As injustiças econômicas e morais que integravam o padrão social durante o reinado de Jeroboão II, eram os resultados lógicos das atividades religiosas pagas do povo de Israel. A justiça e a moralidade social eram consideradas produtos de pouco valor, e que foram varridas para longe em uma onda de corrupção que tragou a nação como um todo. Os profetas Amos e Oséias protestaram vigorosamente contra as práticas degradantes do culto a Baal e suas implicações para a vida social da nação. Amos em particular expôs a extravagância que caracterizava o modo de vida em Samaria, e criticou severamente os falsos valores sobre os quais tal conduta era baseada. As suas denúncias irritaram Amazias, o sacerdote idolatra no santuário de Betei, a ponto deste acusar Amos de conspiração contra Jeroboão (Am 7.10 e versículos seguintes). Há pouca evidência de que o próprio rei tenha sido influenciado pelas declarações proféticas de Amos ou de Oséias, porque este último não foi mais bem-sucedido em persuadir Jeroboao e os israelitas a abandonarem seus caminhos idolatras do que seu contemporâneo havia sido.
As predições proféticas de que a casa de Jeroboao cairia diante da espada e que os israelitas seriam levados cativos, começaram a ser cumpridas depois da morte de Jeroboao em 753 a.C. Seu filho Zacarias, que o sucedeu, reinou durante seis confusos meses, após os quais foi assassinado por Salum, um pretendente ao trono. Com a morte de Zacarias, a dinastia de Jeú chegou ao fim, e introduziu um período de perturbação e luta civis, semelhante àquele que havia marcado o início da casa de Jeú. Salum reinou por um mês, e então ioi morto por Menaém, governador de Tirza, a mais antiga capital de Israel. Ele assumiu o trono e esmagou toda a oposição ao seu regime. Mas qualquer que fossem as ambições militares que pudesse ter nutrido foram frustradas por um ressurgimento do poder assírio. Após a morte de Adade-Nirari III (782 a.C), a Assíria foi dominada por três reis fracos, Salmaneser IV (782-773 a.C), Asurdã III (772-755 a.C.) e Assur-Nirari V (754- 745 a.C), que não representaram nenhuma ameaça aos poderes ocidentais. Mas na época em que Jeroboão II morreu, um poderoso guerreiro, Tiglate-Pileser III (745-727 a.C), ou Pul, como era conhecido na Babilônia, usurpou o trono assírio e trouxe uma nova vitalidade para o império. Ele apareceu com um exército na fronteira nordeste de Israel durante o reinado de Menaém (2 Rs 15.9), que, sob as circunstâncias, julgou sábio se tornar tributário. Nas crônicas históricas de Tiglate-Pileser o evento foi descrito da seguinte forma:
Quanto a Manaém, o terror o esmagou… ele fugiu e se submeteu a mim… prata, vestes de lã coloridas, vestes de linho… recebi como seu tributo.
Pecaías filho de Manaém ascendeu ao trono em 742/41 a.C, e foi incapaz de apaziguar os assírios como seu pai havia feito, e depois de dois anos acabou sendo assassinado por um grupo militar sob a liderança de Peca, que então o sucedeu. O novo rei procurou restaurar a prosperidade política de Israel, e se posicionou contra a Assíria aliando-se com Rezim, rei de Damasco, com os estados filisteus, e com alguns dos reinos da TransJordânia.
