Depois de ser tributário da Babilônia por três anos, Jeoaquim, que era um oportunista político, rebelou-se contra o seu suserano em uma tentativa desesperada por independência, apesar das consequências que Jeremias havia predito como resultado desta política (Jr 22.18). A retribuição babilônica não demorou muito, pois em 597 a.C. os exércitos caldeus invadiram Judá e atacaram Jerusalém. Jeoaquim morreu naquele ano, talvez como resultado de uma insurreição da corte, e foi sucedido por seu filho Joaquim, também conhecido como Jeconias ou Conias. Ele se rendeu às forças invasoras depois de apenas três meses de governo, e foi levado como prisioneiro para a Babilônia juntamente com a família real, a corte, as classes superiores, e os artesãos. O Templo foi saqueado e os tesouros foram levados para a Babilônia como despojos. Tábuas escavadas de um edifício abobadado perto da Porta de Istar, da antiga Babilônia, fornecem uma confirmação independente deste “primeiro cativeiro” de Judá. Os textos, que são datados entre 595 e 570 a.C, foram escritos em cuneiforme, e continham avisos de remessa de suprimento de cevada e óleo emitidos para os príncipes e artesãos cativos, incluindo “Yaukin, rei da terra de Yahud”. Esta é uma referência direta a Joaquim, e algumas das tábuas também se referem aos seus cinco filhos que o acompanharam até a Babilônia.
A descoberta (em 1956, por D. J. Wiseman) de quatro tábuas adicionais da famosa Crônica Babilônica que está no Museu Britânico, forneceu o primeiro relato extrabíblico da captura babilônica de Jerusalém em 597 a.C. Essas fontes também forneceram detalhes dos eventos que ocorreram entre 626 e 594 a.C, incluindo relatos de alguns combates militares até então desconhecidos. Agora é possível, a partir das novas informações fornecidas por estes textos, determinar a queda de Jerusalém com completa exatidão no segundo dia do mês de Adar (15/16 de março), em 597 a.C.
Além disso, as tábuas tornam abundantemente clara a grande derrota que os babilônios infligiram sobre os egípcios em Carquemis em 605 a.C. Um resultado disso foi que “os exércitos babilônicos foram capazes de ocupar toda a área de Hatti”.1 Uma batalha não registrada anteriormente entre as forças egípcias e babilônicas ocorreu em 601 a.C, na qual ambos os lados perderam um grande número de homens. Os babilônios, em particular, foram obrigados a se retirarem para a sua capital por um ano, a fim de renovarem suas provisões e equipamentos antes que novas conquistas fossem realizadas. Uma vez equipados novamente, antes de conquistar Jerusalém em 597 a.C, passaram o ano seguinte fazendo ataques exploratórios no território sírio. As evidências fornecidas por estes textos cuneiformes confirmam, portanto, a tradição bíblica de que Jerusalém caiu diante das forças babilônicas em 597 a.C, e em 587 a.C.
O Segundo Cativeiro de Judá
Depois do ataque de 597 a.C, Nabucodonosor estabeleceu Zedequias (Matanias), tio de Joaquim, como um governante “fantoche” em Judá. No entanto, a sua influência era fraca, e ele foi incapaz de impedir o contato político com o Egito, apesar de um juramento de lealdade à Babilônia (2 Cr 36.13). A nova classe dominante forçou Zedequias a se aliar com o Egito, e a ascensão do faraó Hofra (588 a.C), que tinha ambições políticas na Palestina, acrescentou ímpeto a esse pedido, a despeito das advertências mais solenes de Jeremias (Jr 37.6 e versículos seguintes; 38.14 e versículos seguintes). Quando Zedequias decidiu depender do apoio egípcio e se revoltou contra Nabucodonosor, empenhados na destruição, os exércitos caldeus devastaram Judá em 587 a.C. Os pequenos estados sírios caíram diante dos exércitos babilônicos como Jeremias havia predito (Jr 25.9), e Nabucodonosor sitiou Laquis e Azeca. Quando essas cidades caíram, ele atacou Jerusalém, e seguiu-se um período de grande dificuldade (2 Rs 25.3).
