A Queda de Judá

O COLAPSO DO REINO DO NORTE, ANTES DA VIOLENTA INVESTIDA DA Assíria, apresentou sérios problemas para Judá. Joacaz ainda estava pagando tributos substanciais para o império assírio, e embora a economia de Judá estivesse relativamente estável, a posição da nação em outros aspectos era extremamente vulnerável. Os assírios pareciam decididos a conquistar o Egito, ou no mínimo em reduzir o seu poder, e o reino do sul formou uma base avançada importante para esse objetivo. O fato de Judá se revoltar contra os seus senhores assírios e buscar a proteção do Egito, serviria meramente para executar prontamente os planos assírios para a extensão dos interesses imperiais no oeste. Visto que os recursos militares de Judá eram totalmente inadequados para enfrentar a ameaça de invasão, a maior segurança para o reino do sul pareceu estar na preocupação com assuntos domésticos e na desistência das alianças com os poderes estrangeiros.

Estas eram as dificuldades com que Ezequias (716/15-687/86 a.C), filho e sucessor de Joacaz I, se confrontou, quando ascendeu ao trono. Era um homem profundamente religioso que, no início de seu reinado, foi guiado pelo profeta Miquéias para empreender um programa de reforma religiosa destinado a reverter as políticas religiosas de seu pai e a erradicar a influência nociva do culto a Baal no reino do sul. Assim, destruiu todos os altos onde as cerimônias religiosas pagas tinham ocorrido, e fez desaparecer todos os objetos de culto que poderiam ter qualquer significado pagão, incluindo a serpente de metal que Moisés tinha feito e que havia sido preservada no Templo (2 Rs 18.4). A queda recente de Israel acrescentou sanção às reformas, e a conseqüente purificação da vida religiosa bem como o resgate da adoração a Jeová.

O reinado de Ezequias foi de considerável prosperidade econômica, resultante da cuidadosa organização e desenvolvimento dos recursos naturais. Entre outras coisas, recuperou o controle das cidades na planície da Filístia, e edificou as defesas do reino como um todo. Tirando proveito da luta de poder entre o Egito e a Assíria, ele expandiu a atividade comercial de Judá e trouxe a economia a um nível avançado (2 Cr 32.27 e versículos seguintes). Seus êxitos militares contra os filisteus o encorajaram a pensar em se revoltar contra a Assíria e se aliar ao Egito, mas Ezequias não foi apoiado nesta política pelo profeta Isaías, que previu as suas conseqüências com muita clareza (Is 18.1-7; 30.1-7). Como seu contemporâneo Miquéias, Isaías dedicou a sua atenção principalmente a Judá e Jerusalém (Is 1.1), enquanto Amos e Oséias tinham se concentrado no pecado do reino do norte. Isaías parece ter tido um nascimento nobre, e assim teve pronto acesso à corte real, onde o seu conselho era geralmente ouvido com respeito mesmo que, no final, fosse desconsiderado. Já durante os reinados prósperos de Uzias (767—740/39 a.C.) e Jotão (740/39—732/31 a.C.) o profeta Isaías estava proclamando os últimos dias do reino do sul, sem dúvida para uma audiência incrédula.

Quando Acaz de Judá (732/31—716/15 a.C.) recusou o convite extensivo feito por Damasco para se juntar a uma coalizão anti-Assíria, sofreu a ameaça de ser subjugado por parte de Peca de Israel e Rezim da Síria. Nessa ocasião, Isaías confortou Acaz com a certeza de que o plano contra ele não teria sucesso, e que os reis que pareciam ser tão perigosos em breve seriam liquidados (Is 7.3-9). Porém, aparentemente, Acaz não estava convencido desta certeza nem da promessa do Emanuel, o filho de uma virgem, que nasceria à casa de Davi (Is 7.10-15), e como resultado cometeu o tolo ato de pedir ajuda a Tiglate-Pileser III da Assíria. Parece que Isaías se retirou da vida política por algum tempo depois que os assírios tornaram Judá tributária em 734 a.C. (cf. Is 8.11-22), mas quando viu que havia uma possibilidade da nação participar de alianças estrangeiras, proferiu uma advertência contra tais procedimentos. Isaías insistiu particularmente que Judá não deveria confiar na ajuda do Egito (Is 19.1-22), e aconselhou consistentemente contra as alianças com aquele país (Is 30.1-7; 31.1-3).

