A Jornada do Herói, de Christopher Vogler

Christopher Vogler e a jornada do herói

Já ouviu falar da Jornada do Herói? Ok, e do autor dela? Não, não o Joseph Campbell… o outro cara!

Bora lá?

Christopher Vogler é um roteirista e consultor de histórias de Hollywood que, em 1992, publicou um livro intitulado “A Jornada do Escritor: Estruturas Míticas para Roteiristas e Narradores”. Nessa obra, Vogler apresenta uma teoria sobre a estrutura narrativa que é comum em muitas histórias populares, desde mitos antigos até filmes contemporâneos de sucesso. Essa estrutura é conhecida como a “jornada do herói” e se baseia em uma série de estágios que um personagem passa durante sua jornada.

A principal tese de Vogler sobre a jornada do herói é que essa estrutura narrativa é baseada em arquétipos universais que existem em todas as culturas humanas. Vogler argumenta que os seres humanos têm uma necessidade fundamental de histórias que nos ajudem a entender o mundo e a nossa própria existência. As histórias que mais nos atraem são aquelas que tocam em temas universais, como o amor, a morte, a busca pelo sentido da vida, a luta contra o mal e a superação de desafios.

De acordo com a teoria de Vogler, a jornada do herói é uma estrutura narrativa que reflete os desafios e transformações que todos nós enfrentamos em nossas próprias vidas. A jornada do herói começa com o chamado à aventura, quando o protagonista é convocado a sair de sua zona de conforto e embarcar em uma jornada. Esse chamado pode vir de uma variedade de fontes, como um mentor, uma figura divina ou uma crise pessoal.

Em seguida, o herói passa por uma série de desafios e provações, que o forçam a crescer e evoluir como pessoa. Esses desafios podem incluir batalhas físicas, provas de habilidade, enfrentamentos com vilões e momentos de autodescoberta. Em muitas histórias, o herói também recebe ajuda de aliados e mentores, que o orientam e o apoiam em sua jornada.

Ao longo da jornada, o herói deve enfrentar seus medos e superar suas limitações pessoais. Isso é simbolizado pelo confronto com o vilão, que representa a encarnação do mal e dos medos do herói. Se o herói conseguir superar esse obstáculo, ele se torna um novo ser, mais forte e mais sábio do que antes.

Por fim, o herói retorna ao seu mundo normal, levando consigo as lições que aprendeu em sua jornada. Essas lições podem incluir a importância da coragem, da perseverança, da humildade e do amor. Em muitas histórias, o herói é recompensado por suas provações com um tesouro ou um reconhecimento público, mas o verdadeiro prêmio é a transformação pessoal que ele sofreu.

Em resumo, a tese de Christopher Vogler sobre a jornada do herói é que essa estrutura narrativa reflete arquétipos universais e as transformações que todos nós enfrentamos em nossas vidas. A jornada do herói é uma história de transformação pessoal, que envolve enfrentar desafios, superar medos e limitações pessoais, e retornar ao mundo normal como um novo ser, mais forte e mais sábio. Essa estrutura narrativa é comum em muitas histórias populares, desde mitos antigos até filmes contemporâneos de sucesso, porque toca em temas universais que atraem e ressoam com os seres humanos.

No entanto, é importante lembrar que a jornada do herói não é uma fórmula rígida que deve ser seguida à risca. Cada história é única e pode ser adaptada de várias maneiras, dependendo do gênero, do tom e dos personagens. O importante é que a estrutura narrativa reflita as transformações pessoais do protagonista e toque em temas universais que ressoem com o público.

Além disso, a teoria de Vogler sobre a jornada do herói também pode ser aplicada a outras áreas além do cinema e da literatura. Por exemplo, muitos psicólogos e terapeutas utilizam a estrutura da jornada do herói para ajudar as pessoas a enfrentar desafios pessoais e a superar medos e limitações. A jornada do herói, portanto, é uma estrutura narrativa poderosa que tem aplicações em várias áreas da vida humana.


