Vikings: Origem e Contexto Histórico

Os Vikings constituem os mais famosos guerreiros da Idade Média. Seu nome está associado a povos implacáveis e temíveis, sedentos por sangue e batalhas. Mas na realidade, os nórdicos medievais foram muito mais do que apenas piratas e saqueadores. Formaram uma civilização sofisticada e complexa, que interferiu com o rumo da História europeia e deixou marcas profundas no Ocidente.

Este é um artigo completo sobre os Vikings, sua origem, contexto histórico, classes sociais, regras sociais, família, educação, suas embarcações e a tecnologia náutica, seus guerreiros e equipamentos, e ainda suas técnicas de batalha.

Qual a origem desses guerreiros?

1. A Origem

A palavra Viking provém do nórdico antigo víkingr, e era utilizado para designar os piratas, aventureiros e mercenários que navegavam para outras regiões. Nenhum escandinavo chamava a si próprio de Viking. A partir do século XVIII, o termo passou a ser sinônimo para todos os habitantes da Escandinávia medieval e hoje é utilizado pela maioria dos acadêmicos. Cronologicamente, os nórdicos que recebem essa alcunha viveram entre 793 a 1066 d.C, a divisão clássica da Era Viking.

Os escandinavos pertencem aos chamados povos germânicos, uma classificação que leva em conta a linguagem e certos aspectos culturais básicos, como a mitologia. E os germanos fazem parte de uma grande leva migratória denominada de Indo-europeus (do qual fazem parte também os celtas, eslavos e gregos).

O início do povoamento indo-europeu na Escandinávia se deu entre 8.000 a.C.

Os primitivos ocupantes a partir de 4.000 eram povos nômades, agricultores e criadores de gado. A primeira grande revolução social se deu somente com a introdução do ferro na Escandinávia, em meados do primeiro milênio antes de Cristo. Antes do advento da Era Viking, houve um período conhecido como Vendel (séc. VII-VIII d.C.), que já atestava a existência de ricos túmulos de reis e guerreiros, poderosas dinastias e imensas fortificações como Danervike.

A Era Viking tradicionalmente começa com o célebre ataque ao mosteiro de Lindisfarne, Inglaterra, em 793 d.C. A maioria das incursões dos escandinavos nesse período era totalmente predatória, atos isolados de pirataria nas costas europeias. Qual a causa desses ataques? Porque os escandinavos a partir desse momento saíram de seu isolamento? Os especialistas pensam em algumas hipóteses, indo desde a superpopulação (e falta de alimento ou subsistência), divergências legais internas, diferenças sociais e condições mercantis. Também temos que levar em conta que a tecnologia náutica dos povos nórdicos, durante esse período, estava em seu auge, permitindo tanto as incursões quanto ao processo de colonização em localidades distantes. Muitos líderes escandinavos foram expulsos de suas comunidades. Disputas internas pelo poder, cada vez mais centralizado (e que ocasionou a formação de impérios unificados no final da Era Viking), ocasionaram graves conflitos armados, sugerindo outra possibilidade para explicar a expansão Viking pelo mundo ocidental.

Atualmente, o comércio é apontado como um fator primordial da expansão dos nórdicos pelo mundo, somado às possibilidades de bons furtos e fornecimento de provisões, todas possibilidades decorrentes de rotas específicas de navegação abertas pelos primeiros piratas Vikings.

A Escandinávia do período era constituída por três reinos, ainda sem estrutura centralizada. O da Dinamarca é o mais conhecido atualmente. Em 800 d.C., os Danis criaram um reinado que inclui a moderna Dinamarca, parte da Alemanha e as províncias de Skåne e Halland. A maior preocupação dos Danis era se protegerem do expansionismo dos Francos. No início da Era Viking, constituía-se politicamente no mais avançados dos povos escandinavos. Mas durante o séc.

IX, esse reino foi sucessivamente dividido e entrou em colapso. A Noruega era fragmentada em pequenos reinos com identidade regionalizada. Na Suécia viviam os Svíar e na região báltica os Götar. Entre 890, o rei Svíar possuía um reino que se estendia da ilha de Gotland até o centro da Suécia.

