Os babilônios e os assírios viveram na região conhecida como Mesopotâmia (do grego, “entre os dois rios”). Heródoto, historiador antigo, dá este nome às amplas planícies entre os rios Tigre e Eufrates, limitada ao norte pelos montes Zagros e ao sul pelo Golfo Pérsico. A Bíblia menciona diversas cidades da Mesopotâmia e alguns dos importantes líderes dos babilônios e dos assírios. Na verdade, essas duas culturas causaram a derrocada final de Israel e Judá. Mas os povos da Mesopotâmia vinham influenciando a vida dos israelitas muitos séculos antes desse encontro final.
OS SUMÉRIOS
Os mais antigos habitantes conhecidos da Mesopotâmia viviam na parte Sul do que hoje é o Iraque. Esses povos são simplesmente chamados “proto-eufratenses”, por falta de um termo melhor. O primeiro povo identificado desse grupo foi os sumérios. A antiga forma semita ocidental do nome parece ter sido Sinear, por isso o Antigo Testamento refere-se a eles como o povo da “planície da terra de Sinear”. Os sumérios não eram semitas nem indo-europeus. Falavam uma língua diferente de qualquer outra, antiga ou moderna. Os sumérios começaram a edificar pequenas cidades ao longo das margens do Tigre e do Eufrates, um pouco depois de 7000 a.C. As relíquias dessas primitivas comunidades mostram que o povo era composto de lavradores primitivos. Os sumérios desenvolveram um sistema de governo de distrito, no qual o templo da divindade local era o centro da vida econômica, cultural e religiosa. Tão integradas estavam as funções religiosas e civis que essas sociedades antigas são chamadas de “estados religiosos arcaicos”. Esta expressão descreve a antiguidade e o caráter religioso de sua organização.
A cidade era governada por um concilio dirigido por um prefeito ou ensi. O ensi atuava também como sumo sacerdote, ministrando no templo que ficava no centro da comunidade. O templo era o centro de adoração, de educação e de governo. No templo de E-Anna, em Uruque, os arqueólogos encontraram a mais antiga evidência de datação da escrita — cerca de 3000 a.C. Cada cidade suméria criava seu próprio estilo de cerâmica. Os arqueólogos encontraram belos exemplos da arte sumeriana em Hassuna, Samarra, Halaf, Ubaid, e Uruque (Warka). Os sumérios desenvolveram também grande perícia como joalheiros.
A. “Ur dos Caldeus”. Uma das mais importantes cidades da Suméria foi Ur. Por diversas vezes em sua história esta cidade-estado chegou à posição principal dentre as cidades da Suméria. A Bíblia refere-se a ela como “Ur dos caldeus” (Gênesis 11:28). Esta cidade era a terra natal de Terá e de Abrão (Abraão), antepassados da nação hebraica (Gênesis 11:28-31). Localizada nas margens do rio Eufrates, Ur era um importante posto de comércio dedicado ao deus Sin e à deusa Ningal. Tábulas de argila de Ur explicam que ela estava localizada no distrito do povo caldu, razão pela qual os escritores bíblicos chamam-na de “Ur dos caldeus”.
B. Larsa. Ao nordeste de Ur erguia-se a cidade de Larsa. A Bíblia provavelmente se refere a esse sítio quando menciona o “rei de Elasar” que atacou Sodoma e Gomorra e outras “cidades da campina” (Gê nesis 14:1-2; cf. 13:12). O povo de Larsa adorava a Chamaxe, deus do Sol.
C. Ereque. Pouco mais de 24 km ao ocidente de Larsa estava a cidade de Ereque. Muitos estudiosos creem que esta era a terra dos “arquevitas”, que mais tarde pediram ao rei Artaxerxes que fizesse parar a restauração de Jerusalém (Esdras 4:9). Ereque era o centro do culto das deusas Ishtar e Nana, duas das mais bem conhecidas divindades O pagãs. Diferente das outras cidades sumérias, Ereque era o lar do povo semita. Em suas ruínas os arqueólogos encontraram tijolos que trazem o nome de reis semitas.
OS ACADIANOS
No Norte da Mesopotâmia viviam os acadianos, que tinham uma civilização mais adiantada do que seus vizinhos do Sul. Os acadianos desenvolveram um dos primeiros sistemas de escrita. Foram engenhosos construtores e estrategistas militares. Como os sumérios, os acadianos construíam suas cidades ao redor de um templo que honrava a divindade local.
