A Profecia entre os Hebreus

Dos nomes hebreus aplicados aos profetas como representantes de um movimento espiritual em Israel, o termo nabhi’ foi, sem dúvida alguma, o mais largamente usado. Originalmente pensava-se que era derivado de uma raiz indicando um “orador”, mas agora é sabido que seu significado básico é “chamar”. O nabhi’ era, portanto, um indivíduo que tinha sido chamado por Deus para algum propósito específico, e que assim mantinha um relacionamento espiritual em particular com Ele.14 O profeta era essencialmente uma figura carismática, autorizado a falar aos israelitas em nome do seu Deus. Antes da época de Samuel, tais indivíduos eram geralmente designados como um “homem de Deus”, e na mesma época de Saul e Davi essa expressão era aparentemente sinônimo de nabhi’. As declarações dos profetas hebreus eram consequência direta de seu relacionamento espiritual com Deus, e, em essência, abrangiam variações sobre temas teológicos e da aliança cultuados na Lei. De fato, não há uma única doutrina profética que já não tenha sido apresentada, ao menos na forma embrionária, na Tora; deste modo, os profetas podem ser considerados comentadores além de pioneiros doutrinários.

Os profetas hebreus comissionados por Deus vinham das várias classes sociais do povo, como com Eliseu e Amos. Eles tinham a tarefa de advertir a nação a respeito dos castigos que sobreviriam àqueles que persistissem em permanecer na prática da iniquidade. Eram resolutos em enfatizar a santidade de Deus, e suas críticas à moralidade contemporânea eram feitas numa tentativa de apontar o caminho para uma vida religiosa perfeita, para toda a nação. Em algumas ocasiões coube a eles revelar os conselhos divinos ligados a alguma situação específica, como pode ser ilustrado pela referência a Elias (1 Rs 18.17 e versículos seguintes), Amos (4.4 e versículos seguintes.), Jeremias (26.12 e versículos seguintes.) e Ezequiel (27.2 e versículos seguintes). Em todas as ocasiões, os profetas falavam com aquele senso de autoridade que era inseparável de sua convicção da inspiração divina. Embora frequentemente lidassem com questões políticas, sociais e religiosas contemporâneas em suas declarações, eles também eram completamente conscientes do fato de que o futuro sempre depende daquilo que fazemos no presente. Como consequência disso, experimentavam pouca dificuldade em examinar o cenário histórico mais distante, e predizer com extraordinária exatidão o resultado dos padrões políticos e sociais correntes. A antítese moderna entre pós-dizer e predizer teria sido, portanto, sem sentido para os profetas hebreus.

Os primeiros profetas, Samuel, Elias e Eliseu, transmitiam as suas mensagens por meio de declarações orais, que eram provavelmente registradas logo depois dos eventos terem ocorrido. Mas no século que se seguiu após a morte de Eliseu, ocorreu um desenvolvimento importante na profecia dos hebreus, com o surgimento dos profetas literários, representados por Amos, Oséias, Miquéias, Isaías e seus sucessores. Embora estes homens exercessem as funções características de profetas orais, também reduziram as suas mensagens inspiradas para a forma escrita, na qual a poesia geralmente ocorria tão frequentemente quanto a prosa. Estas produções literárias estão entre os legados mais preciosos dos antigos hebreus, e constituem um pré-requisito indispensável para qualquer estudo da história e da religião israelita.

Os grandes profetas escritores preservaram a tradicional fé monoteísta dos antigos hebreus, em tempos quando as obrigações da aliança ou eram ignoradas ou completamente esquecidas. Eles enfatizavam novamente os grandes temas da lei mosaica e os relacionavam com o cenário contemporâneo. Seu patriotismo intenso e profundo nunca obscureceu a visão que tinham do propósito Divino para o Povo Escolhido, e embora pudessem se entristecer pela destruição que inevitavelmente iria alcançar a sua terra e nação, nunca duvidaram do triunfo final do bem sobre o mal.

Comunidades religiosas tais como os “filhos dos profetas” estavam em existência durante os dias dos profetas orais, e podem ter consistido de escolas ou associações proféticas. Tais grupos parecem ter se estabelecido em diferentes regiões da Palestina, e eram geralmente encontrados em áreas remotas. Samuel mantinha uma dessas escolas em Rama (1 Sm 19.20 e versículos seguintes), enquanto outras estavam localizadas em Betei, Gibeá e Gilgal. Seus membros realizavam cultos em santuários locais (1 Sm 10.5), e aceitavam pagamentos pelos seus serviços profissionais (1 Sm 9.7 e versículos seguintes). Mas a profecia na qual se ocupavam era do tipo extático, e, como tal, era notadamente distintas das declarações racionais e controladas dos profetas orais e literários. Nenhum destes últimos era produto de associações proféticas, e após a morte de Eliseu os “filhos dos profetas” gradualmente desapareceram do cenário histórico registrado.


——- Retirado de R. K. Harrison – Tempos do Antigo Testamento.


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