Ameaças Assírias a Jerusalém

Em 705 a.C. Sargão da Assíria morreu e foi sucedido por seu filho Senaqueribe. Embora não fosse um líder tão poderoso quanto seu pai havia sido, ele continuou a expansão do império assírio para o oeste. Senaqueribe fortificou Nínive, a sua cidade capital, erigiu uma série de edifícios magníficos, e restaurou alguns dos santuários religiosos mais antigos; fazendo então da cidade uma das mais esplêndidas no Oriente Próximo. No início de seu reinado, Senaqueribe enfrentou a tentativa de Merodaque-Badalã, rei da Babilônia, de resistir ao poder crescente da Assíria. Este homem havia enviado embaixadores a Ezequias, pouco depois de este ter caído vítima de uma doença grave (2 Rs 20), com o objetivo de atrair Judá para a confederação dos poderes do Oriente Próximo formada para resistir a agressão assíria.

Embora Isaías tivesse predito que a participação na coalizão projetada resultaria na destruição do reino e no exílio do povo na Babilônia, Ezequias decidiu apoiar o plano que Merodaque-Baladã tinha desenvolvido. Ao mesmo tempo, ele entrou em uma aliança com o Egito, crendo que esse movimento impediria o aumento do poder assírio. Mas como medida de precaução, fortaleceu as defesas de Jerusalém, e mesmo enquanto este trabalho estava sendo executado, as forças assírias assolaram a costa mediterrânea em 701 a.C, isolaram a cidade de Tiro, e conquistaram Asquelom, Jope, Timnate e Ecrom. Uma força expedicionária egípcia que havia sido enviada para ajudar as cidades sitiadas sofreu derrota e foi forçada a se retirar. Ezequias tomou providências imediatas para proteger Jerusalém de um ataque, e ordenou aos seus engenheiros que construíssem um túnel que traria água da Fonte de Giom para dentro da cidade. Este túnel foi escavado através de rocha sólida por uma distância de aproximadamente 550 metros, e quando foi terminado, saiu exatamente dentro da extremidade sudeste da cidade antiga, onde posteriormente esteve localizado o tanque que foi conhecido como o Tanque de Siloé. O aqueduto citado em 2 Reis 20.20 e 2 Crônicas 32.30, foi uma obra memorável de engenharia, pois os escavadores trabalharam com as mãos, começando pelas extremidades opostas e se encontraram no centro. O túnel se estreitava um pouco a partir da extremidade do Tanque de Siloé; no entanto, se mantinha em uma altura média de 1.80 m.

A presença de uma inscrição na parede do lado direito, a cerca de seis metros a partir da entrada de Siloé, foi revelada em 1880. Em um exame subsequente, foi descoberto que esta inscrição foi feita no século VIII a.C. (em aproximadamente 701 a.C). Ela consistia de seis linhas inscritas em hebraico clássico,2 e dava o seguinte relato do término das escavações:

A perfuração está terminada. E esta é a história da perfuração: enquanto eles manejavam a broca, cada um na direção de seu companheiro, e enquanto ainda havia três côvados para serem perfurados, ali foi ouvida a voz de alguém chamando um outro, porque havia uma fenda na rocha do lado direito. E no dia da perfuração, aqueles que talhavam a rocha batiam em lados opostos para encontrar os seus companheiros, broca após broca; e a água fluiu da fonte para o tanque por quinhentos e quarenta metros, e a altura da rocha acima da cabeça dos que a talhavam era de aproximadamente quarenta e cinco metros.

A fim de obter mais respeito, Ezequias tentou aplacar Senaqueribe oferecendo-lhe tributos. As crônicas históricas assírias interpretaram a situação da seguinte forma:

No que diz respeito à Ezequias, o judeu, que não se sujeitou ao meu jugo, 46 de suas cidades muradas, bem como as cidades menores em sua vizinhança… eu sitiei e tomei… Ele mesmo, como um pássaro engaiolado, prendi em Jerusalém, sua cidade real… No que diz respeito a Ezequias, o terrível esplendor da minha majestade o sobrepujou… e as suas tropas mercenárias… o desertaram.

