Os Persas

Os persas sabiam o que era ser exilados. Foram obrigados a migrar por mais de mil anos. Seus antepassados tinham originariamente vivido perto das estepes do Sul da Rússia. Foram pressionados por outros povos migrantes cerca de 2000-1800 a.C. a mudar-se para as planícies da Ásia Central.

Os persas governaram a Palestina durante o último século da história do Antigo Testamento. A Bíblia fala desse período nas narrativas de Ester, Daniel, Esdras, Neemias, e dois versículos no final do segundo livro das Crônicas. Para os persas foi um período de expansão imperial. Os judeus tinham sido exilados para a Babilônia fazia quase 60 anos quando os persas conquistaram a terra em 539 a.C. Dois anos mais tarde, Ciro II, rei persa, concedeu aos exilados permissão para voltar à terra natal. Depois ele se lançou à conquista do Egito, façanha concluída por seu filho em 525 a.C. A Palestina foi dominada pelos impérios de Babilônia, Pérsia, Grécia e Roma durante um período de 650 anos. Contudo, somente os persas são lembrados por suas contribuições ao povo judeu. A Bíblia considera os outros impérios como maus e hostis aos judeus.

HISTÓRIA PRIMITIVA

Os persas sabiam o que era ser exilados. Foram obrigados a migrar por mais de mil anos. Seus antepassados tinham originariamente vivido perto das estepes do Sul da Rússia. Foram pressionados por outros povos migrantes cerca de 2000-1800 a.C. a mudar-se para as planícies da Ásia Central. Ao mudarem-se, levaram consigo seus nomes, tradições e língua arianos. Essa língua indo-iraniana tinha estreitas relações com o grego e o latim. Ao chegarem à sua nova terra na vasta região situada entre a índia e a Mesopotâmia, parece que começaram a utilizar o cavalo e o carro. A cerâmica desse período mostra figuras de cavalos. Também foram encontrados freios de ferro e de cobre. Das tribos que se fixaram no Norte do Irã somente os medos e os persas nos interessam neste estudo, visto que exerceram a máxima influência sobre o povo e os tempos bíblicos. O surgimento deles como povo de importância levou aproximadamente mil anos.

Por volta de 700 a.C. estabeleceram-se a Média e a Pérsia, embora estivessem sujeitas à Assíria. Por esse tempo a Assíria havia conquistado o reino de Israel, isto é, o do Norte. Os persas se livraram do domínio assírio em 681 a.C, sob o reinado de Aquêmenes. Contudo, o cuneiforme assírio tornou-se a base do sistema ortográfico persa. Os dois filhos de Aquêmenes brigaram entre si ao herdarem o trono, e dividiram o reino em duas partes. Muito em breve, porém, um dos reinos, chamado Parsa, foi absorvido pela Média. O outro reino, centralizado numa região chamada Anxá, forneceu a base para o que veio a ser o Império Persa e a primeira dinastia, a aquemênida, que durou até 330 a.C. No começo do sétimo século antes de Cristo, quando Judá esteve sujeita a Nabucodonosor, rei da Babilônia, os medos eram ainda um povo seminômade. Seu governante era Fraortes (675-653 a.C), que residia em Ecbátana (perto da moderna Hamadã), cidade que mais tarde se tornou uma das capitais do Império Persa. Fraortes foi morto numa batalha contra a Assíria, em 653 a.C. Ciaxares, seu filho, reorganizou o exército e introduziu melhores armas. Estendeu seu domínio sobre o reino persa, que lhe pagou tributo. Contudo, quando estava prestes a derrotar os assírios, os medos se viram forçados a retirar-se para proteger suas regiões orientais contra os invasores citas. Vinte e oito anos depois Ciaxares atacou de novo a Assíria e tomou a cidade de Assur, no ano 614 a.C. Juntou-se às forças de Nabopolassar, rei da Babilônia, que havia derrotado os assírios numa batalha anterior (626 a.C), a fim de capturar Nínive, capital da Assíria, em 612 a.C.

A Babilônia continuou as conquistas na direção do Ocidente. Em Carquemis, no ano 605 a.C, derrotou a aliança dos assírios e egípcios e assumiu o controle do Império Assírio. Os babilônios controlariam os negócios do Oriente Próximo durante os sessenta anos seguintes. Babilônia e Média marcharam em rotas paralelas no sentido oeste a fim de trazer as nações sob seu domínio. Ciaxares levou suas forças em campanhas no Norte da Mesopotâmia, capturando Armênia e Capadócia até ao reino de Lídia ao ocidente e Partia ao oriente. Os babilônios guerrearam na Síria, na Fenícia e na Palestina. Contudo, embora esses dois reinos competissem entre si pelo poder, a Pérsia começou a subir no sentido de dominar o Oriente Próximo.

A ASCENSÃO DE ORO, O GRANDE (550-529 a.C.)

A neta de Ciaxares casou-se com Cambises I, rei persa de Anxá. O filho nascido desse casamento foi Ciro II, conhecido como Ciro, o Grande. O poder persa teve de ser levado em consideração sob o governo de Ciro II. Quando ele foi coroado rei de Anxã, em 559 a.C, os persas ainda pagavam tributo à Média. Por volta de 550 a.C. Ciro jerrotou seu avô, Astíages, rei dos medos, e tomou sua capital, Ecbátana. Então Ciro concedeu a si próprio o título de “rei dos medos” e fez de Ecbátana a sede do seu governo. Ao permitir que as autoridades medas permanecessem no posto, ele conquistou-lhes a lealdade. Todo o Império Medo caiu diante de Ciro. Ele marchou para o oeste e reclamou a Armênia, a Capadócia, a Cilícia, a Lídia, as cidades-estados gregas na Ásia Menor, e as ilhas gregas. Para o leste, suas conquistas incluíram todo o Irã. Não obstante, ainda havia dois rivais poderosos: Babilônia e Egito. Antes que pudesse marchar contra o Egito, Babilônia teve de render-se ao governo persa. Na conquista da Babilônia, Ciro entrou na história bíblica. Para entendermos o impacto que Ciro causou sobre o mundo antigo, devemos recapitular os últimos dias da Babilônia, seu arqui-rival.

