Quando o Judaísmo foi finalmente constituído, em todas as comunidades judaicas da Palestina e da Diáspora e em Jerusalém, até ao lado do Templo, havia edifícios onde não se celebrava nenhum culto sacrificial mas onde havia reuniões para oração e para a leitura dos ensinamentos da Lei, essas são as sinagogas. O ponto que nos interessa nesse livro é o da origem dessa instituição, e esta é uma questão muito obscura. A opinião predominante é que ela começou na Babilônia durante o Exílio, como um substituto do serviço do Templo e que ela foi introduzida na Palestina por Esdras. Outros pensam que ela nasceu na Palestina depois de Esdras e Neemias, ou somente depois do fim da época persa. Estudiosos isolados pensam em uma criação palestinense anterior à queda do Templo; ela seria uma consequência da reforma de Josias: privados do santuário e de sacrifícios, salvo nas grandes festas onde eles podiam ir para Jerusalém, os fiéis do campo adquiriram o rito de se reunirem em certos dias para um culto sem sacrifícios.
A variedade dessas hipóteses se explica pela ausência de textos antigos que sejam bastante explícitos. A existência de sinagogas no Egito, de “lugares de oração”, TipocEDxfi, é atestada por inscrições e papiros a partir de meados do III século a.C. Josefo, Bell. VII iii 3, diz que havia uma sinagoga em Antioquia sob os sucessores de Antíoco Epífano. Estes são os testemunhos mais antigos. Em Babilônia, nenhum texto bíblico que tem sido invocado, em particular Ez 11.16 e Ed 8.15-20, prova a existência de locais comuns de oração durante o Exílio, e o Salmo 137 parece excluí-lo. Para a Palestina, pode-se invocar o livro apócrifo de Enoque, que fala das “casas de reuniões” dos fiéis, 46.8, mas isso valeria, no máximo para os tempos dos macabeus. Resta o Salmo 74.7-8: “Eles entregaram ao fogo o teu santuário… eles queimaram no país todo lugar de reunião de Deus.” Este salmo foi atribuído por muitos críticos à época macabeia, mas essa data parece muito tardia e essa passagem particular se explicaria melhor pela destruição do Templo por Nabucodonosor; os outros lugares de reunião poderiam ser os ancestrais das sinagogas. Mas é bem difícil ligar sua instituição à reforma de Josias, sobre a qual vimos que ela não tinha fechado os santuários locais senão por um breve período. Esses “lugares de reunião de Deus” não seriam os mesmos santuários, novamente em atividade no momento da tomada de Jerusalém? O caráter parenético de algumas passagens do livro de Jeremias não postula que elas tenham sido escritas para serem lidas nas sinagogas.
Nada permite, pois, determinar quando as sinagogas começaram a existir. É aliás provável que a instituição se tenha formado pouco a pouco, sob a pressão de dois fatores do Judaísmo pós-exílico: a lei de unidade de santuário sendo imposta, pareceu não só legítimo mas necessário haver lugares de oração (sem culto sacrificial) fora de Jerusalém; sobretudo talvez, a importância dada à Lei exigia que ela fosse lida e ensinada nas comunidades, e as sinagogas tem sido lugares de ensino tanto e mais que locais de oração. Esses fatores pesaram tanto na Palestina quanto na Diáspora, e foi o acaso das descobertas que trouxe à luz no Egito a primeira sinagoga seguramente atestada. A propósito do reino de Josafá, II Cr 17.7-9 narra a missão confiada aos leigos, levitas e sacerdotes, que deviam ir, com o livro da Lei, instruir o povo em todas as cidades de Judá. Esta informação, que parece calcada na reforma judicial do mesmo rei, II Cr 19.4-7, sem dúvida não vale para o reino de Josafá, mas pode refletir um costume do tempo do Cronista, e eram necessários locais onde esse ensino fosse transmitido. Para onde quer que se volte, não se sai do domínio das hipóteses e as sinagogas não aparecem claramente senão no princípio de nossa era: mas essas sinagogas já não pertencem às instituições do Antigo Testamento.
——- Retirado de: Vaux – Instituições de Israel no Antigo Testamento.
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