A Retirada Assíria

Com um exagero característico, as crônicas históricas de Senaqueribe descreveram o tributo exigido de Ezequias, que consistia de trinta talentos de ouro, oitocentos talentos de prata, e uma ampla variedade de produtos valiosos. O relato em 2 Reis 18.14, no entanto, indica que Ezequias pagou somente trezentos talentos de prata e trinta talentos de ouro. Enquanto Senaqueribe estava sitiando Laquis, ele enviou um de seus oficiais (cujo título, Rabsaque, foi o único a sobreviver), a Jerusalém a fim de persuadir os cidadãos a se renderem. Falando em hebraico, ele se dirigiu a todos os que pudessem ouvi-lo, e declarou que a campanha que estava sendo travada por Senaqueribe tinha a aprovação de Jeová, e que Ezequias, portanto, não poderia salvar o seu povo do desastre. Mas embora ele tenha prometido um bom tratamento para todos aqueles que se rendessem, o moral dos judeus permaneceu inabalado por esta tentativa de batalha psicológica. Ezequias foi assegurado independentemente por Isaías de que Deus livraria Jerusalém miraculosamente das forças assírias. Como resultado, ele ignorou as ameaças assírias (Is 36.1 – 37.38).

E significativo que Senaqueribe não tenha reivindicado a conquista de Jerusalém em vista da praga devastadora, provavelmente bubônica em natureza, que matou os assírios (2 Rs 19.35). Além disso, o fato de não ocorrer nenhuma menção desta reviravolta nas crônicas históricas de Senaqueribe é uma característica daquela época, pois quando as crônicas estavam sendo compiladas pelas nações do Oriente Próximo, as derrotas e os fracassos eram invariavelmente ignorados. Após este episódio, Senaqueribe retornou a Nínive deixando a Judéia, e em 681 a.C. foi assassinado por seus filhos (2 Rs 19.37), sendo sucedido por Esar-Hadom (681-669 a.C). A retirada do exército assírio de Jerusalém foi saudada como um livramento nacional, e isso encorajou Ezequias a iniciar a restauração da prosperidade material de seu reino. O resto de seu reinado passou de forma rotineira, e por volta de 686 a.C. foi sucedido por seu filho Manassés.

O Reinado de Manassés

Manassés reagiu violentamente contra a política religiosa de seu pai, e reedificou os santuários cananeus que haviam sido destruídos anteriormente. Os escritores bíblicos unanimemente o condenaram pela sua reintrodução das formas pagas de culto, que incluíam a veneração dos corpos astrais, a adoração de Astarte, e o encorajamento de ritos imorais a Baal por todo o reino. Uma de suas violações mais flagrantes da moralidade foi estabelecer o culto a Moloque, uma divindade amonita, a quem os pais sacrificavam seus filhos fazendo-os passar pelo fogo, uma prática estritamente proibida na lei de Moisés (Lv 20.2 e versículos seguintes). Durante o longo reinado de Manasses (687/86—642/41 a.C), o povo de Judá naufragou ainda mais em uma nova profundidade de depravação e degradação moral. O escritor de 2 Crônicas 33.11 (e versículos seguintes) preservou uma tradição que declarava que Deus castigou Manasses por sua impiedade, através da deportação para a Babilônia, onde, após um período de prisão, ele aparentemente se arrependeu de seu antigo modo de vida. Até o presente não há nenhuma evidência arqueológica que comprove esta tradição, embora um texto cuneiforme da época de Esar-Hadom contenha uma referência a uma visita feita por Manasses a Nínive, por ordem do governante assírio:

Eu convoquei os reis da Síria e aqueles do outro lado do mar: Baalu, rei de Tiro, Manasses, rei de Judá… Musurri, rei de Moabe… vinte reis ao todo. Eu lhes dei as suas ordens.

Uma vez que a Babilônia era vassala da Assíria, e Esar-Hadom estava em processo de reconstrução da Babilônia,6 que seu pai havia destruído, é provável que os governantes visitantes tenham visto a magnificência da cidade restaurada antes de terem a permissão de voltar para casa. Alguns estudiosos vêem o cativeiro de Manasses como um castigo por ter feito parte da coalizão da Fenícia, Edom, e Egito que se revoltou contra a Assíria por volta de 650 a.C. Mas Judá não participou desta revolta, nem foi vítima da retaliação assíria quando a revolta foi finalmente esmagada. Um paralelo a esta tradição é proporcionado pela captura e subsequente libertação do Faraó-Neco I por Assurbanipal, como narrado no Cilindro Rassam. Em seu retorno a Jerusalém, Manasses instituiu uma reforma religiosa em Judá, e restaurou a adoração a Jeová nos santuários. Seu reinado foi comparativamente tranquilo de um ponto de vista político, embora ele tenha tomado a precaução de instalar guarnições em todas as cidades fortificadas de Judá, além de fortalecer ainda mais as defesas de Jerusalém contra um possível ataque da Assíria. Seu longo governo terminou em 642/41 a.C, quando foi sucedido por seu filho Amom. Como seu pai, Amom adorou deuses pagãos no início de seu reinado, e depois de um período de dois anos no trono, foi assassinado em uma conspiração do palácio em 640/39 a.C.