A História dos povos nórdicos é dividida em duas Eras separadas. A primeira Era Viking (séc. IX-X) teve início com os saques e incursões hostis, mas também povoações foram criadas nas ilhas britânicas e Irlanda. O auge desse período foram a colonização da Islândia (860), as primeiras incursões no Mediterrâneo (859) e o estabelecimento do principado de Kiev (860). A Segunda Era Viking (séc. X-XI) foi inicialmente marcada pelo fortalecimento das dinastias permanentes e poderosas na Escandinávia e a lenta aceitação do cristianismo. O rei Cnut conquista a Inglaterra e consolida um império efêmero em todo o mar norte (incluindo também a Dinamarca, Noruega e Suécia). No Oeste, houve a colonização do Atlântico Norte, com colônias na Groenlândia e Canadá. O fim do período Viking em todo o mundo Ocidental coincide com a passagem do paganismo para o cristianismo. Um escandinavo deixava de ser Viking quando tornava-se cristão. A conversão definitiva da Islândia (1000) e a batalha de Hastings (1066), tornaram-se os marcos principais do desfecho da mais empolgante fase da história nórdica.

2. As classes sociais

A sociedade Viking era muito estratificada. Dentro de cada região da Escandinávia, havia uma estrita hierarquia com um chefe ou rei no comando e uma aristocracia que servia de apoio ao seu poder. Abaixo, estavam os fazendeiros, comerciantes e pescadores. No estrato mais inferior, os escravos.

Juridicamente, só existiam os homens livres e os não-livres (escravos), sendo que os primeiros eram protegidos pela lei e podiam participar das Things (assembleias). A estrutura social não era rígida, assim, um escravo poderia adquirir liberdade, assim como um fazendeiro poderia se tornar um nobre.

O rei (konungr) era basicamente um chefe militar, religioso e administrador que garante a paz no seu território. Seguindo a velha tradição germânica, o rei era o primeiro entre seus iguais. No início da Era Viking, quando toda a Escandinávia era dividida em muitos clãs, um chefe local tornou-se rei apenas porque foi nomeado por outros chefes nas assembleias. Nos últimos momentos da Era Viking, a monarquia se transforma em um instrumento mais poderoso, unificador e centralizador, e a herança tornou-se regra, ao invés da nomeação.

Mas se o poder real era hereditário nesse momento, a sucessão de pai para filho não era garantida. Assim, outro membro da família poderia disputar a sucessão, originando violentos conflitos. Reis e rainhas eram enterrados com grande ostentação. A fonte de toda essa riqueza, no início da Era Viking, era a posse das terras, nos produtos e impostos pagos pelos trabalhadores. Com a crescente complexidade da sociedade, as receitas reais começaram a ser adquiridas com impostos mercantis e alfandegários. A cunhagem de moedas foi uma típica atividade demonstradora de poder político e econômico, por parte da realeza nórdica.

A classe dos nobres ( jarls), formava a base da aristocracia, que também era hereditária. Todas as propriedades, família e bens legais passavam para o filho mais velho. Esta classe exercia uma influência muito grande nas assembleias regionais. Eram os constituidores do principal suporte militar de uma comunidade. Formavam a base dos chamados chefes locais ( lendrmadr, na Islândia eram chamados de godhar), que exerciam autoridade em nome do rei.

Em algumas regiões, como a Noruega, o poder dos jarls era tão grande que dificultou a formação de um reino unificado. Os jarls exibiam sua condição privilegiada através da qualidade superior de suas vestimentas, joias e armas. Os homens usavam mantos finos de lã, presos aos ombros por sofisticados broches, cobrindo túnicas muito belas. As espadas possuíam um fino acabamento nos

punhos. Suas damas ostentavam broches, colares e braceletes de prata e ouro. Os vestidos ( vadmal) eram tingidos por corantes caros, com motivos, plissadas e bordados muitos sofisticados. O principal traje feminino era uma única túnica fina, comprida ou curta.

