Israel se acampou propositalmente no monte Sinai. Em um prazo menor que um ano, o povo pactuado com Deus se tornou uma nação. O pacto se expandiu na forma do decálogo e de preceitos que visavam a uma vida santa, a construção do tabernáculo, a organização do sacerdócio, a instituição das oferendas e a observância de festividades e épocas — isso capacitou Israel a servir a Deus eficazmente (veja Êx 19:1- Nm 10:10).
A religião de Israel era uma religião revelada. Durante séculos os israelitas sabiam que Deus estabelecera uma aliança com Abraão, Isaque e Jacó; mas não tinham consciência experimental de Seu poder e de Suas manifestações em favor deles. Deus nunca olvidou esse pacto de que livraria Israel da servidão e escravidão aos egípcios (veja Êx 6:2-9). Foi ali, no monte Sinai, que Deus se revelou a Israel.
A experiência de Israel e a revelação de Deus nesse acampamento são registradas em Êx 19 – Lv 27. As seguintes subdivisões podem servir de guia para maiores considerações:

O Pacto
Tendo estado em servidão, em um meio ambiente idólatra, agora Israel teria de ser um povo totalmente consagrado a Deus. Por meio de um ato sem precedentes na história, e que igualmente não foi duplicado desde então, aquele povo foi subitamente transformado do estado de servidão para o estado de nação independente. Ali no Sinai, com base nesse livramento, Deus estabeleceu com eles um pacto, para que fossem Sua nação santa. Israel foi instruído a preparar-se por três dias, para que se firmasse esse pacto. Por meio de Moisés Deus revelou o decálogo, outros preceitos e instruções para observância das festividades sagradas. Sob a liderança de Arão, dois de seus filhos e setenta anciãos, o povo adorou a Deus com oferendas queimadas e pacíficas. Depois que Moisés leu o livro do pacto o povo respondeu aceitando as condições. A aspersão do sangue sobre o altar e sobre o povo selou o acordo. A Israel foi assegurado que seria conduzido à terra de Canaã no devido tempo. A condição do pacto era a obediência. Os membros individuais da nação poderiam perder seus direitos do pacto por meio da desobediência. Nas planícies de Moabe, Moisés liderou os israelitas numa pública renovação do pacto, antes de sua morte. (Veja Dt 29:1).
O Decálogo
As dez palavras, ou dez mandamentos, constituem a introdução ao pacto.
Os judeus diferem de Josefo porque usavam Êx 20:2 como o primeiro mandamento, e os vv. 3-6 como o segundo. A divisão usada pelos judeus, desde os primeiros séculos do cristianismo, separa o v. 2 como primeiro mandamento, e combina os vv. 3-6 como o segundo. A enumeração de Agostinho diferia levemente da lista acima, pois o nono mandamento envolvia a cobiça pela mulher do próximo, ao passo que a prosperidade era agrupada sob o décimo mandamento, seguindo a ordem que há no livro de Deuteronômio. Ao repartirem os Dez Mandamentos em duas tábuas os judeus, desde Filo até o presente, dividem-nos em dois grupos de cinco mandamentos cada. Visto que os primeiros cinco são quatro vezes maiores que os outros, essa divisão está sujeita a impugnação. Agostinho dividia três mandamentos para a primeira tábua e sete para a segunda, começando esta última com o mandamento para que se honrem os pais. Calvino e muitos outros, seguidores da enumeração de Josefo, usam a mesma dupla divisão, mas com quatro mandamentos na primeira tábua e seis na segunda. Essa dupla divisão, por Agostinho e Calvino, atribui todos os deveres para com Deus á primeira tábua. Quando Jesus reduziu os mandamentos a dois, em Mt 22:34-40, talvez ele tenha feito alusão a tal divisão.
A característica distintiva do decálogo é evidente nos primeiros dois mandamentos. No Egito se adorava a muitos deuses. As pragas tinham sido dirigidas contra os deuses egípcios. Os habitantes de Canaã também eram politeístas. Israel deveria ser distinto e singular, na qualidade de povo peculiar de Deus, caracterizado por uma devoção singular a Deus, e a Deus exclusivamente. Nem mesmo uma imagem ou semelhança de Deus era permissível. Consequentemente, a idolatria era uma das piores ofensas na religião de Israel. Deus deu a Moisés a primeira cópia do decálogo, no monte Sinai. Moisés partiu essas tábuas de pedra, nas quais as dez palavras haviam sido escritas pelo dedo de Deus, quando ele notou que seu povo estava adorando a um bezerro fundido. Depois que Israel fora devidamente punido, mas salvo do aniquilamento através da oração intercessória de Moisés, Deus lhe ordenou que preparasse duas tábuas de pedra (veja Dt 10:2,4). Sobre essas Deus, uma vez mais, escreveu o decálogo Posteriormente, essas tábuas foram depositadas na arca da aliança.
Preceitos para uma Vida Santa
A expansão das leis morais e regulamentos adicionais para uma vida santa tiveram o objetivo de guiar os israelitas na sua conduta como povo santo de Deus (veja Éx 20-24 e Lv 11-26). A simples obediência a essas leis morais, civis e cerimoniais haveria de distingui-los das nações ao redor. Essas leis dadas a Israel podem ser melhor entendidas à luz das culturas contemporâneas do Egito e de Canaã. Casamentos entre irmão e irmã, que eram comuns no Egito, foram proibidos. Regulamentos acerca da maternidade e do parto não apenas lembravam-lhes que o homem é uma criatura pecaminosa, mas também que eles deveriam contrastar com as perversões sexuais, a prostituição e o sacrifício de crianças, associados aos ritos religiosos e às cerimônias dos cananeus. Leis e estatutos sobre a pureza dos alimentos e sobre o abate dos animais tiveram o propósito de impedir que os israelitas se moldassem a certos costumes egípcios associados a ritos idólatras. Era apropriado que os israelitas, que tinham vividas memórias da escravidão, fossem instruídos a deixar respigas para os pobres, quando fizessem suas colheitas, providenciando o necessário para os inválidos, honrando aos indivíduos idosos e passando juízos justos constantes, em todos os seus relacionamentos. À proporção que um maior conhecimento, concernente ao meio ambiente religioso contemporâneo, no Egito e em Canaã, se nos tornar disponível, é provável que muitas das restrições impostas aos israelitas venham a parecer mais razoáveis para a mentalidade moderna. As leis morais eram permanentes, mas muitas das regras civis e cerimoniais eram temporárias em sua natureza. O preceito que limitava o abate de animais para servirem de alimento, no santuário central, foi ab-rogado quando Israel entrou em Canaã (cf. Lv 17 e Dt 12:20-24).
