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O Elefante Rosa e a Arte de Não Tentar Demais

Tente não pensar em um elefante rosa. Sério, vai, faz esse esforço, fecha os olhos, respira fundo, medita, recita mantra, se entope de vídeos motivacionais no YouTube dizendo:

— Controle seus pensamentos.

E adivinha o que aparece? Sim, o infeliz do elefante rosa, com direito a chapéu de festa e balões de aniversário. Essa pequena brincadeira mental escancara uma verdade incômoda que a maioria não quer encarar. Quanto mais você tenta não pensar em algo, mais ele grita dentro da sua cabeça. Isso daí vale para qualquer porcaria mental que você queira evitar: ansiedade, tristeza, solidão, aquele ex que te deixou no vácuo, a conta que você não tem como pagar, a sensação de que sua vida é uma piada mal escrita por um roteirista bêbado.

Aí entra a lei do esforço reverso. Alan Watts disse isso muito antes dos coaches descobrirem o TikTok: quanto mais você tenta, mais se afunda. O esforço demais, em algumas áreas da vida, é o equivalente a tentar apagar fogo com gasolina. Tentando se livrar da dor, você acaba se agarrando nela com mais força. É como se o seu cérebro fosse um adolescente rebelde. Você diz: — Não pense nisso.

E ele responde: — Ah, é? Então eu vou pensar nisso o dia inteiro.

Porque o foco no problema é por si só um reforço do problema. Toda vez que você pensa “não quero estar triste”, o que seu cérebro entende é: “opa, tristeza é importante, deixa eu prestar mais atenção aqui”. E aí você entra num ciclo bizarro: tenta ser feliz para se livrar da infelicidade, mas quanto mais você tenta ser feliz, mais você lembra do quanto está infeliz. Um paradoxo mental que te arrebenta em silêncio.

Quer ver outro exemplo? Tente dormir quando você tá desesperado para dormir. Você olha o relógio, vê que faltam três horas para acordar e começa o mantra do fracasso: “preciso dormir, preciso dormir, preciso dormir”. O resultado? Você vira um zumbi ansioso rolando na cama enquanto o sono olha para você de longe dizendo: “tá forçando demais, campeão”.

Sabe qual é o segredo? Não forçar, não tentar controlar o incontrolável, aceitar o maldito elefante rosa e deixá-lo dançar o samba do pensamento doido até cansar. Porque quando você para de lutar contra ele, ele perde a graça, ele para de ser o centro do show. E aí, como mágica — ou melhor, como um fenômeno psicológico chamado ironia processual —, o elefante vai embora porque você não precisa mais se livrar dele. Ele só era barulhento porque você deu palco.

Então, na próxima vez que sua mente entrar em modo apocalipse e jogar um elefante rosa na sua cara, não lute. Dá um oi, serve um café e fala: — Senta aí, parceiro, fica à vontade.

Porque, ironicamente, quando você deixa o incômodo existir, ele para de incomodar.

A Ilusão do “Quando Eu Tiver…”

“Quando eu tiver dinheiro, aí sim minha vida começa.” “Quando eu emagrecer, eu vou finalmente me sentir bem comigo mesmo.” “Quando eu achar o amor da minha vida, tudo vai fazer sentido.”

Se você já se pegou pensando assim, parabéns: você caiu na armadilha mais filha da mãe que a mente humana já inventou. A ilusão do “quando eu tiver” — uma droga mental disfarçada de esperança, uma cenoura pendurada na frente do burro que corre eternamente sem nunca dar a mordida.

Esse pensamento parece inofensivo, parece até motivacional. Afinal, estamos acostumados a acreditar que precisamos de metas, objetivos e conquistas. Mas o problema não tá em ter metas, tá em acreditar que sua paz interior depende de alcançá-las. O “quando eu tiver” é traiçoeiro porque ele parte do princípio de que agora você não é o suficiente, agora você é incompleto — um projeto em construção, um rascunho mal feito esperando ser aprovado pela sociedade.

E por isso você condiciona sua felicidade a um futuro que nunca chega. Spoiler: quando esse futuro chega, ele é só outro agora disfarçado. E adivinha? Você ainda sente o mesmo vazio, porque a sensação de falta não vem do que falta, mas de acreditar que algo fora de você vai preencher esse buraco.

Um exemplo: vamos falar de dinheiro, o fetiche favorito da humanidade moderna. A maioria das pessoas não quer ficar rica porque ama planilhas ou entende de mercado financeiro. Elas querem dinheiro porque acreditam que com dinheiro finalmente terão paz, respeito, liberdade, autoestima. Mas quando chegam lá — ou perto — percebem que continuam se sentindo uns bostas, só que com conta bancária cheia. Aí muda o valor da meta: ok, não era cem mil, é um milhão. Depois dez. Depois a independência financeira total. O buraco segue aberto porque o dinheiro nunca foi o que você queria. Você só queria se sentir inteiro.

