O Novo Reino (1546-1085 a. C.)
Três dinastias reinaram no Egito, durante esse período. Sob os três primeiros governantes da Décima Oitava Dinastia, Amenotepe I e Tutmés I e II (cerca de 1550 – 1500 a. C.), o Egito se tornou bem firmado com um império. Embora Tutmés III tenha sido monarca de 1504 a 1450 a. C., ele foi ofuscado, durante os primeiros vinte e um anos de seu resinado pela rainha Hatsepute, que era quem realmente controlava as rédeas de governo. Devido à poderosa e brilhante liderança por ela exercida, ela foi reconhecida como rainha pelo Baixo e pelo Alto Egito. Não menos entre seus impressionantes projetos de construção houve um templo de pedra calcária branca. Esse necrotério foi erigido com terraços munidos de colunas, tendo por fundo o imponente penhasco de Deir el-Bahri. Um dos dois grandes obeliscos que ela erigiu (e que contém 180 m3 de granito e alcança quase trinta metros de altura) continua de pé em Carnaque.
Tutmés III, cujas ambições haviam sido refreadas por muitos anos, obteve a posse indisputada da coroa, quando do falecimento de Hatsepute. Ele estabeleceu um poder absoluto no Egito ao mostrar ser o maior líder militar da história egípcia. No decurso de dezoito campanhas ele expandiu o controle de seu governo até ao rio Eufrates, fazendo seus exércitos marcharem através da Palestina ou velejarem pelo mar Mediterrâneo até às costas da Fenícia. Na qualidade de homem de armas e de edificador de um império, com frequência ele é equiparado a Alexandre o Grande e a Napoleão. Posto que essas campanhas eram levadas a efeito durante o verão, usualmente ele promovia projetos de construção em larga escala durante o inverno, embelezando e ampliando o grande templo de Carnaque, que fora erigido em honra a Amon, durante o Reino Médio. Obeliscos erigidos por ele podem ser vistos hoje em dia em Londres, Nova Iorque, no Laterano e em Constantinopla.
Tutmés III foi sucedido por Amenotepe II (1450 – 1425 a.C.), que foi um grande esportista, por Tutmés IV (1425 -1417 a.C.), o qual mandou esculpir a esfinge e se casou com uma princesa mitana, e por Amenotepe III (1417 – 1379 a. C.). Amenotepe IV, ou Aquenaton (1379 – 1362 a. C.) tornou-se melhor conhecido por haver causado uma revolução na religião. É provável que os Faraós estivessem ficando inquietos ante a força crescente do sacerdócio de Amon, em Tebas. Tutmés IV já havia atribuído sua ascendência real ao antigo deus-sol, Ré, e não a Amon, mas Amenotepe IV ainda foi mais radical, ao tentar realmente negar o poder opressivo dos sacerdotes tebanos. Ele defendia a adoração a Aton, que era simbolizado pelo disco solar. Tendo erigido um templo em Tebas, para seu novo deus, quando ainda era co-regente com seu pai, ele se proclamou o sumo-sacerdote de Aton. Não satisfeito por ter erigido templos em várias cidades espalhadas por todo o seu império, ele selecionou o novo local de Amarna para servir de recinto guardião de seu deus. Dessa capital, localizada a cerca de meio caminho entre Tebas e Mênfis, ele determinou a adoração a Aton como religião oficial. Não demorou muito para que ele exortasse a todos os seus súditos que servissem exclusivamente a essa divindade. Tão devotado mostrou-se ele a Aton que ele e seus adeptos se fizeram surdos aos apelos que rogavam ajuda, vindos de vários quadrantes do império. Os arquivos de Amarna, descobertos em 1887, dão testemunho disso.1Quando Aquenaton faleceu, foi abandonada a capital recém-fundada. Seu genro, Tutancamon, só obteve o trono em troca da renúncia a Aton, tendo restaurado a uma posição privilegiada o anterior deus tebano. O túmulo de Tutancamon, descoberto em 1922, proveu evidências abundantes da devoção do monarca a Amon. Com o reinado de curta duração de Ai, chegou ao fim a Décima Oitava Dinastia, em 1348 a.C.
