O Inferno

Em Anthares, assim como acontece segundo a mitologia judaico-cristã, existe um lugar tal qual o inferno. Mas neste artigo aqui nós trataremos sobre 3 infernos diferentes de Anthares. E não, não são estágios diferentes, nem níveis diferentes, como na Divina Comédia de Dante. Tratam-se de e lugares diferentes, com objetivos diferentes.

Para a explicação ficar mais fácil, vamos nos basear nos “infernos” bíblicos, usando também a terminologia de lá.


Antes de tudo, vamos esclarecer uma coisa: nenhum desses lugares é “governado pelo diabo”. Isso não existe nem na Bíblia, nem aqui.


“Inferno” vem do termo latino “infernus” (às vezes, “inferus”), que vem de “inferior”. Essa palavra não nos importa, pois esse é um termo de uso muito posterior ao dos gregos e dos hebreus. No Antigo Testamento, a palavra hebraica traduzida como “inferno” é Sheol ou Seol (שְׁאוֹל). Já no Novo Testamento, o termo relativo a esse é Hades (ᾅδης). Você mesmo pode conferir comparando o Salmo 16:10 com Atos 2:27, onde a palavra hebraica corresponde à grega.

Porém, tanto a palavra hebraica quanto a grega, à vezes, são traduzidas como sepultura ou abismo. Isso se deve a um fato muito simples: originalmente, elas se referem realmente à cova, ao sepultamento, e não ao lugar para onde o espírito da pessoa vai depois que morre. Em outras palavras, esses termos se referem etimologicamente ao pós-morte do corpo e não à vida após a morte (o destino das almas, ou algo assim). Por isso, tanto o pio (justo) quanto o ímpio (injusto) vão para lá após a morte (Gn 37:35; Sl 49:15; Is 38:10; Nm16:30-33). No entanto, por falta de uma terminologia específica, tanto hebreus quanto gregos passaram a usar essas palavras para se referir às suas próprias compreensões sobre o lugar para onde as pessoas vão quando morrem. Enquanto isso, outros termos sinônimos continuaram sendo usados apenas para se referir ao túmulo, como: kever (קֶבֶר) e tafos (tαφος).

Então, em Anthares, o inferno se refere sempre ao lugar para onde o espírito de alguém vai depois de sua morte, seja para esperar a vida eterna ou a danação eterna. Em outras palavras: há um lugar temporário, um lugar provisório para onde o espírito vai para aguardar o fim dos tempos, até ser julgado.

Mas no Novo Testamento ainda existem mais duas palavras: tartaros (Ταρταρος) e geena (Γεεννα).

1. Essa primeira palavra (tartaros) é sobre a prisão dos anjos caídos, o abismo mais profundo. Curiosamente, essa palavra não tem nenhuma relação com fogo. Ao contrário, sua raiz significa “lugar gélido”. Ela aparece no Novo Testamento uma única vez. Mas aparece também na versão grega do Antigo Testamento no livro de Jó, onde lemos sobre o Leviatã, sobre o qual se diz que ele “faz ferver o caldeirão de bronze, e considera o mar como caldeira de unguento e o tártaro do abismo como cativo: considera o abismo como seu território” (Jó 41:23-24).

Na mitologia grega e romana, o Tártaro é um tipo de inferno dentro do inferno. Ou seja, é uma região na parte mais profunda do Hades (ou mesmo abaixo do Hades, dependendo da origem do mito, como na Ilíada de Homero). Mas esse inferno não é para qualquer um. Ele é exclusivo para deuses inferiores que haviam se rebelado contra Zeus, a saber: Cronos e os Titãs (palavra na versão grega do Antigo Testamento para se referir aos gigantes). Agora, confira estas duas passagens do Novo Testamento:

“Pois Deus não poupou nem os anjos que pecaram. Ele os lançou no inferno [tartaros], em abismos tenebrosos, onde ficarão presos até o dia do julgamento” (2 Pedro 2:4).

“Também lhes lembro os anjos que não se limitaram à autoridade recebida, mas deixaram o lugar a que pertenciam. Deus os mantém acorrentados em prisões eternas, na escuridão, aguardando o dia do julgamento” (Judas 1:6).

Obviamente, Pedro usou essa palavra pelo mesmo motivo de Jesus ter usado a outra: ele sabia que os seus ouvintes conheciam a mitologia em torno dela e assimilariam facilmente sua mensagem.

Em Anthares, esse lugar foi originalmente conhecido (e assim ainda é pelos Acsï) como A Contenção de Rohä.

2. A segunda palavra (geena) é uma referência ao Vale de Hinom, uma ravina ao sul de Jerusalém, fora das suas muralhas, onde havia uma prática pagã de sacrifício de crianças ao deus Moloque em tempos antigos. A prática foi extinta pelos judeus, que destruíram o altar e transformaram o local no depósito de lixo da cidade. Com o tempo, passaram a ser depositados cadáveres de criminosos e carçacas de animais mortos, pois no local havia fogo sendo alimentado diariamente. Ou seja, o fogo “nunca se extinguia”. Assim, Jesus usou a palavra geena para se referir ao sheol porque sabia que seus ouvintes fariam uma associação automática com esses detalhes.

Esse já não se trata mais do local temporário, mas do local permanente depois do Dia do Julgamento. Inclusive, o próprio inferno (sheol ou hades) serão lançados lá. Então, agora sim estamos falando daquele lugar com “fogo eterno preparado para o diabo e seus anjos, e para onde também vão os homens ímpios” (Mt 25:41; Is 14:9,15; 33:14).

Na mitologia de Anthares, isso foi explicado no post sobre A Insurgência e a Separação dos Acsï.

Confira também o artigo da Hypescience: O Núcleo da Terra Está Famindo por Oxigênio.

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