A maioria dos poetas heroicos da Era Viking eram homens, mas também ocorre raros registros de poetisas (Skáldkonur: “mulher poeta”). A maioria dos skalds possuía entre 27 a 40 anos de idade. A técnica skáldica era transmitida das gerações mais avançadas para as mais novas, por meio oral e individualizado.
Um skáld necessitava de excelente memória, grande conhecimento em mitologia e cosmogonia nórdica, linguagem refinada e uma oratória sofisticada. Alguns skálds também eram mestres das runas, dedicando-se tanto ao aprendizado do alfabeto Futhark (talhadores de sinais pétreos) quanto à magia rúnica.
Todos os poetas e poetisas pertenciam à classe social denominada de Jarl (“nobre, conde”), da qual também faziam parte os reis, aristocratas e pessoas com grandes propriedades de terra e grande concentração de poder. Os poetas possuíam enorme prestígio social. Geralmente provinham de famílias importantes, conceituadas ou com tradição na arte skáldica. Os poetas atuavam nas cortes reais, reuniões dos Things (conselhos), fazendas e nos lares de chefes locais.
Quais as regiões onde os skálds existiram na Escandinávia Medieval? O que sobreviveu de registro literários provém da Noruega e da Islândia. Alguns poucos poemas da Dinamarca foram recuperados. Da Suécia nada restou, apesar de possivelmente terem existido skálds nesta região. Também o condado das Órcades teve poetas de corte.
A principal função do skáld era relatar por meio da tradição oral – do relato verbal, as antigas tradições, poemas, narrativas heroicas, narrativas históricas, contos, folclore, aspectos da religiosidade. Também executam poemas e narrativas escritas no alfabeto rúnico (para a Era Viking: o alfabeto Futhark Rama Longa e Curta e suas variações), gravadas em estelas, memoriais, runestones (menires com runas. Exemplo: poema skáldico da runestone de Karlevi, Suécia, homenageando o rei Sibbi “o bom”), estátuas e tabuletas de madeira. Em alguns casos podem servir como conselheiros privados dos reis. E também para encorajar de maneira geral os integrantes de possíveis batalhas.
A finalidade dos poemas skáldicos era por meio de sua técnica, divertir as famílias e os nobres, relatar aventuras, experiências, meios de obtenção de riquezas, e principalmente, conexões para a vitória e a reputação. A celebração das glórias individuais era o fundamento de vida para um guerreiro Viking, mais importante até do que a vida após a morte. Muitas cortes da Noruega, Suécia e Dinamarca possuíam em suas comitivas skalds para perpetuar os feitos de grandes senhores mortos ou no momento de seu funeral.
Depois de uma batalha, os Vikings reuniam-se nas fazendas e nas habitações para festejarem. Após o banquete com muita comida e bebida, todos – das crianças até os velhos e mulheres – se reuniam para escutar atentamente as palavras do Skáld. O lugar mais importante era para o chefe local, que também recebia as maiores atenções do poeta. Numa situação onde a bebida era muito comum, os poemas recitados deviam competir com muita algazarra e os pedidos de silêncio deviam ser muito comuns. O skáld iniciava seu recitamento com uma série de estrofes que definiam as qualidades do konungr (“rei”), depois sua generosidade e por fim, elogios heroicos.
A principal meta do Skáld era transmitir para a comunidade os principais atributos Vikings: coragem, bravura, ousadia, abandono ao amor, desprezo pela morte, generosidade, força da mente, fidelidade, astúcia.
Quais as roupas e vestimentas de um poeta Viking? As roupas típicas de qualquer escandinavo medieval: roupa de lã ou linho, tingida com corantes minerais; gibões com mangas ou casacos três-quartos sobre camisas de lã e calças de pano; botas altas de couro ou sapatos macios com meias curtas; em tempo frio, usavam capas e chapéus de pele ou lã. Como a maioria dos skálds pertenciam à classe dos Jarls, usavam os sinais de distinção próprio dessa classe: roupas com bordados mais sofisticados e vistosos, e principalmente, muitas joias: broches de prata e ouro, pulseiras, colares, braceletes. A principal joia distintiva da condição social para os homens era o broche que prendia o manto de lã sobre o ombro, geralmente uma joia muito valiosa. Caso fosse adepto do culto ao deus Þórr (Thor), usaria no pescoço um pingente em forma do sagrado martelo Mjöllnir (“o destruidor”).
Qual era o comportamento de um poeta Viking? Acima de tudo, o comportamento skáldico seria exemplar, ético, tradicionalista, conservador. Skálds com idade mais avançada, certamente teriam uma personalidade muito mais extrovertida, dramática e mesmo trágica.
Os poetas andavam armados? Na Era Viking, mesmo os mais pacíficos fazendeiros e comerciantes sempre andavam armados. No mínimo, o equipamento que um skáld sempre carregava seria uma faca de caça (as de modelo mais barato teriam cabo de osso, e as mais sofisticadas teriam punho ornamental de prata). Se fosse também um mercador, guerreiro ou pirata, usaria constantemente uma espada modelo Franco/germânico (de elevado preço e também distintiva da posição social).
A principal divindade adorada pelos skálds era o deus supremo Óðinn (Odin), inspirador das poesias.
A composição da técnica skáldica iniciou-se por volta do século VII, continuou na Era Viking (793-1066 d.C.) e prosseguiu até o período cristão (séc. XIII).
Principais tipos de poemas e técnicas skáldicas:
Um poema importante podia ter 20 ou mais versos e uma estrutura de três partes, com parágrafos de abertura e de encerramento, enquadrando um grupo central de estrofes e de estribilhos.
Drápa/Drápur – poemas longos para comemorar os feitos de antigos reis, com estribilhos.
Flokkr – poema curto para eventos de menor importância, sem estribilhos.
Dróttkvaet – métrica curta.
Lausavísur – narrativas heroicas
Kenning – técnica poética, perífrases utilizando passagens da mitologia nórdica.
Skálds famosos:
Bragi “o velho”, séc. IX d.C., o mais antigo poeta eskáldico norueguês.
Eyvind Skaldaspillir.
Sighvatr Thórðardson
Thiodolf – autor do poema Haustlong (“saudades do outono”) Einar Skalaglamm – compôs o poema Vellekla em honra do grande conde Hakon de Lade (Noruega), no final do século X.
Kormák Ogmundarson (morto em 970 d.C.), o “poeta do amor”, islandês.
Egill Skallagrimsson – o mais famoso poeta islandês durante a Idade Média e um dos mais celebrados Vikings de todos os tempos. Egill encarnou todos os protótipos e contradições de um nórdico: skáld, pirata, fazendeiro, mercador, guerreiro. Com a idade de 6 anos matou um garoto vizinho com o machado de seu pai, seu primeiro assassinato de uma longa série. Se tornou um célebre aventureiro e pirata a serviço do rei Athelstan da Inglaterra. Para o rei Erik de York, compôs o poema Hofuðslaun.
Snorri Sturluson (1179-1241) – o mais importante skáld da História. Suas principais obras foram Heimskrimgla (“o círculo do mundo”), uma monumental saga histórica sobre os reis da Noruega; Edda em Prosa, um manual para poetas iniciantes contendo informações sobre a mitologia nórdica (mitografia); Egil’s Saga, a vida de outro skáld famoso, Egil Skallagrimson (citado acima). Snorri era membro de umas das famílias mais importantes da Islândia, convertendo-se em líder local, magnata territorial, embaixador. Morreu assassinado em sua fazenda em Reykjaholt em 22 de setembro de 1241.
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