O Santuário
Até esse tempo o altar fora o lugar de sacrifício e adoração. Um dos sinais dos patriarcas era que eles erigiam altares por onde quer que fossem. Ali, no Sinai, Moisés erigiu um altar, com doze colunas que representavam as doze tribos, sobre as quais, jovens de Israel ofereciam sacrifícios para ratificação do pacto (veja Êx 24:4 ss.). Uma “ tenda de encontro” , mencionada em Êx 33, foi erigida “ fora do acampamento” . Isso serviu temporariamente não só de lugar de encontro para todo o Israel, mas também como o lugar da revelação divina. Já que ainda não fora organizado qualquer sacerdócio, Josué era o único ministro. Imediatamente após a confirmação do pacto, Israel foi comissionado a construir um tabernáculo, a fim de que Deus pudesse “ habitar no meio deles” (Êx 25:8). Em contraste com os muitos templos existentes no Egito, Israel tinha apenas um santuário. Instruções detalhadas são dadas em Êx 25-40. Bezalel, da tribo de Judá, foi nomeado principal superintendente, encarregado da construção. Trabalhando de perto com ele havia Aoliabe, da tribo de Dã. Esses homens foram especialmente dotados com o “ Espírito de Deus” , e também com “ …inteligência… conhecimento…” para supervisionarem a ereção do lugar de adoração (veja Êx 31, 35-36). Assessorando-os havia muitos homens que tinham sido divinamente motivados e dotados de habilidade para se desincumbirem de suas tarefas particulares. Ofertas voluntárias, doadas pelo povo, proveram mais do que suficiente para o material de edificação. O ambiente fechado para o tabernáculo era comumente chamado átrio (veja Êx 27:9-18; 38:9-20). Com um perímetro de 300 côvados (138 m), esse recinto era assinalado por uma cortina de linho fino entretecido, pendurado sobre colunas de bronze com ganchos de prata. Essas colunas tinham 2,30 m de altura e estavam espaçadas entre si por 2,30 m. A única entrada, com 9,5 m de largura, ficava na extremidade oriental.
A metade oriental desse átrio era a praça dos adoradores. Ali os israelitas ofereciam suas oferendas, sobre o altar do sacrifício (veja Êx 27:1-8 e 38:1-7). Esse altar de cobre (com 2,30 m de lado e 1,40 m de altura), com chifres em cada canto, fora construído de madeira de acácia ou cetim, recoberta de cobre. O altar era portátil, equipado com varas e argolas. Para além do altar ficava o lavatório (veja Êx 30:17-21; 38:8; 40:30), que também fora feito de cobre. Ali os sacerdotes lavavam seus pés ao se prepararem para oficiar ante o altar de sacrifício ou no interior do tabernáculo. Na metade ocidental desse átrio ficava o tabernáculo propriamente dito. Com um comprimento de 13,8 m e 4,6 m de largura, era dividido em duas partes. A entrada única se abria para o oriente, dando entrada ao lugar santo (9,2 m de comprimento), onde os sacerdotes tinham acesso. Para além do véu ficava o santo dos santos (4,6 m x 4, 6 m), onde ao sumo sacerdote era permitido entrar no Dia da Expiação.
O próprio tabernáculo era feito com 48 tábuas (4,6 m de altura e 0,7 m), havendo vinte tábuas laterais e oito na extremidade ocidental. Feitas de madeira de acácia, recobertas de ouro (veja Êx 26:1-37; 36:20-38), essas tábuas eram mantidas juntas por meio de barras e sapatas de prata. O teto consistia de uma cortina de linho fino retorcido com as cores azul, púrpura e escarlate, bordada com querubins. A coberta externa e principal era feita de pelos de cabra, que servia de proteção para a cortina de linho. Duas cobertas mais, uma feita de pele de carneiro e outra feita de pele de cabra, eram providas para proteger as duas primeiras. Duas cortinas do mesmo material que a primeira cobertura eram usadas para a extremidade oriental do tabernáculo e também para a entrada no santo dos santos. A construção exata do tabernáculo, entretanto, não pode ser determinada , porquanto não há detalhes suficientes no relato escriturístico. Três móveis foram colocados no lugar santo: a mesa dos pães da proposição, no lado norte, o candelabro de ouro, no lado sul, e o altar de incenso, diante do véu que separava o lugar santo do santo dos santos (veja Êx 40:22-28). A mesa dos pães da proposição era feita de madeira de acácia, recoberta de ouro, com uma borda que lhe circundava a parte superior. Havia uma argola presa a cada uma das quatro pernas, pelo que facilmente podia ser transportada por meio de varas (veja Êx 25:23-30 e 37:10-16). Pratos e travessas para incenso, além de frascos e bacia para derramar libações, eram colocados sobre essa mesa. Doze pães de massa sem fermento eram providos para essa mesa a cada sábado. Eram comidos pelos sacerdotes (veja Lv 24:5-9).
