Segundo a mitologia nórdica, no início dos tempos, existia um abismo chamado Ginnungagap. Próximo dele, estendia-se duas regiões, uma gelada e nebulosa com o nome de Niflheimr, e outra clara e resplandescente, denominada Múspell. Quando o gelo de Niflheimr caiu no abismo e derreteu, formou um gigante, Ymir, e uma vaca, Auðumla, que lambeu o gelo salgado. Conforme lambia, surgiam seres antropomórficas: os deuses Óðinn, Vile e Vé, que mataram o gigante Ymir. A partir deste cadáver, o trio de deuses formou toda a estrutura do universo conhecido, desde a abóbada do cosmos até os homens.
O mais poderoso deus do panteão germânico era Óðinn, chamado pelos germanos antigos de Wotan, e considerado o “pai dos deuses”. Ele era membro da família de deuses chamados de Æsir (ases), marido de Frigg e pai dos deuses Baldr, Bali, Höðr, Þórr, Týr e Váli. Óðinn era uma deidade assustadora, furiosa, violenta, cruel, cínica, enganadora, mas ao mesmo tempo, também era o inspirador das poesias e da magia. Era ele que presidia as batalhas, e do alto de seu trono (Hlíðskjálf) observava a tudo o que acontecia no universo. Possuía dois corvos, Huginn (pensamento) e Munninn (memória), que informavam sobre os acontecimentos do mundo. Possuía um caráter sacrificial: para beber na fonte de Mímir, trocou um de seus olhos; para obter o segredo das runas, se deixou enforcar e ser trespassado por uma lança. Óðinn cavalgava em um cavalo de oito patas (Sleipnir) e portava uma lança mágica (Gungnir). Na batalha final (Ragnarök) foi devorado pelo monstruoso lobo Fenrir.
A entidade mais popular da mitologia nórdica é Þórr, o deus do poder e da força, dos juramentos, do raio e relâmpago, chuvas e do tempo. Utilizando seu martelo (Mjöllnir), Þórr defende os humanos e os deuses dos poderes destrutivos dos gigantes. Também possui um cinturão mágico, que duplica sua força, e um par de luvas de ferro. Ela viaja com uma carruagem puxada por dois bodes.
Casado com Sif, a deusa dos cabelos de ouro. Muitas das façanhas de Þórr estão associadas com batalhas contra os gigantes ou monstros. Uma de suas mais famosas aventuras, é o momento em que foi pescar a serpente do mundo (Miðgardsormr), com ajuda do gigante Hymir. No momento em que o monstro fisgou a isca, o gigante apavorado, corta a linha e o monstro é libertado. Durante o Ragnarök, Þórr finalmente conseguirá matar Miðgardsormr, mas será fulminado pelo seu veneno.
A deusa mais famosa da Escandinávia paganista é Freyja, regente do amor, prazer sexual, casamento e fertilidade. Ela divide metade dos mortos com o deus
Óðinn. Nos mitos associados a ela, geralmente Freyja aparece com caraterísticas devassas. Para obter o colar Brísingamen, ela dormiu com cada um dos anões que o fabricaram. Loki acusou Freyja de ter dormido com quase todos os deuses, incluindo seu irmão Freyr. A deusa foi casada com o misterioso Óðr, e durante as suas frequentes ausências, Freyja chora lágrimas de ouro. Para viajar, utiliza uma carruagem puxada por gatos, ou se transforma em um falcão.
O líder da família de deuses Vanires é Freyr, filho de Njörðr, associado com a boa fertilidade, controle do sol e chuva e o frutificar da Terra. Ele é invocado para as boas colheitas e a paz. O simbolismo de seu caráter de fertilidade pode ser observado na história mítica de seu casamento com a gigante Gerðr (Terra).
A dinastia sueca Yngling dizia-se descendente desta união. Possuía um barco mágico ( Skíðblaðnir), que podia ficar de pequeno tamanho.
Týr é uma divindade associada com a guerra. Entre povos germânicos anteriores aos vikings, como os Saxões, o deus Týr (Tiwaz) era a principal divindade das batalhas, mas essa característica acabou sendo suplantada por Óðinn, durante a Era Viking. Na mitologia, era o mais bravo dos guerreiros: no momento que os ases tentaram prender o lobo Fenrir, chamaram Týr para que colocar seu braço direito na boca do monstro como garantia. Logo que percebeu a armadilha, Fenrir devorou o membro.
Baldr era o deus escandinavo identificado ao Sol, filho de Óðinn e Frigg. Em Ásgarðr, era reverenciado como um deus bondoso, formoso e muito popular. Na versão do mito registrada por Saxo Grammaticus, Baldr é morto por seu irmão Höðr, devido à rivalidade pela conquista de Nanna.
O mais enigmático dos deuses Aesires é Loki. Filho do gigante Fárbauti e de sua esposa Laufeia, era um deus inteligente, humorado, malicioso, enganador e completamente amoral.
