Os deuses da Tradição Nórdica eram vistos como individuações de uma “inteligência sutil” supostamente existente nas Forças da Natureza e nos processos universais de criação (suas “leis”). Diferente do Deus judaico-cristão, as divindades nórdicas eram literalmente o que se chama de “o deus das lacunas“, tal como acontece em praticamente todas as outras religiões e cosmogonias. Mais sobre isso neste post.
Para que essas “forças invisíveis” da natureza pudessem ser compreendidas pelos homens, foram-lhes atribuídos personalidade e comportamentos semelhantes aos dos seres humanos, algo semelhante ao animismo, tipo mais primitivo de religião. Assim, as divindades se tornaram reais e tangíveis, possibilitando um contato mais próximo com os homens. As divindades têm uma realidade subjetiva (na psique do indivíduo) e outra objetiva (no universo exterior). A realidade objetiva pode se manifestar, na totalidade, em toda a humanidade, ou, parcialmente, em uma nação, tribo ou comunidade. Dessa forma, a criação de uma divindade pode ser interpretada como a de uma entidade vida: surge da psique coletiva ou individual, mas adquire existência independente quando alimentada com energia psíquica (mitos, rituais, invocações e orações).
Cada um dos deuses ou deusas personifica atributos, qualidades, defeitos e características facilmente compreendidos e aceitos pelos seres humanos. Os povos antigos os viam como pais, mães, avós, irmãos, irmãs, amigos, companheiros, conselheiros ou mestres, a quem podiam apelar ou recorrer em caso de necessidade. A humanidade percebia a empatia e a proteção demonstradas pelas divindades como o resultado de suas próprias trajetórias e aprendizados, semelhantes às vivencias humanas.
Outro ponto interessante é que nenhum deles é imortal; no entanto, os deuses recebem, diariamente, as maçãs encantadas da deusa Idunna, o que lhes garante juventude e longevidade. Mesmo assim eles morrem no Ragnarök, embora diz-se que o deus Baldur, ressuscitado, conduzirá os novos deuses (filhos dos antigos) e construirá um novo mundo.
Aesir e Vanir:
O historiador Snorri Sturluson relata a existência de duas famílias divinas – os Vanir (Vanes) e Aesir (Ases) -, ambas poderosas e capazes de lutar entre si. No entanto, ele cita somente Njord, Frey e Freyja (Nerthus foi omitida), os três Vanir que foram entregues aos Aesir em troca de Hoenir e Mimir, para cumprir o pacto que pôs fim a prolongada guerra entre os dois clãs.
Existem poucas referências históricas ou literárias sobre o restante do clã dos Vanir (com exceção dos cultos e invocações para as deusas da terra Nerthus e Erce, citadas pelo historiador romano Tácito). Esse fato comprova seu esquecimento e substituição pelo panteão mais recente dos Aesir.
Os Vanir representam os arquétipos divinos mais arcaicos e próximos da existência e das necessidades das sociedades primitivas. Eram eles os doadores do poder gerador e fertilizador por meio do qual nasciam as crianças e os animais e a terra podia produzir. Esse dom da vida era indispensável para a sobrevivência: não bastavam a vitória nas batalhas e a prudência nas negociações, pois, sem colheitas e sem descendentes, a comunidade estaria fadada à extinção. Cada agrupamento ou tribo reconhecia e venerava as forças geradoras e fertilizadoras, dedicando-lhes cerimônias, festividades, oferendas e sacrifícios.
Não se sabe, ao certo, se os Vanes tinham sua morada no céu, no mar, ou na terra; o mais provável é que morassem em todos esses lugares. Na Árvore Cósmica, seu hábitat é o reino de Vanaheim, caracterizado pela paz, plenitude e prosperidade. Para atrair a boa vontade dessas divindades, realizavam-se ritos de fertilidade que, conforme o atual conceito de moralidade, seriam considerados “orgias”.
