O ano de 1904 foi divisor de águas para Crowley, o ano em que o mistério que viria persegui-lo por toda a vida estava por se revelar, como bênção e maldição. À época, Crowley já era um magista (mago cerimonial) competente, e um iniciado veterano na Aurora Dourada, uma das mais importantes ordens mágicas de todos os tempos.
Naquele tempo, Crowley estava viajando o mundo. Em março e abril de 1904, estava no Cairo, Egito, em lua-de-mel com a esposa, Rose Kelly. Mesmo entre as alegrias da viagem de núpcias, Crowley e Kelly não largavam os afazeres esotéricos. Durante um trabalho de invocação de elementais do ar para a esposa, ao invés dos sílfides Kelly começa a canalizar e a balbuciar que o deus egípcio Hórus falava através dela. O deus prescreve então uma série de detalhes para um ritual de invocação, e o resultado deste ritual se dá nos dias 8, 9 e 10 de abril, nos quais Crowley recebe o Liber Al vel Legis (Livro da Lei), uma suposta escritura sagrada e grimório contendo a Lei e as liturgias mágicas do “Novo Aeon” (a Era de Aquário). Crowley ficou perplexo com o conteúdo, mas a força das revelações lá contidas, que segundo ele influenciaram eventos históricos de magnitude global (Primeira e Segunda Guerras Mundiais, por exemplo), deixou para ele fora de dúvida a veracidade, beleza e poder do Livro da Lei.
O Livro foi todo ditado por uma entidade de nome Aiwass, que mais tarde Crowley reconheceu que era o seu “Eu superior” ou S.A.G. (Santo Anjo da Guarda, na magia cerimonial). A Lei da Nova Era é sintetizada na frase Faze o que tu queres há de ser o todo da Lei, e tem como contraponto e complemento Amor é a Lei, amor sob Vontade. Essa vontade seria a Verdadeira Vontade, ou Thelema (do coiné θέλημα, “vontade, arbítrio”), em que o indivíduo possui absoluto discernimento das forças que movimenta e o movimentam. Por isso, dificilmente poderíamos concluir daí um antro de libertinagem, pois o vasto corpo de estudos thelêmicos escrito por Crowley diferencia em mais de um momento libertinagem de liberdade com sabedoria. Nas próprias palavras de Crowley:
O tolo bebe, e se embebeda: o covarde deixa de beber. O homem sábio, valente e livre, bebe, e glorifica ao Deus Altíssimo.
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