Aquiles era filho de Peleu, rei de Ftia, e da ninfa Tétis.
Ainda bebê, o pequeno herói fora levado pela mãe ao rio Estige, onde a filha de Nereu pretendia mergulhá-lo em suas águas miraculosas, pois dizia-se que elas tinham o poder de tornar invulnerável todo aquele que nelas se banhasse.
Estige, vale dizer, era uma poderosa ninfa que ajudara Júpiter na guerra contra os Titãs, a primeira guerra que o Universo conheceu. Por isto, fora recompensada com uma fonte da Arcádia, de águas sombrias e de longo curso que entravam terra adentro, desaguando nos submundos infernais.
— Estige, rio de águas mágicas e misteriosas! — dissera Tétis, enquanto mantinha o filho pendurado pelo pé sobre aquelas revoltosas águas. — Invoco agora o seu poder sagrado para que torne meu pequeno Aquiles forte e invulnerável durante todos os dias de sua vida!
Tétis, a ninfa dos pés de prata, relutara muito antes de tomar esta atitude; mesmo naquele momento, enquanto segurava o pé de seu filho com toda a força e escutava o ruído intenso da correnteza naquele cenário escuro e desolado, tinha dúvidas sobre se estava fazendo a coisa certa.
Mas desde o parto a deusa fora tomada por um sombrio pressentimento: o de que seu filho teria uma vida demasiado curta.
— É meu dever fazer de tudo para protegê-lo — disse ela, afinal, como que a justificar-se perante o rio que turbilhonava à sua frente.
O calcanhar, contudo, por um descuido da ninfa, permaneceu seco, e um dia tanto ela quanto seu filho descobririam o preço de tão grave descuido.
Tão logo o pequeno Aquiles sofreu este batismo, foi entregue aos cuidados do centauro Quíron, que fora o preceptor de muitos outros heróis — tais como Hércules, Jasão, Esculápio e até o deus Apolo -, e passou a ser alimentado com uma dieta rica em miolos de feras: de leão, para adquirir coragem, de urso, para ganhar força, e de gazela, para tornar-se veloz.
Quando o jovem Aquiles completou nove anos — sendo, a essa altura, quase um homem, tanto no porte quanto na virilidade -, sua mãe, Tétis, decidiu levá-lo para uma consulta como o adivinho Calcas.
— Preciso saber o que o destino reserva para ele — disse a mãe ao adivinho, pois ainda permanecia inquieta com o futuro do seu filho.
O sábio Calcas, após consultar seus augúrios, declarou, finalmente:
— Tróia poderosa jamais será conquistada sem o valor do seu braço. Mas completara a previsão com outra, agora funesta:
— Seus pés, contudo, jamais pisarão o chão da cidade sagrada, eis que antes disso baixará à casa de Plutão.
Desde aquele instante, então, Tétis concebeu um plano:
“Se o destino de Aquiles está em perecer diante das muralhas de Tróia”, pensou a deusa,
“então a sua salvação estará em jamais participar de tal campanha”.
♦♦♦
Aquiles está agora com dezessete anos de idade. O jovem já retornou à casa de seu pai, Peleu, e graças à sua precoce vocação para as armas é comandante do poderoso exército dos mirmidões, povo de bravos guerreiros oriundos da Tessália.
Há um grande burburinho e alvoroço em toda a corte. As notícias desencontradas fervem por todos os recantos da Ftia, indo desaguar no seu escoadouro natural: o palácio real, onde reinam os soberanos Peleu e Tétis.
— A notícia parece ser mesmo verdadeira — diz Peleu à sua apreensiva esposa. — O
troiano Páris, infringindo todas as regras da hospitalidade grega, raptou Helena, esposa de Menelau, em sua própria pátria!
O jovem Aquiles, um pouco afastado, mantém seus ouvidos atentos.
— As últimas notícias — ou boatos — dão conta de que todo o reino de Argos já está em pé de guerra, e que as tropas comandadas por Agamenon, irmão do ultrajado Menelau, estão prestes a partir para Áulis, onde os côncavos navios já as aguardam.
Tétis, desorientada, retira os pés argênteos de seu escabelo e põe-se em pé.
