de governo egípcio: cada faraó nomeava um de seus filhos como sumo sacerdote de Amun como primeiro passo do menino para o trono. A família real reivindicava ser, deste ponto em diante, a suprema família religiosa, usando a influência de Amun para afirmar sua autoridade. Nesse tempo, Davi e Salomão estavam levando Israel ao clímax de seu poder. Quando Joabe, comandante-chefe de Davi, expulsou o príncipe Hadade de Edom, os servos de Hadade levaram-no ao Egito (1 Reis 11:14-19). Um dos faraós o recolheu, e Hadade casou-se com a cunhada de Faraó. Então Hadade voltou a atormentar o rei Salomão (1 Reis 11:21-25). Assim, o Egito apareceu nos assuntos políticos de Israel durante esse período (cf. 1 Reis 3:1; 9:16). Mas o império egípcio foi-se desintegrando aos poucos, e os príncipes da Núbia separaram para si o Sul, com sua capital em Napata. Esses reis núbios também alegavam contar com o favor especial de Amun. “O estado devia ser considerado como um modelo de teocracia e seu rei o verdadeiro protetor do caráter e da cultura egípcios autênticos.”8 Os problemas do Egito foram muito semelhantes aos de Israel durante este tempo; ambos tiveram um reino dividido. Os reis da Líbia (ao ocidente) destronaram os fracos faraós de Tebas no décimo século antes de Cristo. Contrataram soldados da região do delta do Nilo para manter a paz no Baixo Egito. Chechong I, um desses reis libios, saqueou o templo de Jerusalém no quinto ano de Roboão (1 Reis 14:25-26; observe-se que a Bíblia o chama de “Sisaque”). Chechong e os demais reis libios adotaram a tradicional adoração de Amun-Rê. Todavia, mesmo com este símbolo de poder nacional, não conseguiram concretizar seu sonho de reviver o império egípcio. Os príncipes núbios (etíopes) desceram o Nilo e derrotaram os reis líbios por volta de 700 a.C. No decorrer dos próximos cinquenta anos, tentaram unificar o Egito. Um desses novos reis (a Bíblia chama-o de “Zerá”) atacou Judá com um enorme exército. Sem dúvida alguma, ele estava tentando garantir sua fronteira oriental, como tantos faraós o haviam feito antes dele. Asa, porém, derrotou-o por completo: “. . .caíram os etíopes sem restar nem um sequer” (2 Crônicas 14:13). Logo depois, os assírios atacaram Judá. O rei Oséias, de Judá, apelou para um novo rei etíope pedindo ajuda, mas os etíopes nada puderam fazer: “. . .por isso o rei da Assíria o encerrou [a Oséias] em grilhões num cárcere” (2 Reis 17:4). Os assírios capturaram Judá, e depois marcharam para o Egito e destronaram a monarquia etíope em 670 a.C.

G. O Período Recente. Os assírios não puderam manter seu domínio sobre o Egito, e sete anos mais tarde o príncipe Psamético de Sais fê-los recuar à Península do Sinai. Psamético reuniu o Alto e o Baixo Egito e estabeleceu a vigésima sexta dinastia, restaurando a cultura egípcia até 663 a.C. (quando os persas conquistaram o Egito). Psamético restabeleceu o culto de Amun-Rê como o deus nacional do Egito. Mas seus sacerdotes não puderam exercer a influência controladora e unificadora que os sacerdotes da casa real outrora exerciam sobre o povo. A religião egípcia degenerou-se numa variedade de cultos de animais. Os reis da vigésima sexta dinastia construíram templos em honra de determinados animais sagrados, como o crocodilo e o gato. “Tão extremo foi o zelo desta época que se tornou costume embalsamar cada um dos animais sagrados por ocasião de sua morte e sepultá-lo com toda a cerimônia em cemitérios especiais dedicados a esse fim.”9 Neco sucedeu a seu pai Psamético I como faraó em 610 a.C. Reconheceu a crescente ameaça da Babilônia, e marchou através de Canaã a fim de ajudar os assírios no combate a este inimigo comum. O rei Josias tentou detê-lo em Megido, mas Neco o derrotou e prosseguiu em sua marcha (2 Reis 23:29-30). Nabucodonosor destruiu 0 exército egípcio em Carquemis no rio Eufrates em 605 a.C. Mas Necn escapou, capturou o novo rei de Judá e fez de Judá um estado-tampão entre Babilônia e Egito (2 Crônicas 36:4). Quando Nabucodonosor atacou Judá em 601 a. C, o Egito pôde detê-lo por algum tempo, o Faraó Aprias, encorajou o rei Joaquim a resistir aos intrusos babilônios. Mas Nabucodonosor teve êxito em capturar Jerusalém em 586 a.C. e levou o seu povo para o Exílio. Nabucodonosor colocou Gedalias como governador da nova província de Judá; mas os súditos de Gedalias o assassinaram dentro de poucos meses (2 Reis 25:25), Com medo de que os babilônios os matassem por vingança, os judeus remanescentes de Jerusalém fugiram para o Egito. Dentre eles estava o profeta Jeremias (Jeremias 43:5-7).