A. O Reinado de Nabonido. Nabonido, o último governante do Império Babilônio (555-539 a.C), acreditava que uma aliança com Ciro II de Anxã podia destruir seu rival, a Média. Confiou na aliança para obter proteção e fez o que pôde para fortalecer o seu país. Ao invés de reforçar seus efetivos militares, Nabonido gastava o tempo com literatura, religião e estudo do passado da Babilônia. A obra de Na bonido tem-se comprovado valiosa no estabelecimento de datas. Ele introduziu o culto de Sin, o deus-lua patrono de Harã, de onde veio originariamente sua família. Em breve os sacerdotes descontentes com suas reformas religiosas o exilaram da Babilônia, e ele viveu dez anos em Teima, ao norte da Arábia, a partir de 552 a.C. Durante esse tempo Nabonido deixou seu filho Belsazar como regente da Babilônia. Ao retornar em 543 a.C, o reino estava enfraquecido e dividido. Os sacerdotes ainda estavam descontentes, porque se sentiam privados de sua antiga glória desde que Sin tomou o lugar de Marduque como deus da Babilônia.

B. Daniel e a Escritura na Parede. O Antigo Testamento informa que Daniel serviu sob Belsazar, que governou a Babilônia na ausência de seu pai, Nabonido. O livro que traz o nome de Daniel conta que Belsazar ofereceu um banquete para mil nobres. Dentre os excessos da festa houve bebedeira e a contaminação dos vasos tirados do templo de Jerusalém. Quando apareceu a escritura na parede, nem o rei nem seus sábios puderam ler a estranha inscrição. Por fim, chamaram Daniel. Primeiro ele censurou o rei por seu orgulho. O mesmo orgulho que humilhou a Nabucodonosor por breve tempo, humilharia a Belsazar, segundo o significado que Daniel deu à inscrição: “MENE MENE, TEQUEL, PARSIM” (Daniel 5:25). A interpretação que Daniel deu a essas palavras aramaicas (literalmente, “conta, conta, peso divisões) foi: “Contou Deus o teu reino, e deu cabo dele. . . . Pesado foste na balança, e achado em falta. . . . Dividido foi o teu reino, e dado aos medos e aos persas” (Daniel 5:26-28). Mesmo depois de ouvir essa medonha mensagem, Belsazar não se arrependeu. Pelo contrário, constituiu a Daniel o terceiro homem na hierarquia do reino, como se o fato de incluir um homem de Deus em seu governo invalidasse a decisão divina. A Bíblia observa com solenidade: “Naquela mesma noite foi morto Belsazar, rei dos caldeus. E Dario, o medo, com cerca de sessenta e dois anos, se apoderou do reino” (Daniel 5:30-31).

C. A Identidade de “Dario”. Os críticos têm argumentado que a Bíblia se engana ao referir-se a Dario em Daniel 5:31. Os registros seculares comprovam que Ciro II tomou a Babilônia em 539 a.C, porém ignoram um Dario que conquistou e governou a Babilônia. Alguns críticos acham que o livro não foi escrito por Daniel ou mesmo durante sua vida, mas por um escritor do segundo século antes de Cristo, que desejava estimular os judeus a serem fiéis a Deus na resistência a Antíoco IV, que tentara helenizar a Palestina. Tal escritor podia estar mais interessado em narrar uma história inspiradora do que em registrar os fatos. Outros estudiosos sugerem identificações de Dario. Alguns têm especulado que Dario foi realmente Gobrías (ou Gubaru), um dos generais de Nabucodonosor. Tornara-se governante babilônio da província de Elão, uma província nos limites da Pérsia. Quando percebeu a ascensão do poder persa, bandeou-se para Ciro e juntou-se a ele para solapar o poder da Babilônia. Gobrías e Ciro tomaram a Babilônia com facilidade, uma vez que os sacerdotes do deus Marduque estavam esperando para ajudar os persas. Belsazar, que Nabonido havia deixado para defender a capital, foi incapaz de fazê-lo devido à sua embriaguez. Ciro acompanhou Gobrias à Babilônia sem travar batalha. Aqui ele teve uma recepção de herói e foi de imediato coroado “rei da Babilônia”. Documentos desse período revelam por que Ciro era tão popular como conquistador da Babilônia. Ele restaurou a Marduque como a divindade do estado, paralelamente com a ordem sacerdotal. Também manteve sob estrita disciplina as suas forças de ocupação, evitando a pilhagem e o estupro.

D. Decreto de Ciro. Ciro entregou-se a uma política de restauração. Diferentemente dos assírios e babilônios, que desarraigaram e exilaram de seus países os povos conquistados, Ciro achava que revertia no seu melhor interesse permitir que as pessoas voltassem aos seus países de origem e reconstruíssem seus templos. Sua política era de politeísmo religioso. As comunidades judaicas receberam de bom grado a nova política. Os judeus tinham sido exilados de Israel desde 723 a.C. e de Judá desde 586 a.C. Consideravam o crescente poder da Pérsia como um sinal enviado por Deus de que o cativeiro chegava ao fim. Consolavam-se com mensagens proféticas da queda da Babilônia como as de Jeremias, capítulos 25, 50 e 51. Isaías assegurou-lhes que Ciro era ungido por Deus para uma missão especial, muito embora ele não conhecesse a Deus (Isaías 45: 1,4).

O capítulo primeiro de Esdras registra o decreto de Ciro de restaurar os povos às terras de origem, conforme os judeus o receberam e entenderam. Além de libertá-los, o decreto concedia aos judeus permissão para reconstruir o templo e reorganizar a adoração do Deus de Israel. Esdras tem o decreto que instrui os vizinhos dos judeus a despedi-los com uma oferta pessoal para a viagem, bem como com uma oferta voluntária para a reconstrução do templo. Ciro chegou até a devolver os objetos valiosos que Nabucodonosor havia tomado do templo de Salomão em 586 a.C. A relação incluía 30 bacias de ouro, mil bacias de prata, vinte e nove facas, trinta taças de ouro, quatrocentas e dez taças de prata de outra espécie e “mil outros objetos” (Esdras 1:9-10). Ciro também contribuiu para a reconstrução com recursos do tesouro real. Essa contribuição foi comprovada mais tarde durante o reinado de Dario, quando se encontrou na fortaleza de Ecbátana um memorando em aramaico. Este memorando está registrado em Esdras 6:3-4.