A. Agade (Acade). A região norte recebeu seu nome da cidade de Agade, que muitos estudiosos chamaram de Acade. Creem alguns que a Bíblia dá a essa cidade o nome de Sefarvaim (cf. 2 Reis 17:24).
B. Nipur. Outra importante cidade dos acadianos era Nipur, localizada 56 km ao sudeste de Babilônia. Nipur era o principal centro religioso da região, consagrado ao deus Enlil. A Bíblia, porém, não faz referência a esta cidade
OS PRIMITIVOS BABILÔNIOS
As cidades acadianas foram finalmente dominadas por Elão, uma forte cidade-estado ao sudeste. Por volta de 2300 a. C, o rei Sargão de Agade rebelou-se contra os elamitas e uniu os acadianos sob seu governo. Dava a si próprio o nome de “Rei das Quatro Zonas”, referindo-se às principais cidades da região —, Quixe, Cuta, Agade-Sipar, e Babilônia-Borsipa. Sargão estabeleceu um eficiente sistema de estradas e serviço postal para unificar seu domínio. Deu início a uma biblioteca imperial que finalmente colecionou milhares de tábulas de argila. A Tabela das Nações diz que “Cuxe gerou a Ninrode, o qual começou a ser poderoso na terra” (Gênesis 10:8). E de duvidar que o termo hebraico aqui empregado deva ser traduzido por Cuxe (nome antigo para designar a Etiópia); deveria, antes, ser Quixe, a cidade onde os sumérios acreditavam que os deuses estabeleceram uma nova linhagem de reis após o grande dilúvio. Além do mais, a declaração de que Ninrode “começou a ser poderoso na terra”, melhor diria: “Ele foi o primeiro ditador na terra.” Daí muitos eruditos acharem que Ninrode era outro nome de Sargão de Agade. Ele foi, deveras, “valente caçador [de homens] diante do Senhor” (Gênesis 10:9). A dinastia de Sargão durou apenas três gerações. Então Agade caiu sob a influência de Ur, o grande centro comercial dos sumérios. Poucas cidades acadianas, tais como Lagaxe (governada por um sacerdote de nome Gudéia) resistiram a essa tendência. Mas as cidades-estados sumérias de Ur e Larsa dominaram a Mesopotâmia por mais de 200 anos. A região, aos poucos, voltou para o controle de Elão.
A. Hamurabi (c. 2000 a.C). Os invasores semitas vindos de Canaã e do deserto da Arábia arrebataram a Mesopotâmia do controle elamita cerca do ano 2000 a.C. O governante da Babilônia, um homem por nome Hamurabi, surgiu como o novo governante da terra “entre os dois rios”. Hamurabi uniu as cidades da Mesopotâmia da mesma forma que Sargão havia feito antes dele. Ele estabeleceu um sistema postal real, uma nova rede de estradas, e uma efetiva cadeia de comando para seus oficiais. Hamurabi organizou as leis da Mesopotâmia numa forma escrita simplificada. Essas leis estavam gravadas numa coluna maciça de pedra encontrada em Susa. Os eruditos modernos têm aclamado o Código de Leis de Hamurabi como “um monumento de sabedoria e de eqüidade”. Mais ou menos por essa época, Abraão e sua família deixaram Ur e se mudaram para Canaã, onde Deus prometera fazer deles uma grande nação. O Império Babilônio desaparece, durante várias gerações, do quadro da história bíblica.
B. Literatura Babilônia. As tábulas cuneiformes e os monumentos de pedra da Babilônia proporcionam considerável informação sobre a vida no Império Babilônio durante o tempo de Abraão. Esta evidência literária vai desde as cartas muito pessoais até às enormes inscrições públicas que se vangloriam do poder e do prestígio do rei. O documento mais bem conhecido desse período é o Código de Leis de Hamurabi. Hamurabi usou essa grande declaração para afirmar que os deuses sancionavam seu governo. Escreveu ele: “Eu, Hamurabi, o rei perfeito entre os reis perfeitos, não fui descuidado nem inativo com relação aos cidadãos de Suméria e de Agade, os quais Enlil me confiou e cujo pastoreio Marduque entregou a mim. Lugares seguros busquei de contínuo para eles, venci graves dificuldades, fiz a luz brilhar para eles. Com as terríveis armas que Zababa e Ishtar me confiaram, com a sabedoria com que Éia me dotou, com a capacidade que Marduque me deu, desarraiguei inimigos em cima e em baixo, extingui holocaustos, tornei doce a expansão da terra natal com irrigação. . . . Sou o preeminente rei dos reis, minhas palavras são preciosas, minha capacidade não tem igual. De acordo com a ordem do deus do Sol, o grande juiz do céu e da terra, possa minha lei ser exibida na terra natal.”
