A Cidade de Jericó

A Idade Média do Bronze havia testemunhado o desenvolvimento introduzido pelos hicsos nesse local extremamente antigo, fortificando-o através de um imenso dique defensivo. Quando se retiraram para Canaã, depois da sua expulsão do Egito, os hicsos ofereceram alguma resistência a partir de Jerico, mas logo foram derrotados e sofreram a perda da sua fortaleza que foi incendiada. Garstang desenterrou partes dos salões do palácio, e também inúmeras casas datadas do fim do período Médio do Bronze, sendo que todos mostravam evidências indiscutíveis de terem sido destruídos pelo fogo.

A cidade de Jerico foi reconstruída ao término da Idade do Bronze (em aproximadamente 1550 a.C), embora numa escala consideravelmente menor que em uma época anterior. A cidade foi fortificada por meio de um muro duplo de tijolos de barro, sendo que a parede interior seguia a direção geral das fundações sobre as quais havia sido erguido o muro do início da Idade do Bronze. Nessa obra foram empregados tijolos de barro, secados ao sol que, ao lado do curso desigual dos muros, resultou na natureza irregular das fundações, e em um padrão inferior de construção.

Essa era a “cidade D” que Garstand acreditava ser aquela conquistada por Josué e seus seguidores. O muro exterior, originalmente com cerca de trinta pés de altura e seis pés de largura, havia sido quase que totalmente destruído e o muro interior, com aproximadamente a mesma altura, mas com doze a quinze pés de largura, havia sofrido um destino semelhante, que Garstand atribuiu a distúrbios sísmicos.15 A casa onde vivia Raabe estava, provavelmente, situada próxima aporta principal da cidade e pode ter sido construída sobre os dois muros defensivos. O entulho examinado por Garstand continha fragmentos de tijolo enegrecido, cinzas, cerâmica esfumaçada, madeira chamuscada e outras provas de destruição pelo fogo, um evento que segundo ele datava do século XIV a.C.

Escavações iniciadas em 1951, sob a liderança da senhora Kathleen Kenyon, mostraram a necessidade de se fazer alguma revisão no quadro apresentado por Gartand. Pouquíssimos indícios do período de Josué foram encontrados nessa área, e não foi encontrado, nas escavações, nenhum sinal dos muros do final da Idade do Bronze, uma situação que está curiosamente em desacordo com a cuidadosa descrição daquilo que Garstand entendeu que seriam as fortificações feitas no final da Idade do Bronze. Embora recentes investigações tenham, sem sobra de dúvida, estabelecido a antiguidade desse sítio arqueológico, nesse momento será quase impossível fazer qualquer afirmação sobre a natureza dessa cidade fortificada conquistada por Josué, ou mesmo quanto à data em que o fato ocorreu. A partir daquilo que já conhecemos, entretanto, parece bastante possível que as forças israelitas marcharam sete vezes ao redor da cidade em um único dia (Js 6.4).

A conquista de Jerico foi seguida pelo assassinato dos seus habitantes e a destruição das suas propriedades. Embora isso tenha sido o resultado de uma ordem direta de Jeová, esse fato não é, de forma alguma, inconsistente com a moralidade Divina como alguns estudiosos já sugeriram. Era primeiro lugar, a preservação de Raabe e da sua família foi caracteristicamente humanitária e constituiu uma apropriada recompensa aos espias que Josué tinha enviado para investigar as defesas da cidade. Em segundo lugar, a verdadeira questão era aquela da moralidade de Jeová contra os depravados rituais da religião cananita. Não havia nenhuma forma de acomodação entre as duas e se o rígido código ético de Israel precisava ser estabelecido permanentemente, seria inevitável a eliminação da orgíaca religião cananita. Nem poderia haver qualquer diminuição de esforços na resoluta posição contra a natureza dos rituais e os aviltantes cultos da fertilidade de Canaã sem que a integridade da religião hebraica fosse imediatamente afetada. Do ponto de vista cultural, a sociedade do Oriente Próximo sofreu poucas perdas quando a decadente civilização de Canaã caiu sob os golpes poderosos dos israelitas invasores. Se tivessem sido completamente exterminados, todo o sentido da sua história posterior poderia ter sido completamente distinto.

——- Retirado de R. K. Harrison – Tempos do Antigo Testamento.


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