A Ascensão de Ciro
O poder declinante do Novo império Babilônico incentivou a ascensão de um enérgico governante persa, Ciro II, que sucedeu o seu pai Cambises I por volta de 559 a.C, como governante de Anshan. Ele rapidamente uniu o povo de seu estado vassalo da Média, e em 549 a.C. revoltou-se contra Astyages, seu suserano. Após um curto período, ele o derrotou em batalha, e dessa maneira, Ciro tornou-se herdeiro do império medo-persa. Seu poder potencial era tão grande, que uma aliança contra ele foi rapidamente formada. Os que tomaram parte foram Creso, rei da Lídia (Ásia Menor), um rei incrivelmente rico a quem é creditada a invenção da cunhagem; Nabonido da Babilônia, e Amasis, o faraó do Egito (de aproximadamente 569-525 a.C). Em 546 a.C, Ciro atacou as forças de Creso, derrotando-as, ganhando dessa forma o controle de toda a Ásia Menor. Sua próxima investida foi contra a própria Babilônia, e o cilindro de Ciro registrou o modo pelo qual Marduque, a divindade protetora, o ajudou na vitória subsequente:
Marduque… fez com que ele seguisse para a sua cidade, Babilônia… fez com que tomasse a estrada para a Babilônia, indo como amigo e companheiro ao seu lado… sem luta e sem conflito, permitiu que ele entrasse na Babilônia. Ele poupou a sua cidade, Babilônia, de sofrer algum tipo de calamidade…
Foi dito que Ciro alterou o curso do rio Eufrates em seu ataque à cidade principal, de forma que seus soldados entraram na Babilônia avançando pelo leito do rio. Em todo caso, a Babilônia caiu sob as forças persas em 538 a.C. e o exército caldeu, sob o comando de Belsazar, foi derrotado. Com a conquista da Babilônia, Ciro tornou-se o governante do maior império que o mundo já conhecera, e durante o reinado de seu filho, a influência da Pérsia estendeu-se para oeste até o Egito. Ciro considerava a queda da Babilônia como uma repreensão a Nabonido por seu desprezo e negligência em relação a Marduque, e a sua ação injustificável ao levar para a Babilônia todas as estátuas dos deuses, quando as forças persas estavam invadindo o reino. Porém, para os judeus exilados, a queda da orgulhosa Babilônia era o princípio de sua própria reabilitação, e eles consideraram Ciro como o libertador designado por Deus, que os libertaria e permitiria que retornassem à terra de seus pais.
O Édito de Ciro e o Retorno
Tal expectativa não era infundada, pois imediatamente após a conquista da Babilônia, Ciro ordenou que todas as estátuas que Nabonido havia trazido para a capital, fossem devolvidas às suas cidades de origem. Isto foi seguido por um ato de clemência para com todos os prisioneiros na Babilônia que, embora fosse por natureza, humanitário, era também um astuto movimento político. O cilindro de Ciro registrou o édito que o novo governante proclamou em 538 a.C, assegurando a liberdade aos povos escravizados, permitindo que retornassem à sua terra para retomarem o fio de sua antiga existência:
De… até Assur e Susa, Agade, Ashnunnak, Zamban, Metumu, Deri, com o território do povo de Gutium, as cidades do outro lado do Tigre… os deuses, que nelas habitavam, eu os devolvi às suas regiões… todos os seus habitantes, os reuni e os devolvi a seus locais de habitação…
O registro bíblico da proclamação de Ciro (2 Cr 36.23; Ed 1.2 e versículos seguintes) indicam que os exilados receberam todo incentivo do monarca persa para retornarem a Judá e reconstruírem o Templo em Jerusalém. Ciro devolveu até os vasos de ouro e prata que Nabucodonosor havia levado para a Babilônia, quando Jerusalém sucumbiu aos caldeus, e designou Sesbazar, um membro da família real, como governador de Judá. Essas narrativas refletem o quadro exato da política que Ciro adotava com respeito a todos aqueles que haviam sido expatriados sob o Novo Regime Babilônico. Ao exortar os povos cativos a retornarem para suas terras nativas e reconstruírem seus santuários religiosos, Ciro estava de uma só vez liberando a si mesmo da responsabilidade de mantê-los na servidão e promovendo a boa vontade para com seu próprio regime em todas as partes do seu recém-conquistado império. Porém, mesmo com esta forma de incentivo, muitos dos exilados hebreus estavam relutantes em retornar para a sua desolada terra natal e trabalhar pela reconstrução da vida da nação. Como já foi dito, por este tempo, os judeus de natureza mais materialista haviam adquirido consideráveis interesses patrimoniais na Babilônia, e não tinham a menor vontade de abandonar os confortos da vida estabelecida em troca das incertezas e dificuldades da vida de pioneiros em uma região desolada.
