O Mago de Cipre

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Descrição

Adoro contar histórias, mas aqui em cima é diferente. Não há aquele interesse maciço em histórias assustadoras e terríveis, com exceção de uma. E como vivo ouvindo que não faço nada, conto sempre que me pedem.

Há muito a dizer sobre esse homem; cheio de apelidos, mas um mago sem nome. Um dos nomes proibidos até em minhas anotações – seu próprio nome era um encanto. E, por sorte, minha memória não é lá essas coisas.

Ele foi cruel boa parte da vida; um valente que subjugou muitos homens de fama (incluindo até um rei poderoso – sim, aquele mesmo) e matou toda a linhagem dos alquimistas azuis, aprisionando seus espíritos até seu conflito com o campeão dos Acsï – o terrível Daxa.

Ele sempre soube que Daxa um dia iria até ele. O acsi descia de tempos em tempos para investidas que, aqui em cima, sabemos bem o motivo, mas lá ninguém entendia. A certeza do mago vinha de uma profecia desferida contra ele pelo guardião do Livro do Convênio, meu antigo amigo. O mago cria que o livro poderia lhe acrescentar poderes, ou mesmo sabedoria, então atentou contra o guardião que, apesar de ter lhe resistido bem, definhou por fim, mas não sem antes decretar a sentença do mago com a profecia que o perturbaria pelo resto da vida.

O mago sempre foi muito ativo e realizou incontáveis feitos (em sua maioria, são histórias terríveis), mas paralelo a tudo o que fez, a cada passo preparou-se também para o encontro com o acsi. Os Ascï são seres de outra Concessão e não sei dizer se podem ser mortos – é difícil raciocinar sobre categorias que não existem para humanos – mas o mago bem que chegou perto!

Ah, que belo e engenhoso trabalho de manipulação foi aquele das barreiras ocultas na Floresta Cipreste! Não só as barreias, mas todo o vasto território preparado com recursos engenhosíssimos – como as frestas feitas nas árvores que, ao menor dos ventos, assoviavam um harmonioso e hipnótico canto, e o que dizer das almas azuis, que guardavam o lugar com toda ferocidade?

Daxa, como se quisesse enfrentá-lo em sua melhor condição, esperou um momento – quando o mago estava no auge de seu poder – que ele estivesse próximo o suficiente da floresta para que o embate fosse lá.

Daxa desceu como trovão, colidindo contra o chão, fazendo tudo estremecer. O mago correu para a floresta e tudo começou.

Uma das batalhas mais duras do terrível Daxa (sem dúvida a mais longa), contra o mago mais cruel de todas as eras. Pouco se viu daqui de cima, pois além de tudo, havia uma névoa confusa que cobria tudo na floresta desde a altura dos ombros até a copa das árvores. Mas eu não estava aqui; estava lá, com a proteção e sutileza de sempre, anotando tudo.

Depois de um longo combate, Daxa, todo arranhado, sem fôlego, exausto, teve êxito e venceu o mago cruel. Mas Daxa sempre foi tão orgulhoso que, para a sua vergonha, até hoje permanece intocada na floresta a zombaria esculpida pelos próprios Acsï: uma estátua do apelidado “Mago de Cipre”.

E eu é que sou à toa…

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