Os Últimos Dias de Israel
Em Judá, por volta de 740 a.C, após ter sido regente por vários anos, Jotão havia sucedido seu pai Uzias. Ele estava ansioso para manter a prosperidade material dos tempos anteriores, e, sem a obrigação do pagamento de tributos que Uzias havia arrecadado dos amonitas, dedicou-se a manter uma política consistentemente pacífica. No final de seu reinado, a aliança entre Rezim e Peca ameaçou a segurança de Judá, e quando Acaz, filho e sucessor de Jotão ascendeu ao trono (732/31 a.C), ele se deparou com o poder crescente da coalizão Síria. Apesar dos ataques atormentadores, resistiu a todos os convites para juntar-se à aliança, mesmo quando os confederados cercaram Jerusalém. No fundo, porém, ele era um indivíduo irresponsável, e embora Isaías tenha profetizado uma libertação Divina (Is 7), Acaz, alarmado pela captura de Elate no golfo de Acaba e sua ocupação pelos povos sírios, rogou urgentemente a ajuda da Assíria. Tiglate-Pileser, cuja segurança estava ameaçada pela coalizão Síria, aceitou os tesouros do Templo e do palácio real que Acaz tinha enviado em forma de tributos (2 Rs 16.7 e versículos seguintes) e marchou contra a coalizão.25
Ele atacou a Síria, e quando, após um longo cerco, Damasco caiu em 732 a.C, matou Rezim e completou a destruição predita na profecia (Am 1.4; Is 8.4; 17.1). Ele então se virou contra Israel e levou cativas as tribos de Rúben, Gade, e metade da tribo de Manasses, que foram transportadas para a Mesopotâmia no primeiro cativeiro de Israel (2 Rs 15.29).26 Com a morte de Rezim, a dinastia aramaica de Damasco terminou, deixando a Assíria como o poder dominante no Oriente Próximo. Peca foi morto em 732/31 a.C. por Oséias, a quem Tiglate-Pileser fez vassalo e de quem exigiu pesados tributos, como registrado nas crônicas históricas assírias:
Paqaha (Peca) seu rei eles depuseram, e eu coloquei Ausi’ (Oséias) sobre eles como rei… recebi deles talentos de prata como seu tributo…
Quando Tiglate-Pileser morreu em 727 a.C, seu filho Salmaneser V (727-722 a.C.) o sucedeu, e Oséias, que era um indivíduo intensamente patriota, aproveitou essa oportunidade para descontinuar o pagamento do tributo à Assíria e formar afiliações secretas com o Egito. Em represália, Salmaneser prendeu Oséias e cercou Samaria por três anos (2 Rs 17.3 e versículos seguintes ). Antes de cair, Salmaneser foi sucedido por Sargão II (722-705), que derrubou a monarquia israelita e levou as tribos restantes do norte cativas para a Assíria. Nas crônicas históricas de Corsabade, declarou com exagero característico:
Cerquei e capturei Samaria, transportando 27.290 das pessoas que moravam ali. Reuni 50 carruagens dentre eles…
Sargão seguiu a prática corrente de substituir pessoas deportadas por outras que seriam leais ao regime. Desse modo, trouxe grupos de povos não-semitas da Babilônia, Ela, e outros lugares, e os estabeleceu entre os artesãos e lavradores que haviam sido deixados para trás no reino do norte. Como resultado de casamentos entre pessoas de povos diferentes, surgiu uma população mista, que no final acabou assumindo o nome de samaritanos, com referência à capital do reino caído. Eles gradualmente assumiram a natureza de uma seita religiosa em vez de uma nação, e mais tarde vieram a ocupar uma posição importante na história do desenvolvimento religioso na Palestina.
O Fim do Reino do Norte
O segundo cativeiro, ocorrido em 722 a.C, marcou o fim de Israel como um reino separado, terminando assim a sua longa história de revoltas e perturbações. A partir de um ponto de vista religioso, sua queda foi o resultado lógico das práticas idolatras que tinham existido por muito tempo, apesar das repetidas advertências proféticas. O povo era moralmente depravado, e havia repudiado as obrigações da aliança a ponto de ter virtualmente se esquecido dela. A partir de um ponto de vista político, o poder da Síria tinha demonstrado não ser páreo para as investidas repetidas e violentas da máquina militar assíria, e após um tempo tornou-se evidente que qualquer nação que se aliasse com a Síria só poderia esperar compartilhar o mesmo destino final. Com o abandono do ideal teocrático, o reino do norte não teve escolha senão envolver-se em filiações políticas, que, se esperava, o ajudaria a se tornar próspero e poderoso. Mas longe dos dias de Jeroboão II, esta política produziu pouco benefício político imediato, e forçou os profetas do século VIII a.C. à conclusão de que Deus usaria os planos humanos para a vindicação de sua natureza justa, e empregaria nações estrangeiras como a vara de sua ira para punir o seu povo obstinado e idolatra.
——- Retirado de R. K. Harrison – Tempos do Antigo Testamento.
Leia também:
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- A Queda de Judá
- A Ascensão da Babilônia
- O Primeiro Cativeiro de Judá
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