— Mas por que tanto alvoroço em nosso reino? — exclama a rainha. — Que parte devemos tomar nisto tudo, afinal?
— Já lhe expliquei mil vezes, Tétis, que há um pacto entre os diversos povos gregos —
replica Peleu, adivinhando a apreensão da esposa. — Desde que Helena dos belos olhos fora indicada para ser esposa de Menelau, todos os demais pretendentes ficaram obrigados a defender a sua honra, em qualquer circunstância.
— Então, sem dúvida, chegou esta circunstância! — bradou Aquiles, como quem está pronto para embarcar.
— Calado, menino! — gritou Tétis, que ainda não conseguia enxergar no jovem um homem pronto para as batalhas e para a própria morte.
Peleu fez um sinal ao filho para que se calasse, enquanto Tétis, com os olhos rasos de água, correu para os seus aposentos.
— Júpiter poderoso! — clamou ela, de mãos postas, ao chegar lá. — Faça com que meu querido Aquiles desista de participar desta funesta guerra.
Mas a deusa confiava ainda mais em sua argumentação; por isto mandou chamar imediatamente o filho ao seu quarto.
— Aquiles, é preciso que você saiba que há algo de muito terrível ligado a esta guerra —
disse Tétis, violentando-se para revelar algo que ocultara do filho a vida inteira.
— Não estou entendendo… — responde o jovem.
— Aquiles, se você for para Tróia, morrerá muito, muito cedo!
O jovem ficou pasmo, e seus lábios tremeram levemente quando falou:
— Quem lhe disse esta bobagem?
— Calcas, o adivinho — respondeu Tétis, com firmeza. — Você era muito pequeno e não podia entender. Mas agora chegou a hora de saber e de fugir ao seu destino.
Aquiles ficou abalado, pois sabia que os oráculos de Calcas eram infalíveis, e, apesar de valente e destemido, não tinha vontade alguma de morrer tão cedo.
— E o que a minha mãe sugere que eu faça para escapar de tão negro destino?
— Vou levá-lo, já, para a ilha de Ciros — disse Tétis, como quem já soubesse há muito o que fazer. — Já preveni anteriormente o rei Licomedes de que você irá se esconder em sua corte por algum tempo, até que esta guerra funesta se acabe.
Aquiles sentiu triunfar em si a vontade da vida, que era ainda mais forte do que o desejo de guerrear. Afinal, jovem como era, ainda teria muito tempo para provar o amargo, ainda que vibrante, sabor das batalhas.
Na noite do dia seguinte, Tétis levou o filho até o ancoradouro. Aquiles, no último grau do enrubescimento, ia vestido de… mulher! Sim, só havia um jeito de impedir que ele acabasse reconhecido em uma corte imensa como a de Ciros: introduzindo-o no harém do próprio rei.
— Mãe, isto é uma humilhação, uma infâmia… — disse o jovem, momentos antes de embarcar.
— Ninguém jamais saberá de nada, eu prometo! — respondeu a mãe, ajeitando o laço que prendia o delicado peplo ao ombro do rapaz. — Ali você viverá cercado pelas mais belas mulheres de toda a Grécia; que mais pode querer a sua virilidade? Mas, atenção: não permita jamais que o desejo por uma delas o faça revelar a sua real identidade, pois então estará perdido e o seu destino acabará sendo aquele que o velho Calcas vaticinou, o de perecer diante das muralhas da pérfida Tróia.
Aquiles, em seus trajes de mulher, partiu naquela mesma noite para Ciros e, depois de vários dias de viagem, chegou, finalmente, à corte do rei Licomedes.
♦♦♦
— Pirra, o que você tem, que parece tão aborrecida?
Deidâmia, filha de Licomedes, rei de Ciros, entrara nos aposentos onde estavam instaladas as mulheres e concubinas do seu poderoso pai.
Aquiles estava deitado sobre um pequeno leito; suas vestes, um pouco arrepanhadas, deixavam entrever um pedaço de sua perna direita, lisa e suavemente torneada. Os longos cabelos da cor do fogo — que ele já usava antes de ali chegar — haviam crescido ainda mais. Sua pele, após longos anos sendo tratada pelas essências mais suaves e balsamizantes, adquirira um tom claro e uma textura que fazia lembrar a do mais tenro pêssego da Arábia. Seus lábios, um pouco abertos, estavam mais rubros que o normal.