A classe mais numerosa da Escandinávia Viking era a dos karls, todos os nórdicos que não eram escravos e nem nobres. Podiam possuir e usar armas, assistir e falar no Thing. A maioria dos karls eram granjeiros ou fazendeiros, chamados de bóndis. Mas haviam também os pescadores, comerciantes, construtores de navios, ferreiros, artífices, carpinteiros, etc. Os bóndi podiam também ser muito ricos, devido à quantidade de terras, escravos e ao controle total de suas propriedades, ao contrário do feudalismo reinante na Europa da época. Outra forma de reafirmar seu prestígio eram as alianças com os jarls. A classe dos karls servia como reserva de combatentes dos exércitos reais, convocados em época de grandes conflitos ou invasões estrangeiras.

Os escravos tinham o nome de thrall e eram fundamentais para a economia .

Executavam os trabalhos menos valorizados e não possuíam mais direitos do que um cavalo ou um cão, pois pela lei, eram propriedades. Seus donos tinham poder de vida e morte sobre eles, e até o advento do cristianismo, matar um escravo não era considerado crime, especialmente as mulheres (muitas das quais eram oferecidas a sacrifícios religiosos). A escravidão podia ser uma pena imposta para pessoas capturadas em outros países, punições para certos crimes, pagamento de dívidas ou, simplesmente, pessoas nascidas em servidão, pois ela também era hereditária. Alguns homens livres podiam ser convertidos em escravos por dívidas, e após o saldo desta, voltavam a ser livres novamente.

Praticamente em todas as propriedades escandinavas existiam servos e escravos.

Os escravos podiam comprar sua liberdade, mediante cultivo de lotes de terra concedidos por seus proprietários. Não existem indícios arqueológicos de sepultamento de escravos. Possivelmente, após a sua morte, o corpo do escravo era simplesmente desfeito sem qualquer cerimônia. Um dos grandes entrepostos Vikings para vendas de escravos foi na região do Volga, e eles serviam como mercadoria de troca para o comércio com o califado abássida de Bagdá. A instituição da escravidão desapareceu da Escandinávia entre os séculos 12 e 14 de nossa Era.

3. Regras sociais, família, educação A família era o núcleo social mais importante do mundo nórdico. Decisões familiares muitas vezes eram mais importantes até do que as individuais.

Também ocorriam com frequência rivalidades entre famílias, algumas resolvidas no Thing, outras em duelos combinados. Ou então, após o pagamento de uma multa pela parte culpada (pago em público), ou o uso do ordálio (prova por meio da dor física, onde o resultado é considerado de caráter sobrenatural). Todos os escandinavos dependiam de sua família para obter alimentos, abrigo, companhia e principalmente, proteção e vinganças.

A noção de família ( fjolskylda) era diferente da moderna: numa mesma casa, moravam os avós, pai, mãe, irmãos e primos do pai, crianças e os escravos.

Todas as pessoas de uma família comiam, dormiam, trabalhavam e cozinhavam dentro das residências, em um único aposento sem divisões. O ambiente interior das residências era muito escuro e insalubre. Somente os ricos viviam em casas confortáveis.

Os filhos mantinham uma relação muito estreita com os pais, e mesmo após o casamento continuavam a trabalhar na fazenda da família paterna. Os membros de uma fjolskylda mantinham obrigações de suporte mútuo. Se a honra da família era maculada, os membros deveriam defendê-la, mesmo em casos de assassinato ou injúria contra um membro dela (no caso, a realização da vingança de sangue). A família era responsável pelo suporte material de todos os membros, principalmente aqueles que pela idade ou doença, não podiam trabalhar.