O Reinado de Josias

Josias, filho de Amom, com apenas oito anos o sucedeu, e reinou até o ano 609 a.C. A sua piedade era evidente desde tenra idade, e no décimo segundo ano de seu reinado começou um programa de reforma religiosa no qual os santuários cananeus pagãos foram destruídos e a adoração a Jeová foi restaurada. Ele dedicou a esse assunto a sua supervisão pessoal, e para a sua satisfação, quando esta reforma estava concluída, voltou a sua atenção para os reparos que precisavam ser feitos na estrutura do Templo (2 Rs 22.3 e versículos seguintes). Durante o curso das renovações, uma cópia da antiga lei foi descoberta por Hilquias, o sumo sacerdote, e foi levada ao rei. Ao ouvir o seu conteúdo lido em voz alta, Josias foi tomado de remorso por causa do modo pelo qual os preceitos divinos haviam sido ignorados nos dias passados. Após receber um oráculo favorável de Deus, ele instituiu uma outra reforma religiosa, esta de caráter extenso, apoiado pelos sacerdotes, profetas e oficiais do governo, baseada no recém-descoberto Livro da Lei. O fato de o livro ter sido descoberto na época em que a estrutura do Templo estava sendo restaurada sugere que pode ter sido depositado nos alicerces durante o período em que o edifício estava sendo erguido. Ocasionalmente, tais documentos eram recuperados pelos governantes do Oriente Próximo que possuíam interesses em antiguidades, como no caso de Nabonido da Babilônia (556-539 a.C), que era um notável antiquário e arqueólogo religioso. Durante o seu reinado, escavou o templo de Shamash (ou Samas) em Sippar, na baixa Mesopotâmia, e recuperou os registros dos alicerces de Narã-Sin, olho de Sargão. O costume de incorporar registros e outros materiais aos alicerces dos edifícios é muito antigo, e originalmente tinha conotações mágicas, este, com certeza, não era o caso de Israel.

É difícil determinar a natureza exata do livro, em si. Tradicionalmente compreendia todo o Pentateuco, mas o fato de ser citado como o “livro do Concerto” (2 Cr 34.30), e que poderia ser lido dentro de um tempo razoavelmente curto, pode indicar que consistia apenas de uma parte do Pentateuco. Estudiosos têm afirmado que o livro continha o (ou talvez consistisse do) livro de Deuteronômio, mas esta é uma questão que na natureza do caso não pode ser comprovada. Muito provavelmente o livro da Lei consistia do Decálogo, o código do concerto, os regulamentos a respeito do Tabernáculo, e algumas porções das antigas leis de santidade contidas nos sete primeiros capítulos de Levítico. Uma teoria que exige considerações mais sérias, porém, é a que afirma que o livro foi elaborado pouco antes de sua descoberta por volta de 621 a.C. Este ponto de vista, como Gordon indica, é baseado em um entendimento incorreto da natureza e da função de códigos legais no antigo Oriente Próximo. Embora tais códigos fossem baseados em parte na opinião pública, tradição e decisões legais anteriores, quer escritos ou orais, eles não exerciam nenhuma influência significativa sobre os assuntos da vida cotidiana. Uma vez escritos, eram colocados em arquivos para salvaguarda, entretanto, jamais usados como obras de referência, exceto em raras ocasiões pelos estudiosos. O público em geral não tinha acesso a esses materiais, e os documentos constituíam, em efeito, pouco mais que fontes originais para propósitos de pesquisa. As decisões tomadas nos tribunais da Mesopotâmia raramente, se alguma vez, recorriam a constituições escritas, e embora existissem leis codificadas tais como as de Hamurabi, elas virtualmente não tinham qualquer influência sobre a prática legal ou o comportamento social. Desse modo, não haveria nenhuma necessidade de Josias possuir um código da lei escrita como um pré-requisito oficial para uma reforma religiosa. Também não teria necessidade de recorrer a esse código, visto que já havia iniciado tal reforma em um período anterior de seu reinado, sem o suposto fundamento ou benefício da referência a documentos sagrados ou legais.