O Livro de Ester: Um Vislumbre da Pérsia. O livro de Ester registra eventos ocorridos durante o reinado de Assuero (Xerxes) no quinto geculo antes de Cristo, em Susã, a capital do Império Persa. Uma vez que a história de Ester rira em tomo de intrigas na corte real, ela oferece muitos detalhes sobre os costumes e a vida daquela época. As festas persas eram famosas por sua magnificência. O capítulo 1 do livro dá um vislumbre da opulência dessas festas. Descreve a maneira de comer do homem do povo, reclinado sobre divas ou camas (v.6), e declara que todos os utensílios para bebida eram feitos de ouro, não havendo dois iguais (v.7). Xenofonte, historiador grego, disse que os persas se orgulhavam do número de vasos de bebida. Quando os gregos destruíram o Império Persa, parte de seu despojo consistia em chifres e taças de ouro destinados a bebidas. Ester mostra as operações internas da corte persa bem como leis especiais relacionadas com o rei. Ester 1:14 menciona os sete príncipes da Pérsia e da Média que “se avistavam pessoalmente com o rei”. Eram eles os principais nobres, conselheiros íntimos do rei (cf. Esdras 7:14). Somente uma pessoa convocada pelo rei podia visitá-lo sem castigo. Isso dava dignidade ao monarca e o protegia de assassínio. Ester temia apresentar-se a Assuero sem ser chamada porque o castigo de tal visita era a morte (Ester 4:11). Também, ninguém tinha permissão de visitar o rei com vestes de luto, como pano de saco (Ester 4:2). Náo obstante, Ester o fez. Curvar-se em reverência perante nobres era hábito comum (Ester 3:2). Todos se curvavam na presença do rei; recusarse a fazê-lo era insulto. Heródoto menciona que o rei mantinha registros dos benfeitores reais. Provavelmente esses registros são os mencionados em Ester 2:23 e 6:1-3. Um dos maiores favores que o rei podia conferir a um súdito leal era vesti-lo com vestimenta que o próprio rei havia usado (Ester 6:8). O livro de Ester fala de outros interessantes costumes persas fora da corte. O Império Persa vangloriava-se de um sistema postal altamente organizado. As cartas enviadas por mensageiros eram expedidas com surpreendente velocidade (Ester 3:13). Usavam-se cavalos velozes ou outros animais para que a missiva fosse entregue ainda mais rapidamente (Ester 8:10). Como em outras partes do Oriente Próximo antigo, as cartas eram “assinadas” pela impressão de um anel de sinete. Pelo fato de espelhar fielmente os hábitos e costumes da Pérsia durante os dias do império, o livro de Ester é digno de confiança também como registro do período histórico.

E. A Reação Judaica. Os judeus responderam com entusiasmo à oferta de Ciro. No ano em que a ordem foi emitida (538 a.C), muitos judeus prepararam-se para o retorno ao lar. Lembremo-nos de que não lhes foi fácil tomar a decisão de voltar. Os que haviam seguido o conselho de Jeremias (Jeremias 29:5ss.) haviam-se arraigado na Babilônia. Haviam comprado casas, plantado pomares, e estabelecido negócios. As tábulas que registram transações na Babilônia revelam-nos nomes judaicos, indicando a boa posição dos judeus nessa época. Esses “sionistas” antigos tinham de abrir mão de tudo o que haviam construído para voltarem a uma terra empobrecida. Os que iniciavam a longa e perigosa viagem da Babilônia à Palestina necessitavam de confiar em Deus, ter um espírito de aventura, e possuir uma forte vontade de reconstruir a terra. Sesbazar, “príncipe de Judá”, foi o primeiro governador de Judá. Sesbazar, cujo nome na língua babilônia (Xamaxe-apalusur) significa “Xamaxe guardou a filiação”, foi responsável pelos tesouros do templo durante a jornada a Jerusalém (Esdras 1:11; 5:14). Possivelmente ele era o Senazar, filho de Jeoaquim (1 Crônicas 3:18). Os historiadores não concordam quanto à identidade de Sesbazar. Alguns alegam que o Sesbazar citado em Esdras 1:11 é o mesmo Zorobabel da família de Davi, que guiou o primeiro retorno (Esdras 2:2). Zorobabel foi um líder chegado a Jesua. Nada se nos diz, porém, que Sesbazar fosse um líder ativo, enquanto Esdras acentua de modo especial o papel de Zorobabel como líder davídico no período da reconstrução. Na resposta judaica a Dario, Sesbazar é mencionado como o governador que viu lançados os alicerces do templo. Sesbazar teria morrido logo depois de seu retorno a Jerusalém, e talvez Zorobabel, seu parente de meia-idade, assumisse a governança. O profeta Ageu refere-se a Zorobabel como “governador” (Ageu 1:1, 14). Logo depois da chegada dos judeus a Jerusalém, Sesbazar instruiu o povo a seguir a ordem de Ciro de reconstruir o templo. Zorobabel, da família de Davi, e Jesua, sumo sacerdote, dirigiram o povo nas ações de graça e lançaram os alicerces do templo. Os sacerdotes e os levitas dirigiram o povo nos louvores. “Ele é bom, porque a sua misericórdia dura para sempre sobre Israel” (Esdras 3:11). Só os que tinham visto a glória do templo de Salomão poderiam compará-lo com a humilde estrutura que se erigia diante dos seus olhos. Os que se lembravam, choraram, enquanto os judeus mais jovens gritavam de alegria ao contemplarem esse novo começo. Sabiam que isso cumpria as promessas de Deus aos profetas baseadas na sua aliança com Abraão (Esdras 3:12-13). Os judeus na Palestina buscaram obedecer à lei mosaica. Sacrificaram holocaustos de manhã e à tarde (Esdras 3:2; cf. Deuteronômio 12:5-6); celebraram a festa dos tabernáculos (Números 29:12) e observaram as festas fixas (Números 29:39). Espontaneamente deram o que podiam para a construção do templo — um total de 61 mil dracmas de ouro, cinco mil arratéis de prata, e cem vestes sacerdotais (Esdras 2:69).