Esta passagem ilustra as ideias governamentais de um dos maiores conquistadores. Nesta grande esteia de pedra, Hamurabi arrola 282 leis para regulamentar a vida cotidiana no império. Os arqueólogos têm encontrado muitas tábulas de argila que descrevem a adoração de vários deuses babilônios. As estátuas e entalhes desses deuses não são muito impressionantes. Em verdade, parece que os babilônios prestavam maior homenagem ao rei do que ao deus que ele representava. Os deuses eram símbolos patrióticos das várias cidades babilônicas. Por isso os que viajavam pela Babilônia tomavam cuidado para honrar os deuses das cidades que visitavam, de modo que não ofendessem os nativos. A religião dava cor a cada aspecto da vida babilônica. As ruínas das cidades continham inscrições de preces para cada ocasião concebível. Algumas dessas preces não se dirigem a nenhum deus especial, e dizem algo deste teor: “Que o deus desconhecido me seja favorável.” Outros textos religiosos da Babilônia confessam os pecados do adorador e invocam o perdão dos deuses. A uma dessas tábulas os eruditos denominam “O Lamento do Sofredor Justo”. Infelizmente, poucos documentos da antiga Babilônia descrevem os acontecimentos políticos da época. Devemos reconstruir a história baseando-nos em pistas encontradas nos monumentos e cartas reais. Assim, a literatura babilônica é de pouca valia para o estabelecimento de datas dos acontecimentos bíblicos; por isso temos de depender dos registros da segunda grande cultura da Mesopotâmia — os assírios.
OS PRIMITIVOS ASSÍRIOS
Nas regiões situadas ao noroeste da Mesopotâmia viviam os assírios, um povo belicoso que usava os montes Zagros como fortaleza. Essas tribos semíticas estabeleceram-se na área antes de Sargão de Agade unificar a região inferior da Mesopotâmia. Eram orgulhosas e independentes. Por serem orgulhosos de sua herança, os assírios conservavam registros cuidadosos da sua linhagem real. As listas desses reis assírios ajudam-nos a estabelecer as datas de muitos eventos do Antigo Testamento. Tais listas mostram que os assírios começaram suas atividades bélicas no Oriente Próximo pouco tempo depois de terminada a dinastia de Hamurabi. Uma nação oriental conhecida como cassitas apoderou-se do controle da Babilônia por volta de 1750 a.C, e começou uma série de guerras com a Assíria que durou até 1211 a.C. Essas guerras abrangeram o tempo da escravidão de Israel no Egito, o Êxodo, a conquista de Canaã e os primeiros anos dos juízes. Ao mesmo tempo, o Egito competia pelo controle do Oriente Próximo. As três nações — Assíria, Babilônia e Egito — puseram seus exércitos em marcha através da Palestina em sua busca da supremacia mundial.
A. Salmaneser I (c. 1300 a.C). O primeiro grande conquistador assírio foi Salmaneser I, que construiu a capital de Cala. Salmaneser expandiu o território assírio para além do Eufrates, e seu filho, Tiglate-Ninib, capturou a cidade inimiga da Babilônia. Com o auxílio dos hititas, o filho de Tiglate-Ninib incitou uma guerra civil que dividiu a nação assíria. Os dirigentes assírios posteriores conseguiram unificar a nação em face de inimigos bastante formidáveis. Ao tempo em que a Assíria entrou para o registro do Antigo Testamento, ela havia merecido a reputação de bravura militar.
B. Literatura Assíria. A maior parte da literatura assíria que os arqueólogos atuais têm encontrado vem de sua história posterior. Ela registra as incessantes guerras da Assíria com a Babilônia e com outras nações rivais. A maioria das listas de reis assírios foi escrita depois de 1200 a.C, usando registros mais velhos que não sobreviveram.
