(.) (.) (.) Se você é cristão, já deve ter ouvido alguma vez na vida a discussão sobre a atemporalidade de Deus, a partir da ideia da sua eternidade. Em outras palavras, alguns gostam de pensar que Deus é “anterior” ao tempo, ainda que essa frase seja contraditória, tecnicamente, pelo uso de um termo que só faz sentido dentro do tempo (: anterior). Dessa forma, porém, o tempo é muitas vezes tratado exatamente como uma entidade (ainda que não pessoal, nem consciente; e ainda que ninguém o admita),quando na verdade, o tempo seja meramente uma grandeza, tal como a distância, o volume, a área e o peso.
O tempo é apenas uma interpretação, uma perspectiva sobre uma consequência das coisas, e não precisa ter sido criado diretamente. Segue abaixo uma reflexão levemente adaptada de um dos nossos colaboradores, Alfredo Barbosa.
O tempo pode ser entendido como a diferença entre dois instantes. Por sua vez, o instante é marcado por um acontecimento. Nós só percebemos a demora porque também percebemos muitas coisas acontecendo. Fenômenos acontecem no nosso próprio corpo, e nós percebemos coisas acontecendo fora dele também. Mas ainda que aparentemente não aconteça nada, na verdade estamos processando tudo sem parar a cada segundo. Assumindo essa noção, o tempo está passando sem parar mesmo antes da criação, pois o tempo é meramente a diferença entre instantes, que são marcados por acontecimento.
Mas aí, quando imaginamos Deus dentro dessa abstração (o Deus cristão especificamente: pré-existente, incriado), há uma pequena distorção, pois Deus, sendo ato puro, sabendo de todas as coisas e fazendo todas as coisas sem limitação alguma, só levaria o que poderia ser chamado literalmente de um instante para planejar e criar tudo.
Uma das conclusões dessa pequena reflexão é que é muito difícil definir uma ordem das coisas na eternidade, antes da criação, porque, só havendo Deus, tudo que acontecesse não levaria mais do que um instante. Ao mesmo tempo, é difícil imaginar isso, porque quando dizemos que Deus é eterno e sempre existiu, imaginamos um “infinito de tempo” no passado e no futuro. Mas se não há infinitas coisas acontecendo, não há esse infinito de tempo no passado, mas apenas um instante. Ou, como dito no Universo Anthares: um instante perpétuo.
Não haveria uma grande sucessão de coisas antes da criação.
Com essa noção de tempo em mente, leia novamente a citação feita na parte final do post sobre A Grande Equação e a discussão sobre O Eterno.
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[…] Outro detalhe é o Tempo, que não existe por si só, mas também não foi “criado”. Sobre isso, fizemos este post. […]