Jeremias predisse repetidas vezes que a cidade seria queimada pelos caldeus, e incentivou Zedequias a se submeter a Nabucodonosor visando o bem de todos os envolvidos. Uma vez que este conselho foi rejeitado, Jeremias tentou deixar a cidade, mas foi acusado de desertar e se encaminhar para o inimigo, e foi lançado na prisão. Sua vida foi poupada por Zedequias, mas permaneceu preso durante todo o cerco de Jerusalém. Uma força egípcia marchou visando o alívio da cidade, e por algum tempo os defensores sitiados nutriram a esperança de resistir aos invasores babilônios. Mas a cidade se rendeu em 586 a.C, no décimo primeiro ano do reinado de Zedequias. E embora o rei tenha tentado escapar em meio à confusão geral que se seguiu, acabou sendo capturado em Jerico, teve seus olhos cegados e foi levado para a Babilônia, onde permaneceu preso até a sua morte. Jeremias foi tirado da prisão, e por ordens de Nabucodonosor foi tratado com grande respeito. Mas os horrores do cativeiro alcançaram a terra de Judá mais uma vez. O templo foi saqueado e destruído, o país foi devastado, e os líderes potenciais dentre a população foram deportados para a Mesopotâmia.
As Cartas de Laquis
Descobertas arqueológicas em Laquis (Tell ed-Duweir), que está localizada cerca de trinta e dois quilômetros ao sul de Jerusalém, lançaram uma nova luz sobre os últimos dias do reino do sul. J. L. Starkey começou a escavar a colina em 1932. Três anos mais tarde, ao desobstruir as ruínas de uma pequena sala de guarda fora da porta da cidade, ele descobriu dezoito cacos de barro, todos com cerca de dez centímetros de comprimento, e com inscrições em tinta, na escrita fenícia corrente na época de Jeremias. Em 1938 mais três ostracas foram encontradas em Laquis, perfazendo um total de vinte e um cacos de barro. Uma comparação dos níveis indicou que a sala da guarda havia sido reconstruída depois que Nabucodonosor tinha destruído Laquis parcialmente em 598 a.C, e as ostracas formavam parte do depósito resultante da destruição final da cidade em 587 a.C.
Alguns desses fragmentos continham listas de nomes originadas um pouco antes da queda de Jerusalém em 586 a.C. A maior parte das ostracas, porém, consistia de correspondências envolvendo um profeta, escrita por certo Hosaías para “Jaós”, que talvez fosse um comandante militar em Laquis. A menção de relatórios de inteligência e comunicações por sinais, levou alguns estudiosos a pensarem nas cartas como correspondências militares, uma vez que a Carta IV confirma a declaração de Jeremias 34.7 a respeito das cidades fortificadas de Judá:
… estamos procurando os sinais de Laquis, de acordo com todas as indicações que meu senhor nos deu, pois não conseguimos ver Azeca.
O método de sinalizar com fogo é muito antigo e, quando as tábuas de Mari foram encontradas, descobriu-se que este foi um meio de comunicação aceito na Mesopotâmia pelo menos mil e duzentos anos antes de Jeremias nascer. A Carta III, também escrita por Hosaías, fez referência a um “profeta” da seguinte forma:
… E foi relatado ao teu servo, dizendo, “O comandante do exército, Conias filho de Elnatâ, desceu a fim de ir ao Egito; e para Hodavias filho de Aías e seus homens ele enviou para obter… dele”. E quanto à carta de Tobias, servo do rei, que veio a Salum, filho de Jadua através do profeta, dizendo, “Cuidado!”, teu servo a enviou ao meu senhor.
