RESUMO DO NÚCLEO
Com base em alguns acontecimentos históricos, construiremos tudo o que precisarmos para o uso que será feito das civilizações nórdicas. Este núcleo resume-se à construção detalhada do pano de fundo de um período que vai de 350 até depois do ano 1000, envolvendo os povos celtas e teutões, e também o surgimento dos vikings, assim como toda a sua religião e mitologia.
Outros itens da mitologia nórdica já estão sendo adaptadas para Anthares e você pode conferir neste link.
A HISTÓRIA
Com o declínio e a desintegração do Império Romano (350 – 550 d.C.), inicia-se um período histórico conhecido como “Migração”, no qual tribos celtas e teutônicas se deslocaram para o oeste e o norte da Europa, disseminando seus cultos, símbolos e mitos. Floresce o culto a Wodan – ou Odin -, o poderoso deus da guerra e da morte, patrono da inspiração poética e da magia. Trata-se de um período de lutas e conquistas, enaltecidas e louvadas em sagas (histórias) e canções. Os teutões viviam em pequenas tribos guerreiras, chefiadas por aristocratas, na busca constante por novas terras para conquistar ou saquear. Eles tinham orgulho das façanhas de seus reis e guerreiros, eram corajosos e leais com os chefes e companheiros, respeitavam suas mulheres e valorizavam as leis tradicionais atribuídas às divindades que veneravam. Essas deidades eram aquelas que regiam as batalhas, garantindo a vitória em troca de sacrifícios de sangue e oferendas de armas e joias, bem como aquelas que regiam os fenômenos celestes (raio, trovão, tempestade, chuva e neve) ou propiciavam a prosperidade das colheitas e das comunidades.
Eles reverenciavam também, ATENÇÃO, o Mundo Subterrâneo, morada de gigantes e monstros, e abrigo das almas dos ancestrais, temido pelas forças desconhecidas que era capaz de desencadear. Em Anthares, obviamente, estamos falando da Contenção de Rohä e a assimilação (adaptada e distorcida) que foi feita pelos nórdicos.
A realidade desses povos era permanentemente obscurecida por guerras, saques e mortes, ameaçada por tempestades, ondas gigantes, invernos longos e gelados, granizo e inundações, mas também alegrada por festas, comemorações e uma permanente admiração pela beleza — da Natureza e das mulheres. Por isso, sua visão do mundo divino e sobre natural era permeada pelos reflexos da sua realidade cotidiana extremamente dicotômica, da eterna dança de luz e sombra, verão e inverno, vida e morte.
Ao final das migrações (séculos VI e VII), após longa resistência, os alemães continentais e os anglo-saxões foram vencidos. Sua fúria não foi suficiente, sua religião provou-se insuficiente. E, finalmente, foram convertidos ao cristianismo. Na Escandinávia, no entanto, os cultos pagãos resistiram ainda por mais alguns séculos, florescendo ao longo de todo o período viking (792—1066 d.C.). A maioria das inscrições rúnicas data dessa época, bem como alguns tesouros de arte sacra, como os valiosos chifres de Gallehus — confeccionados em ouro maciço e gravados com cenas de mitos — encontrados em um pântano na Dinamarca, e um grande colar de ouro, de cinco voltas, ornamentado com intrincados berloques e figuras de homens e animais. O famoso caldeirão de Gündestrup, de nítida influência celta, também foi encontrado na Dinamarca, mas sua confecção é anterior aos vikings. Inspirados pela arte romana, artesãos escandinavos começaram a confeccionar medalhões de ouro — chamados bracteatas —, que eram gravados com runas, figuras míticas e símbolos sagrados, e usados como talismãs de poder e proteção.
À medida que os guerreiros vikings se aventuravam para longe da sua pátria, em busca de comércio, conquistas e pirataria, eles também levavam consigo crenças, mitos e costumes, e os transmitiam àqueles que venciam. Ao mesmo tempo, eles assimilaram alguns hábitos cristãos e passaram a usar o martelo de Thor à guisa de crucifixo, a erguer pedras funerárias com inscrições rúnicas e a construir templos pagãos de madeira, a exemplo das igrejas cristãs.
Em contra partida, ao entrarem em contato com as tribos sanguinárias das estepes russas, os vikings aumentaram os sacrifícios feitos para os deuses (principalmente Odin, Thor e Tyr) e substituíram os animais por seres humanos — prisioneiros e escravos. Embora alguns episódios possam ser verídicos, devemos nos lembrar de que os relatos macabros que descreviam a fúria assassina dos vikings eram feitos por monges cristãos, que possivelmente omitiram ou desconheciam significados mais específicos dos cultos pagãos. Diga-se de passagem, o termo latino paganus designava população rural que continuava a cultuar as antigas divindades. Os termos heathen (inglês) e heiden (alemão), que significavam “oculto, escondido”, passaram a ser sinônimos de “pagão” no sentido pejorativo da palavra, identificando um herege perigoso para a doutrina cristã.
Os poucos testemunhos escritos do período pagão consistem em curtas inscrições rúnicas sobre metal, pedra e osso, redigidas de forma abreviada ou criptográfica, com alusões a seres míticos, encantamentos, maldições ou elogios aos heróis mortos em combates.
As evidências de cultos antigos pré-cristãos provêm principalmente dos achados arqueológicos, dos nomes dos lugares e das crenças a eles ligados, dos costumes folclóricos e dos poemas e narrativas colecionadas por historiadores, poetas e etnógrafos. Destes, devemos citar o dinamarquês Saxo Grammaticus e o islandês Snorri Sturluson.
INFORMAÇÕES EXTRAS
Snorri Sturluson (1179—1241), poeta e historiador brilhante, escreveu um compêndio sobre os mitos nórdicos como orientação aos futuros poetas, fazendo referências exatas a nomes e fatos. Apesar de cristão, Snorri compilou lendas e histórias com muita dedicação, formando uma coletânea chamada Prose Edda (posteriormente denominada Younger Edda) e algumas sagas.
Em 1643, na Islândia, em uma antiga fazenda em ruínas, foi encontrado um manuscrito atribuído ao sacerdote e mago islandês Saemundr, “o Sábio”, possivelmente escrito no século XIV. Constituído de poemas e relatos mitológicos, ele passou a ser conhecido como o Codex Regius, ou Poetic (Elder) Edda, principal fonte de informação dos estudiosos atuais.
As sagas islandesas (contos da original tradição oral), escritas nos séculos XIII e XIV, preservaram muito da riqueza pagã, apesar dos acréscimos, omissões ou interpretações posteriores, feitas pelos tradutores.
Com o passar dos tempos, o interesse pelo passado religioso pré-cristão foi gradualmente diminuindo. Foi somente no século XIX, com o movimento nacionalista alemão, que foi despertada a curiosidade popular pela herança ancestral. Os livros de contos de fadas dos ir mãos Grimm e as óperas de Richard Wagner, inspiradas nas tradições nórdicas e germânicas, ofereceram contribuições importantes para o aparecimento de grupos místicos e seitas ocultistas. Inicialmente interessadas na divulgação dos mitos e dos símbolos mágicos do passado, culminaram, como visto, com o uso da sabedoria sagrada do passado feito pelo nazismo.
É bizarro, mas atualmente vários grupos de estudo odinistas e Asatrú estão reavivando, em alguns poucos países, o paganismo germânico, apresentado como um movimento ecológico (pois é) empenhado em divulgar e honrar a sacralidade das forças da Natureza e os arquétipos divinos a elas associados.
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