Como em muitas culturas, as crianças Vikings brincavam com miniaturas que imitavam a vida adulta, como espadas e armas de madeira, além de jogos de tabuleiro e de bola. A educação formal era desconhecida. O pai tomava toda a responsabilidade da educação, e alguns skalds (poetas) complementavam com narrativas orais. Algumas crianças eram tratadas com muita severidade, outras com mais tolerância. Desde muito cedo, as crianças colaboravam diretamente nos trabalhos das fazendas, artesanato ou negócios. Inicialmente, meninos e meninas são convocados para trabalhos simples. Posteriormente, com o avanço da idade, são incumbidos de tarefas apropriadas para seu sexo, como exemplo, fiação e tecelagem para as garotas e metalurgia para os garotos. Entre os 13 e 19 anos, ocorre a passagem para a vida adulta. Na aristocracia e realeza, garotos são convocados para atuarem na política e guerra na metade da adolescência. Harald Hardrada tinha somente 15 anos quando atuou na batalha de Stiklestad em 1030.

Nos tempos paganistas, o aborto e a exposição de recém-nascidos era permitido (geralmente abandonados em bosques). O bebê deveria ser aceito pelo pai para poder viver. Não conhecemos as concepções paganistas sobre a vida após a morte para elas. Como também não existem vestígios de enterros em cemitérios e nem estelas ou memoriais para crianças.

Após o casamento, a mulher não mantinha mais relações com sua família natal. Ela tinha que cuidar das crianças pequenas, preparar e cozinhas o alimento, limpar a casa e lavar a roupa. Era a mulher que cuidava dos feridos, doentes e idosos. Quando o homem estava ausente, ela ficava encarregada da autoridade doméstica – seu símbolo era um molho de chaves preso ao cinto.

Desde menina, a mulher aprendia a ser quieta e obediente. Geralmente eram os pais que escolhiam o marido para as filhas, mas elas não eram obrigadas a casar.

Nem a idade ou a falta de virgindade eram empecilhos para o casamento. O casamento ( kostr) era organizado em duas etapas: o noivado e o matrimônio ( brullaup). A iniciativa partia do noivo ou de seu pai, que realizava a proposta para o pai ou guardião da noiva. Se este último ficasse satisfeito, o pretendente prometia pagar um preço pela noiva ( mundr). Enquanto solteira, a mulher ficava sob a guarda jurídica do pai ou irmão, e com o casamento, essa responsabilidade passava para o marido. Os poderes do homem sobre a esposa eram grandes: ele podia ter concubinas, matar a esposa adúltera e o amante e mandar matar um bebê doente. Entretanto, as mulheres podiam pedir divórcio (entre os motivos, por exemplo, a impotência), ter propriedades e bens legais. As viúvas podiam se tornar poderosas com a herança do marido.

Não existem evidências da participação feminina em batalhas como guerreiras (a exemplo do que ocorria com os Celtas), mas as mulheres nórdicas eram integrantes de expedições colonizadoras e mesmo nas fazendas e propriedades, podiam participar na defesa armada em casos de ataques. Um caso célebre envolvendo mulher em conflitos foi com a filha de Erik, o vermelho, chamada de Freydis. No momento em que sua fazenda (situada na América do Norte) estava sendo atacada pelos indígenas denominados de Skraelings, ela mesmo estando grávida, desnuda seus seios e os ataca com seu machado. Os agressores, aturdidos por uma cena tão insólita – combatidos furiosamente por uma mulher com cabelos de fogo e grávida – acabaram fugindo do local.

4. As embarcações e a tecnologia náutica Acima de tudo, os Vikings foram um povo construtor de navios e uma cultura dedicada ao mar. A expansão de sua civilização e de suas conquistas se deve diretamente ao seu conhecimento em tecnologia náutica, a mais sofisticada de toda a Idade Média.

Existiam vários tipos de embarcações no mundo escandinavo. Uma palavra muito comum hoje em dia – drakkar (dragões), na realidade, foi criada pelos franceses e não tem origem nórdica. O barco simples (bote) era chamado de batr e faering, e o navio propriamente de skip. Existiam vários tipos de navios, sendo os mais comuns o langrskip (navio longo, chamado também de herskip), utilizado para guerra, e o knorr, para fins comerciais. Ocorriam navios mistos, como o karfi, utilizado para passeio, recreação ou exibições oficiais da realeza.