Os Vanir eram “amorais”, no sentido na inexistência da dualidade bem-mal, certo-errado; seu único propósito era criar e proteger a vida que, nas terras por eles governadas, era permanentemente ameaçada por intempéries, aridez e condições precárias de sobrevivência. Conforme menciona o historiador e escritor Mircea Eliade, a “orgia” tinha como finalidade preencher os homens e a natureza com uma nova e potente energia, capaz de ativar e manifestar o potencial latente da vida. Por isso, a religião dos Vanir incluía elementos orgiásticos, como ritos sexuais, magia, êxtase, sacrifícios e culto aos mortos. Seus fiéis lembravam e veneravam os ancestrais, bem como a terra que os abrigava.
O distante reino dos céus não fazia parte de suas preocupações, enquanto o elemento ctônico, telúrico, era o destaque principal em seus mitos e rituais. Os próprios deuses Vanir procuravam esposas entre as gigantas (representantes dos poderes brutos da terra), enquanto suas deusas tinham como atributos qualidades telúricas e sensoriais, como riqueza e beleza (como Nerthus e Freyja). Foram os Vanir que também legaram aos homens a habilidade de viajar, por meio das profetisas e sacerdotisas oraculares, para outros níveis de consciência em busca dos conselhos e da sabedoria dos mortos, dos ancestrais e das divindades. Os espíritos da terra e do mar eram regidos pelos Vanir, que assistiam as profetisas em suas jornadas xamânicas para os outros planos e ajudavam-nas a encontrar e dividir com os demais os conhecimentos ocultos e os poderes de cura.
O mar tinha uma importância fundamental para os povos do noroeste europeu e aparece como cenário em vários dos seus mitos. Como o mar era, para eles, meio de transporte e fonte de alimentos, os povos antigos cultuavam e veneravam permanentemente as divindades do mar, assim como as da terra. Somente com a invasão das tribos guerreiras e nômades, vindas do leste da Sibéria e das estepes russas, os valores geocêntricos foram substituídos por novos conceitos, mitos e comportamentos, baseados na ideologia e na mitologia dos conquistadores. Surge assim, uma nova classe de deuses, representados pelos Aesir, cuja morada é Asgard.
A guerra prolongada entre os Vanir e os Aesir descreve, por meio de metáforas, o que de fato aconteceu quando as tribos pacíficas nativas lutaram contra as tribos invasoras (que possuíam armas de fogo) para preservar suas terras e tradições. Os mitos relatam que nenhum dos clãs venceu; após uma prolongada batalha, eles viram-se obrigados a fazer um armistício. Esse acordo simbolizou a gradativa substituição das divindades e tradições Vanir – ligadas à terra e à fertilidade – pelos novos arquétipos dos deuses Aesir – senhores do céu, do trovão e do relâmpago, das trapaças e da justiça, da comunicação e da sabedoria e, principalmente, da guerra.
Acima de todos reinava Odin, o Pai Todo-Poderoso, senhor das batalhas e dos mortos, doador da vitória ou cobrador das almas. Ele se tornou o centro das lendas, dos interesses e das súplicas da nova sociedade, centrada nos valores da guerra e da conquista. Além dele, existem diversos arquétipos divinos. A pessoa que se conecta com uma divindade entra em ressonância somente com o aspecto, o atributo ou a qualidade invocada.
Você pode ler mais sobre cada um dos deuses nórdicos clicando sobre qualquer dos nomes:
Harmonização com Anthares
Você precisa ler os nossos posts sobre (1) Acsï e (2) Nefilins. É relativamente simples justificar na tradição oral o aparecimento de classes diferentes para gigantes, tanto quanto para os deuses.
Basicamente, todos os deuses são acsï, tal como acontece com a harmonização da Mitologia Grega em Anthares.
O post com a explicação mais objetiva sobre a harmonização do panteão nórdico em Anthares está neste link.
Ou você pode ler outros tópicos da Mitologia Nórdica com comentários de harmonização neste link.
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