Por volta de 536 a.C. alguns dos primeiros cativos começaram a longa e perigosa jornada de volta para Judá, sob a liderança de Sesbazar e Zorobabel. Eles levaram seus rebanhos e manadas para sua empobrecida terra natal, e ao chegarem em Jerusalém, visitaram o local do Templo, avaliando a situação desoladora. Alguns dos mais proeminentes chefes de famílias contribuíram com quantias em dinheiro para o fundo de restauração do Templo, e Esdras descreveu a doação de ouro em termos de moeda, usando a palavra dracma (que a versão KJV em inglês traz como “dram”). Costumava-se argumentar que a dracma não foi utilizada na Palestina até depois das conquistas de Alexandre o Grande (em aproximadamente 330 a.C), mas sabe-se agora que a crescente influência do império grego contribuiu para a utilização da dracma ateniense como moeda padrão na Palestina, a partir da metade do quinto século a.C.1 No primeiro ano após o retorno, o altar das ofertas queimadas foi reconstruído, e algumas das antigas cerimônias para a devoção pública foram restabelecidas. Fundos para a reconstrução do Templo aumentavam de forma constante, e carpinteiros, pedreiros e outros operários eram empregados para limpar o local e dar início ao trabalho de reconstrução. Assim como nos dias de Salomão, árvores de cedro da região do Líbano foram levadas para Jerusalém, e no segundo ano após o retorno, as fundações do novo Templo foram assentadas, em meio a notáveis cenas de emoção (Ed 3.8 e versículos seguintes).
A Oposição à Reconstrução na Judéia
Mas justamente agora, quando tudo parecia favorecer o rápido término da reconstrução, iniciou-se um espírito de contrariedade por parte do povo que viveu na região durante o exílio. Esses colonos eram descendentes dos mesopotâmios que haviam sido deportados para a Palestina por Sargão, Esar-Hadom e Assurbanipal, mas abrangia majoritariamente aqueles que haviam povoado Samaria quando o reino do norte se desfez. Quando os samaritanos se ofereceram para ajudar no trabalho da construção do Templo, sua oferta íoi rejeitada, provavelmente porque os judeus estavam temerosos de serem mais uma vez corrompidos pela idolatria. Irritados com essa recusa, os samaritanos se afundaram na intriga política com o objetivo de impedir a reconstrução do Templo, e conseguiram uma proibição de Cambises II (530-522 a.C), filho de Ciro, impedindo que maiores progressos fossem realizados. A autêntica natureza da correspondência aramaica em Esdras 4.7 e versículos seguintes foi amplamente demonstrada através dos famosos papiros de Elefantina. Esses documentos foram descobertos em 1903, e consistiam de cartas escritas em aramaico por judeus que viviam em uma colônia militar localizada na ilha de Elefantina, próximo a Assuã, no Alto Egito. Como nos registros bíblicos, os papiros mostram que os reis persas estavam interessados no bem-estar religioso e social de seus súditos.12 Durante o período persa (539-331 a.C), o aramaico tornou-se o idioma do comércio e da diplomacia por todo o império e, gradualmente substituiu o hebraico como a língua falada entre os judeus. Em particular, os papiros mostram que as formas literárias utilizadas por Esdras eram características do quinto século a.C, e que a carta contida no quarto capítulo de seu livro não deve ser datada antes desse período. A ortografia dos nomes da realeza, em Esdras, exibe uma variação com relação ao costume vigente no século quinto a.C. e posteriores, e é provável que as formas bíblicas fossem derivadas de traduções persas anteriores, que foram modificadas a seguir.