O tipo de embarcação mais numerosa nos tempos vikings eram os botes, utilizados para pescaria, transporte de pessoas entre as cidades e o litoral e comércio.

A construção das embarcações era uma verdadeira arte, transmitida de pai para filho, sem nenhum desenho ou esboço como guia. A tradição oral e a experiência era as mestras. O carpinteiro era chamado stenfsmior e era quem escolhia as melhores árvores a serem utilizadas para a construção: para o casco, madeira de carvalho; para o convés e mastro, o pinheiro. A construção do barco começa pela roda de proa, a parte da frente. Ela é talhada em uma única peça de madeira. Após sua colocação, monta-se uma peça idêntica na popa e entre as duas, a quilha. Para controle da direção, utilizava-se um leme feito de madeira maciça, preso por um cabo e fixado na popa.

Estaleiros foram instalados nos portos. Muitos navios eram construídos e reformados ao mesmo tempo, de acordo com a demanda. Em Paviken (Suécia Báltica), foi descoberto uma “doca seca” , onde as embarcações podiam atracar enquanto se faziam as reparações. Em Fribrodre (Dinamarca), também foram localizados fragmentos, que fizeram os especialista concluírem que a madeira dos navios antigos era utilizada para reparar barcos novos.

Utilizavam-se tanto a única vela de lã como os remos para movimentar as embarcações, as vezes, as duas ao mesmo tempo. A lã tinha origem animal e era impermeável. Os ataques relâmpagos eram possíveis graças à enorme rapidez e extrema maneabilidade das embarcações longas. O segredo da pirataria bem sucedida: navios ágeis e velozes. Os maiores navios de guerra chegavam a ter 55 metros de comprimento. E a média da velocidade de um navio longo era de 8 a 10 nós (18 km/h). Outra vantagem dos navios de guerra era a possibilidade de serem transportados por terra seca. Para tanto, baixavam o mastro, recolhiam os remos, suspendiam o leme e faziam a embarcação rolar sobre troncos de árvores ou sobre rodas de madeira (construídas no próprio local de transporte). Em alto mar, a vida a bordo dos navios não era fácil. Muitos morriam pelo frio ou umidade, especialmente no Atlântico Norte. Seus corpos eram atirados ao oceano.

O costume de pendurar escudos nas amuradas dos langrskips era cerimonial, e para a navegação propriamente dita eles eram retirados: num navio em movimento, cruzando os mares, os escudos seriam varridos pela água. Somente os navios de batalha utilizavam carrancas de animais (principalmente dragões) nas proas. Os cargueiros eram mais pesados, redondos e sem remos, conforto ou enfeites. Todo o espaço era reservado para a carga e dependiam totalmente do vento para navegação.

Para orientar a navegação em alto mar, os marinheiros utilizavam a experiência geográfica, memória, observação das rotas das aves marinhas e peixes, variação da cor da água, astronomia e o uso de equipamentos. Não existiam cartas náuticas e nem o conhecimento da bússola magnética. A avaliação da posição baseada nos cálculos do rumo seguido da velocidade era muito comum. Direções eram calculadas em relação ao Sol e Lua (estão mais altos quando o navio ruma ao sul e mais baixos, quando navegam na direção oposta), direção do vento e à ondulação. Existe a possibilidade dos Vikings utilizarem a medida da estrela polar (indica o norte), como os árabes faziam.

O que se sabe de concreto, é que existiam bússolas solares: foram descobertos vestígios de um disco de madeira e de esteatita triangular, ambos nas colônias nórdicas da Groenlândia. Esses objetos possuíam entalhes laterais, marcando as graduações da bússola. No centro, possuíam um gnômon – uma haste vertical que projetava uma sombra do Sol. Para verificar qual era o rumo da embarcação, girava-se esse disco até que o sombrado gnômico toque a curva apropriada, para em seguida fazer a leitura dos entalhes laterais. Marcações paralelas no disco, em relação à sombra do gnômon, indicavam a direção norte.