Os dois maiores monarcas da dinastia seguinte, que perdurou até 1200 a. C., foram Seti I (1318 – 1304 a. C.) e Ramsés II (1304-1237 a. C.). O primeiro começou a reconquistar o império asiático, que fora perdido durante os dias de Aquenaton, tendo igualmente mudado a capital para o delta oriental. O segundo deu prosseguimento a essa tentativa de reconquistar a Síria, mas eventualmente assinou um tratado de paz com o monarca hitita, o qual selou esse acordo dando sua filha em casamento a Ramsés II. Esse é o mais antigo pacto de não-agressão entre nações de que se tem conhecimento até hoje. Em adição a amplos projetos de construção, em Tebas ou nas proximidades, Ramsés II também ornamentou Tânis, a capital do delta, que os governantes hicsos haviam usado séculos antes. Durante o restante das dinastias Décima Nona e Vigésima, os líderes egípcios lutaram para conservar o seu reino. Na proporção em que o poder central declinava, o sacerdócio local de Amon foi obtendo forças suficientes para estabelecer a Vigésima Primeira Dinastia, em cerca de 1085 a. C ., e o Egito jamais se recuperou o bastante do declínio resultando para recuperar a sua posição de potência mundial.
A Religião do Egito
O Egito era uma terra de muitos deuses. Visto que as divindades locais eram a base da religião, os deuses egípcios tornaram-se extremamente numerosos. Deuses da natureza eram comumente representados por animais e pássaros. Eventualmente, divindades cósmicas, que eram personificadas pelas forças da natureza foram elevadas acima dos deuses locais, passando a ser teoricamente reputadas divindades nacionais ou universais. Essas tornaram-se tão numerosas que chegaram a ser agrupadas em famílias de tríades ou mesmo de nove figuras. Os templos, igualmente, eram numerosos por todo o Egito. Com a provisão de um lar ou templo para cada deus, surgiu o sacerdócio, as oferendas, as festividades, os ritos e as cerimônias de adoração. Em troca dessas acomodações, o povo considerava que seus deuses eram seus benfeitores. A fertilidade do solo e dos animais, a vitória ou a derrota, as inundações do vale do Nilo, e, de fato, todo o fator que afeta o bem-estar desta vida era atribuído a alguma divindade.
A proeminência nacional atribuída a qualquer deus em particular era intimamente relacionada à política. O deus-falcão, Horus, subiu da categoria de deus local para a de deus oficial quando o rei Menés uniu o Baixo e o Alto Egito, no despertar da história egípcia. Quando a Quinta Dinastia patrocinava o deus-sol de Heliópolis, Ré tornou-se o cabeça do panteão egípcio. A maior aproximação de um deus nacional no Egito foi o reconhecimento dado a Amon, durante os Reinos Médio e Novo. Os magnificentes templos de Carnaque e Luxor, nas vizinhanças de Tebas, até hoje dão testemunho do patrocínio real conferido a essa divindade. Durante a Décima Oitava Dinastia o culto a Amon, com seu sacerdócio tebano, tornou-se tão forte que o desafio faraônico contra seu poder foi esmagado com sucesso, quando da morte de Aquenaton. A despeito da proeminência das divindades nacionais, em ocasião alguma elas foram adoradas com exclusividade pelas massas egípcias. Para um aldeão egípcio, a divindade local é que se revestia de toda a importância. Os egípcios acreditavam numa vida após a morte. Um registro sem mácula neste mundo dava ao indivíduo o direito à imortalidade. Isso justifica os sepultamentos reais que são representados nas pirâmides e outros túmulos, e onde eram depositadas provisões adequadas para a outra existência, como alimentos, bebidas e outros luxos da vida. Nos primeiros tempos, até mesmo servos eram mortos e postos ao lado do cadáver de seu senhor. À semelhança de Osíris, que era símbolo divino da imortalidade, os mortos egípcios seriam supostamente julgados perante um tribunal do submundo, na esperança de que estariam moralmente preparados para a bênção da vida eterna.
A tolerância extrema que havia na religião egípcia explica a interminável adição e reconhecimento de tão numerosos deuses. Nenhum deles foi jamais eliminado. Visto que o estudioso moderno acha difícil fazer uma análise lógica dos multiplicados elementos desconexos dessa religião, é de duvidar que qualquer egípcio nato pudesse fazê-lo. A confusão é o resultado de toda tentativa em correlacionar o exército de divindades com os seus respectivos cultos e ritos. Também não podem ser racionalizadas as hostes de mitos e crendices.
——- Retirado de Samuel J. Schultz – A Historia de Israel no Antigo Testamento.
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