O candelabro de ouro fora feito de uma só peça de ouro puro, moldada a martelo (veja Êx 25:31-39 e 37:17-24). O formato e as dimensões do pedestal são incertos. Com uma haste central, que era especificamente chamada de candelabro, e com três ramos encurvados que saíam de cada lado, esse candelabro contava com sete lâmpadas. A ornamentação de cada um desses ramos consistia de três cálices, ao passo que a haste contava com quatro cálices. As espevitadeiras e bandejas também foram feitas de ouro puro. A cada tarde os sacerdotes enchiam essas lâmpadas com azeite, fornecido pelos israelitas, para que houvesse luz a noite inteira (veja Êx 27:20,21 e 30:7,8). O altar de ouro, que era usado primariamente para se queimar incenso, ficava no lugar santo, diante da entrada para o santo dos santos. Feito de madeira de acácia recoberta de ouro, esse altar tinha 0,9 m de altura e tinha 0,45 m de lado. Contava com uma borda de ouro ao redor da parte superior, com um chifre e uma argola em cada canto, de modo que pudesse ser convenientemente transportado por meio de varas (veja Êx 30:1 -10,28,34-37). Toda manhã e toda tarde, quando os sacerdotes entravam para cuidar do candelabro, queimavam também incenso, usando fogo tirado do altar de cobre.
A arca da Aliança ou do testemunho era o objeto mais sagrado que havia na religião de Israel. Esse era o objeto único, exclusivo, que tinha lugar no santo dos santos. Feita de madeira de acácia e recoberta por dentro e por fora com couro puro, essa caixa tinha 1,15 m de comprimento, ao passo que a profundidade e a largura eram igualmente de 0,70 m (veja Êx 25:10-22 e 37:1-9). Com argolas de ouro e varas em cada lado, os sacerdotes facilmente podiam transportá-la. A cobertura dessa caixa era chamada propiciatório. Dois querubins de ouro estavam de pé sobre a tampa, de frente um para o outro, enquanto suas asas sombreavam o centro do propiciatório. Essa cobertura com seus querubins era feita de uma única peça sólida de ouro. O propiciatório representava a presença de Deus. Diferente dos pagãos, em Israel não havia objeto material que representasse seu Deus, no espaço que havia entre os querubins. O decálogo claramente proibia qualquer imagem ou semelhança de Deus. Não obstante, o propiciatório era o lugar onde Deus e o homem se encontravam (veja Êx 30:6), onde Deus falava ao homem (veja Êx 25:22 e Nm 7:89), e onde o sumo sacerdote comparecia no Dia da Expiação a fim de aspergir o sangue em prol da nação de Israel (veja Lv 16:14). Dentro da própria arca haviam sido postos o decálogo (veja Ê x 25:21; 31:18 e D t 10:3-5), um vaso com maná (veja Êx 16:32-34), e a vara de Arão que florescera (veja Nm 17:10). Antes de Israel ter entrado em Canaã, o livro da lei era posto ao lado da arca (veja Dt 31:26).
O Sacerdócio
Antes dos tempos mosaicos, as oferendas usualmente eram apresentadas pelo chefe de uma família, que oficialmente representava seus familiares no reconhecimento e adoração a Deus. Excetuando a alusão a Melquisedeque como sacerdote, em Gn 14:18, o cargo oficial de sacerdote não é mencionado. Agora, todavia, que Israel fora remido do Egito, o ofício sacerdotal tornou-se significativamente importante. Deus desejava que Israel fosse uma nação santa (veja Êx 19:6). Para uma ministração ordeira e uma adoração eficaz, Deus designou Arão para que servisse como sumo sacerdote durante as peregrinações de Israel pelo deserto. Assessoravam-no quatro filhos seus: Nadabe, Abiú, Eleazar e Itamar. Mais tarde, os dois primeiros foram mortos em juízo, por terem trazido fogo profano ao interior do tabernáculo (veja Lv 8:10 e Nm 10:2-4). Em virtude de terem escapado da morte no Egito, os primogênitos de cada família (israelita) pertenciam a Deus. Escolhidos como substitutos para cada filho mais velho de cada família, os levitas ajudavam aos sacerdotes em suas ministrações (veja Nm 3:5-13; 8:17). Desse modo, a nação inteira estava representada pelo ministério sacerdotal.
As funções dos sacerdotes eram variadas. Sua responsabilidade primária era a de serem mediadores entre Deus e o homem. Oficiando nas oferendas prescritas, eles lideravam o povo na obtenção da expiação pelo pecado (veja Êx 28:1-43 e Lv 16:1-34). O discernimento da vontade de Deus relativa ao povo era uma obrigação soleníssima (veja Nm 27:21 e Dt 33:8). Por serem guardiães da lei, também estavam comissionados a instruir aos leigos. O cuidado e a administração do tabernáculo também estava dentro de sua jurisdição. Em consequência, os levitas foram nomeados para que auxiliassem aos sacerdotes no cumprimento de muitas responsabilidades que lhe haviam sido determinadas.
A santidade dos sacerdotes se evidenciava nas exigências de uma vida santa como igualmente nos pré-requisitos para servirem (veja Lv 21:1 – 22:10). Exemplares em sua conduta, os sacerdotes estavam sob a obrigação de exercerem cuidados especiais nas questões matrimoniais e na disciplina doméstica. Apesar de que defeitos físicos barrassem-nos permanentemente do serviço sacerdotal, a impureza cerimonial, resultante da lepra, de algum fluxo do interior do corpo ou contactos proibidos desqualificavam-nos temporariamente de toda ministração. Os costumes pagãos, a profanação das coisas santas e a polução — essas coisas tinham de ser evitadas pelos sacerdotes o tempo todo. No caso do sumo sacerdote, asrestrições ainda eram mais severas (vej a Lv 21:1-15). A santidade peculiar aos sacerdotes também era indicada através das vestes que foram instruídos a usar. Feitas dos materiais mais seletos e com a melhor perícia, essas vestimentas adornavam os sacerdotes com beleza e dignidade. O sacerdote usava uma túnica, um cinto, uma capa e calções — tudo feito de linho fino (veja Êx 28:40-43 e 39:27-29). A túnica era uma peça longa, branca e sem costura, com mangas que quase atingiam os pés. O cinto, embora em parte alguma tenha sido descrito em particular, era usado por cima da túnica. De acordo com Êx 39:39, fios azuis, púrpura e escarlate eram bordados no linho branco do cinto com uma agulha, correspondendo aos materiais e às cores usados no véu e nas cortinas do tabernáculo. A mitra do sacerdote era um boné simples e bem ajustado. Por baixo da túnica, ele devia usar calções de linho, sempre que penetrasse no santuário (veja Êx 28:42).
