O Reino da Síria

O reino de Arã, cuja capital era Damasco, é melhor conhecido pelo nome de Síria. Durante cerca de dois séculos desfrutou de poder e prosperidade às expensas de Israel. Quando Davi expandiu seu reino, derrotou Hadadezer, governante de Zobá, e firmou amizade com Toi, rei de Hamate. Salomão ampliou as fronteiras de seu reino até mais de 160 km além de Damasco e Zobá, conquistando Hamate, às margens do Orontes, e estabelecendo cidades-armazéns naquela região. Durante a porção final de seu reinado, Rezom, que fora jovem oficial militar sob Hadadezer, em Zobá, antes de haver sido derrotado por Davi, apossou-se de Damasco e lançou os alicerces para o reino arameu ou sírio. A rebelião durante o reinado de Reoboão lhe proveu essa oportunidade. Durante os dois séculos seguintes a Síria se tornou um dos contendores à cata de poder, na área da Síria -Palestina.

A guerra que houve entre Judá e o reino do Norte, cujos governantes respectivos foram Asa e Baasa, forneceu à Síria, governada por Ben-Hadade, a oportunidade de emergir como a nação mais poderosa da terra de Canaã, perto dos fins do século IX a. C. Quando Baasa começou a fortificar a cidade fronteiriça de Ramá, somente a oito quilômetros ao norte de Jerusalém, Asa enviou a Ben-Hadade os tesouros do templo, como suborno, estabelecendo com ele uma aliança contra o reino do Norte. Embora isso tenha concretizado os propósitos imediatos de Asa, afrouxando a pressão militar exercida por Baasa, na realidade deu à Síria toda a vantagem, de maneira tal que, com o tempo, ambos os reinos israelitas foram ameaçados de invasão vinda do norte. Conquistando parte do território nortista de Israel, Ben-Hadade foi capaz de controlar as rotas de caravanas para a Fenícia, o que redundou em riquezas imensas canalizadas para Damasco – fortalecendo o reino da Síria.

A supremacia síria como potência militar e comercial foi contrabalançada pelo reino do Norte quando a dinastia de Onri começou a governar, em 885 a. C. Onri quebrou o monopólio comercial da Síria com a Fenícia ao estabelecer relações amistosas com Etbaall, rei de Sidom. Isso resultou no casamento de Acabe e Jezabel. O poder emergente da Assíria, no oriente, serviu de outro freio sobre a Síria, nos dias de Acabe. Durante os anos em que Assurnasirpal, rei da Assíria, se contentou em flanquear a Síria pelo norte, ao ampliar seus contactos com o Mediterrâneo, Acabe e Ben-Hadade com frequência se combateram. Com o tempo, Acabe obteve o equilibrio do poder. Em 853 a. C., entretanto, Acabe e Ben-Hadade unificaram suas forças na famosa batalha de Carcar, no vale do rio Orontes, a norte de Hamate.14Embora Salmaneser III tenha declarado haver obtido grande vitória, é duvidoso que tal vitória tenha sido decisiva, porquanto ele não prosseguiu seu avanço até Hamate ou Damasco, senão somente vários anos mais tarde. Imediatamente depois disso, continuaram as hostilidades siro-efraimitas, tendo Acabe sido morto em batalha. Quando a Assíria renovou os seus ataques contra a Síria, talvez Ben-Hadade não tenha gozado do apoio de Jorão. Quando morreu Ben-Hadade, em cerca de 843 a. C., a Síria se viu tremendamente pressionada pelos invasores assírios, tanto quanto pela falta de apoio da parte do reino do Norte.

Hazael, o líder seguinte, usurpou o trono e se tornou um dos mais poderosos monarcas – extendendo o domínio sírio até à Palestina. Embora Jeú, o novo rei de Israel, se tenha submetido a Salmaneser III, pagando-lhe tributo (841 a. C.), Hazael conseguiu resistir sozinho à invasão enviada por aquele rei assírio. Dentro de poucos anos Hazael se viu capaz de ampliar seu reino, quando os assírios se retiraram. Vasto território do reino do Norte foi anexado à Síria, às expensas de Jeú. Depois de 814 a. C., Jeoacaz, rei de Israel, mostrou-se tão débil que os exércitos de Hazael atravessaram seu território e se apossaram da planície da Filístia, destruindo Gate e exigindo tributo do rei de Judá, em Jerusalém. Ben-Hadade (cerca de 801 a. C.) não conseguiu manter o reino estabelecido por Hazael, seu progenitor. Durante os poucos últimos anos de seu governo, Adadnirari III, da Assíria, subjugou Damasco de modo suficiente para cobrar-se pesado tributo. Outrossim, Bem Hadade teve de enfrentar a oposição hostil que lhe foi movida pelos estados sírios do norte. Isso deixou Damasco em situação de tão extremada fraqueza que quando prosseguiu a pressão assíria Joás reconquistou para Israel grande parte dos territórios tomados por Hazael. Nos dias de Jeroboão II (793 – 753), a Síria chegou a perder Damasco e a “ entrada de Hamate” , restaurando a fronteira norte estabelecida por Davi e Salomão (veja2 Sm 8:5-11).

Uma vez mais, Damasco teve a chance de impor-se, quando faleceu o poderoso rei Jeroboão, em 753 a. C. Rezim (cerca de 750 – 732 a. C.), o último dos reis arameus em Damasco, reconquistou a independência síria. Com a ascensão de Tiglate-Pileser III ao trono assírio (745 a. C.), tanto a Síria quanto Israel se viram alvo de invasão e da imposição de pesado tributo. Enquanto TiglatePileser (Pul) combatia na Armênia (737 – 735 a. C.), Rezim e Peca organizavam entre si uma aliança para evitar o pagamento do tributo. Embora Edom e a Filístia se tivessem aliado à Síria e a Israel, nessa aliança anti-assíria, Acaz, rei de Judá, enviou tributo a Pul, afirmando-lhe a sua lealdade. Em resposta a esse convite, Pul fez uma campanha contra a Filístia, estabelecendo contacto com Acaz, e, por volta de 732 a. C. já havia conquistado Damasco. A Samaria escapou, nessa ocasião, quando Peca foi substituído por Oséias, o qual voluntariamente pagou tributo como monarca títere. Com a morte de Rezim e a queda de Damasco, o reino da Síria chegou ao fim, para nunca mais erguer-se de novo.

——- Retirado de Samuel J. Schultz – A Historia de Israel no Antigo Testamento.


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