Runas e símbolos vikings
As runas são os alfabetos dos povos germânicos, inventados a partir de 200 d.C. no norte da Europa. Inicialmente eram apenas textos simples e curtos.
Somente com o advento da Era Viking, as runas foram empregadas para textos longos, geralmente talhadas em suportes pétreos (estelas, monumentos funerários), madeira, ossos e couro. A partir da forma padrão do rúnico germânico (futhark antigo, com 24 sinais alfabéticos), os Vikings inventaram duas variações: as de rama longa (futhark dinamarquês) e o rama curta (futhark sueco), ambos de 16 sinais.
As runas eram empregadas para uso jurídico, comemorativo, genealógico e em algumas ocasiões, finalidades mágico-religiosas. Mas somente as pessoas ricas podiam pagar para que os mestres das runas erigissem, gravassem e muitas vezes, adornassem artisticamente as estelas rúnicas. A mais longa inscrição rúnica conhecida dos Vikings, é a runestone (estela com runas) de Rök, Suécia, com 4 metros de comprimento e 1.5m de altura. Possui cerca de 750 caracteres, escritos no século 9, em memória do filho de Varin. Em alguns locais de grande influência nórdica, inexplicavelmente não ocorrem registros rúnicos, como a Islândia e a Normandia.
O especialista britânico em epigrafia rúnica, Raymond Ian Page, recentemente problematizou algumas questões interessantes sobre a prática do mestre das runas (especialista na magia rúnica) e do gravador de runas: não sabemos como e em que circunstâncias eles eram treinados na escrita e na magia rúnica; quais as relações entre eles e o texto gravado nas pedras? Eles participavam da composição dos textos ou apenas eram pagos para gravar algo previamente estabelecido? Os pesquisadores ainda não tem respostas.
O significado da palavra (rúnar) já percebemos: saber secreto, segredos. Em muitos rituais, as runas eram gravadas enquanto eram recitadas fórmulas mágicas (galdr) e eram pintadas com o sangue de animais sacrificados (blóts).
Segundo a mitologia nórdica, Óðinn teria descoberto as runas, durante seu auto-sacrifício na árvore Yggdrasill. Como Óðinn também está associado à poesia e a magia, as runas acabaram tendo uma relação estreita com esses dois. As runas para adivinhação eram gravadas em pedaços de madeira (desde os tempos de Tácito), ossos e pedaços de pedra. Runas para proteção ou vitória em batalhas eram gravadas em espadas, como o sinal rúnico do deus Týr. Para uso profano e cotidiano, existiam até runas para obter os favores de alguma mulher, fertilidade e nascimento.
Vários símbolos não-rúnicos estavam relacionados com o pensamento religioso dos nórdicos. O mais importante de todos era o martelo de Þórr (mjöllnir: triturador), utilizado como símbolo de proteção, fertilidade, consagração de casamentos e nascimentos. Também era muito usado em forma de pingente-colar e símbolos de boa sorte. Muitas runestones apresentam gravações do desenho de mjöllnir, especialmente na Dinamarca.
Outro símbolo muito importante era a suástica (fylfot: muitos pés). Comum em várias culturas do mundo inteiro, surgiu na pré-história e se tornou tradicional no mundo germânico. Foi resgatado pelo nazismo no século XX, tornando-se um signo moderno relacionado com destruição e intolerância. No mundo Viking, era associado com o relâmpago e o movimento do martelo de Þórr, mas também de caráter solar, quando integrante de estelas funerárias.
O triskelion (conhecido no mundo escandinavo como trifot: três pés), é semelhante à suástica, mas de forma mais simples. Possui origem Celta e é relacionado com o Sol. Na Escandinávia medieval, era intimamente ligado aos cultos odínicos e a magia. Existem variações morfológicas, como em estelas da ilha de Gotland, onde o trifot aparece em forma de três animais entrelaçados, ou ainda, na união de três cornos de bebida. Foi muito comum na Ilha de Man.
Outros símbolos odínicos também possuem forma trina entrelaçada. O valknut (nó dos mortos) é o principal deles: um conjunto de três triângulos, utilizado em representações de sacrifícios humanos de sangue, aos rituais de morte e a simbolismos do Örlog (destino). A triqueta, de forma semelhante ao valknut, porém de traços circulares, é outros símbolo Viking de origem céltica. Aparece representada em runestones ao lado de Óðinn e gravada em trenós funerários. Os nórdicos o denominaram de Hrungnis hjarta (coração de Hrungnir). Segundo Régis Boyer, está relacionado com a batalha de Þórr e o gigante Hrungnir, narrada por Snorri Sturlusson, e representaria rituais específicos para a passagem da morte.
Um símbolo particularmente temido era o Ægishjálmarr (capacete de Aegir).
Utilizado para magia de poder e vitória, principalmente em batalhas. Aparece também em ogamstones (pedras de Ogam) da Irlanda e em vários países do norte europeu. Em uma passagem da Völsunga Saga, este símbolo confere especial poder de vitória para o dragão Fáfnir.
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