(Asa-Thor, Thunor, Donar, Donner, Punor, Perkun)
“O Deus do Trovão”
O arquétipo desse deus tem uma certa complexidade, retratada nos mistérios da runa Thurisaz. Seu culto é muito antigo e persistiu até o século XI. Foi considerado o principal adversário de Jesus durante a cristianização. Os amuletos com seu símbolo sagrado – o martelo – coexistiram por longo tempo com o crucifixo, até finalmente serem por ele substituídos. Ao contrário de Odin – visto como o deus dos nobres -, Thor é o padroeiro dos trabalhadores braçais, fazendeiros, viajantes, camponeses e até mesmo dos escravos.
Descrito como um deus celeste, regente do trovão e do relâmpago, Thor era muito popular e largamente reverenciado, tendo sido encontrados mais altares e templos dedicados a ele do que a qualquer outra divindade. Ele é o protetor dos vários aspectos da vida humana, defende as comunidades dos cataclismos naturais, ajuda no cultivo da terra (como filho de Jord, a Mãe Terra), cria leis, protege os viajantes e abençoa os nascimentos, os casamentos e os enterros. Seu mito o descreve como “defensor de Asgard”, atento às investidas dos gigantes, e zeloso do bem-estar e da segurança das divindades. Para a humanidade, ele é o grande protetor de suas humildes moradias e de suas colheitas contra as tempestades e o frio. Thor era invocado pelos viajantes e por todos aqueles que juravam em seu nome, precisavam tomar uma decisão ou ganhar uma causa.
Como sucessor do antigo deus celeste Tiwaz, dele recebeu alguns atributos. Seu nome arcaico era Thursaz – (thurs, “gigante, e az, “deus”), que descrevia perfeitamente Thor como o “deus gigante”, semelhante aos Jötnar em aparência, tamanho, força apetite e atitudes primitivas. Senhor dos raios e do trovão, Thor atravessa o céu em uma carruagem flamejante, puxada por dois bodes, cujo ruído anuncia a chegada da tempestade. Parecido com um herói viking, Thor tem uma grande barba ruiva (da cor do fogo que ele produzia), olhos faiscantes, estatura e força colossais e apetite extraordinário. No mito que descreve a recuperação do seu martelo mágico, Mjollnir, roubado pelo gigante Thrym enquanto ele dormia, Thor segue a sugestão de Loki e se disfarça de mulher para se passar por Freyja, cobiçada pelo gigante, que se dispôs a troca-la pelo martelo. Coberto com um véu, Thor consegue enganar o gigante até o jantar, quando consome um boi, oito peixes e vários copos de hidromel. Astutamente, Loki explica ao noivo atônito que a fome da “noiva” era causada pela ansiedade para se casar logo. Quando o martelo é trazido para selar a união, Thor se apodera imediatamente dele, matando Thrym sem dificuldade.
Visto como um grandalhão – não muito inteligente, mas facilmente irritável -, Thor representa o defensor ideal dos deuses, pois obedece sempre às suas ordens e tem força similar à dos gigantes, seus eternos adversários. Sua imagem é a de um gigante, corpulento, com barba e cabelos vermelhos e penetrantes olhos azuis. Usa túnica e botas de pele de urso, cinto e luvas de ouro e um elmo de ferro, e é conduzido por uma carruagem pesada, puxada por enormes bodes pretos. Muitas lendas descrevem, de forma jocosa ou cômica, as aventuras e as batalhas com os gigantes que matou, sem pensar muito. Seu inimigo mais terrível, no entanto, é Jormungand, a Serpente do Mundo, que ele consegue pescar uma vez, mas deixa escapar. Em outro episódio, Thor é hóspede de um rei (um gigante disfarçado), que testa sua proverbial força e lhe pede que esvazie um enorme chifre de hidromel e levante um gato cinza. Por mais incrível que pareça, Thor não consegue, descobrindo depois que a ponta do chifre estava presa no fundo do mar e que o gato era a própria “Serpente do Mundo” disfarçada.