Confira, a seguir, cada um deles e a sua importância na construção de um storytelling.

1. O Mundo Comum

É o ponto de partida de qualquer narrativa que se baseia na jornada do herói.

Aqui, a história começa a ser contada e passa a se conhecer um pouco mais da vida do protagonista.

As relações pessoais do personagem principal são detalhadas, bem como o contexto em que ele vive e as suas características mais marcantes.

A ideia é mostrar que ele é “gente como a gente”, um ser humano dotado de pontos fortes e fracos, como qualquer outro.

Assim, os espectadores conseguem encontrar semelhanças com o herói, o que gera um sentimento de identificação.

No exemplo da saga Harry Potter, essa fase pode ser comparada aos momentos em que o protagonista ainda não foi à escola de Hogwarts e vive uma vida pacata com seus tios.

2. O Chamado À Aventura

A vida tranquila e normal do protagonista começa a dar uma guinada e uma perspectiva de novos desafios surge no horizonte.

Essas aventuras podem se manifestar das mais variadas formas e, não necessariamente, representam um episódio espetacular.

Uma interpretação desse estágio é de que não precisa ocorrer nada de tão revolucionário para fazer com que a gente se mova.

Situações novas e que permitem que experimentemos algo de diferente já é um exemplo nesse sentido.

Na saga do bruxo famoso, essa etapa pode ser representada quando Harry Potter recebe a carta para ingressar na escola de magia.

3. Recusa Do Chamado

Nem todo mundo está pronto para encarar um desafio quando ele chega.

Isso pode acontecer por medo, insegurança ou outras questões existenciais que podem atrapalhar e causar bloqueios que nos afastem dos nossos objetivos em um primeiro momento.

É mais uma amostra de que o herói é um ser de carne e osso, que também tem fraquezas como as pessoas comuns.

O grande ponto aqui é manter esse chamado em perspectiva e não esquecê-lo. Um dia, as ferramentas estarão disponíveis para superar o conflito.

Harry Potter “foge” do seu chamado de enfrentar os dementadores e mesmo Voldemort durante muito tempo.

Só depois que ele amadurece e se livra de traumas passados é que ele consegue alcançar o objetivo.

4. Encontro Com O Mentor

O herói, apesar do seu protagonismo, nunca está sozinho para encarar os desafios.

Especialmente nos momentos de indecisão e incertezas, sempre aparece alguém para dar aquela força extra.

Essa ajuda pode ocorrer na forma de dicas, conselhos, ensinamentos e experiência de vida, com o propósito de desenvolver a autoconfiança necessária para que o personagem principal encare a sua missão.

É possível, inclusive, que, na jornada do herói, exista mais de um mentor.

Em Harry Potter, por exemplo, essas figuras são representadas por Dumbledore, Hagrid, Sirius Black, entre outros, que são importantes em momentos distintos da trama.

5. A Travessia Do Primeiro Limiar

A aventura propriamente dita tem início e o herói começa a se sentir desafiado pelo desconhecido.

Aquele mundo confortável que ele domina dá lugar a um cenário de incertezas e ele precisa se adaptar à nova realidade.

Nenhum protagonista nasce pronto. Ele evolui com o passar do tempo a partir das adversidades que se impõem.

Além disso, é necessário estar sempre aberto a novas experiências e aprendizados.

Derrotas podem acontecer em um primeiro momento, mas o segredo é perseverar e nunca desistir.

Ir, de fato, a Hogwarts e começar a se descobrir enquanto bruxo é a quebra desse paradigma em Harry Potter: uma travessia repleta de altos e baixos.

6. Provas, Aliados E Inimigos

Dificuldades mostram com quem se pode contar e quem são seus rivais. Na jornada do herói, essa dualidade é bastante reforçada.

À medida que o tempo vai passando, o protagonista vai enfrentando desafios e os vence com a ajuda de aliados.

Da mesma forma, os inimigos também exercem um papel importante, pois preparam o herói para a superação e o enfrentamento de problemas cada vez maiores.

