A Frígia e o Nó Górdio – Mitologia Grega

Os gregos adoravam inventar histórias sobre fundadores de cidades. A dádiva do azeite para os atenienses e a criação de Erecteu (a questão do pano ensopado com o sêmen de Hefesto, você deve lembrar) para ser fundador da cidade parece ter ajudado a promover os sentidos deles mesmos. A história de Cadmo e dos dentes do dragão fez a mesma coisa com os tebanos. Algumas vezes, como é o caso da fundação da cidade de Górdium, elementos da história podem passar de mito para lenda para história verdadeira, identificável.

Na Macedônia vivia um camponês pobre, mas ambicioso, chamado GÓRDIAS. Um dia, enquanto ele labutava em seus campos estéreis, pedregosos, uma águia aterrissou no fueiro de seu carro de bois e fixou nele um olhar feroz.

— Eu sabia! — Górdias disse para si mesmo. — Sempre achei que eu estava marcado para a grandeza. Essa águia vem provar isso. Tenho um destino.

Ergueu o arado e conduziu o boi e o carro durante muitas centenas de quilômetros na direção do oráculo de Zeus Sabázios. Enquanto Górdias prosseguia com dificuldade, a águia ia com suas garras bem fincadas no fueiro, sem sequer piscar, não importando a violência com que o carro caísse nos buracos e balançasse nas pedras.

No caminho, Górdias encontrou uma jovem garota telmissiana, dotada em igual medida de grandes poderes proféticos e de uma atraente beleza, que tocaram o seu coração. Ela parecia o estar esperando e insistiu para que ele se apressasse e fosse imediatamente para Telmissus, onde deveria sacrificar seu boi a Zeus Sabázios. Górdias, animado com a convergência de todas as suas esperanças, resolveu obedecer ao conselho, desde que ela concordasse em se casar com ele. Ela inclinou a cabeça, assentindo, e eles partiram para a cidade.

Aconteceu que, naquele exato momento, o rei da Frígia tinha acabado de morrer, em sua cama. Como ele não deixara herdeiros ou sucessor óbvio, o povo de sua capital se apressou para o santuário de Zeus Sabázios para descobrir o que deveria ser feito. O oráculo disse para eles ungirem e coroarem o primeiro homem a entrar na cidade numa carroça. Então, foi assim que os moradores estavam agrupados excitadamente em torno dos portões no exato momento em que Górdias e sua profetisa chegaram. A águia voou de seu poleiro com um grande grito quando eles cruzaram a soleira. O populacho atirou os bonés para cima e aplaudiu até ficar rouco.

Em pouquíssimo tempo, Górdias tinha ido de uma vida solitária ralando na poeira da Macedônia a se casar com uma linda vidente telmissiana e ser coroado rei da Frígia. Traçou planos para reconstruir a cidade (à qual ele, sem qualquer modéstia, deu o nome de Górdium em sua própria homenagem) e se estabeleceu para reinar sobre a Frígia e viver feliz para sempre. O que ele fez. Algumas vezes, até no mundo da mitologia grega, as coisas dão certo.

O carro de boi se tornou uma relíquia santificada, um símbolo do divino direito de governar dado a Górdias. Um poste esculpido, com o corniso polido, foi colocado na ágora e a canga do carro foi amarrada a ele com uma corda atada com o nó mais intrincado que o mundo já vira. Górdias resolvera que o carro jamais seria roubado da praça. Surgiu a lenda, daquele modo misterioso e inimputável como surgem as lendas, de que quem conseguisse desatar esse nó diabólico, um dia, governaria a Ásia. Muitos tentaram – mestres marinheiros, matemáticos, fabricantes de brinquedos, artistas, artesãos, trapaceiros, filósofos e crianças ambiciosas, mas ninguém sequer conseguiu começar a desfazer suas elaboradas alças, laçadas e torções embaralhados.

O grande nó górdio ficou sem solução durante mais de mil anos, até que um jovem rei macedônio, conquistador, temerário e brilhante, chamado Alexandre, entrou na cidade com seu exército. Quando soube da lenda do nó, deu uma olhada no grande emaranhado de corda, ergueu a espada e deu um golpe, cortando o nó górdio e ganhando elogios encantados de sua própria geração e das futuras.

Enquanto isso, voltando no tempo, o filho de Górdias, príncipe Midas, cresceu e se tornou um jovem amistoso, alegre, amado e admirado por todos os que o conheceram.