Nínive. A poderosa cidade de Nínive (construída por Ninrode, bisneto de Noé) apresenta-se-nos com mistério sobre pilha de mistério. Mesmo assim, à medida que os estudiosos reúnem as peças do quebra-cabeças, a exatidão da Bíblia se torna mais evidente. Nínive foi, sem a menor dúvida, uma das mais velhas cidades do mundo. O registro de seus começos remonta ao livro do Gênesis 10:11-12: “Daquela terra saiu ele para a Assíria, e edificou Nínive, Reobote-Ir e Cala. E, entre Nínive e Cala, a grande cidade de Resém.” O rio Cozer fluía em direção ao leste, desde o Tigre, passando por Nínive. Esses dois rios, mais um canal construído para levar água do Tigre até à margem do muro ocidental da cidade, proviam água para fossos, fontes, irrigação e água potável. Em 1100 a.C. Nínive passou a ser uma residência real. Durante o reinado de Sargáo II (722-705 a.C.) ela serviu como capital da Assíria. Senaqueribe (705-681 a.C.) amava a Nínive de modo especial e fez dela a principal cidade do império: “Retirou-se, pois, Senaqueribe, rei da Assíria, e se foi; voltou e ficou em Nínive” (2 Reis 19:36). Senaqueribe fez muitas melhorias em Nínive. Mandou construir muros maciços e edificou ali o mais antigo aqueduto da história. Era parte de um canal que trazia água das montanhas a 56 km de distância. Todos esses melhoramentos custaram dinheiro; mas Senaqueribe não tinha problema para levantar recursos, grande parte dos quais vinha de tributos. Ninguém conhece a idade exata de Nínive, mas a cidade é mencionada nos registros babilônios que remontam ao vigésimo primeiro século antes de Cristo. Nínive foi mencionada nos registros de Hamurabi, que viveu entre 1792 e 1750 a.C. Podemos, contudo, fixar uma data precisa para a destruição da cidade. O profeta Naum escreveu liricamente acerca da destruição de Nínive: “Ai da cidade sanguinária, toda cheia de mentiras e de roubo. . . . Eis o estalo de açoites, e o estrondo das rodas; o galope de cavalos e carros que vão saltando” (3:1-2). Nínive foi destruída em agosto de 612 a.C, após um cerco de dois meses levado a cabo por uma aliança entre os medos, os babilônios e os citas. Os atacantes destruíram Nínive fazendo o rio Cozer fluir para dentro da cidade onde dissolveu os edifícios de tijolos de barro cru. Este foi o notável cumprimento da profecia de Naum: “As comportas do rio se abrem, e o palácio é destruído” (2:6). Nínive esteve perdida por bem mais de 2000 anos. Dois séculos após a destruição de Nínive, Xenofonte, soldado e historiador grego, passou perto dela em sua famosa viagem ao mar Negro. Embora mencione ter visto os restos do embarcadouro enquanto marchava pelo leito seco do rio, ele supunha tratar-se de um muro pertencente à antiga cidade de Larsa. Escrevendo acerca da cidade de Mosul no duodécimo século depois de Cristo, Benjamim de Tudela registrou: “Esta cidade, situada sobre o Tigre, liga-se à antiga Nínive por uma ponte. . . . Nínive jaz agora em completas ruínas, porém numerosas aldeias e pequenas cidades ocupam seu antigo espaço.” Outros também escreveram acerca do lugar ocupado por Nínive, mas Henry Layard, em 22 de dezembro de 1853, foi o primeiro arqueólogo a identificar o sítio. O mais famoso personagem bíblico relacionado com o drama da antiga Nínive foi Jonas. A controvérsia tem girado em torno desse homem durante os últimos dois séculos, visto que alguns eruditos têm questionado os três dias que ele passou “no ventre do grande peixe”. Mas a história de Jonas e Nínive circulou amplamente durante o ministério de Jesus, e por várias vezes Jesus se referiu a esse profeta (p. ex., Mateus 12:39-41; 16:4).
A IDADE ÁUREA (1211-539 a.C.)
O último rei cassita da Babilônia expulsou os assírios do seu território em 1211. Isto estabeleceu um inquietante equilíbrio de poder entre os babilônios e os assírios, permitindo que ambas as nações atingissem seu zênite.
A. Nabucodonosor I (c. 1135 a.C). Os babilônios expulsaram os reis cassitas em 1207 a.C. e colocaram no trono uma nova família de reis nativos. O sexto rei dessa linha foi Nabucodonosor I, que começou seu reinado cerca de 1135 a.C. Nabucodonosor sofreu várias derrotas nas mãos dos assírios, mas conseguiu expandir os domínios da Babilônia. Também teve êxito em recuar os elamitas para a fronteira oriental. Seu filho e seu neto fizeram incursões bem-sucedidas ao território assírio.
