O Diabo

O diabo é um acsi, como todos os demais. Não é mais forte, nem mais importante, nem mais inteligente, nem mais belo, nem nada. Se ele recebe alguma distinção em Anthares, é pela distinção que recebe na história bíblica: pelo fato de ter sido o primeiro a ter intenções impuras, más, contrárias às de Deus.

Atenção: (1) Em Anthares (e na Bíblia), o diabo não é como no imaginário popular: um ser com chifres e rabo que comanda o inferno. Ao contrário, o inferno (geena) foi feito para lançá-lo lá. E não é lá que ele está, nem jamais esteve até agora. (2) Em Anthares (e na Bíblia), o diabo não é um tipo de rival de Deus, como se o universo estivesse sendo disputado entre Deus e o diabo, num duelo de poderes. Ou seja, o velho Dualismo Universal, a heresia do maniqueísmo, que divide a própria realidade em uma disputa entre o Bem e o Mal, representados por Deus e o diabo. Na verdade, na Bíblia, o diabo está longe de ser retratado como um ser que pode tudo ou que sabe tudo: em diversas ocasiões, se engana, se contradiz, se mostra ignorante, é humilhado e se mostra fraco diante da onipotência de Deus.(3) Em Anthares (e na Bíblia), o diabo também não é como na teologia neopentecostal, totalmente autônomo e por trás de cada probleminha que acontece na vida de alguém.

Leia este parágrafo apenas se for cristão. Há um movimento muito forte de igrejas neopentecostais com membros que confundem tanto os seus próprios desejos com a vontade de Deus, que acreditam que a “batalha espiritual” se trata de libertar da doença, do desemprego, dos problemas conjugais, etc. Na mentalidade imediatista e egocêntrica de algumas pessoas (incluindo alguns líderes religiosos), é como se o campo de atuação do diabo fosse meramente o nosso corpo e o nosso bolso. No entanto, nem segundo a Bíblia, nem em Anthares, o diabo está interessado em nossa saúde ou em nossos bens. Aliás, ele é mais capaz de nos deixar saudáveis, bonitos e ricos, desde que nós acreditemos em mentiras que nos afastem do nosso relacionamento com Deus e atrasem o avanço do Evangelho. A luta, portanto, é pela nossa mente. A frase mais marcante do diabo na Bíblia é sempre atribuída a Deus na mentalidade dos neopentecostais: “Tudo te darei se prostrado me adorares” (Mateus 4:9). O diabo não quer tirar nosso emprego, nos pôr doenças, nem nada que nos faça recorrer a Cristo. Ele quer nos dar todas as “bênçãos” deste mundo para desviar nosso olhar, nos esquecermos de quem somos e do que Cristo fez. E essa também é a agenda dele em Anthares.

Como Lutero dizia: “o diabo é o diabo de Deus”. Ele é um cão na coleira (< vídeo), que late e morde, mas não vai além de onde pode. A Bíblia diz que o mundo jaz no maligno, mas o próprio maligno está a serviço de Deus, goste ele ou não. É isso que vemos no livro de Jó: um anjo cumprindo suas tarefas e obrigações juntamente com todos os demais e indo prestar contas a Deus.

“Certo dia, os anjos vieram à presença do Senhor, e Satanás, o acusador, veio com eles. ‘De onde você vem?’, perguntou o Senhor. Satanás respondeu: ‘Estive rodeando a terra, observando o que nela acontece'” (Jó 1:6,7)

O diabo foi servo direto de Nuhah até tempos atrás, quando finalmente perdeu sua morada no céu, e agora, apesar de não ser livre (pois há muitas restrições de Nuhah que ele não é doido de infringir), ele tem uma agenda pessoal: fazer a humanidade se afundar cada vez mais na perversidade, desde que isso afaste pessoas da verdade e da justiça.

Nessa “batalha”, o prêmio é a nossa mente.

Quanto ao fato dele fazer decididamente o que desagrada a Nuhat, tomamos emprestada a frase de Tolkien a respeito da humanidade, sobre esse mesmo assunto, conforme disse Illuvatar: “Esses também, no seu tempo, descobrirão que tudo o que fazem resulta no final em glória para minha obra“.