A mesma lógica vale para amor, corpo, carreira, fama. Você corre atrás de algo porque acredita que aquilo vai mudar sua relação com você mesmo, vai te dar a validação que você nunca recebeu ou que te tiraram lá atrás. Mas spoiler número dois: nada externo resolve treta interna.

Alan Watts chamava isso de “a corrida da cenoura infinita”. E Mark Manson resumiu com uma martelada: perseguir algo só reforça que você não tem aquilo. Quanto mais você quer ser feliz, mais infeliz você se sente por não ser.

A real? A vida não começa quando você tiver aquilo. Ela já tá acontecendo agora — no tédio, na dívida, no sobrepeso, no desemprego, na confusão mental. Esperar o “quando eu tiver” é tipo se recusar a viver enquanto a casa não estiver arrumada. Mas spoiler número três: a casa nunca vai estar arrumada o suficiente.

Então para de usar o futuro como desculpa para se sabotar no presente, porque enquanto você espera por algo para se sentir completo, você tá exatamente onde sempre esteve: incompleto, só que agora frustrado também.

A Pornografia do Desenvolvimento Pessoal

Sabe aquele viciozinho bom que você nem percebe que tem? Tipo dar uma olhadinha rápida no Instagram e perder meia hora vendo reels de gente dizendo que acorda às cinco da manhã, toma banho gelado e lê um livro por dia? Pois é, isso tem nome: pornografia do desenvolvimento pessoal.

E sim, é pornografia, porque estimula, excita, dá aquela sensação momentânea de “agora vai”, mas no fim das contas você fecha o vídeo, suspira fundo e volta pra mesma vida de merda de antes.

A indústria bilionária de produtividade, autoajuda e afins não quer que você melhore. Ela quer que você sinta que está quase melhorando. Só precisa de mais um curso, mais um planner, mais uma live com o guru da barba bem feita que fala em siglas tipo F.O.D.A. — foco, organização, disciplina e atitude.

E aí você se vicia, não no crescimento real, mas na sensação de que está no caminho do crescimento. Você se torna um dependente químico da motivação, um zumbi de caderneta na mão e frase de efeito na ponta da língua. Um eterno “em desenvolvimento”, mas nunca desenvolvido.

É cruel porque isso finge ser virtude. E como todo vício bem maquiado, vem com culpa embutida. Se você não tá feliz, a culpa é sua: você não acordou cedo o bastante, não pensou positivo o bastante, não foi grato o suficiente por estar vivendo o inferno. Ou seja, você fracassou até em fracassar.

Mas aqui vai a verdade que essa galera nunca vai te contar: você não é um projeto. Você é uma bagunça ambulante, como todo mundo. E tentar otimizar sua existência como se fosse um aplicativo só te afasta da única coisa que realmente traz paz: aceitação.

Pensa comigo: se você parte do pressuposto que vai melhorar o tempo todo, isso significa que você nunca está bom o bastante. O jogo tá viciado — você entra querendo vencer e sai se sentindo ainda mais derrotado. É o loop do “quase”: quase feliz, quase pleno, quase lá. E isso rende. Rende para quem vende, porque a indústria do desenvolvimento pessoal vive disso, da sua eterna sensação de insuficiência.

Se você um dia acordasse e pensasse “tá tudo bem com quem eu sou agora”, essa galera faliria no mesmo dia.

Alan Watts chamava isso de “carregar o eu como se fosse um fardo”, porque toda tentativa de se consertar parte da ideia de que você é um erro. Mas e se você não for um erro? E se a verdadeira evolução for parar de tentar evoluir o tempo todo?

Aqui vai um segredo sujo: o autoconhecimento real começa quando você larga esse teatro de melhora constante e encara quem você é de verdade — sem filtro, sem frases prontas, sem planner colorido. Porque só aí você pode respirar e dizer: — Foda-se, talvez eu já esteja inteiro o suficiente.

E é exatamente isso que os viciados em autoperfeição não conseguem tolerar: a ideia de que talvez não precise mudar nada.

O Sofrimento Como Estilo de Vida

Acho que você não vai gostar de ouvir isso, mas talvez o seu sofrimento já tenha virado um estilo de vida. E pior: talvez você goste dele. Calma, não é que você seja masoquista — ou talvez seja, sei lá. Mas tem um vício mais comum do que parece: a identificação com o sofrimento.

Isso é tão sorrateiro que a pessoa nem percebe que tá apegada à dor como quem segura um troféu: — Olha só como a minha vida é fodida! Ninguém sofre como eu sofro.

A real é que muita gente faz do sofrimento uma identidade. Você conhece um monte de gente assim: gente que, se ficar feliz por muito tempo, já estranha, fica desconfiada, como se a alegria fosse um erro no sistema. A felicidade vira um incômodo e o sofrimento, o lugar seguro. A dor se torna um cobertor emocional: velho, rasgado, mas quentinho.