F. Daniel sob os Persas. A vida de Daniel no exílio havia abrangido a ascensão e a queda da Babilônia. Ele havia sido testemunha do começo do exílio (c. 605 a.C), da queda da Babilônia (539 a.C), e das primeiras levas de judeus que retornavam à Palestina (c. 538 a.C). Deus havia usado Daniel para proclamar a queda da Babilônia nas mãos dos persas (Daniel 5). Depois Daniel serviu aos persas durante uns poucos anos após a queda. Parece que o mais provável é que o “Dario” de Daniel 6 deva ser identificado com o governante persa por nome Gubaru. Gubaru tornou-se governador da maior província persa, “Babilônia e além do Rio”. Seu domínio incluía Babilônia, Assíria, Síria, Fenída e Palestina. Ele designou 120 governadores (sátrapas) e três comissários (presidentes) (Daniel 6:1-2) para protegerem sua província. Gubaru constituiu a Daniel comissário. Dois colegas de Daniel e os governadores desejavam a demissão de Daniel, muito embora seu trabalho e seu julgamento estivessem fora de qualquer crítica. Atacaram-lhe a vida pessoal. Judeu piedoso, Daniel orava regularmente a Deus, com o rosto voltado para Jerusalém (Daniel 6:10). Seus inimigos convenceram Gubaru a ordenar que ninguém orasse a nenhum deus ou pessoa, a não ser ao rei (Daniel 6:12). Conforme os governadores esperavam, Daniel não obedeceu à ordem. Julgado, foi considerado culpado e lançado na cova dos leões, da qual Deus o salvou por um milagre (Daniel 6:22). Durante o primeiro ano do governo de Gubaru, Daniel meditou na profecia de Jeremias a respeito dos 70 anos de exílio (Jeremias 25:11, 12; 29:10). Daniel confessou os pecados pelos quais os judeus estavam exilados, e orou pedindo que o Senhor tratasse de novo graciosamente com o seu povo e o restaurasse a Jerusalém. De súbito o arcanjo Gabriel revelou a Daniel que após 70 semanas (período de tempo desconhecido), o povo e Jerusalém seriam restaurados, e se faria expiação por seus pecados. Gabriel disse que a justiça eterna se realizaria a favor do povo (Daniel 9:24). A última visão profética de Daniel aconteceu no terceiro ano de Ciro, rei da Pérsia (Daniel 10:1). Nessa ocasião Daniel estava velho demais para juntar-se aos judeus que voltavam à Palestina. Deus revelou sua glória a Daniel enquanto este se encontrava à margem do rio Tigre (Daniel 10:4ss.). O mensageiro de Deus narrou-lhe o futuro do Império Persa. A visão de Daniel predizia que depois de Ciro três reis governariam a Pérsia (Cambises, Pseudo-Smerdis, e Dario), antes que um quarto rei (Xerxes) gastasse a vida combatendo os gregos (Daniel 11:2). Cem anos mais tarde, Alexandre Magno (c-323 a.C.) tomou o Império Persa. Durante o século e meio seguinte, duas divisões do império de Alexandre combateriam no solo da Palestina — o reino ptolemaico do Egito (“rei do sul”) e o reino selêucida (“rei do norte”). Na verdade, a Palestina seria capturada pelos selêutidas por volta de 200 a.C. (Daniel ll:17ss.), e governada por eles até à chegada de Antíoco Epifânio. Antíoco devia dar combate aos ptolomeus do Egito até que os “navios de Quitim” dos romanos exigissem a sua retirada (Daniel 11:30). Enfurecido, Antíoco iria para Jerusalém, “estabelecendo a abominação desoladora” (Daniel 11:31). Na visão de Daniel, o reino de Deus triunfou sobre as forças inimigas. A história orientada por Deus assegurava a Daniel e aos judeus que o Senhor realizaria tudo segundo o seu propósito. O futuro dos judeus não era brilhante: estavam destinados a ser governados por persas, gregos e romanos, e suportariam grande sofrimento (Daniel 11:40-45; 12:1), mas no final seriam levantados e “resplandecerão como o fulgor do firmamento” (Daniel 12:3). Deus fez a Daniel uma promessa especial: ‘Tu, porém. . . descansarás, e, ao fim dos dias, te levantarás para receber a tua herança” (Daniel 12:13).

G. Morte de Ciro. Ciro atingiu seu alvo de construir um império maior até do que o da Babilônia. Ele organizou seu império em 20 satrapias (províncias). Um sátrapa (governador) governava cada província, e era responsável perante o rei. Cada sátrapa era controlado por oficiais que também respondiam diretamente ao grande rei. Os oficiais eram os “olhos” do rei nas províncias. Qualquer tentativa de contrariar os interesses do rei era relatada a Ciro em seu grande palácio em Pasárgada, nas proximidades da praia oriental do Golfo Pérsico. Ciro criou um grande parque aí com seu palácio, santuários e outras estruturas. Ciro continuou a combater no Oriente até sua morte, em 530 a.C. Foi sepultado em Pasárgada, num túmulo de 10,7 m de altura, cuja câmara media apenas 3,2 x 2,2 m. O corpo, juntamente com espadas, brincos, vestimenta fina e tapeçarias, foi colocado num sarcófago de calcário, e este, por sua vez, num sofá funerário. Guardas protegiam os restos mortais do amado rei.

CAMBISES II (529-522 a.C.)

Cambises, filho de Ciro, assumiu o reino após a morte do pai. À semelhança deste, ele foi um homem capaz e bom general, que representou o pai no festival de ano-novo (chamado “o Festival d Aquita”) na Babilônia, desde que Ciro se tornara rei. Cambises também havia permanecido na capital como sucessor oficial do rei quand Ciro estava em viagem militar, caso o rei sofresse algum dano. Depoi da coroação, Cambises voltou os olhos para o Ocidente a fim de expandir o império. Até essa época o Egito havia escapado ao governo estrangeiro. Faraó Amasis, de quem o povo não gostava, governou o Egito com a ajuda de soldados gregos contratados. Cambises tomou Mênfis em 525 a.C. quando nem Amasis nem Psamético II, seu filho, puderam resistir às tropas persas. Isso marcou o começo do governo persa no Egito. O egípcios odiavam governos estrangeiros. O boato de que Cambises havia matado o boi Ápis sagrado foi um ultraje facilmente crido pelo povo simples. Os sacerdotes de determinados templos ficaram enraivecidos porque já não recebiam suprimento grátis do estado. Pelo contrário, exigia-se deles que trabalhassem o solo e criassem as aves para o sacrifício. Essas alterações bastaram para que os egípcios rejeitassem o governo persa. As descobertas arqueológicas sugerem que Cambises respeitou a religião do Egito, mas a revolta egípcia obrigou-o a apertar as rédeas ainda mais. Quando ele voltou do Egito, disseram-lhe que Smerdis se havia apoderado do governo da Pérsia. Cambises sabia que não poderia ter sido Smerdis, seu meio-irmão (também conhecido como Barfia), porque seus ajudantes-deordens já o haviam matado para evitar um levante dessa natureza. Gaumata, um medo que alegava ser Smerdis (Pseudo-Smerdis), havia realmente dirigido a revolta. Cambises não viveu para acertar contas com Gaumata, pois morreu perto do monte Carmelo, em 522 a.C, possivelmente por suicídio.

DARIO I (522-486 a.C.)