O texto bíblico oferece pouca informação sobre a origem de Satanás e a fonte da sua habilidade, poder e influência. O texto bíblico também não oferece informações explícitas a respeito da origem do mal. Ainda assim, a Bíblia fala, frequentemente, da presença do mal e seus efeitos, assim como de Satanás e suas atividades e os efeitos destas. […] A palavra satan (satanás) não aparece frequentemente na Bíblia. O texto informa que Satanás apareceu quando Deus se reunia em conselho com seus servos angelicais (Jó 1.6-12; 2.1-7). Davi requereu que Satanás se colocasse à mão direita dos seus inimigos perseguidores como o adversário ou acusador (Sl 109.6). É interessante notar que Davi era bem ciente de Satanás e seus meios. Zacarias, na quarta visão, viu Satanás na corte celestial acusando a Josué, o sumo sacerdote (Zc 3.1-2). (Mauro Meister, Teologia Bíblica – Antigo Testamento, p. 62).

Entende o que isso significa? O diabo é um tipo de militante.

Por isso mesmo, ele é conhecido como o acsi opositor, o adversário dos teokosa. Esse é, inclusive, o significado de “satanás”, que é um título e não um nome próprio. O termo “diabo” também não é um nome, mas uma das suas funções: acusador. Por outro lado, “lúcifer” é um termo que nem sequer aparece no texto original da Bíblia. Esse termo, que significa literalmente “portador de luz”, é apenas uma péssima tradução de outra expressão no hebraico: “estrela d’alva” ou “estrela da manhã” (Is 14:12). Mais sobre isso ao final, no apêndice deste post.

Mas, afinal, o diabo tem um nome pelo menos em Anthares? Tem, sim: Huani.

Esse nome sofreu alterações típicas que acontecem em quaisquer idiomas, com duas variações principais: Huali e Quani. Depois de Babel, a pronúncia original ainda foi mantida por uma civilização específica: a Família Hakal. Porém, lá essa palavra acabou virando sinônimo de “o mal”.

Quanto à agenda do diabo em Anthares, ela deve estar relacionada com o motivo de sua insurgência. Talvez o problema do diabo tenha sido um tipo de inveja da humanidade e sua relação com Deus, visto que desde o início ele vem tentando afastá-la do conhecimento e da relação com Nuhat. E essa tem sido a agenda dele e do grupo que com ele caiu. O propósito do diabo em Anthares é desviar as pessoas da verdade, levando-as cada vez mais para longe de Deus. Ele precisa destruir a verdade e essa é a sua maior preocupação.


Quer escrever uma história a partir disso? Encontrou erros ou quer dar sugestões? Entre em contato aqui.


APÊNDICE: A Origem de Satanás.

A origem de Satanás nunca é discutida diretamente ou mencionada indiretamente nas Escrituras. Deus não criou Satanás como Satanás. As Escrituras são enfáticas na negação de que Deus seja a fonte do pecado, do mal e de Satanás que personifica o mal. Deus odeia o pecado. Ele, como um Deus santo, não tolerará o mal. Isto faz com que a questão sobre a origem de Satanás se torne muito difícil de ser respondida. Existem algumas referências bíblicas que sugerem quem era Satanás e o que se tornou.

Satanás era um dos anjos a quem Deus criou quando os céus foram criados. Ele poderá ter sido um dos arcanjos como Miguel, o guerreiro defensor (Jd 9; Ap 12.7; ver também Dn 10.13, 21; 12.1) e Gabriel, o mensageiro (Dn 8.16; 9.21; Lc 1.19, 26). O nome original de Satanás pode ter sido Lúcifer (Is 14.12), mas isso não pode ser confirmado. Das suas atividades pode-se concluir que ele era muito instruído, poderoso e capaz como administrador. Ele é tudo isto em virtude de Deus tê-lo criado assim. Parece apropriado, então, considerar Satanás como um arcanjo que recebeu a tarefa de ser o administrador entre a multidão de anjos para as atividades deles. Tal arcanjo administrador tinha um papel e estava numa posição em que pôde desafiar a preferência de Deus Yahweh em fazer de Adão e Eva seus vice-gerentes no reino cósmico. Ao desafiar a Deus, em autoconfiança e orgulho, ele se tornou o adversário de Deus; ele se tornou Satanás.

