Aproximadamente nesta época, o poder sumério começou a ser desafiado pelos habitantes semitas da região norte da planície de Sinar. Durante a metade do quarto milênio a.C, a região norte da planície tinha se tornado a terra de um grupo de tribos semitas semi-nômades, que consolidaram sua posição durante a primeira metade do terceiro milênio, e estabeleceram comércio com a Suméria. Os membros destas tribos eram distinguidos pela sua linguagem, que pertencia ao ramo oriental da grande família linguística dos semitas. E embora não representassem uma ameaça militar pronunciada à Suméria antes do final do terceiro milênio, vinham gradualmente crescendo em poder, e alguns nomes semitas já tinham encontrado a sua porta de entrada na lista de reis sumérios. No século XXIV a.C, eles se tornaram mais notórios sob uma dinastia de governadores semitas, iniciada por Sargão. Ele foi um homem de origem humilde, provavelmente um filho ilegítimo, e, assim como Moisés quando bebê, colocado em um cesto de juncos e posto para boiar no Eufrates, mas foi resgatado e, de acordo com a lenda suméria, foi criado por “Akki o irrigador”.
Sargão estabeleceu a cidade de Agade, que na forma Acade deu seu nome ao território ao seu redor, e aos seus habitantes, que ficaram conhecidos como acadianos. Sargão organizou cuidadosamente suas forças, e por volta do ano 2355 a.C, que é o início do antigo período Acadiano, derrotou o poderoso Lugalzaggesi da Suméria e ocupou esta região. Sua filha foi nomeada sacerdotisa principal de Nanna, o deus da lua, que era a divindade patrona de Ur, ao passo que ele mesmo dedicou-se a transformar o território recentemente adquirido em um campo semita. Este propósito foi perseguido com tal sucesso que o seu império babilônico acabou se estendendo de Elã, no leste, até a Síria e a costa do Mediterrâneo, ultrapassando, e muito, suas expectativas originais.
Os acadianos rapidamente apreciaram o valor e as realizações da cultura suméria, embora instituíssem uma grande modificação, substituindo a língua nativa pelo seu próprio dialeto semita, fazendo, desta forma, do sumério uma língua clássica. A sua consolidação dos reinos de Acade e Sumer uniu a totalidade do território situado entre os dois rios, tornando possível a ascensão de uma cultura acadiana disseminada, que tinha como base a rica herança do período sumério clássico.
Os acadianos aplicaram as suas novas aquisições culturais a todos os departamentos da vida social com considerável entusiasmo, de modo que os negócios e a cultura floresceram, de igual maneira, no antigo período acadiano. Escavações do lugar da antiga Gasur testemunharam a prosperidade desta época, e as tábuas que foram recuperadas incluem contas mercantis e registros de transações comerciais. Com Naram-Sin, “o Poderoso, Deus de Agade, Rei dos Quatro Quadrantes”, houve um importante desenvolvimento de tendências artísticas anteriores, que resultaram em um alto nível de habilidade e que foi preservado, em parte, no Museu da Vitória de Naram-Sin.
O que é particularmente importante no desenvolvimento da cultura acadiana, no entanto, é a maneira como adotou os conceitos religiosos sumérios e os usaram como a base das suas próprias crenças e práticas religiosas. E difícil superestimar a importância que se dava, na antiga Mesopotâmia, ao lugar que os deuses ocupavam no universo. A tradição suméria tinha lhes concedido supremacia desde os meados do quarto milênio a.C, e no terceiro milênio os deuses tinham sido organizados em um panteão, sob Ami, o deus do céu, e Enlil, a divindade das tempestades. Este conclave celestial tinha completo controle sobre o cosmos, e considerava o homem como uma criatura particularmente insignificante, o que resultou praticamente em uma reflexão tardia sobre a criatividade Divina. Consequentemente, o homem era um servo, de quem se exigia invariável e inquestionável obediência enquanto servia à vontade dos seres celestiais.
No terceiro milênio a.C. já existia uma extensa mitologia em cidades como Nippur, o centro de cultos de En-lil, e Surupak. Esta coletânea de tradição religiosa espalhou-se rapidamente por toda a antiga Babilônia, e o número comparativamente pequeno de cidades-estado que floresciam naquela terra apertada no terceiro milênio, tornou a transmissão das ideologias religiosas uma questão de pouca dificuldade. A mente dos mesopotâmios parecia estar satisfeita com as antigas explicações sumérias das divindades e suas atividades, embora a força numérica dos deuses às vezes aumentasse e a sua adoração fosse modificada, segundo as tradições locais.
O conservadorismo religioso destes povos se reflete no fato de que as divindades catalogadas nas tábuas do segundo milênio, recuperadas de Lagash e Surupak, foram consideradas canônicas até o fim da história da Babilônia.’ Na realidade, uma das mais significativas características da religião na Babilônia semita é a sua quase completa dependência da tradição suméria anterior e a sua perpetuação daquela tradição por séculos sucessivos. Da mesma forma, as composições literárias dos acadianos seguiram muito de perto os mitos litúrgicos da Suméria, embora a genialidade nativa dos escribas acadianos fosse tal que as epopeias acabadas provaram ser vastamente superiores em seu conteúdo e sua forma dramática.
——- Retirado de R. K. Harrison – Tempos do Antigo Testamento.
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