— Pirra, você está dormindo? — insistiu a bela Deidâmia, preocupada com sua melhor amiga, a bela Pirra dos rubros cabelos.
A filha do rei — como de resto ninguém, além do próprio Licomedes — não sabia ainda que a jovem Pirra, na verdade, era o jovem Aquiles, filho do valoroso Peleu, rei da Ftia. Mas por um instinto mais forte que tudo, Deidâmia sentia que a cada dia uma ligação cada vez mais forte a reunia àquela bela e estranha moça.
A princesa acariciou os cabelos rubros de Pirra. Aquiles-Pirra, voltando o rosto em outra direção, preferia não encarar a companheira. Também ele, a cada dia que passava, sentia-se mais e mais atraído pela suavíssima Deidâmia.
— Você está braba comigo? — perguntou a filha do rei.
Pirra levantou-se e foi procurar refúgio em outro canto da peça, numa cadeira comprida de espaldar. Deidâmia, aflita, correu atrás da amiga.
— Pirra, não fuja de mim, sua tola! — disse a jovem, enchendo a boca e o rosto da companheira com seus beijos.
Pirra colocou sua mão entre os lábios de Deidâmia e os seus próprios.
— Deidâmia, devemos evitar certos… certos contatos — disse Pirra.
— O que foi, por quê…? — disse Deidâmia, fazendo-se rubra como os cabelos da amiga.
— Minhas carícias a aborrecem?
— Bem, não é isto… — disse Pirra, tentando não ofendê-la.
— Meu hálito está ruim? — disse Deidâmia, brincando e assoprando no rosto da amiga o puro ar que saía de sua boca, perfumado pelas mais delicadas folhas aromáticas.
Mas a própria Deidâmia, apesar de tentar levar a coisa na brincadeira, sentia também que a afeição que ligava as duas amigas há muito transcendera o nível da simples amizade. De repente fez-se séria e resolveu, também, dar vazão às suas dúvidas.
— Pirra… Pirra… O que está acontecendo conosco, minha querida? — perguntou Deidâmia, de olhos assustados.
Era uma situação absolutamente nova e imprevisível aquela que as poucos ia tomando corpo diante de si.
— Já tinha ouvido falar de coisas assim, sabe… as histórias que contam sobre a ilha de Lesbos… e das coisas que se passam lá…
— Do que você está falando? — perguntou Pirra, voltando a cabeça.
— Sim, falo de afeições estranhas… entre amigas… Você me entende? Aquiles, novamente, sentiu um ímpeto de tomar a bela Deidâmia em seus
braços e esclarecer logo aquela torturante dúvida.
— Não, não há nada de estranho… — tentou consertar Pirra, a falsa donzela.
— Há sim, há sim… — disse Deidâmia, cobrindo o rosto com as mãos. — Não podemos mais fingir, Pirra querida… Oh, Vênus suprema, como meu pai iria encarar este absurdo? Mas eu não posso mais esconder o que sinto, não posso! Deidâmia havia tomado a cabeça da amiga e acariciava o seu rosto, sem saber que percorria com seus suaves dedos os traços do rosto de Aquiles. O jovem, então, não podendo mais suportar um desejo que reprimia há anos, tomou Deidâmia em seus braços e começou a beijá-la fervorosamente, no rosto, nos lábios, nos braços e no alvo colo.
— Pirra… Não, não, Pirra! — dizia Deidâmia, tentando esquivar-se da boca insaciável da amiga, sentindo ao mesmo tempo uma ternura e um desejo imensos de retribuir aquelas carícias proibidas.
Pirra começou a despir as vestes de Deidâmia, enquanto esta, assustada, sentia pela primeira vez a força insuspeitada dos braços do futuro guerreiro. Ao mesmo tempo, a filha do rei, não podendo mais resistir às carícias irrefreáveis da amiga, entregara-se àquele decreto das Parcas, ao mesmo tempo sinistro e delicioso. Suas mãos rasgaram, também, as vestes de Pirra dos rubros cabelos, mas ao perceber que a amiga nada tinha sobre o peito liso, estranhou. “Sempre me pareceu… oh!… que minha adorada Pirra… tivesse pouca abundância de seios…”, pensava ela, de maneira entrecortada, entre os ardores que Cupido lhe inspirava, “mas o que vejo agora… é que nada tem… como pode ser isto…?”