Ciro, rei da Pérsia, conquistou o Império Babilônio em 539 a.C; seu sucessor, Cambises, tomou o Egito em 525 a.C. Os persas colocaram reis títeres no trono do Egito no século seguinte, e cada um deles prestou louvores, da boca para fora, ao deus Amun-Rê. Mas o verdadeiro poder por trás do trono era o exército da Pérsia, e não a mística tradicional dos deuses egípcios.

Madame Faraó. Os governos antigos raramente permitiam que as mulheres atingissem posições de liderança. As poucas mulheres que tiveram êxito em reivindicar o trono fizeram-no pela violência ou por, aos poucos, assumirem os poderes de um monarca fraco. Atalia, a única mulher a governar Judá, usou o primeiro método, apossando-se do poder mediante o assassínio de seus netos (2 Reis 11:1-3). Hatshepsut, que lentamente assumiu o papel de faraó, usou o segundo método tomando-o de seus meio-irmãos. Hatshepsut (1486-1468 a.C.) foi a única filha sobrevivente de Faraó Tutmés e Ahmose. Ah-mose (sua mãe) era a única descendente dos antigos príncipes tebanos que combateram e expulsaram os governantes estrangeiros, os hic-sos. Muitos egípcios criam que só os descendentes desta linhagem tinham o direito de governar. Em realidade, Tutmés havia governado por força de seu casamento com Ahmose, uma vez que o país recusou submeter-se ao governo de uma mulher. A fim de providenciar um faraó para o trono quando seu pai morreu, Hatshepsut casou-se com Tutmés II, seu meio-irmão por parte de uma das esposas de menor importância de Tutmés. (Os egípcios não viam nada de errado em casamentos de irmão com irmã. Na opinião deles, isso-tomava o sangue mais puro.) Mas no tempo de sua coroação, Tutmés II estava mal de saúde. Foi dominado pela esposa, Hatshepsut, e pela mãe dela, Ahmose. O reinado dele não durou mais que três anos. Tutmés III, outro meio-irmão de Hatshepsut foi, então, proclamado faraó; mas Hatshepsut atuou como regente em lugar do jovem faraó. Uma inscrição diz: “Sua irmã, a Divina Consorte Hatshepsut, ajustou os negócios das Duas Terras [isto é, Alto e Baixo Egito] por questões de seus desígnios; o Egito se viu obrigado a baixar a cabeça para ela, a excelente semente do deus, que veio diretamente dele.” Em vez de entregar a regência quando Tut-més atingiu a maioridade, Hatshepsut assumiu os títulos de faraó. Em seu templo em Deir el-Bahri, ela empenhou grandes esforços para tornar seu reinado legítimo. Senmut, seu arquiteto, esculpiu nas paredes uma série de relevos que mostram o nascimento da rainha. O deus Amon é visto aparecendo a Ahmose, e diz-lhe ao deixá-la: “Hatshepsut será o nome desta minha filha. . . .Ela exercerá a excelente realeza em toda esta terra.” O artista seguiu as tradições da corte tão de perto que representou Hatshepsut como menino. O relevo mostra a coroação de Hatshepsut pelos deuses, e o reconhecimento por parte de seus pais como rainha. Esses deuses representam Tutmés I a dizer: “Proclamareis a palavra dela, estareis unidos ao seu comando. Aquele que prestar-lhe homenagem viverá; aquele que falar mal, blasfemando contra sua majestade, morrerá.” O reinado de Hatshepsut trouxe a maior prosperidade em seguida ao colapso do Reino Médio. Extensa construção e reconstrução de templos foi levada a cabo sob a direção de Senmut. Hatshepsut deu ordens para que se erigissem enormes obeliscos com pedras das pedreiras de Assuã, as inscrições que mandou gravar neles proclamavam a rainha, e revestiu-os de ouro no topo de sorte que pudessem ser vistos de ambos os lados do Nilo. As relações de Hatshepsut com as demais nações foram de paz. Ela estava orgulhosíssima de uma expedição à terra de Punt (talvez a moderna Somália). Cinco embarcações carregadas de jóias, ferramentas e armas, bem como uma grande estátua da rainha, desceram o Nilo e entraram por um canal que liga o Nilo ao mar Vermelho. Ao voltarem os navios, traziam uma carga “muito pesada, das maravilhas do país de Punt; todas as belas e fragrantes madeiras, montes de plantas de mirra, com ébano e marfim puro, com o ouro verde de Emu, com incenso, com babuínos, macacos e cães. . . . Nunca coisas iguais a estas foram trazidas por nenhum rei estabelecido desde o princípio”. Depois de Hatshepsut ter sido faraó durante dezessete anos, o jovem Tutmés III terminou o reinado dela de forma abrupta. Talvez porque tivesse esperado por tanto tempo em posição secundária, Tutmés tentou expurgar por completo os registros do reinado dela. As inscrições nos templos da rainha foram raspadas. Os obeliscos foram revestidos de argamassa que cobria o nome de Hatshepsut e o registro da construção de tais obeliscos. As estátuas da rainha foram jogadas na pedreira. Mas Tutmés III não teve êxito em apagar a fama de Hatshepsut.