Dario era parente distante de Cambises. Ele carregou a lança de Cambises em sua batalha com o Egito, e manteve-se a par dos novos desenvolvimentos políticos. Dario tramou contra Gaumata, que apoiava os interesses religiosos dos medos e dos sacerdotes magos-Dario e suas forças mataram a Gaumata numa fortaleza na Média.

A. Fortalecendo o Império. Primeiro, Dario atuou para unificai o império que se desmoronava por causa de patriotismos separatista nas satrapias. Dirigentes das províncias tentaram assenhorear-se d ° poder na Média, no Elão, na Babilônia, no Egito, e até mesmo na pérsia- Dario refreava cada revolta mediante o envio de generais leais ara subjugar as forças rebeldes. Em dois anos Dario foi reconhecido como um grande rei sobre a maior parte do império. Estabeleceu Susã como a nova capital do reino, e construiu aí um palácio (521 a.C). A seguir, criou um código de leis para todo o império (c. 520 a.C). Esse código assemelha-se ao de Hamurabi (c. 1775 a.C). Dario também designou persas para servir de juizes juntamente com os líderes nativos, e criou impostos que as novas autoridades fariam cumprir

D. Dario e a Palestina. Nos primeiros anos difíceis de seu reinado, Dario teve problemas com o templo em Jerusalém. Os construtores haviam lançado os alicerces, porém nada mais se fizera além disso (Esdras 4:5). Os judeus concentraram-se em construir lares e restabelecer suas vidas na terra desolada. Sabedores dos boatos da oposição de Cambises às práticas religiosas do Egito, os judeus na Palestina talvez não se tenham sentido ansiosos por solicitar a ajuda de Cambises na reconstrução do templo. Mas Dario desejava conquistar a lealdade dos judeus, e foi mais tolerante com eles do que haviam sido antes os governantes persas. Deus enviou dois profetas para mover o coração dos judeus na Palestina: Ageu e Zacarias. Ambos acentuaram a importância de se concluir o templo. Ageu levou o povo a envergonhar-se, ressaltando o pouco progresso que haviam feito no templo desde a chegada a Jerusalém. Os judeus já estavam na Palestina fazia mais de 15 anos, e somente os alicerces do templo estavam no lugar. Os judeus eram continuamente frustrados pela seca (Ageu 1:10-11), pelos ventos escaldantes, pela saraiva, e pelo mofo (Ageu 2:17). Não obstante, achavam tempo para edificar belas casas para si próprios. Por duas vezes Ageu os desafiou com estas palavras: “Considerai o vosso passado” (Ageu 1:5, 7 ver também 2:18-19).

Zacarias profetizou entre 520 e 518 a.C, tempo mais longo do que o de Ageu. O quadro sombrio que Zacarias pintou dos desiludidos judeus concorda com o de Ageu (Zacarias 1:17; 8:10). Deus tranqüilizou o povo por meio de Zacarias no tocante à glória futura de Jerusalém. Os judeus e seus dirigentes ficaram atordoados com as palavras Proféticas. Sua nova ansiedade por obedecer a Deus levou-os de volta ao trabalho. Zorobabel e Jesua (Josué) começaram a reconstruir três emanas depois do primeiro oráculo profético (final de 520 a.C). Ageu ^tou a lealdade do povo ao Senhor: “Então Zorobabel, filho de Sealtiel, e Josué, filho de Jeozadaque, sumo sacerdote, e todo o resto do povo atenderam à voz do Senhor seu Deus, e às palavras do profeta Ageu, as quais o Senhor seu Deus o tinha mandado dizer; e o povo temeu diante do Senhor” (Ageu 1:12). Deus enviou Ageu com outras palavras de estímulo: “Eu sou convosco” (Ageu 1:13), e “sê forte, Zorobabel. . . e sê forte Josué. . . e tu, todo o povo da terra ‘ forte. . . e trabalhai; porque eu sou convosco” (Ageu 2:4). Mas a oposição não se fez esperar. Tatenai, governador persa recém -nomeado, tentou deter os renovados esforços de reedihcação do tem pio. Os judeus alegaram que estavam executando ordens de Ciro Pediram a Tatenai que verificasse os registros reais para encontrar o memorando que ordenava a ida dos judeus a Jerusalém e a reconstrução do templo (Esdras 5:10-16). A ordem foi encontrada em Ecbátana, lar de Ciro em seus primeiros anos de governo. Estava escrita em aramaico, e suas instruções estão registradas em Esdras 6:3-5, Agora estava claro para os judeus que Deus estava com eles! Dario disse a Tatenai que não interferisse na obra do templo (Esdras 6:6-7). Mais ainda, Dario ordenou que o tesouro provincial real cobrisse as despesas de construção, bem como as dos sacrifícios necessários — novilhos, carneiros e cordeiros para holocausto ao Deus do céu, e trigo, sal, vinho, e azeite para unção, “segundo a determinação dos sacerdotes que estão em Jerusalém”. Tudo isso deveria ser-lhes dado, dia após dia, sem falta (Esdras 6:9). Parece que Dario deu continuidade ao costume de Ciro de permitir que as nações do império adorassem seus deuses nativos, “para que. . . orem pela vida do rei e de seus filhos” (Esdras 6:10). Qualquer pessoa que desobedecesse a essa ordem era advertida de severas penalidades: destruição de sua casa e execução (Esdras 6:11). Dario estabeleceu boas relações com seus súditos judaicos. Quando suas forças marcharam através da Palestina a caminho do Egito, os judeus garantiram-lhe que não criariam problemas para seus soldados. Durante o inverno de 519-518 a.C, Dario tomou providências para reconquistar o Egito usando a mesma tática que havia usado para com os judeus. Respeitou as tradições religiosas do país e incentivou a escavação de um canal de um braço do Nilo até ao Golfo de Suez. (O projeto fora iniciado por Faraó Neco 70 anos antes.) Antes de Dario retirar-se, os egípcios aceitaram-no como seu governante e lhe concederam o título de rei egípcio.

C. Dario e os Gregos. Dario restabeleceu o Império Persa desde o Egito até à índia, e ao leste até ao rio Indo. Não colocou os citas no Sul da Rússia sob seu governo, embora tenha ganho uma cabeça-de-ponte do outro lado do Bósforo ao tomar a Trácia (513 a.C). Quando morreu, em 486 a.C, Dario I controlava um império maior e mais forte do que aquele que havia herdado. Ele melhorou o governo do império, estabeleceu estrito controle militar sobre os governadores semi-independentes, introduziu a cunhagem de moedas, padronizou o sistema de pesos e medidas, e interessou-se pelo bem-estar de seus súditos. Mas seus novos impostos causariam a ruína do império. Dario foi sepultado num túmulo real em Persépolis. Depois do sepultamento, seu filho Xerxes ascendeu ao trono.

