Ugarite e o Egeu

Deixando de lado quaisquer outras considerações, as descobertas de Ras Shamra são de grande importância por terem acrescentado uma nova dimensão ao conhecimento das origens da cultura do Oriente Próximo e a sua propagação durante o segundo milênio a.C. Uma grande quantidade de evidências arqueológicas, colhidas na região minoana indica que, até algum tempo depois de 1500 a.C, a Grécia, Ugarite e Israel pertenciam todas à mesma esfera cultural, entre as quais o elemento mais significativo, no complexo conjunto de todos esses povos, era a Fenícia. Os textos de Ras Shamra deixaram claro que a antiga nação de Ugarite havia sido a herdeira de todas as grandes culturas que a precederam, desde a Suméria até o Egito, tendo mantido estreitas relações com outros povos como os hititas (ou heteus) e os hurrianos. Esses povos tinham uma grande importância no período micênico, mas desapareceram da história no caos de alguma sublevação internacional.

Com base nessas afirmações, será claramente um erro presumir que Israel e Grécia representassem duas entidades culturais inteiramente distintas, levando em conta que os épicos de Ras Shamra fornecem indiscutíveis paralelos estruturais relacionando os hebreus do período anterior às profecias, aos gregos do período pré-filosófico.13 A tendência do desenvolvimento cultural da antiguidade deixa agora bem evidente que no segundo milênio a.C. gregos e hebreus haviam produzido, cada um desses povos, distintas contribuições clássicas as quais, com as conquistas de Alexandre, foram novamente inseridas à variedade helênica da cultura.

Recentes escavações feitas em Creta lançaram uma interessante luz às raízes da cultura minoana, e revelam uma crescente tendência de associar suas origens à região do delta do Nilo. Parece provável, agora, que os antigos habitantes de Creta (os pré-minoanos) tivessem vindo do interior do continente e da Anatólia, e os próprios minoanos fossem originários de um clima mais ao sul porque fizeram poucas tentativas de introduzir o aquecimento central em suas casas e palácios. E muito provável que eles tenham vindo da região do delta do Nilo, levando-se em conta que a arqueologia de Creta produziu um grande número de artefatos importados do Egito, ou que a manufatura egípcia tenha sido imitada. Além disso, podemos identificar que se originaram do Baixo Egito pelo fato de a cronologia cretense estar ligada à história do Oriente Próximo através, principalmente, dos artesanatos egípcios encontrados nas escavações cretenses. Isso está, certamente, em harmonia com as tradições de Gênesis 10.13,14 que corretamente determinaram a origem dos cretenses (chamados de “filisteus” e “caftorins”) como sendo proveniente do Egito. C. H. Gordon assinalou que ainda subsistem diferenças significativas entre a cultura do Egito e a cultura minoana cretense pelo fato de a clássica cultura egípcia ter sido produzida principalmente no Alto Egito, enquanto o Baixo Egito era mais uma parte do mundo Mediterrâneo, onde muitos dos seus habitantes eram semitas, cujo caráter não era egípcio. Se essa análise da origem da cultura minoana estiver correta, ela mostra que a área do Delta foi, num sentido verdadeiro, o berço da civilização ocidental. Dela vieram os minoanos que fundaram a primeira cultura avançada da Europa tendo, mais tarde, dado origem aos hebreus do período de Êxodo, que emigraram para a sua Terra Prometida. Dessa forma, os precursores da cultura clássica grega e hebraica eram consanguíneos aos povos do Delta.

Embora a antiga nação de Ugarite fosse próspera no campo econômico e, avançada em sua organização social, sua estrutura estava seriamente enfraquecida pela sexualidade desmoralizadora que fazia parte da adoração cananita a Baal. Foi essa mesma influência degenerada que conferiu aos israelitas invasores inúmeros problemas de uma natureza mais séria do que a conquista de cidades solidamente fortificadas, ou a ocupação de acidentados terrenos montanhosos. No final, o sucesso da conquista israelita seria determinado pela forma como os invasores iriam lidar com a ameaça à moralidade, imposta pelas insidiosas crueldades da adoração religiosa do povo cananeu.

Nem todos os perigos que espreitavam os israelitas na Terra Prometida, eram tão aparentes quando acamparam além do Jordão. Para eles, a principal dificuldade estava em estabelecer uma base imediata em Canaã e, para alcançar esse objetivo, o primeiro passo foi dado quando o Jordão foi milagrosamente aberto para permitir a passagem dos israelitas. Tendo construído um marco de pedras para celebrar essa providência, os israelitas se dedicaram à tarefa de renovar o mandamento da circuncisão, depois da qual deram início a uma guerra psicológica contra os já apreensivos habitantes de Jerico.

——- Retirado de R. K. Harrison – Tempos do Antigo Testamento.


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