O apetite de Thor é compatível com a sua grande vitalidade e força física; ele mata e devora até os bodes de sua carruagem, devolvendo-lhes a vida em seguida, ao impor seu martelo sobre eles. Seu martelo é mágico: após ser arremessado, volta sozinho às suas mãos. O martelo foi confeccionado pelos gnomos ferreiros, mas, por interferência maldosa de Loki (que, metamorfoseado em mosca varejeira, ferrou o chefe deles durante a fundição), o cabo do martelo ficou muito curto. Chamado de Mjollnir, esse martelo é a arma mais preciosa de Asgard, juntamente com Jarngreip, as luvas de ouro, e Megingjard, o cinto mágico de Thor. O martelo era usado pelos povos nórdicos para definir fronteiras (ao ser arremessado, o lugar onde caía estabelecia o limite nas disputas de terras), selar juramentos, abençoar casamentos e promover a fertilidade da noiva (quando colocado em seu colo). Outro símbolo de Thor é um bracelete (armring) – uma pulseira, na realidade – sobre o qual se faziam os juramentos nos templos.
Em todos os templos de Thor existiam pilares ou troncos de carvalhos cheios de pregos, nos quais se batia com um martelo para produzir faíscas e acender o fogo ritual. Os pilares simbolizam o domínio de Thor sobre o céu e o tempo, uma reminiscência das épocas em que seu culto era realizado nos bosques de carvalhos. O predecessor de Thor na Alemanha era Donar que, assim como Zeus, era associado ao relâmpago e aos carvalhos, as árvores mais atingidas pelos raios. O carvalho e depois o pilar foram vistos como canais que atraíam o poder do deus celeste para a terra, tornando-se, por isso, sagrados.
O pilar era usado em locais onde não havia carvalhos (ou em que haviam sido extintos), em lugar do antigo mastro do templo (chamado “a árvore feliz”), considerado a garantia da felicidade e da sobrevivência da comunidade. Essa é a origem de um antigo costume germânico no qual se fincava um galho na cumeeira da casa logo que ela ficava pronta, enquanto os donos festejavam, oferecendo bebidas a Thor e aos operários. Acreditava-se que assim a casa não seria atingida pelos raios, sendo protegida por Thor, cujo símbolo – o martelo – era colocado acima da porta. Thor é filho de Jord, a Mãe Terra, o que explica a sua atuação fertilizadora nos campos, pelas chuvas e pelas descargas elétricas das tempestades. Sif, sua linda esposa de cabelos dourados, é a manifestação de uma antiga deusa da fertilidade; ao fazer amor com ela, nas noites de verão, a virilidade de Thor se manifesta pelos relâmpagos que ativam o amadurecimento das espigas de trigo 9que simbolizam os cabelos de Sif).
Com sua amante, a giganta Iarnsaxa, ele gerou uma filha – Thrud – e dois filhos: Magni (“O forte”) e Modhi (“O furioso”), que sobreviverão ao Ragnarök e se tornarão, no Novo Mundo, os guardiões de Mjollnir. Os atributos de Thor – que tanto podiam ser destrutivos (com relação aos gigantes, aos perigos e aos inimigos) quanto protetores -, eram representados por seu martelo, que ora matava, ora abençoava. O martelo como símbolo sagrado também está presente em outras culturas.
Originado na Idade do Bronze, foi preservado nos templos da Grécia e do Império Romano e pode ser encontrado gravado nos tambores dos xamãs da Lapônia. Associado a ele está a roda solar e a suástica, símbolos também atribuídos a Thor e presentes em várias tradições. Uma interpretação interessante sobre o mito em que Thor, disfarçado de mulher, resgata seu martelo, é dada pela escritora Freya Aswynn. Ela afirma que, somente ao assumir sua anima (indicada pelas roupas femininas), Thor consegue resgatar sua verdadeira masculinidade (simbolizada pelo martelo que, como a runa Thurisaz, é uma figura fálica).
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