B. Tiglate-Pileser I (c. 1100 a.C). O rei assírio Tiglate-Pileser I conquistou muitas nações circunvizinhas. Ele entrou fundo no coração do território babilônio e capturou a cidade de Babilônia por um breve tempo. Os escribas da corte de Tiglate-Pileser erigiram um monumento de pedra octogonal para registrar suas vitórias, e ele reconstruiu a antiga cidade de Assur, a capital. Foi mais ou menos nessa época que Saul assumiu o trono de Israel. Nos dois séculos seguintes, Babilônia e Assíria enfrentaram tempos difíceis. Guerra civil, conspirações e cerco combinaram-se para enfraquecê-las e frustrar-lhes o desejo de conquista. Enquanto esses dois gigantes lutavam com seus problemas, Israel desfrutava sua própria “idade áurea” sob os reinados de Davi e de Salomão. Tiglate-Pileser II (c. 950 a.C.) deu início a uma nova linhagem de reis, os quais renovaram os esforços para construir um império que cobrisse o mundo então conhecido.
C. Assurbanipal III (885-860 a.C). O rei seguinte da Assíria, Assurbanipal, conduziu seus exércitos contra os arameus do norte e depois marchou para a costa do Mediterrâneo ao ocidente. Assur banipal obrigou as cidades conquistadas a pagar pesado tributo, e muitas vezes mandou reis capturados para as prisões de sua capital (Nínive), a fim de garantir que seus súditos permaneceriam leais. Ele conduziu essas campanhas militares durante os reinados de Acazias e Atalia de Judá. Também reconstruiu a antiga capital assíria de Cala.
D. Salmaneser II (860-824 a.C). O rei assírio seguinte, Salmaneser n, continuou as conquistas de seu pai. Voltou as vistas para o sul onde estavam os reinos divididos de Israel e Judá. Acabe, rei de Israel, e Ben-Hadade, de Damasco, uniram as forças para resistir a esses invasores (1 Reis 20:13-34). O rei Jeú, sucessor de Acabe, submeteu-se aos assírios. Um monumento preto, em forma de obelisco, de Salmaneser, mostra Jeú curvando-se perante o rei assírio. Salmaneser vangloriava-se de estar “arrasando o país como um touro selvagem”. O Império Assírio sofreu graves reveses sob os descendentes de Salmaneser. Seu filho XamxiRamã IV (824-812 a.C.) derrotou uma aliança de babilônios, elamitas e outros povos orientais. O rei seguinte e ntou unir a Babilônia e a Assíria levando para Nínive os símbolos religiosos babilônios. Mas a estratégia falhou. Seus súditos babilônios rebelaram-se e uma série de fomes e derrotas indicaram o declínio gradual da Assíria.
E. Tiglate-Pileser III (745-727 a.C). Esse rei reviveu a esperança da Assíria de tornar-se um império mundial. Reconquistou o território babilônio, recapturou as cidades aramaicas, e fez o exército da Assíria retornar ao campo de batalha da Palestina. Os documentos reais de Tiglate-Pileser dizem que as cidades estrangeiras “ficaram desoladas como uma inundação esmagadora” por seu avanço repentino. Tiglate-Pileser capturou Israel e Damasco no ano 732 a.C, estabelecendo Oséias no trono de Israel como governante títere (2 Reis 15-16).
F. A Destruição de Israel. O rei Oséias, num gesto louco, decidiu rebelar-se contra Salmaneser IV, sucessor de Tiglate-Pileser. Fez uma aliança com o faraó do Egito e parou de pagar tributo à Assíria. Salmaneser capturou a Oséias, e então sitiou Samaria, mas morreu pouco antes da rendição dessa cidade em 721 a.C. (2 Reis 17). Este foi o fôlego final de Israel. O novo rei assírio, Sargão (722-705 a.C), deportou o povo de Israel para o interior do Império Assírio, que se expandia. Essas tribos jamais voltariam à Terra Prometida.
G. A destruição de Judá. Salmaneser e seus sucessores, Sargão (722-705 a.C.) e Senaqueribe (705-681 a.C.) tiveram de sufocar diversas revoltas na derrotada nação de Israel (2 Reis 17:24—18:12). Senaqueribe capturou as cidades fortificadas de Judá e exigiu a rendição de Jerusalém (2 Reis 18), mas teve de retirar suas forças para combater Merodaque-Baladã, o rebelde rei da Babilônia. Tendo vivido sob o governo assírio desde 1100 a.C, os babilônios aproveitaram esta oportunidade para declarar sua independência. Senaqueribe derrotou a Merodaque-Baladã, mas um rei mais poderoso chamado Nabopolassar subiu ao trono da Babilônia. Nabopolassar e seu filho Nabucodonosor II conduziram seus exércitos contra Neco, faraó egípcio, que tentava controlar o Império Assírio que se enfraquecia. Seus exércitos encontraram-se em Carquemis, onde os babilônios derrotaram os egípcios em uma das grandes batalhas do mundo antigo (605 a.C). Os faraós egípcios provocaram rebelião entre os reis de Judá a fim de desviar a atenção de seus inimigos babilônios. Uma vez que Joaquim de Judá se recusou a pagar tributo a Nabucodonosor H, o rei babilônio capturou Jerusalém e deportou parte de sua população em 597 a.C. (2 Reis 24:8-17). Zedequias, sucessor de Joaquim, também seguiu o mau conselho dos egípcios, e Nabucodonosor atacou de novo Jerusalém. Desta vez destruiu as defesas da cidade e levou quase toda a população para o cativeiro (2 Reis 25). Assim, o reino dividido de Israel e Judá encontrou seu final em 586 a.C.