O sumo sacerdote era distinguido por peças adicionais do vestuário, que consistiam de uma sobrepeliz, uma estola, um peitoral e uma mitra especial (veja Êx 28:4-39). A sobrepeliz, que descia do pescoço até abaixo dos joelhos era de cor azul e era muito simples, exceto que na sua fímbria eram alternadas romãs e campainhas, que ali foram fixadas. As romãs — nas cores azul, púrpura e escarlate — tinham propósitos ornamentais. As campainhas, feitas de ouro, tinham por finalidade transmitir à congregação, que esperava, todo movimento do sumo sacerdote, quando ele adentrasse o santo dos santos, no Dia da Expiação.
A estola era composta de duas peças de linho feitas com ouro, azul, púrpura e escarlate e unidas nos ombros com tiras. Na altura dos quadris, havia uma peça que se prolongava na forma de cinta, que mantinha as duas peças da estola no seu lugar. Sobre cada ombro do conjunto da estola do sumo sacerdote havia uma pedra preciosa onde tinham sido gravados os nomes das tribos, seis em cada pedra, na ordem do seu nascimento. A fim de que o cômputo fosse equivalente de ambos os lados, foi omitida a tribo dos levitas, porquanto eles ajudavam aos sacerdotes, ou então José tivesse tomado o lugar de Efraim e Manassés. Dessa maneira, o sumo sacerdote representava a nação inteira de Israel, em seu ministério de mediação. Adornando a estola havia duas bordas de ouro e duas pequenas correntes de ouro puro.
O peitoral, uma algibeira com 0,22 m em quadrado, era a peça mais luxuosa, maginificente e misteriosa do vestuário do sumo sacerdote. Correntes de ouro puro vinculavam-no às tiras do ombro da estola. A porção inferior era firmada à cinta com um laço azul. Doze pedras gravadas com os nomes das tribos estavam montadas em ouro, no peitoral, servindo de lembrete visível de que o sumo sacerdote representava a nação diante de Deus. O Urim e o Tumim, designativos esses que significam “ luzes” e “ perfeições” , estavam postos na algibeira do peitoral (veja Êx 28:30 e Lv 8:8). Pouco se sabe sobre a função dessas peças ou sobre o modo de proceder do sacerdote oficiante no caso delas; mas permanece de pé o fato importante — proviam elas um meio de discernir a vontade divina. Igualmente significativa era a mitra ou turbante do sumo sacerdote. Cobrindo toda a testa e firmada à mitra, havia uma placa de ouro puro, onde estavam inscritas as palavras “ Santidade ao Senhor” . Isso servia de memorial constante de que a santidade é a própria essência da natureza de Deus. Mediante as provisões expiatórias o sumo sacerdote apresentava seu povo consagrado a Deus. Por meio das vestes sagradas tanto o sumo sacerdote como os sacerdotes comuns manifestavam não somente a glória desse ministério de mediação entre Deus e Israel, mas também a beleza da adoração, com a mescla de suas vestimentas coloridas com o santuário.
Em elaborada cerimônia de consagração, os sacerdotes eram consagrados para seu ministério (vej aÊx29:l-37;40:12-15eLv8:l-36). Após se terem lavado em água, Arão e seus filhos foram vestidos das vestes sacerdotais e ungidos com azeite. Estando Moisés a oficiar como mediador, um novilho foi oferecido como oferenda pelo pecado, a fim de fazer expiação não só por Arão e seus filhos, mas também para purificação do altar de todos os pecados associados ao serviço deles. Isso foi seguido por um holocausto, onde um carneiro foi sacrificado de acordo com o rito usual. Outro carneiro foi então apresentado como oferta pacífica, em cerimônia especial. Moisés aplicou o sangue ao polegar direito, à orelha direita e ao artelho maior do pé direito de cada sacerdote. Em seguida ele tomou a gordura, a perna direita e três obreias o que, normalmente, era destinado ao sacerdote oficiante, apresentando essas coisas a Arão e seus filhos, que delas fizeram uma oferta movida, antes que fossem consumidas no altar. Após ter sido apresentado como oferta movida, o peito foi cozinhado e comido por Moisés e pelos sacerdotes. Antecedendo essa refeição sacrificial, Moisés aspergiu o azeite de unção e o sangue sobre os sacerdotes e suas vestes. Essa impressionante cerimônia consagratória foi repetida em cada um dos sete dias sucessivos, santificando os sacerdotes para que ministrassem no tabernáculo. Desse modo, a congregação inteira tornou-se cônscia da santidade de Deus, quando o povo veio ante os sacerdotes, trazendo suas oferendas.
As Oferendas
As leis sacrificiais e as instruções dadas no monte Sinai não subentendem a ausência de oferendas antes desse tempo. Quer os vários tipos de oferendas fossem claramente distinguidos e conhecidos pelos israelitas ou não, é tema que pode ser debatido; mas a prática de oferecer sacrifícios sem dúvida lhes era familiar, conforme se vê nos registros acerca de Caim, Abel, Noé e os patriarcas. Quando apelou a Faraó para que libertasse Israel, Moisés antecipou a oferta de sacrifícios, e assim fez, após ter saído do Egito (veja Êx 5:1-3; 18:12 e 24:5).
Agora que Israel era uma nação livre, em relação ao pacto com Deus, foram-lhe outorgadas instruções específicas concernentes a vários tipos de oferendas. Trazendo essas oferendas segundo foram prescritas, os israelitas tinham a oportunidade de servir a Deus de maneira aceitável (veja Lv 1-7). Quatro tipos de oferendas envolviam o derramamento de sangue: os holocaustos, as ofertas pacíficas, as ofertas pelo pecado e as ofertas pela culpa. Os animais reputados aceitáveis para sacrifício eram animais mansos e limpos, cuja carne era comestível, como ovelhas, cabras e vacas, machos ou fêmeas, velhos ou novos. Nos casos de pobreza extrema, permitia-se a substituição por pombos.