A origem de Satanás, a rebelião e o caráter dele dão uma resposta à questão da origem do mal. A maioria dos estudiosos bíblicos e dos teólogos concordam que o mal surgiu com a rebelião de Satanás. Mas, existem vários problemas envolvidos nesta resposta. Um dos problemas é com relação ao papel de Deus em relação à origem do mal. Louis Berkhof afirmou, forte e corretamente, que o mal moral no mundo é o pecado, e Deus não pode ser considerado como o autor deste no sentido de ser Deus a causa do pecado. Berkhof apelou às passagens bíblicas (Dt 25.16; 32.4; Jó 34.10; Sl 5.4; 11.5; 92.16; Is 6.3; Zc 8.17; Lc 16.15; Tg 1.13).

Um outro problema relaciona-se à origem do mal/pecado dentro de um ser criado por Deus que não era mau, e sim, parte de um cosmos muito bom. Esse problema não pode ser resolvido baseado em qualquer ensino bíblico explícito. Tudo que pode ser dito é que Satanás, criado como arcanjo principesco, recebeu muitos dons quando foi criado. Satanás tinha a potencialidade e a liberdade como criatura de Deus para se rebelar contra Deus, para se opor a ele em seu reinado, e para buscar para si o controle do reino cósmico de Deus. Das Escrituras só se pode deduzir que o pecado e o mal surgiram no mundo angelical. Jesus Cristo provavelmente estava se referindo a isto quando disse que o diabo era um assassino desde o começo (Jo 8.44). João se refere à origem do pecado e do mal quando escreveu que Satanás peca desde o começo (1 Jo 3.8). Isto pode ser dito com certeza: Satanás apresentou a Adão e Eva o pecado e o mal e, assim o introduziu no mundo bem feito e ordenado da humanidade.

Uma terceira questão que tem ocupado muitos exegetas e teólogos é a relação entre o pecado e o mal. Geralmente o mal tem sido considerado em duas categorias. O mal moral ou espiritual é a condição da criatura de Deus que, tendo sido criada como boa, se rebela e torna-se um adversário rebelde. O ódio, a inveja e a malícia controlam a mente, o desejo e o coração. Os relacionamentos estabelecidos em amor para durarem a vida toda são desfeitos, são quebrados. Os deveres e responsabilidades são rejeitados e planos e métodos contrários são imaginados e levados a efeito. O engano e a mentira prevalecem nos corações dos maus. Já o mal natural ou mal físico se refere, antes de tudo, às consequências do mal moral. O esfacelamento na vida de várias formas é visto como sendo experiências ruins (ou más). As privações, sejam elas na natureza como uma falta de chuva ou de luz solar, ou sejam uma falta de saúde ou das necessidades para a vida normal, são chamadas de males. Guerras e desastres como terremotos ou tempestades de vento também são considerados males.

O mal moral tem sua origem em fontes que não são Deus. Mas Deus ocasiona e/ou controla as consequências do mal moral, o mal natural e físico. Nunca devemos nos esquecer que, sob o controle de Deus, Satanás e as forças demoníacas podem causar o mal natural. As ações pecaminosas na vida também podem resultar em mal natural e físico. Mas, devemos nos lembrar em todo o tempo que Deus é o Mestre sobre a morte, sobre a vida, em todas as suas exigências e vicissitudes. Deus fala repetidamente, através de seus porta-vozes e escritores inspirados, que ele trará, e traz mesmo, a espada, a fome, a pestilência e a destruição, frequentemente por intermédio de nações designadas. Considere a advertência de Moisés quanto ao fato de que Yahweh traria maldições sobre o povo escolhido se e quando ele se tornasse moralmente mau (Dt 11.17-18; 27.15-26; 28.15-68). Considere, também, a pergunta retórica de Amós: “Sucederá algum mal (ra a) à cidade, sem que o SENHOR o tenha feito?” (Am 3.6 RA).

