Na Escandinávia pré-cristã, existiam duas formas básicas de enterro: os de cremação e os de inumação (sepultamento do corpo). O primeiro tipo abundava principalmente na Noruega, Suécia e Finlândia. As inumações eram mais frequentes na Dinamarca e na ilha sueca de Gotland. Nos dois tipos de enterro, os corpos eram conservados com a roupa do uso cotidiano, e estavam providos com pertences e utensílios. As práticas funerárias, assim como os rituais religiosos, variavam conforme a classe social e a região da Escandinávia. Quanto mais rico o indivíduo, mais elaborado o funeral e maior a quantidade e qualidade dos objetos depositados no jazigo mortuário.
Nas cremações, o corpo que ia ser incinerado era vestido e adornado com joias e os objetos. A queima era feita em uma grande pira. Os ossos incinerados e as joias fundidas eram recolhidos. Em outras regiões, as cinzas eram simplesmente espalhadas pelo buraco ou chão. Na Suécia, os restos queimados eram separados e colocados em um recipiente de cerâmica, que era enterrado num buraco e cobertos com um montículo ou demarcados com pedras. Alguns desses alinhamentos pétreos tinham a forma de navios, como em Lindholm Høje (Dinamarca).
A inumação eram praticadas principalmente pelas classes superiores da sociedade e pelos estrangeiros (vindos do Leste europeu). Algumas inumações utilizavam câmaras: escavava-se um buraco no solo e escorava-se o mesmo com madeira. Até cavalos eram enterrados nestas câmaras, junto a objetos cotidianos, alimentos (ovos e pães pequenos) e o defunto. Era crença popular que o morto continuava a viver no seu túmulo. Muitas câmaras foram orientadas no sentido Leste-Oeste. Também foram encontrados ataúdes dentro da terra ou corpos envolvidos numa mortalha de casca de álamo.
A mais famosa das inumações Vikings é a embarcação de Oseberg (Noruega).
No convés do navio, foi instalada a câmara mortuária, com o corpo de duas mulheres, sendo a mais velha considerada rainha pelo contexto das riquezas encontradas, mas nada se sabe sobre sua identidade. Recentes análises de DNA comprovaram que tratava-se de mãe e filha. Espalhados pelo convés, haviam maçãs, animais sacrificados – cães, cavalos e bois, alguns decapitados. A embarcação encontrava-se com remos, âncora e foi enterrada com pedras e lacrada com musgos. Em Birka, também foi encontrado numa câmera funerária com o corpo de duas mulheres, uma ricamente vestida. Pela posição de uma delas (uma escrava, estranhamente retorcida), o arqueólogo Holger Arbman
concluiu que ela tinha sido enterrada viva, numa espécie de sacrifício. Um cronista árabe do período viking, chamado Ibn Rustah, confirmou o costume de enterrar a esposa favorita ainda viva junto ao corpo morto do guerreiro.
Os enterros com embarcações também foram comuns fora da Escandinávia, como atestam vestígios na Ilhas de Man e Groix, Escócia, Finlândia e Rússia. A exemplo de muitas culturas, o uso de embarcações nos funerais Vikings está associado ao culto dos mortos e o simbolismo da jornada da alma no além.
Também pode estar relacionado aos cultos de Njord e Freyr. E ser um indicador de elevação social, poder e prestígio dentro da comunidade de origem.
Em sepulturas encontradas recentemente na ilha sueca de Gotland, alguns objetos incomuns foram encontrados. Nas câmaras mortuárias femininas, foram depositados fósseis animais (geralmente cabeças de peixes), interpretadas como amuletos de fertilidade e feminilidade. Nas sepulturas masculinas, abundavam machados feitos de âmbar.
Quando um guerreiro Viking morria, realizava-se o ritual do nábjargir: fechava-se os olhos e bocas e as narinas tampadas. Uma anciã, conhecida como o “anjo da morte”, lavava as mãos e o rosto do defunto, penteava seus cabelos e o vestia com suas melhores roupas. Uma das mais famosas descrições de funerais dos escandinavos foi fornecida por outro explorador árabe, Ibn Fadlan (em 922). Quando ele chegou no lugar que ia ser enterrado um chefe dos Rus (Vikings da área do Volga, atual Rússia), viu um formoso navio que havia sido preparado, cercado por uma fogueira. A embarcação estava repleta de armas, cadeiras e camas de madeira trabalhada. O corpo do rei (que estava sendo preparado há 10 dias) foi levado para o interior do navio e colocado num belo leito. Depois, um grande número de cavalos, cães e vacas foram sacrificadas e seus corpos esquartejados foram jogados dentro do navio. A família pergunta às escravas e servos quem deseja se unir ao morto, e uma mulher aceita. Ela é preparada e lavada e participa de festas e bebidas. Em uma tenda armada próxima ao funeral, a escrava escolhida teve relações sexuais com vários guerreiros presentes. No navio, ela é estrangulada por dois homens, enquanto a mulher conhecida por “anjo da morte” fura suas costelas com uma adaga. Um parente do morto sai da multidão e ateia fogo na madeira, incendiando todo o conjunto fúnebre. Após tudo ter se tornado cinza, uma estaca com inscrições rúnicas escreve o nome do homem morto.
Com a entrada do cristianismo na Escandinávia, cessaram as incinerações e o enterro com bens valiosos junto ao corpo. As crenças paganistas, em parte, deixaram de existir oficialmente.
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