Regras gerais para a execução dos sacrifícios:
- apresentação do animal diante do altar
- imposição da mão sobre a vítima pelo ofertante
- abate do animal
- aspersão do sangue sobre o altar
- sacrifício consumido no fogo
Quando era oferecido algum sacrifício pela nação, oficiava um sacerdote. Quando um indivíduo oferecia sacrifício por si mesmo, trazia o animal, impunha sobre ele a mão e o abatia. Em seguida, o sacerdote aspergia o sangue e queimava o animal. Aquele que fazia uma oferta dessas não podia comer dela, a menos que se tratasse de uma oferta pacífica. Quando várias oferendas eram feitas ao mesmo tempo, a oferta pelo pecado antecedia o holocausto e as ofertas pacíficas.
Holocaustos
A característica distintiva dos holocaustos era o fato de que o animal sacrificado era totalmente consumido pelo fogo sobre o altar (veja Lv 1:5-17 e 6:8-13). Não estava excluída a expiação, porquanto esta fazia parte de todo sacrifício cruento. A completa consagração do ofertante a Deus era simbolizada pela consumição de todo o sacrifício. Talvez Paulo tivesse feito alusão a esse tipo de oferenda em seu apelo em prol de uma completa consagração (veja Rm 12:1). A Israel foi ordenado que se mantivesse um holocausto contínuo, dia e noite, por intermédio de uma chama sobre o altar de cobre. Um cordeiro era oferecido toda manhã e toda tarde, o que relembrava Israel de sua devoção a Deus (veja Êx 29:38-42 e Nm 28:3-8).
Ofertas Pacíficas
As ofertas pacíficas eram totalmente voluntárias. A despeito da inclusão das ideias de representação e expiação, a característica primária dessa oferenda era a oferta de uma refeição (veja Lv 3:1-17; 7:11-34; 19:5-8 e 22:21-25). Isso era símbolo de uma viva comunhão e companheirismo entre o homem e Deus. Familiares e amigos tinham permissão de unir-se ao ofertante, nessa refeição sacrificial (veja Dt 12:6, 7, 17, 18). Visto tratar-se de uma oferenda voluntária, qualquer animal, excetuando aves, era aceito, sem importar idade ou sexo. Após o abate da vítima e a aspersão do sangue para fazer expiação pelo pecado, a gordura do animal era queimada sobre o altar. Por meio do rito de agitar as mãos do ofertante, que segurava a coxa e o peito do animal, o sacerdote oficiante dedicava essas porções a Deus. O restante da oferenda provia um banquete para o ofertante e para os seus convidados. Esse alegre companheirismo indicava o laço de amizade entre Deus e o homem.
Havia três modalidades de ofertas pacíficas. Elas variavam de acordo com os motivos do ofertante. Quando o sacrifício era feito como reconhecimento de bênçãos imerecidas ou inesperadas, era chamado de oferta de ação de graças. Se a oferenda fosse motivada pela expressão de amor a Deus, era intitulada oferta voluntária. Cada uma dessas oferendas era acompanhada por uma refeição sacrificial prescrita. A oferta de ação de graças durava um dia, ao passo que a outra se prolongava por dois dias, com a provisão de que qualquer coisa que sobrasse teria de ser consumido no fogo ao terceiro dia. Dessa maneira, os israelitas tinham o privilégio de desfrutar de modo prático de sua relação de pacto com Deus.
Ofertas pelo Pecado
Os pecados de ignorância, cometidos inadvertidamente, exigiam oferta pelo pecado (veja Lv 4:1-35 e 6:24-30). A violação de mandamentos negativos, puníveis por extirpação, podia ser retificada por um sacrifício prescrito. Embora Deus tenha um único padrão de moralidade, a oferenda variava de acordo com a responsabilidade do indivíduo. Nenhum líder religioso ou civil era tão proeminente que seu pecado fosse tolerado, e nem havia qualquer indivíduo tão insignificante que seu pecado fosse ignorado. Havia gradação nas oferendas requeridas: um novilho para o sumo sacerdote ou para a congregação; um bode para qualquer líder; uma cabra ou ovelha para qualquer cidadão particular. O ritual também variava. No caso de um sacerdote ou da congregação, o sangue era aspergido por sete vezes perante a entrada do santo dos santos. Para um governante ou leigo, o sangue era aplicado sobre os chifres do altar. Visto tratar-se de uma oferenda de expiação, a parte culpada não tinha permissão de comer qualquer porção do animal. Consequentemente, esse sacrifício ou era consumido sobre o altar ou queimado no campo, havendo uma única exceção — o sacerdote recebia uma porção determinada quando oficiava em favor de algum líder ou leigo.
A oferta pelo pecado também era exigida para transgressões específicas, como a recusa de dar testemunho, a contaminação cerimonial e os juramentos inúteis (veja Lv 5:1-13). Embora esses pecados pudessem ser considerados intencionais, não representavam desafios calculados contra Deus e puníveis com a morte (veja Nm 15:27-31). Havia expiação em disponibilidade para qualquer pecado penitente, sem importar sua situação econômica. Se não pudesse oferecer uma ovelha ou cabra, poderia substituí-las por uma rola ou um pombinho. Em casos de pobreza extrema, até mesmo um punhado de farinha de trigo — o equivalente à ração alimentar de um dia — assegurava à parte culpada a sua aceitação diante de Deus. (Quanto a outros motivos que requeriam uma oferta pelo pecado, veja Lv 12:6-8; 14:19-31; 15:25-30 e Nm 6:10-14).
Ofertas pela Transgressão
Os direitos legais de uma pessoa e suas propriedades, em situações que envolvessem Deus ou seus semelhantes humanos, eram claramente firmados nas exigências acerca das ofertas pela culpa (veja L v 5 :14 -6 :7 e 7 :l-7 ).0 fato de não reconhecer a Deus, deixando de trazer as primícias, os dízimos ou outras ofertas requeridas, exigiam não só a restituição, mas igualmente sacrifício. Em adição ao pagamento de seis quintos do que era devido, o ofensor também devia sacrificar um carneiro para que obtivesse o perdão. Esse sacrifício dispendioso tornava-o cônscio do preço do pecado. Quando o erro fosse cometido contra o próximo, também era exigido aquele quinto acima do prejuízo para que houvesse retificação. Se não se pudesse fazer restituição à pessoa ofendida ou a um parente próximo, essas reparações eram pagas ao sacerdote (veja Nm 5:5-10). A infração contra os direitos de outra pessoa também representava uma ofensa contra Deus. Consequentemente, tornava-se mister um sacrifício.
