A Ascensão da Babilônia

Assurbanipal morreu em 627 a.C, e imediatamente o império assírio desmoronou. A Babilônia (cujo nome quer dizer Portal dos Deuses – antiga Babel) assegurou a sua independência em 626 a.C, enquanto a Assíria era ameaçada do norte pelas invasões de um povo guerreiro, conhecido como “os citas”. Eles habitavam as regiões do norte e leste do mar Negro, e era um grupo bárbaro e nômade, que vagava sobre a vasta área entre os mares Cáspio e Negro. Por volta de 626 a.C. eles avançaram para o sul pela Palestina na direção do Egito, e, para Sofonias e Jeremias, a conquista das defesas ao norte de Judá foi o início da retribuição Divina. Os citas aparentemente seguiram a rota costeira até o Egito, mas voltaram a Asdode devido à resistência dos egípcios. Heródoto afirmou que Psamético I (em aproximadamente 633-609 a.C), pai de Neco, subornou os citas para retornarem à sua terra natal, entretanto é difícil dizer até que ponto isto é verdadeiro.

Em 616 a.C. os babilônios, sob o reinado de Nabopolassar, aliados com os medos, atacaram a Assíria, e começaram uma redução sistemática dos pontos fortes por todo o império. Assur, a cidade capital, caiu em 614 a.C, e após mais dois anos de uma luta amarga, Nínive caiu em 612 a.C. Toda a resistência foi esmagada com a conquista de Harã, que havia sido ocupada por um remanescente do exército assírio em 610 a.C. O poder do império assírio estava no final, e a sua queda comprovou notavelmente as predições de Sofonias (2.13 e versículos seguintes) e Naum (3.1 e versículos seguintes). O rio Tigre foi usado como uma fronteira para dividir o império, os babilônios ocuparam o território para o oeste e o sul, enquanto os medos ocuparam a terra ao norte e a leste. O casamento da filha do rei medo com Nabucodonosor II, filho de Nabopolassar, completou os procedimentos, e assim surgiu o novo império babilônia) (612-539 a.C).

Com a queda da Assíria, o Faraó-Neco se afirmou e marchou para a planície costeira da Palestina. A versão NTLH (Nova Tradução na Linguagem de Hoje) da Bíblia interpreta a sua motivação, conforme expressado em 2 Reis 23.29 de forma bastante correta, dizendo que ele foi “ajudar” o rei da Assíria em vez de ter subido “contra” ele, como lemos na edição Revista e Corrigida (ARC). A Crônica Babilônica, publicada por Gadd em 1923, deixa claro que Neco estava marchando para o auxílio das forças assírias, que estavam em posse temporária de Harã. Josias não queria que Neco ajudasse os inimigos hereditários de Judá, e tentou impedi-lo em Megido; mas foi assassinado ali em 609 a.C. Joacaz II, filho de Josias, foi elevado pelo povo aposição de rei, mas depois de três meses foi deposto por Neco em favor de seu irmão mais velho Jeoaquim, a quem Neco tornou seu tributário, requerendo que ele pagasse cem talentos de prata e um de ouro (2 Rs 23.33).

A Obra de Jeremias

Enquanto ocorriam esses eventos, a influência do profeta Jeremias estava sendo crescentemente sentida nos círculos políticos de Judá. Ele havia nascido em uma antiga família sacerdotal em Anatote por volta de 640 a.C, logo após a morte de Manasses, e foi grandemente influenciado pela reforma religiosa de Josias, bem como pelos ensinos de Oséias. A sua missão profética começou com a morte de Assurbanipal, e, igualmente, desde o princípio, ele denunciou a adoração no Templo e a adoração ritualista, em favor do monoteísmo ético implícito na religião mosaica tradicional. Embora fosse um homem de disposição serena, atacou com grande vigor algumas das instituições e personagens respeitáveis de seus dias, incluindo os sacerdotes do Templo (Jr 26.8 e versículos seguintes), falsos profetas (Jr 23.9 e versículos seguintes), e oficiais do governo (Jr 36.12 e versículos seguintes). Por causa disso, granjeou a inimizade de vastos segmentos da população, e seu ministério foi marcado por uma constante oposição, prisão, além de perseguições diretas. Jeremias viu os perigos da posição que Judá ocupava na luta internacional pelo poder. O império assírio havia se desintegrado, e o seu lugar tinha sido tomado por um poderoso regime babilônico. O Egito, depois de mais de um século de declínio, estava novamente afirmando a sua reivindicação de ser uma voz nos assuntos do Oriente Próximo, e pareceu que, mais cedo ou mais tarde, certamente desafiaria o poder militar babilônico. Se Judá se aliasse com o Egito, sofreria consequências severas caso uma derrota egípcia ocorresse, ou caso os babilônios ocupassem o país e o usassem como uma base avançada para atacar o Egito. Jeremias predisse que Judá seria esmagada pelo poder da Babilônia sob o reinado de Nabucodonosor (Jr 25.9 e versículos seguintes), e fez tentativas dramáticas para influenciar as políticas estrangeiras de seu país, de forma que Judá se tornaria uma terra vassala da Babilônia, e assim seria poupada da destruição (Jr 27.6 e versículos seguintes).

O Avanço da Babilônia na Direção Oeste

Em 605 a.C. Neco marchou até o Eufrates, e Nabopolassar enviou seu filho Nabucodonosor com um exército para lutar contra ele. Uma batalha decisiva foi travada em Carquemis naquele ano, na qual os egípcios foram perseguidos pelas forças babilônicas até a fronteira de sua própria terra. Judá agora caiu dentro do território do novo império babilônico, e quando em 605 a.C, Nabucodonosor ascendeu ao trono por ocasião da morte de seu pai, acabou consolidando as suas conquistas e obrigando Judá a pagar tributos à Babilônia (2 Rs 24.1). O relato apresentado por Daniel (1.3) parece indicar que, como evidência de boa fé por parte de Jeoaquim, Nabucodonosor requereu a presença de reféns judeus na Babilônia em 605 a.C. O próprio Daniel estava entre aqueles que foram deportados para a Babilônia sob esta provisão, juntamente com membros da casa real e alguns da inteligência de Judá. A alegação de um anacronismo na narrativa (Dn 1.1), na qual o terceiro ano de Jeoaquim é comparado ao quarto daquele rei em Jeremias 25.1, é agora considerada como um erro de compreensão das sequências cronológicas na antiguidade. Na Babilônia, o ano de ascensão era contado separadamente, sendo seguido pelo primeiro ano do reinado. Na Palestina, o ano de ascensão era considerado o primeiro ano do reinado. Assim, Daniel calculou a sua cronologia segundo o sistema babilônico, enquanto Jeremias seguiu a cronologia corrente na Palestina. Isto mostra que não há erros nem contradições nas Escrituras Sagradas.


——- Retirado de R. K. Harrison – Tempos do Antigo Testamento.


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