Harry Potter tem ao seu lado amigos inseparáveis, como Rony e Hermione, mas também inimigos perigosos como a família Malfoy e, principalmente, Voldemort.

7. Aproximação Da Caverna Oculta

É o recuo estratégico antes de um grande desafio.

Por um momento, o herói retoma certos pensamentos antigos e volta a duvidar da sua capacidade.

Costuma ser uma fase mais introspectiva do protagonista, em que ele se vê impactado por questões existenciais.

Muitas vezes, o personagem principal recorre a um esconderijo afastado para ter um tempo sozinho e refletir sobre as razões de ter aceitado o chamado.

Ou seja, é uma etapa para colocar a cabeça no lugar e se preparar para o grande momento.

Em Harry Potter, existem vários períodos assim.

Normalmente, eles acontecem na época de férias de Hogwarts, em que o bruxo deixa a magia um pouco de lado.

8. A Provação

Trata-se da adversidade mais grave que o herói passa até o presente momento.

Essa provação serve para que ele seja desafiado ao extremo, uma experiência de quase morte, mas acompanhada de redenção.

Para vencer essa batalha, o protagonista precisa reunir forças de sabe-se lá de onde. Toda a sua bagagem trazida será necessária para superar esse desafio.

Esse teste pode ser um dilema moral, uma batalha interior ou literalmente um embate físico contra algum inimigo importante.

Em Harry Potter, essa etapa pode ser vivenciada na disputa entre o protagonista e Rony, seu melhor amigo, em Relíquias da Morte.

Na ocasião, o bruxo ruivo, influenciado pelo colar-horcrux, perde a confiança na missão e abandona os amigos.

9. A Recompensa

Depois de passar pela provação, vem a recompensa.

O herói sai, de certa forma, fortalecido da situação e se torna um protagonista ainda mais preparado.

Essa etapa pode se manifestar de diferentes maneiras, como a aquisição de novos poderes, conhecimentos e experiências ou menos a reconciliação com alguém.

O último cenário, inclusive, é o que ocorre com Harry Potter, que, depois da briga com Rony, tem a sua vida salva pelo melhor amigo e o fortalecimento dos seus laços retomados.

10. O Caminho De Volta

É natural depois de tantos desafios bem-sucedidos bater aquela sensação de dever cumprido.

Aqui, como acontece na etapa de “aproximação da caverna oculta”, é uma fase de muita reflexão e preparação.

O momento é de decidir se está na hora de voltar para casa e privilegiar o lado pessoal ou se manter ligado para eventuais problemas coletivos.

Mesmo que a tentação do primeiro seja grande, sabemos que o dever do herói sempre fala mais alto e ele acaba optando por proteger os demais.

Em Harry Potter, essa fase pode ser descrita com toda a preparação do protagonista, junto com seus aliados, para que ele consiga retornar a Hogwarts e lutar contra Voldemort.

11. A Ressurreição

É o clímax da jornada do herói, o conflito que todos estavam esperando: a batalha derradeira entre o mocinho e o vilão.

No entanto, ao contrário da fase da “provação”, aqui, não é apenas a vida do protagonista que está em jogo, mas a de toda a civilização.

Por isso, a responsabilidade é muito maior.

Diante da vitória do bem, acontece uma espécie de ressurreição do personagem principal, além do renascimento de uma vida completamente nova para todos à sua volta.

Como não poderia deixar de ser, essa etapa é representada pela luta final entre Harry Potter e Voldemort na saga do bruxo.

12. O Retorno Com O Elixir

O fim está próximo e junto com ele a consagração do herói.

A última etapa é marcada pelo retorno do protagonista ao seu local de origem e a punição de todos aqueles que lutaram contra ele.

A certeza de que nada será como antes e que os seus feitos jamais serão esquecidos também são marcas dessa fase.

Harry Potter se casando com Gina, irmã de Rony, e a constituição de uma nova família de bruxos, sem a presença nefasta de Voldemort, é um exemplo de “retorno com o elixir”.