H. A Glória de Nabucodonosor II. Nabucodonosor invadiu o Egito e as cidades costeiras da Palestina para garantir as fronteiras de seu novo império. Por mais de vinte anos depois da queda de Jerusalém, ele reinou sobre o poderoso Império Babilônio. Seus arquitetos elevaram a cidade de Babilônia, capital do Império, ao auge de seu esplendor, adornando-a com os famosos jardins suspensos. “Houve um esforço consciente por parte dos dirigentes de voltar às antigas formas e costumes. Tem-se dito que esse período poderia ser, com propriedade, chamado de Renascença da Velha Babilônia.”
ANOS DE DECLÍNIO
À medida que o Império Persa se fortalecia, os assírios e os babilônios começaram a perder o controle da Mesopotâmia. Nínive caiu em 606 a.C. diante de um grupo de tribos citas conhecidas como Umã-Manda. Essas tribos usaram os recursos de Nínive para construir seu próprio império. Na Babilônia, os sucessores de Nabucodonosor fizeram da corrupção e do homicídio um estilo de vida. Romperam as relações diplomáticas com os medos — os comandantes tribais de Nínive — pensando que esses renegados nada valiam em seus esquemas políticos. Belsazar subiu ao trono da Babilônia em 553 a.C. e tentou reviver o interesse popular nas antigas religiões do império, negligenciando o estado de suas forças armadas. Ele não previu a repentina ascensão de Ciro, o Grande, que absorveu os medos e se foi para o Norte a fim de subjugar outras tribos da Ásia Menor. Finalmente Ciro enviou seus exércitos contra a Babilônia. O fraco governo de Belsazar provou ser presa fácil. Babilônia caiu diante dos persas, dando a Ciro o controle de toda a Mesopotâmia.
ARTE E ARQUITETURA
Os entalhes em relevo encontrados nas ruínas de Nimrude e de Nínive (magníficas capitais nos primórdios da Assíria) nos ensinam muita coisa acerca da vida dos babilônios e assírios. Por exemplo, certa gravura retrata uma selvagem “caça” ao leão, na qual os leões são soltos numa arena e mortos por um rei em sua carruagem, atirando setas, protegido por seus lanceiros! De um período anterior, altares babilônios e assírios mostravam cenas de guerra. Suas pinturas murais e selos cilíndricos retratavam cenas da vida dos animais e das plantas. Apenas umas poucas esculturas da cultura assíria sobreviveram, sendo as mais afamadas a estátua de Assurbanipal II, hoje no Museu Britânico. A arquitetura assíria acentuava o zigurate, e provavelmente sua melhor representação é o palácio que Sargão II construiu, na que hoje é conhecida como Corsabade. O palácio tinha uma entrada tríplice para um grande pátio, que media 90 metros de cada lado. As paredes eram entalhadas com relevos dos reis e seus cortesãos, e eram afixados em seções com desenhos multicoloridos. De um lado do pátio estavam os escritórios e alojamentos de serviço, e do outro seis templos e um zigurate. Atrás do pátio ficavam as salas de estado, incluindo uma sala do trono brilhantemente pintada.