H. Período Ptolemaico. Alexandre Magno conquistou o Egito em 332 a.C. Morreu nove anos depois, e a família ptolemaica assumiu o controle do Egito e da Palestina. Os ptolomeus colocaram membros de sua própria’ família no trono em Tebas, e procuraram recapturar a grandeza da era áurea do Egito. Por exemplo, Ptolomeu Evérgetes II fez Amenófis I deus no ano 140 a.C; ao reverenciar este faraó que estabeleceu o Novo Reino, Evérgetes esperava passar por verdadeiro egípcio. Mas o povo prestou-lhe apenas lealdade simbólica. Ele teve de depender dos exércitos romanos para protegê-lo dos ataques do Império Selêucida do Norte da Palestina. Pompeu, imperador romano, capturou Jerusalém em 63 a.C. e pôs fim à ameaça selêucida; mas o Egito cambaleava à beira de um colapso. Por fim, da família ptolemaica surge Cleópatra que tenta salvar a nação por meio de chicana e subornos. Ela cortejou o favor tanto de César Augusto como de Marco Antônio; mas quando a frota de César derrotou a dela em Ácio, em 30 a.C, Cleóparra, desesperada, suicidou-se. A partir daí, o Egito esteve sob o escudo de Roma imperial. Durante seu breve tempo no trono, os governantes helenistas edificaram cidades gregas na costa do Egito e trouxeram colonizadores gregos para o país. Dessa forma adicionaram elementos estrangeiros a vida egípcia, especialmente à religião. Os egípcios foram mais receptivos ao processo de helenização do que os judeus. Os sacerdotes deram aos deuses egípcios os nomes de suas contrapartes gregas; Hórus veio a ser Apoio; Tot tornou-se Hermes; Amun passou a ser Zeus; Ptá tornou-se Hefesto; Hator veio a ser Afrodite; e assim por diante. Os egípcios cultuavam os governantes ptolemaicos e suas esposas, de maneira muito semelhante ao culto dos faraós.

Os judeus que se estabeleceram no Egito durante o exílio babilônico desenvolveram florescentes comunidades judaicas. Papiros aramaicos Mostram que houve uma proeminente colônia judaica em Assuã, na ilha de Elefantina. Este grupo não vivia em íntima conformidade com a lei de Moisés, e, finalmente, aboliram o sacrifício de animais. A comunidade foi destruída logo depois de 404 a.C. Outras comunidades judaicas foram mais prósperas, e sob os ptotomeus receberam status legal. A Carta de Aristeias afirma que Ptolomeu I levou mais de 100.000 judeus da Palestina e os usou como mercenários nas forças armadas egípcias. Esses judeus continuaram a adorar a Deus, mas ajustaram-se à vida greco-romana. Antigos recibos de impostos mostram que houve judeus coletores de impostos no Egito. Os judeus também serviram em outros postos do governo. Numa carta que Gáudio escreveu aos alexandrinos, pediu que não fosse permitido aos judeus concorrerem ao cargo de gymiskrch, pessoa encarregada dos jogos atléticos, ofensivos aos judeus estritos (cf. 1 Macabeus 1:14-15). Filo, historiador antigo, diz que um milhão de judeus viviam no Egito. Conheciam pouco da língua hebraica ou aramaica. Por esse motivo a Bíblia hebraica foi traduzida para o grego, a versão conhecida como Septuaginta. Os judeus de Alexandria foram os primeiros a usar a Septuaginta; mais tarde ela era lida nas sinagogas por todo o Império Romano. Filo de Alexandria foi um filósofo judeu que adotou as ideias gregas ao estoicismo e do platonismo. Ele revestiu as crenças judaicas nas categorias de pensamento filosófico grego. De Alexandria veio a interpretação alegórica das Escrituras. A cidade egípcia tornou-se um importante centro de erudição judaica no período intertestamentário. Quando Maria e José esconderam o menino Jesus ali por volta de 4a.C. (Mateus 2:13-15), diversas comunidades judaicas permaneciam na área do delta do Nilo onde se haviam estabelecido no tempo de jeremias. Supomos que Maria e José encontraram refúgio em uma dessas aldeias.

