Loki – Deuses Nórdicos

(Loke, Lokje, Lodur)

“O Trapaceiro”

Loki é a figura mais misteriosa, complexa e de difícil compreensão do panteão nórdico. Tem características ambíguas, atuando ora como embusteiro ou ator cômico em histórias divertidas, ora como uma forla motivadora e fator catalisador de intrigas, conluios e tragédias. Em relatos mais recentes, influenciados pelos valores e dogmas cristãos, Loki adquire características muito negativas, tornando-se uma figura demoníaca, equivalente a Lúcifer (Lukifer), em contraposição à figura benévola e crística de Baldur.  Nas descrições do historiador Snorri Sturluson, apesar da ênfase dada aos aspectos negativos, é fácil notar que Loki é um personagem travesso, astuto, maldoso e pernicioso, mas sem ser total ou permanentemente ruim, maléfico ou perverso. Sua ambivalência aparece nos mitos dos quais ele participa, tanto dos processos criativos (ajudando a construir o muro de defesa de Asgard), quanto dos destrutivos (provocando a morte de Baldur e o início do Ragnarök). Suas ações provocam sofrimento e prejuízo aos deuses em várias ocasiões, como no resgate do martelo de Thor, nas aventuras de Odin e thor e na recuperação do barco de Frey. Mesmo que muitas das histórias sobre sua maldade sejam complementações tardias feitas pelos escritores medievais (monges cristãos, em sua maioria), o elemento presente em todos os mitos antigos de Loki é sua costumeira conduta como ladrão, trapaceiro, sabotador e fofoqueiro (suas calúnias sobre as escapadas extraconjugais das deusas tinham sempre uma base real). São essas contradições no comportamento desse companheiro temido e respeitado dos deuses, irmão de sangue de Odin e morador de Asgard, que indicam as semelhanças de Loki como o “Trapaceiro” (Trickster) sobrenatural, personagem comum dos mitos e das lendas dos índios norte-americanos. O trapaceiro é egoísta, traiçoeiro, invejoso; ele aparece em histórias cômicas ou trágicas, com formas e atributos de animais – ora como homem, ora como mulher -, podendo gerar e ter filhos. Ele costuma pregar peças nos seres humanos, embora também tenha lhes trazido a dádiva do fogo e da luz solar. Às vezes, é uma figura grotesca ou hilária; outras vezes, é um herói, meio xamã ou adivinho, que ensina pela farsa ou pelo disfarce, pelas brincadeiras ou pelas armadilhas. Da mesma forma, Loki era um dos heróis favoritos de muitas lendas e histórias, contadas por mera diversão ou usadas como fábulas educativas. Ele é uma figura sociável (participa de aventuras junto com os deuses); sente-se à vontade no meio das divindades, dos gigantes e dos monstros (tendo até mesmo gerado alguns, como o lobo Fenrir, a serpente do mundo Jormungand e a deusa Hel) e é dotado de poderes mágicos e da capacidade da metamorfose. Loki muda de forma conforme a necessidade. Para afastar o gigante construtor do muro de Asgard, que tinha pedido a deusa Freyja como pagamento, Loki se transformou em égua e seduziu o cavalo do gigante, do qual este dependia para carregar as pedras. Nessa manifestação como égua, Loki pariu Sleipnir, o cavalo de oito patas, que se tornou a montaria mágica de Odin, usado por ele e por outros deuses para se deslocar entre os mundos. Sleipnir, portanto, foi uma dádiva de Loki para os deuses. Para resgatar as maçãs da imortalidade (roubadas por ele mesmo e entregues, com a própria deusa Idunna, ao gigante Thjazi), Loki se transformou em pássaro e trouxe de volta, em seu bico, as maças e a deusa, em tamanho reduzido e escondidas dentro de uma noz. Para pegar de volta o martelo de Thor (roubado, enquanto ele dormia, pelo gigante Thrym), Loki “pegou emprestado o manto de penas de falcão de Freyja” o que, em linguagem xamânica, significa desdobrar-se no plano astral em forma de pássaro. Para roubar o colar de Freyja, Loki metamorfoseou-se em pulga; para atrapalhar os gnomos ferreiros que confeccionavam o martelo de Thor, Loki, disfarçado de mosca varejeira, ferrou o chefe dos artesãos, que errou no