Os nomes próprios mencionados nesta passagem são caracteristicamente bíblicos, e isto levou à especulação acerca da identidade do “profeta”. Alguns estudiosos presumem que a referência diga respeito ao próprio Jeremias, enquanto outros acreditam que um profeta contemporâneo desconhecido estivesse sendo citado quando as cartas toram escritas. Visto que oráculos proféticos eram buscados periodicamente na condução de assuntos militares, não seria incomum um profeta ser mencionado em uma correspondência militar, particularmente por seus seguidores entre os oficiais. O professor H. Torczvner finalmente aceitou o ponto de vista de que as ostracas faziam parte de um grupo que tratava do destino de um profeta, a quem ele identificou com LIrias de Quiriate-Jearim. Ele havia profetizado a destruição de Jerusalém, e então fugiu para o Egito procurando refúgio, mas foi extraditado por ordem de Jeoaquim, e morto em Jerusalém (Jr 26.20 e versículos seguintes) Torczyner acredita que esta Carta IV, na verdade, tinha sido endereçada ao profeta, mas que a emergência de 598 a.C. tinha impedido que fosse entregue. E difícil dizer se é possível fundamentar a sua alegação de que os “sinais de fogo” eram acompanhamentos de uma manifestação Divina, em vez de serem comunicações militares (cf. Jz 20.38 e versículos seguintes). É verdade, no entanto, que as cartas demonstram uma grande preocupação com o destino do profeta, sim, uma preocupação tão grande quanto pela crise que havia em Laquis; mas, em última análise, é muito duvidoso que a identidade do “profeta” possa ser determinada. A Carta VI continha passagens que fazem lembrar fortemente Jeremias 38.2 a seguir, onde o profeta foi acusado de desmoralizar o povo ao recomendar que se rendessem aos caldeus. Neste caso, os mesmos oficiais reais que não muito tempo antes haviam clamado por vingança, estão expressando o seu desencorajamento:
… E eis que as palavras deles (dos príncipes) não são boas, (mas) enfraquecem as nossas mãos… meu senhor, por que não lhes escreves dizendo, “Por que o fazeis em (na própria) Jerusalém? Olhai pelo rei e (sua casa) e vede o que está sendo feito!”… como o Senhor teu Deus vive, verdadeiramente desde que teu servo leu as cartas não tem havido (paz) para teu servo…
As ostracas de Laquis representam uma das descobertas arqueológicas mais significativas da Palestina, e fornecem uma admirável confirmação da situação política que estava em vigor durante os últimos dias do reino do sul, conforme retratado por Jeremias. Depois que os caldeus haviam devastado Judá, Gedalias, que tinha sido amigo de Jeremias (Jr 39.14), foi apontado governador sobre os “pobres da terra” (2 Rs 24.14). No entanto, remanescentes da antiga casa real, que tinham conseguido fugir para o Egito, o consideravam como um colaborador. E Ismael, um descendente da linhagem hebraica real, matou Gedalias em Mispa enquanto este tentava restabelecer a população espalhada. Temendo a vingança babilônica, Ismael e seus seguidores fugiram para o Egito, levando consigo alguns dos que haviam sobrevivido ao segundo cativeiro. Jeremias e Baruque, o seu escriba, também foram levados para o Egito nesta época, e a história subsequente os perdeu de vista. O regime babilônico foi determinado para impedir quaisquer insurreições futuras na Palestina, e em 581 a.C. as forças dos caldeus empreenderam a terceira e final etapa no despovoamento de Judá. Nenhuma outra resistência foi possível, e com este último e severo golpe o poder do reino do sul teve um fim.
——- Retirado de R. K. Harrison – Tempos do Antigo Testamento.
Leia também:
- O Período dos Macabeus
- A Profecia entre os Hebreus
- O Crescimento do Poder Sírio
- O Declínio de Israel
- A Queda de Judá
- A Ascensão da Babilônia
- Ascenção e Declínio do Império Persa
- O Exílio de Judá
- O Declínio do Poder Babilônico
- A Ascenção do Judaísmo
[…] O Primeiro Cativeiro de Judá […]
[…] O Primeiro Cativeiro de Judá […]
[…] O Primeiro Cativeiro de Judá […]
[…] O Primeiro Cativeiro de Judá […]