Grande parte da arte assíria focaliza cenas de batalha que mostram soldados mortos e moribundos, ou cenas de caçada que retratam animais feridos e moribundos. Usavam painéis de tijolo (alguns esmaltados e em relevo) nas paredes e nos portões. Também construíam zigurates, uma contribuição sumeriana. A própria Babilônia era o local do zigurate conhecido na Bíblia como ‘Torre de Babel” (Gênesis 11:1-9). Tudo o que resta são a planta baixa e traços de três grandes escadarias. Uma descrição geométrica encontrada numa tabula cunei-forme (datada de mais ou menos 229 a.C.) descreve a torre como tendo dois andares e mais uma torre de cinco etapas, coroada por um relicário sagrado no topo. Contudo, o historiador grego Heródoto disse que a Torre da Babilônia foi construída em oito etapas circundadas por uma rampa e tendo um santuário. Os palácios babilônios amiúde eram decorados com pinturas. Durante a dinastia de Hamurabi, os temas pintados eram principalmente motivos mitológicos, cenas de guerra, e ritos religiosos. A escultura babilônica é representada por estátuas de culto de divindades e governadores. Um dos mais importantes descobrimentos é uma cabeça de granito preto, que pode ser a do rei Hamurabi. A estátua é quase impressionista.
RELIGIÃO
As práticas religiosas assírias eram quase idênticas às da Babilônia, exceto que seu deus nacional se chamava Axur, enquanto o deus Nacional da Babilônia se chamava Mar duque. Os babilônios modificaram a religião suméria. Além de Marduque, seus deuses importantes eram Éia (deus da sabedoria, dos feitiços e dos encantamentos); Sin (deus da Lua); Chamache (deus do Sol e deus da justiça); Ishtar (deusa do amor e da guerra); Adade (deus do vento, da tempestade e da inundação), e Nabu, filho de Marduque (escriba e arauto dos deuses). Os serviços do templo babilônio eram realizados em pátios abertos onde sacrificavam, queimavam incenso, e festejavam.
LITERATURA DA IDADE ÁUREA
As tábulas de argila inscritas, desenterradas pelos arqueólogos, têm contribuído grandemente para nosso conhecimento da Assíria, da Babilônia e do antigo Oriente Médio. Em sua maioria, as inscrições são documentos administrativos, econômicos e legais. Muitos são datados com relação a eventos históricos significativos. Eles trazem a escrita cuneiforme distintiva. Os arqueólogos já encontraram mais de cinco mil tábulas inscritas com mitos, contos épicos, hinos, lamentações, e provérbios. Com exceção dos provérbios e de alguns ensaios, todas as obras literárias babilônicas e assírias são escritas em forma poética. Vê-se a influência da Babilônia e da Assíria sobre o Antigo Testamento no fato de que centenas de palavras e frases usadas na Bíblia hebraica têm paralelo direto nas tábulas cuneiformes. Três textos primários encontrados em cuneiforme são muito semelhantes a temas do Antigo Testamento. São os da criação, do dilúvio, e do lamento do sofredor justo (cf. livro de Jó). Para uma descrição posterior das histórias cuneiformes da criação e do dilúvio, veja o capítulo 5, “Religiões e Culturas Pagãs”.
OUTRAS EVIDÊNCIAS ARQUEOLÓGICAS
Examinando com minúcia outras pistas arqueológicas, verificamos que a cultura assíria assemelhava-se estreitamente com a cultura babilônica — com a exceção de que os assírios tendiam a ser mais bárbaros. Por exemplo, os assírios sepultavam seus mortos com os joelhos puxados até ao queixo. Sepultavam-nos sob casas em vez de fazê-lo em cemitérios. As atividades favoritas dos reis assírios eram a guerra e a caça, conforme refletem sua arte e seus escritos. Os achados arqueológicos indicam que os assírios eram geralmente um povo impiedoso e selvagem. Em 1616, o viajante italiano Pietro delia Valle (1586-1652) reconheceu as ruínas de Babilônia. E entre 1784 e 1818 foram realizadas diversas “escavações” nesse sítio, porém a mais importante foi fei*3 depois de 1899 pela “Deutsche Oriente Gesellschaft”, sob a direção do arqueólogo alemão Robert Koldewey (1855-1925). Ele investigou a mais afastada muralha da Babilônia sobre mais ou menos 31 km2 e escavou a rua Processional, a porta de Ishtar, e os alicerces de dois palácios do rei Nabucodonosor II. Que é que os descobrimentos arqueológicos nos dizem acerca da Babilônia? Primeiro, que, embora sua economia se baseasse na agricultura, o povo era essencialmente urbano. Babilônia constituíase de 12 ou mais cidades circundadas por aldeias e aldeolas. O povo servia sob um monarca absoluto.
Segundo, esses achados dizem-nos que havia níveis sociais: avelin, o homem livre da classe superior; vardu, ou escravo, e muxquenu, homem livre da classe inferior. Os pais podiam vender os filhos para a escravidão se o desejassem. Parece, contudo, que a maioria dos escravos eram adquiridos como prisioneiros de guerra e tratados com humanidade (considerando-se a época). A família era a unidade básica da sociedade, e os casamentos eram arranjados pelos pais. As mulheres tinham uns poucos direitos legais, mas eram subordinadas aos homens. As crianças não tinham direito algum.