Longe de uma falsificação sendo circulada, como alguns estudiosos pensaram, a importância da descoberta ocorrida no Templo é que um livro sagrado, perdido e esquecido, havia sido recuperado. Seu conteúdo, devido à sua natureza intrinsecamente santa, era tão penetrante e embaraçoso que foi adotado como a legislação religiosa permanente para a nação. Josias destruiu os lugares altos da religião cananéia, e centralizou a adoração em Jerusalém. O culto astral instituído por Manasses e Amom foi proibido, e os rituais de fogo de Moloque, no vale de Hinom, foram extintos. A Páscoa havia caído em desuso há muito tempo, e nas instruções de Josias ela foi reintroduzida com toda a cerimônia tradicional. Embora Josias tenha dado um exemplo de piedade para a nação de Judá, houve muitos que não seguiram o seu comando; e, como consequência, as calamidades que haviam sido preditas para a nação (2 Rs 22.20) apareceram no horizonte. As predições proféticas de Sofonias — que era contemporâneo do rei — continham uma denúncia geral de idolatria em Judá e a ameaça da retribuição Divina, enquanto, ao mesmo tempo, afirmavam a superioridade de Jeová sobre todas as outras supostas divindades e nações.

O Auge do Poder Assírio

Sob o remado de Esar-Hadom, o poder da Assíria atingiu o seu ápice com a derrota de Taharka (ou Taarca), rei do Egito (em aproximadamente 671 a.C), que sofreu terríveis perdas. As crônicas históricas de Esar-Hadom reivindicaram uma grande vitória:

… diariamente, sem parar, eu matei multidões de seus homens, e a ele [Taharka] golpeei cinco vezes com a ponta da minha lança… Mênfis, a sua cidade real, com minas, túneis e ataques, eu sitiei e, em meio dia, capturei… queimei com fogo…

Entretanto, Taharka aparentemente sobreviveu tanto aos seus ferimentos quanto à sua derrota, ao passo que Esar-Hadom morreu (669 a.C.) em sua campanha seguinte contra o Egito, e foi sucedido por seu filho Assurbanipal (669-627 a.C). Ele levou o prestígio da Assíria ao seu ponto mais elevado, e embora tenha travado guerras com vigor, também ficou famoso por seus interesses culturais. Um exemplo foi o fato de estabelecer uma imensa biblioteca real na qual eram guardados tantos volumes da literatura histórica, científica, legal e religiosa da Babilônia e da Assíria, quanto seus escribas podiam recolher. Este material foi desenterrado em 1853, e entre as tábuas estavam cópias assírias das narrativas da Criação e Inundação da Babilônia, subsequentemente decifradas, em 1872, por George Smith, estudioso do Museu Britânico. Magníficos baixos relevos retratando a caça e outras cenas na vida real também foram recuperados do palácio de Nínive, que em estilo representam o clímax da arte na Assíria. Assurbanipal consolidou as conquistas que Esar-Hadom havia feito na Síria e no Egito, e infligiu mais uma derrota sobre o sobrinho de Taharka, que o havia sucedido em 664 a.C. Mênfis e Tebas caíram em 662 a.C, e a enorme quantidade de despojos que foi adquirido destas cidades foi mencionada nas crônicas históricas de Esar-Hadom:

Prata, ouro, pedras preciosas, os objetos do palácio… grandes cavalos, homens e mulheres… despojos, pesados e incontáveis, eu levei de Tebas… com as mãos cheias e retornei em segurança para Nínive, a cidade do meu senhorio.

De um modo geral, no entanto, Assurbanipal seguiu uma política de pacificação com relação ao Egito, e estabeleceu Neco, um príncipe egípcio, como faraó vassalo. Em 652 a.C, o poder da Assíria foi abalado por uma violenta rivalidade interna. O rei da Babilônia, que era irmão e vassalo de Assurbanipal, se revoltou, e só foi subjugado depois de quatro anos de amarga rivalidade. Tirando proveito da situação, os egípcios, os fenícios, e alguns povos da Transjordânia se levantaram em revolta contra a Assíria. Porém, Judá não se tornou um membro da coalizão que foi abatida quando a Babilônia foi subjugada em 648 a.C, e assim não sofreu nenhuma circunstância ou represália política pela insurreição.


——- Retirado de R. K. Harrison – Tempos do Antigo Testamento.


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