tamanho do cabo do martelo; para impedir a ressurreição de Baldur, Loki apareceu como Thokk, uma velha giganta; para escapar da fúria dos deuses, que o perseguiam para colocá-lo no cativeiro, Loki assumiu a forma de um salmão. Apesar de suas metamorfoses, Loki é finalmente preso, amarrado em uma gruta, embaixo da boca de uma serpente venenosa que despeja, sem parar, veneno sobre sua cabeça. Esse castigo – que irá durar até o Ragnarök – foi a consequência da maldição lançada sobre ele por Andvari, o rei dos gnomos, de quem Loki tinha roubado um tesouro, o famoso “Ouro dos Nibelungen”. Em certas ocasiões, Loki agia de maneira imprevisível e impulsiva, fosse para se livrar dos gigantes que o prendiam, fosse para reparar os erros por eles cometidos contra os deuses. Outras vezes ele se comportava como um menino arteiro (quando cortou os cabelos de Sif, falava mal das deusas ou debochava dois deuses.) Loki personifica os poderes destrutivos do panteão nórdico. Alguns autores afirmam, com base apenas na semelhança de seu nome com Loge, que significa “fogo” e era o nome de um deus arcaico do fogo, que Loki teria alguma relação com o fogo. Mas ele não se comporta como um espírito ígneo e fica à vontade tanto na terra, quanto na água e no ar. É possível que ele tenha sido um deus muito antigo, anterior às dinastias Aesir e Vanir, pertencente aos gigantes. De acordo com seu mito, ele era filho dos gigantes regentes do raio e da tempestade, Farbauti e Laufey, o que indica sua ligação com as forças destrutivas e incontroláveis da Natureza. Sucedidos e denegridos pelos deuses, os gigantes passaram a ser descritos como figuras monstruosas e maléficas, o que explicaria a ênfase dada às características negativas de Loki, descendente dos gigantes. Sua captura final pelos deuses – que o amarraram junto a uma serpente venenosa, que despejava veneno continuamente sobre sua cabeça – assemelha-se a uma cena recorrente dos mitos antigos, retratada no período viking em várias gravuras sobre pedras. Posteriormente, as descrições de gigantes e monstros capturados pelos heróis passaram a ter nuances cristãs, culminando com a identificação de Loki com o Diabo – apesar da ideia do “gigante amarrado” ser pré-crista. Após a captura, Loki permanece amarrado até o Ragnarök, quando ele consegue se libertar e assume o comando do navio macabro, Nagelfari, que transporta criaturas maléficas incumbindas de espalhar destruição e morte pelos Nove Mundos. Ao encontrar seu principal inimigo, o deus Heimdall, Loki o desafia para um duelo mortal, no qual ambos sucumbem. Loki pode ser descrito como o aspecto escuro de Odin, sua “sombra”, ou como uma paródia dos aspectos criadores divinos (em vez de uma força contrária a eles). Ele é um agente catalisador que provoca mudanças, sem ser afetado por elas; ele se apropria de coisas, mas as devolve aos donos, sem guardar nada para si. Sua ligação com o mundo subterrâneo é evidente, pois gerou Hel, Fenrir, Jormungand e Sleipnir, além de conduzir o barco que leva os mortos no Ragnarök. Vários elementos de seus mitos indicam sua origem ctônica, como um deus arcaico, ligado ao mundo dos mortos e representante dos poderes destrutivos, impulsivos e inconscientes da natureza humana. Ele deve ser respeitado e reconhecido, porém jamais invocado ou reverenciado. Desconhece-se qualquer culto ou homenagem antiga a Loki – algumas fontes nem mesmo o reconhecem como um deus, apenas como um espírito do fogo. Sua consorte é Sigyn, a única que permaneceu a seu lado, no cativeiro, até o fim; ela recolheu incessantemente, em uma vasilha, o veneno que vertia continuamente sobre a cabeça de Loki, procurando aliviar seu sofrimento. Com Sigyn, Loki teve dois filhos: Ali e Narfi. Com sua amante, a giganta Angrboda, ele gerou Hel, o lobo Fenrir e a serpente Jormungand. Loki era descrito como um homem bonito, galante e de maneiras encantadoras, que enganava a todos e seduzia as mulheres.

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