Ofertas de Manjares
Essa é a única oferenda que não envolvia a vida de um animal, mas que consistia primariamente de produtos do solo, que representavam frutos do labor humano (veja Lv 2:1-16 e 6:14-23). Essa oferenda podia ser apresentada de três modos diferentes, sempre de mistura com azeite,, incenso e sal, mas sem fermento ou mel. Se uma oferenda consistisse de primícias, então as espigas, que deveriam ser novas, teriam de ser assadas ao fogo. Após a moagem do grão, este podia ser apresentado ao sacerdote na forma de farinha de trigo, ou de pães asmos, ou de bolos ou de obreias preparadas ao forno. Parece que uma porção subordinada dessa oferenda era uma quantidade apropriada de vinho, para servir de libação (veja Êx 39:40; Lv 23.13 e Nm 15:5,10). Uma inferência justificada é que essa oferenda jamais era trazida sozinha. Ela era, primariamente, um acompanhamento dos holocaustos e ofertas pacíficas. Parece que ela era um suplemento necessário e apropriado dessas outras duas (veja Nm 15:1-13). Isso se dava também no caso dos holocaustos diários (veja Lv 6:14-23 e Nm 4:16). Quando era oferecida pelo sacerdote, em prol da congregação, era consumida a oferenda inteira. No caso de oferendas individuais o sacerdote oficiante apresentava somente um punhado ante o altar dos holocaustos, retendo o resto para o tabernáculo. Nem na oferenda propriamente dita e nem no ritual havia qualquer sugestão de que houvesse provisão para expiação pelo pecado Mediante essa oferenda os israelitas apresentavam o fruto do seu labor, assim indicando a dedicação de seus presentes a Deus.
Festas e Estações Determinadas
Por meio de festas e estações determinadas os israelitas eram constantemente lembrados de que eram povo santo de Deus. No pacto que Israel ratificou no monte Sinai, a observância fiel de períodos fixos fazia parte do compromisso assumido (veja Êx 20-24).
O Sábado
A primeira, principal e mais frequente observância era o sábado. Embora Gênesis mencione períodos de sete dias, o sábado é referido pela primeira vez no trecho de Êx 16:23-30. No decálogo (veja 20:8-11) os israelitas são advertidos a “ lembrar o dia de sábado” , o que indica que esse não foi o início de sua observância. Através do descanso ou cessação do trabalho, os israelitas eram relembrados do fato que Deus descansou de sua obra criadora no sétimo dia. A observância do sábado, pois, era memorial de que Deus redimira a Israel da servidão egípcia, tendo santificado ao povo para ser seu povo santo (veja Êx 31:13 e Dt 5:12- 15). Tendo sido libertado da servidão e da escravatura, Israel foi capacitado a consagrar um dia por semana ao serviço de Deus, o que, sem dúvida alguma, fora impossível enquanto serviam a seus senhores egípcios. Os próprios servos dos israelitas eram incluídos nessa observância do sábado. Punições severas tinham sido prescritas para todo aquele que deliberadamente desconsiderasse o sábado (veja Êx 35:3 e Nm 15:32-36). Se o sacrifício diário em favor de Israel era um cordeiro, no sábado tinham de ser oferecidos dois cordeiros (veja Nm 28:9,19). Era igualmente nesse dia que se púnhamos doze pães sobre a mesa, no lugar santo (veja Lv 24:5-8).
Lua Nova e Festa das Trombetas
Toques de trombeta proclamavam, oficialmente, o começo de um novo mês (veja Nm 10:10). A lua nova também era observada mediante holocaustos e sacrifícios pelo pecado, com as devidas provisões de ofertas de manjares e de libação (veja Nm 28:11-15). O sétimo mês, no qual havia o Dia da Expiação e a Festa das Semanas, assinalava o clímax do ano religioso, ou fim do ano (veja Êx 34:22). No primeiro dia dessa semana, a lua nova era intitulada Festa das Trombetas, quando eram apresentadas oferendas adicionais (veja Lv 23:23-25 e Nm 29:1 -6). E era esse, por igual modo, o começo do ano civil.
Ano Sabático
Intimamente relacionado ao sábado, havia o ano sabático aplicável aos israelitas desde que entrassem na terra de Canaã (veja Êx 23:10-11 e Lv 25:1-7). Observando-o como um ano de descanso para o solo, os israelitas não semeavam seus campos e nem podavam suas videiras a cada sete anos. Tudo quanto colhessem naquele ano deveria ser igualmente compartilhado pelo proprietário, pelos servos, pelos estrangeiros e até pelos animais. Os credores eram instruídos a cancelar as dívidas dos pobres, assumidos durante os seis anos anteriores (veja Dt 15:1-11). Visto que os escravos eram alforriados a cada seis anos, provavelmente esse era também o ano da emancipação dos mesmos (veja Êx 21:2-6 e Dt 15:12-18). Desse modo os israelitas eram relembrados de que haviam sido libertos da servidão aos egípcios. Havia instruções mosaicas que também faziam arranjos para a leitura da lei (veja Dt 31:10-31). Dessa maneira, o ano sabático se tornava significativo para os velhos e jovens, para senhores, tanto quanto para os servos.
Ano de Jubileu
Após sete observâncias do ano sabático, vinha o ano de jubileu. Este era inaugurado quando eram tocadas as trombetas, no décimo dia de Tisri, o sétimo mês. De conformidade com as instruções baixadas em Lv 25:8-55, isso assinalava o ano de liberdade, quando a herança da família era restituída àqueles que tivessem tido o infortúnio de perdê-la, quando os escravos hebreus eram libertos e quando a terra ficava sem cultivo.