XERXES I (486-465 a.C.)

Pensam alguns estudiosos que Xerxes I seja o famoso “Assuero” do livro de Ester. Ele enfrentou os mesmos problemas com os quais se defrontou Dario, seu pai. Seu império se desmoronava, em grande parte por causa dos novos impostos, mas Xerxes não tinha o interesse de Dario em garantir a lealdade de seus súditos. Ele cometeu grandes erros de julgamento em suas ações militares. Enraiveceu os sacerdotes do Egito tomando-lhes os tesouros do templo. Incendiou Atenas e perdeu qualquer apoio que pudesse ter conseguido nas cidades gregas. Destruiu templos da Babilônia e ordenou que a estátua de ouro de Marduque fosse derretida. Os judeus haviam prosperado sob o governo pacífico de Dario e haviam terminado seu templo, mas quando quiseram reconstruir os muros de Jerusalém, seus inimigos os acusaram falsamente de rebelião. Não lhes foi permitido completar os muros. No terceiro ano de seu governo, Xerxes organizou uma festa real para todos os príncipes, governadores e altas patentes do exército nas 127 satrapias do império, desde a índia até à Núbia (Ester 1:1-3). Todos os eventos narrados no livro de Ester ocorreram no reinado de Xerxes.

ARTAXERXES I (465-424 a.C.)

Xerxes foi assassinado em seu dormitório no ano 465 a.C. Seu filho mais novo, Artaxerxes (Longímano), assumiu um império enfraquecido. Artaxerxes tentou manter unido o império travando muitas batalhas na Báctria, no Egito e na Grécia. Aceitou a fórmula de paz conhecida como tratado de Cálias (449 a.C), que adiava uma guerra com a Grécia. Podemos avaliar as atividades de Esdras e Neemias em face desse fundo histórico de rebelião e tramas internacionais. De novo os judeus tentaram reconstruir os muros de Jerusalém, e desta vez os nobres de Samaria viram a reconstrução como um sinal de rebeldia. Disseram a Artaxerxes que uma Jerusalém forte seria um perigo para a segurança do império. Disseram ao rei que ele deveria conferir os registros a fim de ver por si próprio que Jerusalém era uma “rebelde e malvada cidade” (Esdras 4:12), e que o tesouro do rei corria perigo: “Se aquela cidade se reedificar, e os muros se restaurarem, eles não pagarão os direitos, os impostos e os pedágios, e assim causarão prejuízos ao rei” (Esdras 4:13). Também avisaram ao rei de que nesse caso ele não teria “a posse das terras desta banda do Eufrates” (Esdras 4:16). A busca dos registros na biblioteca real confirmou a opinião dos nobres: “. . .buscaram e acharam que de tempos antigos aquela cidade [Jerusalém] se levantou contra os reis, e nela se têm feito rebeliões e motins” (Esdras 4:19). Artaxerxes ordenou que o trabalho dos muros fosse sustado até que ordem posterior alterasse a situação (Esdras 4:21). A despeito de seus sentimentos contra uma Jerusalém murada Artaxerxes via os judeus com bons olhos. De boa vontade proveu fundos para a missão de Esdras (c. 458 a.C). A lealdade dos judeus na Judéia fortaleceu-lhe a posição na Síria e no Egito. Ele reforçou a ordem de Ciro num mandado especial, de sua própria iniciativa, que permitia aos judeus do Império Persa o retorno à Palestina. A Bíblia informa-nos que Artaxerxes deu ouro, prata e uma profusão de utensílios para o templo (cf. Esdras 8:26- 27), e prometeu cobrir todas as despesas do templo com recursos do tesouro real (Esdras 7:16-20). O rei impressionou os dirigentes judeus com seus presentes, promessas e estímulo para fazerem ‘Tudo quanto se ordenar, segundo o mandado do Deus do céu. . . pois para que haveria grande ira sobre o reino do rei e de seus filhos?” (Esdras 7:23). Artaxerxes também isentou do pagamento de impostos os sacerdotes, os levitas e os servidores do templo (Esdras 7:24).

Artaxerxes apoiou o desejo de Esdras de ensinar ao povo da Judéia a Lei de Deus. Por seu próprio estudo e pela cuidadosa observância da Lei, Esdras estava bem qualificado para o trabalho. “Porque Esdras tinha disposto o coração para buscar a lei do Senhor e para a cumprir e para ensinar em Israel os seus estatutos e os seus juízos” (Esdras 7:10). Artaxerxes ordenou que Esdras ensinasse o povo no tocante à lei, e os fizesse responsáveis por suas ações perante tribunais e juizes (Esdras 7:25). “A espada do governo persa garantia o sistema legal judaico centralizado em Deus: ‘Todo aquele que não observar a lei do teu Deus e a lei do rei, seja condenado ou à morte, ou ao desterro, ou à confiscação de bens, ou à prisão” (Esdras 7:26). Mil e quinhentos judeus, incluindo levitas que ficaram responsáveis pelos tesouros do templo (Esdras 8:24ss.), juntaram-se a Esdras em sua missão nos começos de 458 a.C. Esse grupo sentiu a presença de Deus durante a longa e perigosa viagem que empreenderam. Esdras registra: “a boa mão do nosso Deus. . . livrou-nos da mão dos inimigos e dos que nos armavam ciladas pelo caminho” (Esdras 8:31)-Chegaram quase no final daquele mesmo ano. Nessa época, mais de 50 mil exilados tinham voltado à Judéia. De acordo com o capítulo 7 de Neemias, a maior parte vivia em cidades localizadas em Jerusalém e seus arredores. A região desde Jericó ate Betei era o limite norte; de Betei até Zanoá, o oeste; de Zanoá ate En-Gedi, o sul, e de Bete-Zur até Jericó, o leste. O grande problema que gsdras enfrentou ao chegar à Palestina foram os casamentos mistos, gle conhecia a história do seu povo o suficiente para lembrar-se de que no passado os casamentos mistos haviam causado idolatria e corrupção. Esdras apelou para o povo a fim de que permanecesse puro como povo de Deus vivendo segundo a Lei de Moisés, para que não voltassem ao exílio. Em oração (Esdras 9:6-15), Esdras mostra-nos sua grande esperança de que a presente geração não repetisse os erros do passado. Esdras estava consdo de que Deus podia não deixar remanescente algum em outro ato de juízo. Os que haviam realizado casamentos mistos confessaram seus pecados e estavam dispostos a divorciar-se de suas esposas “estrangeiras” (Esdras 10:3, 11). Os judeus estabeleceram um tribunal de divórcio, e no inverno de 458 a.C. haviam resolvido a questão dos casamentos mistos. O final do livro de Esdras apresenta uma lista dos divórcios (capítulo 10). Pouco sabemos das andanças de Esdras depois desse episódio, até que o encontramos alguns anos mais tarde em Jerusalém com Neemias (Neemias 8). Talvez Esdras realizasse sua missão de ensinar a Lei por toda a terra de Judá, ou estivesse longe relatando o sucesso de sua missão aos judeus da Babilônia ou à corte de Artaxerxes.