Terceiro, verificamos que a população da Babilônia ia de 10 a 50 mil. As ruas babilônicas eram sinuosas e sem pavimentação. A casa média era uma estrutura de tijolo cru, de um pavimento, com diversos quartos agrupados ao redor de um pátio aberto. O babilônio abastado geralmente possuía uma casa de dois pavi-mentos, rebocada e caiada. O pavimento térreo tinha uma sala de recepção, cozinha, lavatório, alojamentos de criados e às vezes uma capela particular. A mobília constituía-se de mesas baixas, cadeiras de encosto alto, e camas com estruturas de madeira. Os utensílios eram feitos de barro, pedra, cobre e bronze. O junco era utilizado para a fabricação de cestos e tapetes. À semelhança dos assírios, os babilônios sepultavam seus mortos (em muitos casos) embaixo da casa. Potes, ferramentas, armas e outros objetos eram sepultados com eles.
Os babilônios tinham considerável conhecimento de engenharia, o qual usavam na matemática primitiva, e desenvolveram tabelas de tempo para plantio e colheita.
A Inscrição de Behistun. Reis do antigo Oriente Próximo muitas vezes preparavam monumentos para comemorar suas vitórias, Desses monumentos, os eruditos têm aprendido muita coisa sobre o mundo antigo. Os eventos e personagens bíblicos são mencionados com frequência. Um desses monumentos comemorativos, a inscrição de Behistun, capacitou os estudiosos a decifrar o acadiano antigo (isto é, a divisão oriental das línguas semiticas). A cidade de Behistun jaz na principal rota de caravanas entre Bagdá e Teerã. O rei Dario I da pérsia (521- 485 a.C.) tinha um registro de suas proezas entalhado no lado de uma montanha, a 108 metros acima de uma fonte onde os viajantes paravam, e 31 metros acima do ponto mais alto que um homem podia alcançar. Para garantir que sua obra não fosse desfigurada, Dario instruiu os trabalhadores a destruírem o caminho que vai dar na inscrição, depois de completada a obra. Em 1835, um oficial britânico, por nome Henry Rawlinson, começou a arriscada tarefa de copiar a inscrição. Para copiar as linhas do alto ele teve de subir ao último degrau de uma escada, firmando o corpo com o braço esquerdo e segurando a caderneta de notas com a mão esquerda, enquanto escrevia com a direita. Encimando a inscrição há um disco alado (representando o deus Ahura-Mazda) e doze figuras. A inscrição mostra Dario pisando sobre seu rival Gaumata. À esquerda de Dario estão dois assistentes e diante do rei estão nove rebeldes, amarrados com corda. A inscrição é feita em três línguas: Persa antigo, elamita e babilônio (uma forma do acadiano). Depois que decifraram a inscrição em persa antigo, os eruditos continuaram a trabalhar sobre a hipótese de que os outros dois textos continham a mesma narrativa. Edward Hincks, pároco de uma igreja na Irlanda, e Henry Rawlinson, publicaram sua interpretação dos caracteres cuneiformes, o que deu a chave para a decifração das outras inscrições acadianas. Uma cópia da inscrição de Behistun foi também encontrada em Babilônia, e entre os judeus da ilha Elefantina descobriu-se uma versão ara-maica. Dario certificou-se de que sua fama se espalhasse de uma extremidade à outra de seu extenso império. Em parte, a inscrição de Behistun diz: “Sou Dario. . . . Pela graça de Ahura-Mazda eu sou governador de vinte e três terras incluindo Babilônia, Esparda (Sárdis?), Arábia e Egito. Sufoquei as rebeliões de Gaumata e oito outras. . .” Devido ao fato de a inscrição achar-se a grande altura da estrada, indaga-se como Dario esperava que os viajantes lessem o que se dizia de sua glória. Todavia, essa proclamação bilingue tem beneficiado os eruditos de um modo maravilhoso — um modo com o qual o rei jamais sonhou.
—- Retirado de: J. I. Packer – O Mundo do Antigo Testamento.
Leia também:
• Os Egípcios
• A Cronologia do Antigo Testamento
• A Origem das Línguas Humanas e Culturas
• A Vida Cotidiana dos Povos Antigos
• A História do Antigo Testamento Resumida
• Arqueologia Bíblica
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