O mal e o pecado penetraram no Éden; isto não aconteceu porque eram entidades, forças ou influências objetivas ou essenciais. Suas origens estão nos aspectos da criação que são espirituais, morais e livres – anjos, querubins e seres humanos. Deus Yahweh colocou Adão e Eva no Éden. Satanás tinha livre acesso ao Éden em virtude de ser anjo e da sua posição no cosmos. Satanás, por não ter recebido o status e as prerrogativas reais no Éden ou em relação ao cosmos, não foi capaz de introduzir o mal e o pecado dentro dele diretamente. Ele fora lançado do céu como seu centro de atividade porque Deus Yahweh não tolerava o mal que Satanás havia se tornado em seu ser, atitude e atividades. Como o banido, Satanás se empenhou em ganhar o controle do cosmos e, assim ganhar uma esfera de ação objetiva na qual pudesse dar expressão à sua natureza corrupta e exercer seus poderes satânicos (adversários) e maus. A maneira de obter controle sobre todo o cosmos era entrando no Éden. Satanás percebeu que para ganhar a influência no Éden e, consequentemente, introduzir o mal e o pecado dentro dele e, desse modo, em todo o cosmos, ele teria que ganhar o controle e a influência penetrante sobre os vice-gerentes edênicos designados e qualificados por Deus Yahweh. Satanás entrou no Éden como um intruso maligno com o projeto de se entronizar e se tornar o mestre dos seres humanos e do reino cósmico sobre o qual eles haviam recebido o mandato de zelar, cultivar e governar.

—– Retirado de: Mauro Meister, Teologia Bíblica – Antigo Testamento, p. 63.


QUER VIRAR ESCRITOR?
PARTICIPE DO UNIVERSO ANTHARESSAIBA COMO CLICANDO AQUI.

Os Acsï - Universo Anthares

Os Acsï - Universo Anthares

[…] não estão atrás de tirar empregos ou colocar doenças. Isso foi melhor explicado no post sobre o acsi opositor (o diabo). Talvez o problema do diabo tenha sido um tipo de inveja da humanidade, visto que desde o […]

A Insurgência e a Separação dos Acsï - Universo Anthares

A Insurgência e a Separação dos Acsï - Universo Anthares

[…] a insurgência dos Acsï, que gerou revolta e rebelião entre eles. Um terço deles se aliou ao acsi opositor. Houve tristeza entre eles, mas Nuhat tinha tudo sob controle. Nada escapava aos seus intentos. O […]

Daxa – O Abominável - Universo Anthares

Daxa – O Abominável - Universo Anthares

[…] desenvolveu especificamente do lado de Fonte Azul. Em Fonte Azul, ele é tão importante quanto o diabo na Terra. Lá, todos os povos sabem sobre ele e o temem, mesmo a maioria nunca o tendo visto, nem […]

Verbis Diablo - Universo Anthares

Verbis Diablo - Universo Anthares

[…] da Insurgência, o diabo e seus seguidores começaram a se organizar, e eles não deixaram passar nenhum detalhe. Uma das […]

Harmonização: Mitologia Nórdica - Universo Anthares

Harmonização: Mitologia Nórdica - Universo Anthares

[…] por causa de Laqauszi (busque o termo no post), desistiu da ideia e permaneceu na agenda do acsi opositor. Depois do dilúvio, foi justamente Odin quem convenceu outros para a Segunda Crise, gerando novos […]

Principais Criaturas do Folclore Americano - Universo Anthares

Principais Criaturas do Folclore Americano - Universo Anthares

[…] em um antigo cemitério indígena, perto das Montanhas Negras, onde passou a vender sua alma ao Diabo. O Diabo passou a tornar as pupilas de Baker “anormalmente pretas” como um sinal de […]

Sistemas Mágicos em Anthares - Universo Anthares

Sistemas Mágicos em Anthares - Universo Anthares

[…] Imagine uma sala com quatro pessoas: um usuário do Idioma Criacional, um voodoo, um hebreu fiel e um satanista. […]

Merlin, o grande mago galês - Universo Anthares

Merlin, o grande mago galês - Universo Anthares

[…] No texto de Nennius, o conselheiro de Vortigern disse ao rei que “Você deve encontrar uma criança nascida sem pai…”. Isso não significa que seu pai não era mortal. Provavelmente significa que seu pai morreu, antes de Ambrósio (Merlin) nascer. Geoffrey fez esta declaração, que o pai de Merlin era o diabo. […]

Comments are closed.