Os israelitas tinham o dever de reconhecer, na possessão da terra, que Deus era o doador. Portanto, a terra devia ser guardada na família, passando de pais a filhos como uma herança. No caso de necessidade, somente o direito à produção da terra podia ser vendido. E posto que a cada cinquenta anos essa terra revertia ao proprietário original, o preço estava diretamente relacionado ao número de anos que restavam antes do ano de jubileu. A qualquer tempo, durante esse período, a terra poderia ser remida pelo proprietário ou por um parente próximo. As casas erigidas em cidades muradas, excetuando as cidades dos levitas, não estavam incluídas nas provisões do ano de jubileu. Os escravos eram libertados nesse ano, sem importar por quanto tempo vinham servindo. Seis anos era o período máximo de servidão para qualquer escravo hebreu que não gozasse da opção de liberdade (veja Êx 21:11). Por conseguinte, não podia ele ser reduzido a um estado perpétuo de escravidão, embora ele se visse forçado a vender-se a outro senhor, como servo contratado, quando se visse financeiramente pressionado. E nem os próprios escravos não-hebreus podiam ser reputados como propriedade absoluta. A morte, resultante de crueldade por parte de um proprietário, impunha a este uma punição (veja Êx 21:20,21). No caso de maus tratos severos, um escravo podia reivindicar a sua liberdade (veja Êx 21:26,27). Por meio da soltura periódica de escravos hebreus e da demonstração de amor e gentileza para com os estrangeiros na sua terra (veja Lv 19:33,34), os israelitas eram relembrados de que antigamente haviam sido escravos no Egito.
Embora o ano de jubileu se seguisse ao ano sabático, aos israelitas não era permitido que cultivassem o solo durante esse período. Deus prometeu que receberiam safras tão abundantes no sexto ano que teriam o suficiente para o sétimo e o oitavo anos, que eram anos de descanso para a terra. Dessa maneira, pois, os israelitas eram lembrados de que a terra que possuíam, bem como as colheitas que recebiam, eram presentes da parte de Deus.
Festas Anuais
As três festividades anuais que tinham de ser observadas, eram: (1) a Páscoa e a Festa dos Pães Asmos; (2) a Festa das Semanas, das Primícias ou da Sega; e (3) a Festa dos Tabernáculos ou Colheita. Tão significativas eram essas festividades que todos os israelitas do sexo masculino tinham obrigação de se fazerem presentes (veja Êx 23:14-17).
A Páscoa e a Festa dos Pães Asmos
Historicamente, a Páscoa foi observada pela primeira vez no Egito, quando as famílias de Israel foram isentadas da morte dos primogênitos, mediante o sacrifício do cordeiro pascal (veja Êx 12:1-13:10). O cordeiro era selecionado no décimo dia do mês de Abibe, e morto no décimo quarto dia. Durante os sete dias subsequentes só se podia consumir pão sem fermento. Esse mês de Abibe, que mais tarde tornou-se conhecido como mês de Nisã, foi designado “ o começo dos meses” , ou seja, o princípio do ano religioso (veja Êx 12:2). A segunda Páscoa foi observada no décimo quarto dia do mês de Abibe, um ano depois que Israel saiu do Egito (veja Nm 9:1-5). Visto que nenhum homem incircunciso podia participar da Páscoa (veja Êx 12:48), os israelitas não observaram essa festividade durante o restante de suas peregrinações peio deserto (veja Js 5:6). Foi somente depois que o povo entrou em Canaã, quarenta anos após terem partido do Egito, que foi observada a terceira Páscoa. O propósito declarado da observância pascal era o de relembrar anualmente, aos israelitas, qual fora a miraculosa intervenção divina em favor deles (veja Êx 13:3,4;34:18eDt 16:1). Ela assinalava a abertura do ano religioso.
O ritual da Páscoa sem dúvida alguma passou por algumas alterações, desde a observância original, quando Israel não contava com sacerdócio ou com tabernáculo. Os ritos de caráter temporário eram: o abate do cordeiro, pelo cabeça de cada família; a aspersão do sangue sobre a ombreira e as vergas da porta; e provavelmente a postura corporal em que participavam do cordeiro. Com a ereção do tabernáculo, Israel passou a ter um santuário central onde os homens deveriam congregar-se três vezes por ano, começando pelo período da Páscoa (veja Êx 23:17 e Dt 16:13). Os dias décimo quinto e vigésimo primeiro eram dias de convocação solene. Durante aquela semana toda os israelitas só podiam comer pão sem fermento. Visto que a Páscoa era o acontecimento principal da semana, aos peregrinos era permitido voltarem a seus lares na manhã seguinte a essa festa (veja Dt 16:7). Entrementes, por toda a semana eram apresentadas oferendas diárias adicionais pela nação, que consistiam de dois novilhos, um carneiro e sete cordeiros como holocausto, juntamente com a prescrita oferta de manjares e com um bode como oferta pelo pecado (veja Nm 18:19-23 e Lv 23:8). Em adição a isso, os israelitas eram instruídos a trazer um molho das primícias à presença do Senhor (veja Lv 23:9-14). Acompanhando o ritual durante o qual o sacerdote movia o molho diante do Senhor, havia a apresentação de um holocausto que consistia de um cordeiro juntamente com uma oferta de manjares de farinha de trigo misturada com azeite e de uma libaçâo de vinho. Nenhum grão deveria ser usado, proveniente da nova safra, enquanto não houvesse reconhecimento público de que essas bênçãos materiais tinham sido concedidas por Deus. Em consequência, durante a observância da semana da Páscoa, os israelitas não só tomavam consciência de seu livramento histórico das mãos egípcias, mas igualmente reconheciam que a bênção de Deus se fazia continuamente evidente através das provisões materiais. Tão cheia de significado era a celebração da Páscoa que havia arranjos especiais para os que fossem incapazes de participar dela durante o tempo determinado, podendo observá-la um mês mais tarde (veja Nm 9:9-12). Qualquer pessoa que se recusasse a celebrar a Páscoa caía no ostracismo em Israel. Os próprios estrangeiros residentes em Israel eram bem acolhidos se quisessem participar dessa celebração anual (veja Nm 9:13,14).