As tropas persas atravessaram a Palestina quatro anos depois (454 a.C.) a caminho do Egito. O estado de ânimo era tenso na satrapia de “além do Rio”, à qual pertencia a Judéia. O sátrapa dessa província revoltou-se contra Artaxerxes. Felizmente para a Judéia, Artaxerxes prontamente acabou com a rebelião. Em 445 a.C, a missão de Neemias realizou o que os judeus haviam esperado. Neemias, judeu, era o copeiro do rei Artaxerxes em Susã. Ele tinha ouvido dizer que seus irmãos, os judeus, não tiveram permissão para reconstruir os muros de sua cidade. Ele percebeu como a situação era perigosa para eles. Os tempos instáveis, o desagrado dos dirigentes samaritanos por causa dos judeus da Judéia, e a extinção quase bem-sucedida do povo judeu por parte de Hamã eram bons motivos para a angústia de Neemias. Depois de orar (Neemias 1:5-U), e com profunda preocupação pelos irmãos na Judéia, Neemias conversou com Artaxerxes. O rei concedeu-lhe permissão para reconstruir os muros de Jerusalém (Neemias 2:5, 7-8). Escoltado pela cavalaria real, Neemias chegou a Jerusalém em 445 a.C. Neemias contou desde logo com a oposição de Sambalá, Tobias e Gesém (Neemias 2:10, 19; 4:1- 2), mas verificou a obra que devia ser feita nos muros e tomou providências para que a construção tivesse início imediato, antes que os adversários dos judeus pudessem reunir forças. Durante esses dias tensos os trabalhadores usaram uma das mãos para edificar e a outra para segurar uma arma de defesa (Neemias 4:17). O muro foi concluído com apenas 52 dias de trabalho. Os israelitas haviam trabalhado duro durante o dia e guardado os muros à noite. Terminada a obra, levitas e cantores vieram de todas as partes de Jerusalém para dedicar a estrutura com cânticos. Neemias organizou dois coros que caminhavam em direções opostas ao redor dos muros, cantando louvores a Deus quando se aproximavam um do outro. Em meio a cânticos e sacrifícios no templo, o povo estava tão feliz que de uma grande distância seus inimigos podiam ouvir os sons de regozijo (Neemias 12:43).

Durante doze anos Neemias permaneceu como governador da Ju-déia. Ele desejava restituir a Jerusalém sua antiga glória. Até agora poucas pessoas arriscavam-se a viver em Jerusalém, expostas a invasores e a ataques de surpresa (Neemias 7:4). Com o muro reconstruído, os judeus concordaram em que pelo menos 10% do povo deixasse seus lares e aldeias e viesse morar em Jerusalém (Neemias 11:1). Desse modo Jerusalém se tornava de imediato uma cidade florescente na qual todos os cidadãos da província tinham interesse — muitos tinham aí, agora, amigos ou parentes. Neemias também foi bemsucedido em realizar reformas sociais em sua província: Ele aboliu o empréstimo de dinheiro com elevadas e injustas taxas de juros (Neemias 5:7), e restituiu-lhes as propriedades perdidas (Neemias 5:11). Uma vez ou outra durante o período governamental de Neemias, Esdras voltava a Jerusalém, lia a lei à assembléia (Neemias 8:2) e ajudava os judeus a entender como deviam viver segundo a Lei. Essa instrução continuou até à festa dos tabernáculos (Neemias 8:18). Uma reunião solene em Jerusalém (Neemias 9:38; 10:29) estabeleceu um acordo para que a lei fosse observada. Esse grupo enfrentou também problemas específicos de sua comunidade: casamento misto (Neemias 10:30), a observância do sábado (Neemias 10:31), contribuição de uma terça parte dum sido para o serviço do templo (Neemias 10:32-33), e sustento dos sacerdotes e levitas com as primícias e os dízimos (Neemias 10:34-39). Neemias voltou para a corte de Artaxerxes em 433 a.C, e teve o privilégio de retornar a Jerusalém mais tarde (Neemias 13:6), quando usou sua autoridade real para expulsar Tobias (Neemias 13:7). Neemias exigiu também que os cidadãos de Jerusalém sustentassem os levitas e os cantores (Neemias 13:10ss.), que obrigassem a observância do sábado (Neemias 13:15ss.), e proibissem os casamentos mistos (Neemias 13:23ss.).

O DECLÍNIO DA PÉRSIA

À semelhança de outras grandes potências do mundo antigo, a Pérsia finalmente viu passar o auge de sua influência e começar um prolongado período de decadência. Derrotas militares, intrigas políticas e erros econômicos contribuíram para o fracasso do império.

A. Manobras Políticas. A morte de Artaxerxes em 424 a.C. abriu nova era de tramas secretas nas cortes da Pérsia. Xerxes II foi morto enquanto embriagado. Seu assassino, filho de uma concubina de Ar taxerxes, foi morto por Ocus, filho de outra concubina. Ocus, que já contava com o apoio do exército babilônio, descobriu que o exército de Susã não simpatizava com seu novo governante, Dario II. Dario foi obrigado a eliminar Ocus e outros pretendentes ao trono mandando executá-los. Manteve os interesses persas na Grécia com a ajuda de Esparta. Quando surgiu tensão entre os judeus na região Elefantina do Egito e os egípcios locais, Dario e os persas não intervieram.

