A menção aos Filhos de Hete, ou heteus, nesta narrativa, não representa, de maneira nenhuma, o primeiro reconhecimento bíblico dos heteus. No capítulo 10 do livro de Gênesis, a descendência do progenitor epônimo Hete foi incluída no grupo de nações que compunham a população de Canaã. É difícil determinar, com exatidão, qual era a conexão que este povo tinha com o poderoso grupo indo-europeu não-semita que vivia na Ásia Menor central no terceiro milênio a.C. Speiser e outros sugeriram que, uma vez que o antigo império heteu jamais se estendeu a Canaã, os autores bíblicos falam de forma imprecisa sobre habitantes não semitas de Canaã, como sendo heteus, quando deveriam tê-los designado, de modo mais exato, pelo termo “hurriano”.
Parte da confusão emerge do fato de que o movimento dos heteus indo-europeus na Ásia Menor coincidiu, grosso modo, com a entrada dos hurrianos na Alta Mesopotâmia, vindos de algum lugar indo-iraniano. Os hurrianos não-semitas, ou horeus, como são chamados nas narrativas bíblicas, se espalharam mais para o oeste, no entanto, e entraram na antiga Canaã. Por volta do segundo milênio a.C. estavam espalhados por todo o Oriente Médio, e bem estabelecidos em Canaã nos tempos de Abraão. Os hurrianos foram conquistados pelos poderosos heteus, aproximadamente em 1370 a.C, no auge do período do Novo Império, e foram absorvidos no reino dos heteus.
Mas, em todo caso, a migração hurriana em Canaã fazia parte de um movimento de povos mais amplo, que incluía os heteus e talvez os heveus, assim como os habiru e os hicsos semitas. Embora isto possa ser contemporâneo à ocupação da Ásia Menor pelos heteus, na Idade Média do Bronze, os seus resultados são bastante diferentes. Os heteus da Ásia Menor foram os primeiros indo-europeus a entrar na Armênia e na Capadócia, vindos da região do Cáucaso. Eles se misturaram com os Khatti (ou Hatti) da Anatólia, de cujo território se apossaram, e estabeleceram inúmeras cidades-estado. Algumas delas existiam em uma época consideravelmente anterior ao período em que as colônias assírias de comércio foram fundadas na Capadócia, a leste do território Khatti (ou Hatti), durante o século em que os assírios exerceram um controle militar temporário na Alta Mesopotâmia (1850-1750 a.C). O Antigo Império foi estabelecido aproximadamente em 1800 a.C, por Pitkhanas, rei de Kussar, e depois de duzentos anos o reino heteu se estendia, do mar Negro até a Síria.
Mas, sob Mursilis I (1600 a.C), o império heteu se enfraqueceu pelas lutas internas, e isto abriu o caminho para um aumento da influência dos hurrianos, que ampliaram o reino Mitani no norte da Mesopotâmia. Os do reino de Mitani, provavelmente, vinham da mesma região que os hurrianos, e há razões para que se acredite que ocuparam a Alta Mesopotâmia pouco tempo antes da época de Hamurabi. Eles dominaram a região entre a Média e o Mediterrâneo durante o período patriarcal, conservando um equilíbrio de poder entre os heteus, a Assíria e o Egito. Mas um renascimento do poder dos heteus, sob Suppiluliuma (1395-1350 a.C.) reduziu o reino Mitani à posição de um país intermediário entre a Ásia Menor e a Assíria, aproximadamente em 1370 a.C, e, como resultado, a influência dos heteus foi levada, ao sul, até a região do Líbano.
Cerca de dez mil tábuas recuperadas por Winckler, em 1906, de Boghazkõy, no centro-leste da Ásia Menor, incluíam os arquivos reais do império heteu.
Este era o local de Khattusas, que, durante quatro séculos (1600-1200 a.C.) tinha sido a cidade capital do reino dos heteus. A extensão da cultura dos heteus foi efetivamente retratada por estas tábuas, e agora se sabe que estes povos antigos eram cavaleiros renomados, que reivindicavam a distinção de terem introduzido o cavalo e, igualmente, o carro puxado por cavalos no Oriente Médio. Também foram importantes no desenvolvimento da Idade do Ferro (aproximadamente no século XII a.C.) na Palestina, pois textos heteus cuneiformes mostraram que eles monopolizaram a fundição e a manufatura de ferro, para todos os propósitos comerciais, até a época em que o poder heteu foi fragmentado, por volta de 1200 a.C.
ADENDO IMPORTANTE: Outro povo importante que na época começava a despontar era o povo filisteu. Os filisteus eram remanescentes dos povos do mar que se estabeleceram na costa do Mediterrâneo ao norte de Gaza, no sul de Canaã, por volta de 1500 a.C. Tinham superioridade tecnológica, como o domínio do ferro (1Sm 13,19-22), e, possivelmente, conforme desenhos e inscrições encontradas no Egito, também eram maiores fisicamente do que os cananeus e os futuros israelitas. Os filisteus combateram os egípcios e dificultaram seu domínio na região. Conquistaram as melhores terras e com o tempo tornaram-se o povo arqui-inimigo da Israel emergente, muito antes da monarquia israelita (Jz 13-16). No contexto internacional, eram, pois, os filisteus que ditavam as ordens na terra de Canaã naqueles dias. Como isso se relaciona com os heteus? Não sabemos, pois o povo inimigo dos filisteus eram os israelitas. Você pode ler o post completo em: O advento dos primeiros monarcas.
A religião dos heteus tinha uma natureza altamente sincretista, e emprestava divindades de Sumer, Acade, Nínive e do Egito. Uma tábua falava sobre Marduque, deus da Babilônia, deixando a Mesopotâmia e vivendo na Ásia Menor por vinte e quatro anos. Isto pode, talvez, ser uma referência à campanha de Mursilis I contra a Babilônia, que resultou na destruição da cidade e na grande imagem de Marduque sendo levada entre os espólios.
Descobriu-se que os códigos legais dos heteus continham decretos que são correspondentes a leis seculares nos códigos de Hamurabi e de Moisés. As indicações gerais são de que os mesmos conceitos de justiça, lei e ordem prevaleceram em todo o Oriente Médio durante o segundo milênio a.C. A lei dos heteus reconhecia a natureza inviolável dos juramentos, alianças e tratados, e uma característica animadora do seu sistema legal, em comparação com o de outros países orientais, era o notável respeito que havia pela condição das mulheres. Enquanto o princípio de retaliação, ou lex taliones era comum à legislação de Hamurabi e à de Moisés, um espírito mais humanitário prevalecia na lei dos heteus. Em particular, era proibido que mutilações físicas severas fossem feitas como punição àqueles que infringiam a lei, com a possível exceção dos escravos, um contraste agudo com algumas das punições que eram prescritas como sentenças máximas no código de Hamurabi.
——- Retirado de R. K. Harrison – Tempos do Antigo Testamento.
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