Desse modo, a Páscoa era a mais significativa de todas as festividades e observâncias de Israel. Comemorava o maior de todos os milagres que o Senhor realizara em favor de Israel. Isso é indicado em muitas referências nos Salmos e nos livros proféticos. Embora a Páscoa fosse observada no tabernáculo, cada família era vividamente relembrada de sua significação ao comer do pão sem levedo. Nenhum israelita era justificado se dela não participasse. Isso servia de memorial anual de que Israel era a nação escolhida por Deus.
Festa das Semanas
Enquanto a Páscoa e a Festa dos Pães Asmos eram observadas no começo da colheita da cevada, a Festa das Semanas tinha lugar cinquenta dias mais tarde, após a colheita do trigo (veja Dt 16:9).3Embora fosse ocasião importantíssima, essa festa era observada por um único dia. Nesse dia de descanso, uma oferta de manjares especial, que consistia de duas obreias sem fermento, era apresentada ao Senhor, para uso do tabernáculo, dando a entender que até o pão diário era provido por Deus (veja Lv 23:15-20). Os sacrifícios prescritos eram apresentados junto com essa oferenda. Nessa oportunidade de júbilo, os israelitas não deveriam esquecer-se dos menos afortunados, deixando respigas no campo, para os pobres e os necessitados (veja Lv 23:22).
Festa dos Tabernáculos
A festividade final do ano era a festa dos Tabernáculos4 — um período de sete dias, durante os quais os israelitas habitavam em tendas (veja Êx 23:16; 34:22 e Lv 23:40,41). Essa festa não somente assinalava o fim da estação da colheita, mas, uma vez que os israelitas se estabeleceram na terra de Canaã, ela fazia-os lembrarem-se, anualmente, de suas peregrinações pelo deserto, quando então tinham vivido em tendas. As festividades dessa semana achavam expressão nas maiores ofertas queimadas, ou holocaustos, que foram jamais apresentadas, sacrificando um total de setenta novilhos. Sendo oferecido treze novilhos no primeiro dia, que era de santa convocação, o número ia decrescendo diariamente de um em um. A cada dia era oferecido um holocausto adicional. Essa oferenda consistia de catorze cordeiros e de dois carneiros, com ofertas de manjares e libações proporcionais. Uma solene convocação, no oitavo dia, levava à conclusão as atividades do ano religioso. Cada sétimo ano era peculiarmente significativo na celebração da Festa dos Tabernáculos. Esse era o ano em que se lia publicamente a lei. Embora dos peregrinos se requeresse que se fizessem presentes na Páscoa ou na Festa das Semanas apenas por um dia, normalmente eles passavam a semana inteira na Festa dos Tabernáculos. Isso provia ampla oportunidade para a leitura da lei, de acordo com a determinação de Moisés (veja Dt 31:9-13).
Dia da Expiação
A mais solene ocasião do ano inteiro era o Dia da Expiação (veja Lv 16:1-34; 23:26-32 e Nm 29:7-11). Esse dia era observado no décimo dia do mês de Tisri, havendo santa convocação e jejum. Nenhum trabalho era permitido nesse dia. Esse era o único jejum exigido pela lei de Moisés. O principal propósito dessa observância era fazer expiação. Nessa cerimônia singular e elaborada foi feita propiciação por Arão e sua casa, pelo lugar santo, pela tenda da congregação, pelo altar dos holocaustos e pela congregação de Israel.
Somente o sumo sacerdote podia oficiar naquele dia. Aos demais sacerdotes não era nem permitido entrarem no santuário, porquanto ficavam identificados com a congregação. Nessa ocasião, o sumo sacerdote deixava de lado suas vestimentas especiais e se vestia de linho branco. As oferendas prescritas para aquele dia, eram as seguintes: dois carneiros como holocaustos, que o sumo sacerdote oferecia por si mesmo e pela congregação, um novilho como oferta por seu próprio pecado, e dois bodes como oferta pelo pecado do povo. Enquanto os dois bodes permaneciam de pé, diante do altar, o sumo sacerdote oferecia sua oferta pelo pecado, fazendo expiação por si mesmo. Sacrificando um dos bodes no altar, ele fazia expiação pela congregação. Em ambos os casos ele aplicava o sangue ao propiciatório. De forma similar ele santificava o santuário interno, o lugar santo e o altar dos holocaustos. Dessa maneira, as três divisões do tabernáculo eram devidamente purificadas no Dia da Expiação pela nação. Impondo a mão sobre o bode vivo, o sumo sacerdote confessava os pecados da nação. Então o bode era levado ao deserto, para que os pecados da congregação fossem levados embora.5 Tendo confessado os pecados do povo, o sumo sacerdote retornava ao tabernáculo, a fim de purificar-se e vestir-se com suas vestimentas oficiais. Uma vez mais ele retornava ao altar do átrio exterior. Ali ele concluía o ritual do Dia da Expiação com dois holocaustos, um por si mesmo e outro pela congregação de Israel.
As características distintivas da religião revelada de Israel formavam contraste com o meio ambiente religioso do Egito e de Canaã. Ao invés de muitos ídolos, competia-lhes adorar exclusivamente a Deus. Em lugar de multidões de santuários, os israelitas tinham um só santuário. Por meio das oferendas prescritas e de sacerdotes consagrados, havia provisão para o povo leigo aproximar-se de Deus sem temores. A lei guiava-os a um padrão de conduta que distinguia os israelitas como nação pactuada com Deus, fazendo contraste com as culturas pagãs circunvizinhas. Na proporção em que os israelitas punham em prática essa religião divinamente revelada, era-lhes assegurado o favor divino, conforme se expressa na fórmula sacerdotal para abençoar a congregação de Israel (veja Nm 6:24-26):
O Senhor te abençoe e te guarde;
O Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti;
O Senhor sobre ti levante o seu rosto, e te dê a paz.
——- Retirado de Samuel J. Schultz – A Historia de Israel no Antigo Testamento.
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