Aquiles, entretanto, retomando seus gestos masculinos, que sempre haviam estado guardados dentro de si, prosseguia, com fúria, no resgate de sua virilidade há tanto tempo afrontada. Assim estiveram, nus e se amando, até que Deidâmia teve a prova definitiva que desfez todas as suas culpas e tormentos.
— Pirra, querida… oh, você é um homem!
Aquiles ergueu-se, sorrindo, e ficou parado diante dela: seu orgulho viril estava, outra vez, estampado em seu rosto.
♦♦♦
Enquanto isso, em Argos, Agamenon, encarregado de chefiar a expedição que deveria resgatar Helena dos braços dos troianos, conversava com seu irmão Menelau.
— Calcas, o adivinho, esteve falando comigo ontem à noite — disse Agamenon, com o ar sombrio — e afirmou que há um oráculo infalível, o qual determina que Tróia de sólidos muros jamais será conquistada se Aquiles, filho de Peleu e de Tétis, não estiver combatendo lado a lado com nossos homens.
— Mas ninguém sabe por onde anda esse desgraçado! — disse o marido de Helena, quase gritando. — Peleu, rei de Ftia, perdeu o contato com seu filho, e Tétis refugiou-se junto a seu pai, Nereu, nas profundezas do mar. Ela simplesmente se recusa a dizer onde Aquiles está, pois diz que isto seria a sua perdição.
— Ela prefere, então, a perdição de todos nós? — bradou Agamenon, perdendo também a paciência. — Deseja ver o labéu infame da vergonha estendido sobre todos os povos gregos?
Neste instante adentraram o grande salão real Ulisses e Diomedes, dois dos mais importantes guerreiros destacados para a campanha de Tróia.
— Ulisses, o que descobriu? — perguntou Agamenon.
— Já sabemos onde ele está! — disse Diomedes, adiantando-se.
Por meio de fontes seguras, ambos haviam descoberto o paradeiro de Aquiles.
— Sabemos, no entanto, apenas isto: que ele está escondido no reino de Ciros.
— Então, hoje mesmo, vocês dois partem para lá — exclamou Menelau, que ansiava por ver seus navios lançados ao mar para recuperar sua amada esposa Helena dos belos traços.
Mal sabia que ainda teria de esperar dez longos anos de batalhas e cruéis sofrimentos para tê-la, outra vez, em seus braços.
♦♦♦
Ulisses e Diomedes chegaram à corte de Licomedes numa manhã clara e ensolarada.
Exaustos da viagem, ainda assim acorreram logo aos salões do rei de Ciros. Ali, em entrevista franca com o soberano, instaram com ele para que lhes revelasse o paradeiro de Aquiles, mas Licomedes, temeroso de faltar com a palavra dada a Tétis, e mais ainda da reação do jovem filho desta, preferiu ocultar o que sabia.
Diomedes, tomando-se de cólera, tentou obrigar o rei a dizer a verdade, e já ia sacando sua espada quando Ulisses travou o seu braço.
— Calma, Diomedes! — disse o astuto filho de Laertes. — Daremos um jeito de descobrir onde Aquiles se esconde; ao menos isto a hospitaleira generosidade de Licomedes não haverá de nos negar, não é?
O rei não teve outro jeito senão permitir que ficassem em seu reino e procurassem o jovem o quanto quisessem; não sabendo do segredo maior, jamais iriam achá-lo, pensava ele.
‘Aquiles em tudo é uma perfeita mulher… Não lhe tem faltado, na verdade, nem alguns pretendentes…”, pensou, com um sorriso divertido.
Aquiles, na verdade, já era pai de um garoto chamado Neoptolemo, filho de seus amores com a filha de Licomedes. Deidâmia fora afastada do convívio do amante após a descoberta de seu relacionamento e desde então vivia retirada com o filho numa casa afastada, no campo.
