Tyr – Deuses Nórdicos

(Tiw, Ziu, Tei, Tiuz, Dieus, Tuísco)

“O Deus da Batalha”

A origem de Tyr se perde nos tempos: foi venerado sob o nome de Tiwaz ou Teiwaz (o supremo deus celeste) pelas tribos indo-européias e depois foi adotado pelos povos nórdicos e teutônicos como Pai Celeste e Senhor da Guerra. O nome Tei, ou Ziu, tem como origem a palavra indo-europeia djevs, que simbolizava “céu” ou “luz” e que também originou o latino dieus e o grego Zeus, também uma forma antiga para ass ou oss – que, nas línguas protogermânicas, também significava “deus”. Teiwaz, portanto, representa o deus celeste associado ao poder solar e à luz do dia, transformado posteriormente em deus da guerra, conforme se comprova pela inscrição da palavra Teiwa em elmos e espadas. Apesar de reger as batalhas, Teiwaz não possuí um aspecto sanguinário; ele é associado ao Thing, a assembleia do povo que estabelecia as leis e solucionava as disputas. Teiwaz era, ao mesmo tempo, o deus protetor das leis e da ordem na comunidade e o regente da guerra. Era invocado por ocasião dos holmganga, duelos oficiais vistos como augúrios divinos e que definiam culpados (nos litígios interpessoais) ou vencedores (antes das grandes batalhas, quando lutavam um representante da tribo que ia atacar ou se defender e um prisioneiro da tribo inimiga).

O sucessor de Teiwaz, Tyr, também é invocado para conceder coragem, justiça e vitória. É em seu nome que se fazem os juramentos solenes sobre a espada, que não podem ser quebrados, sob o risco de castigo divino. A vida dos guerreiros depende de suas armas e jurar sobre elas é a prova máxima de sinceridade.  Tiw era tão importante para os saxões quanto Odin era para os nórdicos. Os romanos estabeleciam semelhanças entre ele e Marte, seu patrono da guerra, embora haja uma grande diferença entre eles: enquanto Marte era o patrono dos soldados, Tiw era o Pai Celeste (como Zeus), padroeiro dos juízes e conselheiros, regente das leis e da ordem. As modificações posteriores de seu arquétipo é que introduziram os sacrifícios sangrentos, realizados para que Tiw concedesse a vitória nos embates, e o transformaram em um deus sedento de sangue, a quem se ofertavam as cabeças dos inimigos vencidos.

O mito mais conhecido de Tyr relata sua coragem ao colocar a mão na boca do feroz lobo Fenrir, como garantia da boa-fé das divindades – que, na realidade, usaram este artifício para tentar amarrar Fenrir com uma corda mágica, confeccionada pelos gnomos, única forma de impedir a crescente fúria destrutiva do lobo. Porém, ao perceber a cilada dos deuses, Fenrir decepou a mão de Tyr como vingança. Ao perder a mão nas presas do lobo, Tyr demonstrou, de forma dolorosa, que o perjúrio – sob qualquer pretexto – é castigado. É esse paradoxo que ressalta a nobreza de caráter de Tyr: ele, o padroeiro da lei, da honestidade e da verdade, prestou um falso juramento e pagou o preço por essa transgressão. Enquanto Odin sacrificou um olho para obter conhecimento, Tyr não almejou nenhum benefício pessoal: seu sacrifício foi um ato altruísta. Mesmo assim, ele cometeu perjúrio e teve que arcar com as consequências de seu ato. Nos mitos mais recentes, o lobo Fenrir é o adversário mortal de Odin, mas, nas antigas lendas, é Tyr que mede forças com o lobo no Ragnarök. O historiador islandês Snorri Sturluson descreve o confronto final entre Tyr e o cão Garm, o guardião do mundo subterrâneo (morada de Hel, irmã de Fenrir); pode ser apenas uma mudança de nomes, já que o símbolo lobo/cão permaneceu o mesmo. Tyr foi morto no embate, após matar o cão; Fenrir, após matar Odin, é vencido pelo filho deste, Vidar.

A imagem do “deus que amarra”, descrita no mito de Tyr, originou o costume de amarrar as vítimas que seriam sacrificadas aos deuses da guerra (tanto Wotan, quanto Odin e Tyr). Supõe-se que Saxnot, a divindade máxima dos saxões, seja o equivalente de Tiw, em cuja honra eram feitos sacrifícios humanos e oferendas das espadas dos guerreiros vencidos. Na Inglaterra, Tiwaz era reverenciado sob o nome de Tiw e Tig e possuía atributos semelhantes. Inscrições rupestres da Idade do Bronze, na Escandinávia, retratam figuras masculinas com apenas um braço, empunhando uma arma. Esses vestígios comprovam a antiguidade do culto de Tiwaz, transformado depois em Tyr, “o Deus com um braço”. Ele é descrito como um homem alto, forte, de cabelos louros trançados e olhos azuis; usa um elmo com chifres, a espada gravada com a runa Tyr, um manto, botas de pele de lobo, e, em lugar de cinto, uma corda com nós. Falta-lhe a mão direita e um olho – por isso o tapa-olho de couro preto. Além desse mito no qual Tyr aparece como símbolo do auto-sacrifício em prol da comunidade, são poucas as referências que existem sobre ele; sabe-se mais de sua atribuição como padroeiro da justiça. O dia de terça-feira recebeu seu nome, seja como Tuesday, em inglês, ou Dienstag, em alemão (derivado de Thinstag, o dia da assembleia legal Thing).

A escritora Freya Aswynn faz referência a um antigo conceito sobre a possível androginia de Tyr. Nessa representação, seu nome – descrito em outras fontes como um arcaico deus celeste saxão – é Zio ou Ziu, e o de sua contraparte feminina, Ziza. Considerado filho de Odin e da deusa Nerthus, Tyr é conhecido também pelo nome de Tuísco, pai de Mannaz, e teve três filhos: Ingvio, Irmio e Istvio, os progenitores das três tribos germânicas primordiais, ancestrais de todas as outras, e também deram origem às castas. Como deus celeste, Tyr é associado a várias estrelas, principalmente Sirius, cujo nome em persa arcaico era tir e significava flecha, a forma da runa dedicada a Tyr, Tiwaz. No poema rúnico de origem anglo-saxã, a estrela polar é descrita como Tyr, a estrela –guia dos navegadores nórdicos, tão vital para a navegação noturna quanto o Sol durante o dia. Nesse contexto, a runa Tiwaz, que representa a flecha a apontar o caminho, é muito apropriada e confirma o aspecto luminoso de Tyr.

Você pode ler mais sobre a Mitologia Nórdica neste link.

Harmonização: Mitologia Nórdica - Universo Anthares

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