Os navios Vikings mais famosos são os de Gokstad (Noruega, descoberto em 1880) e Oseberg (Noruega, 1904) e Skuldelev (Dinamarca, 1956). Todos foram recuperados pela arqueologia e hoje se encontram em museus náuticos.

5. O guerreiro e seu equipamento Todos os homens livres tinha o direito de usar armas nas sociedades nórdicas.

Mas nem todos recebiam um treinamento específico para a guerra, como no caso dos jarls.

A espada era a melhor de todas as armas, muito apreciada pelo seu poder de combate e como símbolo de posição social: quanto maior o status do guerreiro, mais magnífica era a espada. Muitas vezes o cabo era ricamente adornado e as lâminas com dois gumes, e um comprimento de até 80 cm. Inclusive, alguns cabos possuíam adamasquinados em forma de animal e detalhes artísticos impressionantes. O acabamento do punho era de madeira. Algumas lâminas eram importadas dos Francos (Ulfberht), mas o restante da espada era confeccionada na própria Escandinávia. As lâminas tinham que ser flexíveis e leves, mas também fortes e afiadas. As espadas mais esplêndidas eram guardadas em bainhas magnificamente adornadas com enfeites de bronze ou douradas e até mesmo runas e detalhes artísticos. Muitos esqueletos recuperados mostram ferimentos causados por espadas, mutilações feitas em combates sangrentos.

As facas curtas de combate, de um só gume, eram concebidas para serem espetadas no inimigo, em combates corpo a corpo. As mais comuns tinham cabo de ossos, enquanto as mais sofisticadas eram tão adornadas quanto as melhores espadas. Seu uso era cotidiano para qualquer tipo de escandinavo, mesmo as mulheres, pois também era uma arma de defesa, caça e pescaria.

Muitos tipos diferentes de lanças da Era Viking sobreviveram. Existiam as lanças e dardos de arremesso, projetadas especialmente para obterem velocidade e penetrarem nas linhas inimigas. Algumas eram semelhantes ao pilum romano, com formas muito finas e compridas. As pontas terminavam em “barbas” ou arpões, para dificultar a retirada no corpo do adversário. Com isso, não intencionavam recuperar esse tipo de armamento nas batalhas. Em momentos ofensivos, utilizava-se principalmente o arremesso de lanças e projéteis. Mesmo sendo muito usados machados e espadas, as lanças eram as peças fundamentais das batalhas, e em muitas ocasiões, os conflitos foram resolvidos somente com o uso deste tipo de armamento! Logo no início dos conflitos, no momento do arremesso dos projéteis acima dos adversários, clamava-se o nome de Óðinn. As lanças ofensivas não eram fabricadas para arremesso, mas como armas de suporte. Eram ricamente decoradas nas próprias lâminas, com desenhos e motivos geométricos.

Apesar da literatura nórdica marginalizar o uso dos arco e da flecha, em favor da nobreza da espada e da lança, seu uso e importância nas batalhas reais foi decisivo. Era tanto um armamento para treino em competições e caça, quanto uso estratégico em formações de batalha. Eram inseparáveis das batalhas marinhas e ocorreram até casos de arqueiros montados.

O machado é a arma mais associada aos guerreiros Vikings, mas seu uso era mais frequente em atos de pirataria e incursões marítimas do que em frentes de batalhas. Eram bem simples: feitos de um bloco de ferro cuja extremidade era encaixada um cabo de madeira. A maioria não era adornada. Seu uso foi muito popular na primeira Era Viking, pelo fato de ser tanto utilizado na agricultura quanto nas empreitadas predatórias (os machados de “barba”), visto que a maioria da tripulação não tinha recursos para adquirir espadas.

Todos os capacetes de combate dos escandinavos encontrados até hoje possuem forma cônica, esférica e sem nenhuma protuberância. Alguns possuíam proteção nasal, enquanto outros tinham adaptação para cotas de malha descendo sobre o pescoço. A famosa imagem do elmo com chifres foi uma invenção fantasiosa de artistas do século XIX, popularizada com a ópera, cinema e quadrinhos.