Ulisses e Diomedes andaram por tudo na grande cidade de Licomedes. Entretanto, por mais que pesquisassem e indagassem, andando pelos locais freqüentados pelos homens, não acharam nem sinal do jovem Aquiles.
— Estará no campo? — disse Diomedes, imaginando o quanto teriam de andar ainda para descobrir o esconderijo do filho de Peleu.
Mas o astuto Ulisses não respondeu à sugestão do companheiro; após observar um grupo de mulheres indo em direção ao palácio, seus olhos se iluminaram.
— Voltemos imediatamente ao palácio — disse ele, dando as costas ao surpreso Diomedes.
Ao chegar ao palácio real, Ulisses reuniu-se com alguns de seus homens e mais tarde comunicou ao rei que tinha alguns presentes para dar às mulheres da casa.
— Pirra, vamos! — disse uma das suas amigas, quase histérica. — Os belos estrangeiros vão distribuir presentes para nós todas.
Aquiles, que ainda permanecia com suas vestes femininas, acorreu junto com as amigas para ver o que estava acontecendo. Ao chegar ao grande salão, descobriu ao centro um grande tapete estendido repleto de roupas e jóias.
As jovens lançavam-se sobre os presentes como as pombas sobre o milho em um dia ensolarado. Gritos de alegria se misturavam a gritos de rancor, produto das amargas disputas pelas melhores peças.
— Vamos, Pirra, escolha logo algo para você! — disse-lhe a amiga, impaciente. Mas o jovem Aquiles não podia mais fingir interesse por nada daquilo que se esparramava à sua frente: vestidos, braceletes, brincos, colares — tudo isto lhe provocava uma repulsa cada vez maior desde que exercitara pela primeira vez a sua virilidade com a bela Deidâmia.
De repente, porém, Aquiles teve a sua atenção despertada por um brilho verdadeiro que viu faiscar em meio às dobras do grande tapete. Uma magnífica espada prateada dentro da sua bainha, lavrada com finos engastes, surgira em meio aos trapos e quinquilharias! Ao seu lado estava um belo escudo dourado, de cinco espessas camadas — as três primeiras de couro de boi, sobrepostas por uma de bronze e por cima de todas uma última, reforçada, de ouro — com sua correia de prata presa no interior. Aquiles, fascinado, viu surgir aos poucos o grande escudo, como um maravilhoso e redondo disco solar, enquanto as tolas moças retiravam rapidamente de cima dele os odiosos trapos e bijuterias. Como se isto não bastasse, ainda podia-se perceber magnificamente gravada sobre a faiscante face do escudo a cena de uma grande batalha: Júpiter, montado em seu carro, abatendo os gigantes de longas caudas serpenteantes.
Mas isto não era tudo: além do escudo e da espada, ainda havia uma couraça azul-ferrete
— que, sob a ação da luz, ora tomava um aspecto completamente negro, ora se anilava num azul escuro intensamente luminoso — e a última peça, um elmo prateado de estonteante beleza, que se ajustava perfeitamente às têmporas com duas douradas saliências laterais, encimado pelo penacho mais negro e mais sedoso já visto por um olho humano.
Aquiles teria ficado o dia inteiro ali, paralisado diante das armas nuas, se Ulisses — o homem das mil astúcias — não tivesse engenhado um último estratagema. Pois dali a pouco alguns homens seus do lado de fora do palácio começaram a bater espadas e escudos e a dar grandes brados de guerra:
— Às armas, valorosos guerreiros! — diziam as vozes, altaneiras. — Às armas, que o palácio inteiro está sob o ataque de cruéis invasores!
Aquiles, como quem desperta de um sonho, avançou para as armas e, após envergar a couraça e tomar da espada, correu em direção à porta do palácio.
— É ele, Ulisses, veja! — bradou Diomedes, tomando o braço do amigo. Ulisses, contudo, permanecia parado, com um sorriso tão satisfeito que nem mesmo suas barbas hirsutas podiam ocultá-lo.
Aquiles, aliviado, embarcou no mesmo dia para Argos. Ia ao encontro do destino irrevogável que as Parcas sinistras desde sempre lhe haviam prescrito.
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