Aproximadamente treze anos haviam se passado desde o assentamento das fundações do segundo Templo, quando um período de confusão iniciou-se no império persa. Cambises, que havia incluído o Egito nos imensos domínios da Pérsia ao derrotar Psamético III em Pelusio por volta de 525 a.C, ficou mentalmente doente logo depois, e cometeu suicídio em 522 a.C. Algumas das províncias que haviam sido subjugadas por Ciro, revoltaram-se e tentaram libertar-se do império, porém a ordem foi finalmente restabelecida por um príncipe acadiano, Dario o Grande (522-486 a.C). Enquanto ele estava reconquistando o controle militar, os habitantes de Judá experimentaram alguma independência, e quando Dario restabeleceu o domínio imperial, manteve uma política de tolerância e benevolência para com eles. Incentivou os judeus a completarem o trabalho de reconstrução do Templo em Jerusalém, porém se depararam com mais oposição, em consequência da qual Dario ordenou que se realizasse uma busca pelo decreto original, que autorizava a obra (Ed 6.1 e versículos seguintes). Quando foi encontrado, Dario proibiu interferência adicional contra a reconstrução e providenciou um volumoso subsídio para a conclusão do empreendimento.
0 Declínio do Império Persa
Muito pouco se sabe sobre o que acontecia na Judéia entre 432 a 411 a.C, quando um oficial persa, chamado Bagoas, estava atuando como governante militar. Naquele tempo, Joana o sumo-sacerdote, neto de Eliasibe, ocupava uma posição política importante na comunidade. Ele caiu no desagrado de Bagoas ao matar seu próprio irmão no Templo em 408 a.C, e logo depois foi sucedido por seu filho Jedaías.
A extensão do império persa estabelecida por Ciro, Cambises e Dario, “desde a índia até à Etiópia” (Et 1.1) permaneceu constante ao longo dos reinados de seus sucessores. Os acadianos tratavam seus súditos com bondade e tolerância, e muitas províncias, tal como a Judéia, desfrutavam de um considerável grau de autonomia. Isto ocasionalmente incitava descontentes no império a se revoltarem, particularmente se os sátrapas ou governadores de província estivessem se comportando de uma maneira cruel ou despótica. Porém, embora o império estivesse aparentemente prosperando, as sementes de sua própria ruína estavam sendo semeadas de uma forma absolutamente não-intencional pelo emprego de soldados mercenários estrangeiros—particularmente os da Grécia — nos exércitos acadianos. Muitas das vitórias persas eram conquistadas por forças gregas, comandadas por generais gregos, e somente a suspeita e a desunião existente entre estes, como um todo, permitia que os persas utilizassem os seus serviços com sucesso. Durante o reinado de Dario I (522—486 a.C.) e Xerxes I (486—465 a.C), a influência grega se propagou rapidamente por todo o império, devido em grande medida às relações comerciais existentes entre a Pérsia e os territórios do Egeu. Dario 1 adotou a ideia de câmbio de dinheiro em uso na Ásia Menor e na Fenícia, e cunhou moedas de ouro para o império. Aos seus sátrapas, em todo o domínio persa, foi dado o privilégio da cunhagem em prata.
Os primeiros sinais do declínio do poder persa apareceram no reinado de Artaxerxes II (404-359 a.C), quando revoltas em diferentes partes do império ameaçaram levar o regime ao término. Por quase quarenta anos (378-340 a.C.) o Egito desfrutou de independência do governo persa, enquanto Artaxerxes III (358-338 a.C.) estava lutando para recuperar o território que seu antecessor havia perdido. Dario III, o último rei persa, que ascendeu ao trono em 336 a.C, fortaleceu seu controle sobre as cidades gregas e reconquistou o Egito em 334 a.C. De acordo com as aparências, a estabilidade do regime acadiano estava restaurada, e os persas olhavam com confiança a continuidade de seu poder imperial. Mas esta situação não iria durar, pois em 334 a.C. Alexandre, o Grande, iniciou a libertação das cidades gregas do controle persa, e lançou uma campanha militar contra a Pérsia, atendendo a ambição de seu temível pai, Felipe da Macedônia.
——- Retirado de R. K. Harrison – Tempos do Antigo Testamento.
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