Os escudos eram feitos de madeira, com uma saliência de metal no meio, para proteger as mãos. Possuíam forma redonda e protegiam o corpo desde o ombro até as coxas, cerca de um metro de diâmetro. O canto dos escudos era reforçado com uma faixa de ferro. O principal sistema defensivo em uma tropa era o “testudo”, uma formação compacta feita com os escudos dos guerreiros, semelhante à “tartaruga” dos antigos romanos.

Muitas armas recebiam nomes de seus donos: “camisa de Óðinn” (cota de malhas); “o alegre voador” (flechas); “lobo da ferida” (machado); “porco de guerra” (elmo); “víbora do inimigo” (espada).

Os mais famosos de todos os guerreiros Vikings foram os berserkers (“peles de urso”) e os ulfhednar (“peles de lobo”) uma verdadeira elite marcial, muito requisitados para tropas de choque, assalto e até guarda de palácios. Devotos fanáticos por Óðinn, lutavam como possessos e animais enraivecidos, urravam e mordiam os escudos e muitas vezes entravam nas batalhas sem nenhuma proteção, suportando a dor do ferro e do fogo. Nas Sagas, são considerados portadores de poderes sobrenaturais. Existem estudos modernos que demonstram que esse frenesi era ocasionado pelo uso de alucinógenos (como o cogumelo Amanita muscaria) e bebidas alcoólicas. Um escritor do período os definiu: “não são más pessoas para se conversar, contato que você não os perturbe”. A origem desses guerreiros remonta à épocas mais antigas: os guerreiros germânicos Wolfhetan (“pele de lobo”) do séc. VIII. Muito antes, Tácito já descrevia uma elite de guerreiros fanáticos semelhantes aos berserkers.

6. Técnicas de batalha

Os Vikings são muito famosos por seus atos de pirataria e como guerreiros implacáveis. Mas muitas pessoas pensam que os chamados povos “bárbaros” não possuíam qualquer noção de estratégia calculada no momento de realização de um conflito. Esse pequeno ensaio procura justamente demonstrar que os nórdicos medievais eram muito astutos e precavidos. A criação de táticas militares não é exclusividade do mundo moderno, sendo apenas a sofisticação de experiências dos povos da antiguidade.

Os principais tipos de combates da Escandinávia Medieval:

Combate das Sagas:

Prática executada em pequena escala, geralmente nas disputas de sangue (vendetas) entre as comunidades escandinavas. Na maior parte das vezes eram realizadas durante a noite e se constituíam em duelos clandestinos (emboscadas, assassinatos semi-legalizados). Uma técnica comum nesse tipo de combate era a queima da casa ou fortaleza do inimigo, geralmente após a meia noite, com a finalidade de destruir e desorientar. Esse tipo de violência armada era sempre submetida aos códigos de justiça das famílias e das vendetas.

Ação da casa real:

Atividade militar relacionada ao poder real pelo interior das comunidades. Uma tropa definida mantém o controle político e territorial. Com isso, torna-se um tipo de controle interno, no caso do uso de violência.

“Partindo como um Viking”:

Pequeno grupo armado que se desloca para regiões distantes da sua comunidade de origem, utilizando basicamente técnicas de pirataria com ação rápida, fulminante e precisa, com propósitos predatórios. Também podem ser expedições punitivas ou com objetivos políticos.

Campanha do exército real:

Forças militares de grande tamanho, deslocadas com propósitos definidos pelo rei, geralmente ampliação do território ou conflitos externos. Porém, antes de tomar qualquer tipo de ação, fazia-se todo um “ciclo” de decisões. Inicialmente, o rei enviava diplomatas (mas normalmente espiões…) e aguardava seu retorno, incluindo ou não negociações com os rivais. Consolidando as estratégias a serem decididas, incluindo as localizações precisas do território a ser abordado, análise das táticas e monitoria dos movimentos inimigos, realizava-se o engajamento final para a batalha. As principais estratégias desse tipo de combate eram: assumir completamente o território do inimigo; queimar a capital; dispersar o exército; modificar o governo; efetuar uma rendição incondicional e executar publicamente o rei inimigo.