B. Crescente Poder Judaico. Os judeus desfrutaram boas relações com os persas durante os anos de declínio da Pérsia. Serviam como soldados contratados nas forças persas. Os judeus estacionados em Siene (moderna Assuã), na fronteira sul, gozavam de relativa inde pendência. Na ilha de Elefantina, em frente de Siene no rio Nilo, uma fortaleza persa era guarnecida inteiramente por judeus. Chegaram a construir um templo na ilha, onde sacrificavam animais. O sacrifício de carneiros escandalizava os egípcios nativos, especialmente os sacerdotes de Cnum, pois estes consideravam o carneiro como um ani mal sagrado. Esses sacerdotes destruíram o templo dos judeus quando o governador judaico foi a Susã em 410 a.C. Os judeus do Nilo pediram conselho a Jerusalém sobre a reconstrução do templo. Diziam que o templo havia sido levantado desde antes de Cambises conquistar o Egito. Depois de repetidas solicitações de ajuda, os dirigentes judeus de Jerusalém disseram à colônia no Egito que reconstruísse seu templo e continuasse oferecendo grãos e incenso. Mas pelo fato de os egípcios locais os detestarem, os judeus nunca reconstruíram seu templo em Elefantina.

C. Fase Final. Os últimos 70 anos do Império Persa foram cheios de conspirações e assassínios. O último rei persa, Dario III, foi um governante capaz que enfrentou a impossível tarefa de unir um império que se estilhaçava, enquanto tentava resistir ao ataque violento do grande general da Macedônia, Alexandre Magno. Alexandre chegou a Persépolis em 330 a.C. depois de derrotar Dario em Gaugamela. Em 330 a.C. Alexandre saqueou e incendiou o palácio de Dario. O governo dos persas havia adquirido relativa paz e prosperidade para os judeus na Palestina. O templo e a Tora haviam florescido, e os judeus haviam adotado grande parte da cultura oriental da Pérsia. A vida judaica na Palestina sob os gregos mudaria para pior.

CULTURA PERSA

Os persas deixaram marca indelével na vida dos judeus. Vários aspectos da cultura persa alteraram a vida do povo judeu nos tempos do Novo Testamento e também depois.

A. Arte e Arquitetura. A arte persa refletia a vida da corte. Os governantes persas gravaram belos relevos em pedras para celebrar suas vitórias. O relevo de Behistun apresenta Dario derrotando os rebeldes (521 a.C). Esses relevos de vitória mostram súditos estrangeiros oferecendo tributo a Dario. Os governantes persas também se orgulhavam de seus belos palácios. Ciro adotou o estilo do palácio medo de Ecbátana na construção de sua capital, Pasárgada. O rei Dario escolheu Persépolis como o cenário para seu palácio, em 520 a.C. A construção e magnificação de Persépolis começaram com o sucessor de Dario, e duraram até à queda da cidade sob Dario III, em 330 a.C. Mesmo depois de oito anos de guerra, Xerxes encontrou tempo para desenvolver os edifícios de Persépolis. A arte aquemênida atingiu o auge nos últimos 13 anos do seu reinado. Os túmulos reais também nos mostram o desejo dos persas de prodigalidade. O túmulo de Ciro II era simples, quando comparado com os túmulos de Dario I, Artaxerxes I e Dario II, talhados na rocha, perto de Persépolis. O Império Persa na sua totalidade contribuía com materiais e artífices para os projetos imperiais. Figuras tridimensionais, em tamanho natural; uma predileção por temas animais, e a arte refinada de miniaturas são contribuições persas. Encontramos muitas dessas características nas sinagogas e noutros edifícios judeus do período pós-exílio na Palestina, como, por exemplo, na sinagoga de Cafarnaum.

B. Língua. O persa é um ramo do grupo de línguas indo-iraniano. Tem semelhanças com o latim e com o grego. (A palavra persa para deus é daiva, relacionada com o latim deus e com a palavra divino.) Os persas antigos conheciam e empregavam as línguas elamita, babilônica, e antigo persa. A Pedra de Behistun registra a dinastia aquemênida até Dario I nessas três línguas. O antigo persa era escrito em cuneiforme, ou figuras em forma de cunha. O povo usava a língua somente para documentos e inscrições oficiais. A correspondência oficial recebia a ajuda do aramaico, uma língua usada desde a Pérsia até ao Egito. O aramaico tornou-se o modelo para um novo estilo hebraico de escrever, empregado para registrar o Antigo Testamento. Os judeus emprestaram muitas palavras do aramaico. Em hebraico, por exemplo, a palavra dat (“decreto”) deriva da palavra persa data. As palavras aramaicas encontraram passagem para outras línguas também. A palavra paraíso, tem origem no vocábulo persa paridaeza que significa “jardim do palácio”.

C. Religião. O principal deus do sistema religioso persa era Ahura-Mazda, “o sábio Senhor”. Os sacerdotes oficiais eram chamados magos. O rei acreditava que Ahura-Mazda lhe concedera o direito de governar; ele era a “imagem” do deus, num sentido muito real. Os persas criam em deuses da natureza como Ar, Água, Céu, Terra, Sol e Lua. Não adoravam esses deuses em templos. Em vez disso, sacrificavam animais em campos abertos, ao acompanhamento da cantilena de um sacerdote. Os persas também ofereciam holocaustos aos seus deuses. Em meados do sexto século antes de Cristo, Zaratustra começou a remodelar o pensamento religioso persa no que mais tarde veio a ser conhecido como zoroastrismo. O conflito entre o bem e o mal era fundamental nos ensinos de Zaratustra. O zoroastrismo reconhecia Ahura-Mazda como seu único deus, mas dizia que este vivia em eterno conflito com o espírito mau Angra Mainiu. Zaratustra opunha-se aos sacrifícios e ofertas de bebida. Ele deu início ao culto de Ahura pelo fogo perpétuo. Os persas erigiram templos de fogo para esta finalidade. Essa religião popular desafiava os judeus a declarar sua fé em termos claros. Os rabinos judeus fundaram academias para preservar a verdade da Palavra de Deus e combater as curiosas doutrinas zoroastristas. Lemos no Novo Testamento como “os magos” vieram para adorar o menino Jesus em Belém (Mateus 2:2). Talvez tenham sido representantes da casta sacerdotal da religião zoroastrista.

A Pérsia alterou profundamente o curso da história israelita. Os ideais apocalípticos da filosofia persa estão vigorosamente representados nos livros apócrifos do período intertestamentário. Tão persuasiva foi a influência da Pérsia que é difícil isolar a arte e arquitetura israelitas das influências persas. A língua aramaica (um dialeto persa tardio dos assírios) tornou-se a língua padrão da política e da religião judaicas após o período intertestamentário.

—- Retirado de: J. I. Packer – O Mundo do Antigo Testamento.


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