Sabedoria Hebraica v. Egípcia

Os sábios hebreus que escreveram os livros de Provérbios, Eclesiastes, Jó e alguns dos Salmos podem ter sido influenciados por sábios egípcios que escreveram literatura semelhante. Mas a “literatura de sabedoria” hebraica tem uma diferença fundamental da sabedoria de outras culturas. A sabedoria hebraica girava em torno do Deus Todo-poderoso; dizia que “O temor do Senhor é o princípio do saber” (Provérbios 1:7). Esta sabedoria guiaria um indivíduo no viver cotidiano. A sabedoria de Deus, conforme refletida pela literatura de sabedoria do Antigo Testamento proporcionava ao povo judeu uma moralidade básica de bom senso que ditava a conduta do indivíduo em muitas circunstâncias. A sabedoria egípcia também tentou estabelecer as normas da conduta própria para a vida diária. Contudo, para o egípcio, a sabedoria girava em torno do indivíduo. Baseava-se no estudo e registro da sabedoria dos eruditos, e na autodisciplina para aceitar a vida com seus muitos paradoxos. Ser bem versado nos escritos de sabedoria era parte importante da educação egípcia; abria as portas para carreiras e privilégios que de outra maneira eram inatingíveis. Os eruditos egípcios produziram uma sofisticada forma de versejar a sabedoria. Uma forma popular é a que se vê nas ‘Instruções” ou acervos de ditos práticos. Muitos estudiosos da Bíblia reconhecem que a “Instrução de Amenem-opet” mostra uma forte semelhança com o livro de Provérbios. Amen-em-opet divide sua “instrução” em trinta partes, estrutura semelhante aos trinta ditos de Provérbios 22:17 a 24:22. Ambos os livros mostram interesse pela proteção dos indefesos; exigem tratamento justo de viúvas e órfãos, e acentua o valor do conhecimento. Amen-em-opet aconselha: “Não confie nas balanças nem falsifique os pesos. . . .”Provérbios 20:23, diz: “Dois pesos são coisa abominável ao Senhor, e balança enganosa não é boa.” A filosofia dos egípcios de um» vida bem vivida era: “Melhor é a pobreza n» mão do deus do que riquezas num armazém-melhor é o pão, quando o coração está feliz, do que as riquezas com pesar.” É semelhante a Provérbios 15:16-17: “Melhor é o pouco havendo o temor do Senhor, do que grande tesouro, onde há inquietação. Melhor é um prato de hortaliças, onde há amor, do que o boi cevado e com ele o ódio.” A “Admoestação de um Sábio Egípcio” reflete as injustiças da vida ao observar: “Em verdade, os pobres agora possuem riquezas e aquele que nem mesmo podia fazer sandálias para si possui tesouros. . . . Aquele que não tinha servos tornou-se agora senhor de (muitos) escravos e aquele que era nobre tem agora de administrar seus próprios negócios.” Eclesiastes 9:11 e 10:7 declaram ideia semelhante: “. . .não é. . .dos sábios o pão, nem ainda dos prudentes a riqueza, nem dos entendidos o favor. . .”, e “Vi os servos a cavalo, e os príncipes andando a pé como servos sobre a terra”. O estudo desses documentos antigos tem aumentado nossa compreensão do Antigo Testamento, mas ainda há considerável debate sobre que relação existia entre a sabedoria hebraica e a egípcia. Talvez a sabedoria hebraica tenha influído no desenvolvimento das culturas circunvizinhas, e o que vemos no Egito seja reflexo da obra hebraica.

—- Retirado de: J. I. Packer – O Mundo do Antigo Testamento.


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