Com esse tipo de combate verificamos a total inexistência de uma guerra de modelo “barbárico” entre os escandinavos. Ou seja, uma guerra onde a brutalidade e a força física contam mais que a organização ou táticas previamente estabelecidas. Os Vikings, desta maneira, constituíam uma cultura com um modelo sofisticado de marcialidade – dentro dos padrões medievais da arte da guerra.

Princípios de estratégia e técnicas de batalha Os guerreiros nórdicos eram regidos por alguns ideais militares: força e a coragem inspirados em Thor, perícia em armas, senso e habilidade no manuseio de armas, pretensão a nobreza. O principal ideal repousava no astuto e contraditório deus da guerra, morte e poesia: Odin. A associação das qualidades marciais com a figura odínica era a doutrina de base dos combates Vikings, que nem sempre precisavam da pressa irracional de um ataque frontal. Inspirados na figura ambígua de Odin, os escandinavos trapaceavam e “batiam o inimigo onde ele não se encontra”, ou seja, evitavam confrontos diretos com forças mais poderosas, preferindo ataques em pontos e situações desfavoráveis ao inimigo.

As táticas militares utilizadas normalmente em unidades pequenas (a exemplo da técnica do “partindo como um viking”) previam o uso da oportunidade e detalhado conhecimento sobre o inimigo. Um ataque bem sucedido requeria boa inteligência, segurança e coragem. A estratégia da guerrilha, desta maneira, foi utilizada com eficiência em situações que envolviam pequenos grupos. Segundo o historiador Paddy Griffith, as chaves do sucesso para operações nórdicas em pequenas unidades, seriam uma relação entre as oportunidades que essa operação teria sucesso com poucos feridos no ataque; inteligência; mobilidade e rapidez na sua execução; número de tropas atacantes; armamento.

O principal sistema defensivo em uma tropa era o “testudo”, uma formação compacta feita com os escudos de madeira dos guerreiros, semelhante à “tartaruga” dos antigos romanos.

Em momentos ofensivos, utilizava-se principalmente o arremesso de lanças e projéteis. Mesmo sendo necessários machados, espadas e punhais, as lanças eram as peças fundamentais das grandes batalhas, e em muitas ocasiões, os conflitos foram resolvidos somente com o uso de dardos de arremesso! E também, apesar da literatura nórdica marginalizar o uso dos arcos e flechas em favor da nobreza da espada e da lança, seu uso e importância nas batalhas reais foi muito decisivo. O tipo de combate em que o machado era mais utilizado (advindo daí sua associação direta com a imagem dos guerreiros nórdicos) era o “partindo como um Viking”.

Para ataques em fortalezas, cidades e postos fortificados – cujo objetivo era a destruição/queima das mesmas, utilizavam-se frentes de batalha para todas as aberturas desses locais (especialmente portas e portais). Locais sem defesa, como mosteiros e abadias, utilizavam-se três frentes: a principal, que se concentrava na dianteira ou entrada da construção; uma segunda formação de ataque, na lateral, para dissipar a área; e finalmente, uma terceira na parte posterior do edifício, para impedir a fuga dos ocupantes.

Nas marchas de incursões, existia uma formação dianteira de batedores e guias, dividida em três partes separadas: a mais numerosa e principal, localizada na parte posterior; no meio, diversas tropas pequenas, para busca de comida, dinheiro e novidades; e na frente da formação, guerreiros isolados (os líderes), guiando e observando o horizonte.

E nos confrontos de exércitos, as formações de batalha eram variáveis. Existiam duas formações “idealizadas”: uma simples, em forma linear/horizontal, e outra, com a mesma estrutura só que em forma dupla perpendicular. Na prática, o que ocorria eram formações circulares em múltiplos e pequenos grupos, ou um grupo formando um círculo com flancos bem defendidos.

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