E por que isso acontece? Porque o ego — esse serzinho narcisista que vive dentro da nossa cabeça — adora ter um papel para representar. E o papel de “sofredor crônico” é um dos favoritos. Dá status, dá atenção, dá um senso de propósito torto. Tipo: “minha vida é um caos, mas pelo menos eu tenho história para contar”.

Quer um exemplo? Pega alguém que vive dizendo que ninguém presta, a vida é injusta, “eu só me ferro”. Essa pessoa, no fundo, não quer resolver a treta — ela quer ter razão. Porque se ela resolver, acaba o papel de vítima. E aí, quem ela vai ser?

É o vício da narrativa. Você conta tantas vezes a história da sua dor que ela vira parte de quem você é. E se um dia a dor sumisse, você teria que inventar outra história. E sinceramente, isso dá trabalho. É mais fácil continuar sofrendo do que reconstruir sua identidade do zero.

Schopenhauer — era aquele gênio pessimista que provavelmente teria um podcast hoje em dia chamado “Tudo é uma merda” — já dizia que o ser humano é movido por uma força cega, irracional chamada vontade. E essa vontade nos faz desejar o tempo todo e, por isso mesmo, sofrer o tempo todo, porque desejar é igual a admitir que o agora não é suficiente.

A tragédia? Mesmo quando conseguimos o que queremos, logo queremos outra coisa. Ou seja: nunca chega, nunca basta.

E aí entra o paradoxo: para sair do sofrimento, você tem que desistir de ser quem sofre. Você tem que jogar fora o crachá de “coitado oficial do universo” e dizer: — Foda-se essa história. Eu não sou só isso.

Mas nem todo mundo quer isso. Porque, por mais doido que pareça, sofrer dá controle, dá previsibilidade, dá desculpa para não mudar. Você pode continuar dizendo: — Não consigo, não é para mim, é assim mesmo.

E pronto: o ego dorme tranquilo.

A pergunta que fica é: você realmente quer parar de sofrer, ou só quer o alívio temporário entre um episódio e outro do drama que você mesmo roteirizou? Se for o primeiro caso, ótimo. Se for o segundo, bom, o Oscar de “protagonista da própria tragédia” já é seu.

O Antiforço: Como o “Foda-se” Liberta

Tem gente que acha que dizer “foda-se” é desistir — um sinal de fraqueza, de desleixo, de quem não se importa mais. Mas deixa eu te contar uma coisa que provavelmente ninguém te disse com todas as letras: o verdadeiro “foda-se” é uma forma de sabedoria. É quando você finalmente para de fingir que pode controlar tudo. E isso é liberdade em estado bruto.

Pensa comigo: a gente passa a vida tentando segurar mil pratos ao mesmo tempo — sucesso, beleza, aprovação, propósito, paz interior, produtividade, relacionamentos saudáveis, barriga negativa e ainda responder o WhatsApp da tia em menos de dois minutos. E aí a gente quebra, porque ninguém aguenta essa maratona de expectativa.

E é aqui que entra o antiefforço. O antiforço não é largar tudo e virar um ermitão pelado nas montanhas — a menos que essa seja a sua vibe, claro. Antiforço é não gastar energia tentando controlar o incontrolável. É parar de querer forçar felicidade, de querer que tudo faça sentido, de esperar aplausos por cada decisão que você toma. É entender que, ironicamente, quanto mais você tenta controlar a merda toda, mais desgovernado fica.

Alan Watts falava disso o tempo inteiro: tentou forçar o sono? Fica acordado. Tentou forçar a felicidade? Fica ansioso. Tentou controlar a respiração? Perde o fôlego. É como tentar segurar água com a mão fechada — quanto mais força, menos você segura. Sabe o que funciona? Relaxar a mão.

E é isso que o verdadeiro “foda-se” faz: ele solta o controle, não por desprezo, mas por inteligência emocional. É dizer: — Não dá para controlar tudo, então não vou me arrebentar tentando.

E essa simples decisão muda tudo.

Um exemplo prático: você tá num encontro, quer causar boa impressão, acha que precisa parecer interessante, engraçado, culto, seguro. Aí você entra em modo performance, calcula cada palavra, força cada sorriso, e o resultado? Parece um robô ansioso tentando ser humano.

Agora imagina que você solta, para de tentar impressionar, fala besteira, ri de si mesmo, diz o que pensa. Foda-se — você não tá tentando conquistar, tá só sendo. Adivinha? Essa é a coisa mais magnética que existe: autenticidade.

O mesmo vale pra vida inteira. Parar de forçar não é parar de viver. É viver sem arrastar correntes invisíveis da expectativa. É fazer porque quer, não porque precisa provar. É estar presente, não tentando garantir o próximo passo. É confiar que o mundo continua girando, mesmo se você não estiver no controle da rotação.

E quando você realmente entende isso, o milagre acontece: as coisas fluem. O que antes parecia impossível — dormir, relaxar, amar, se encontrar — começa a acontecer naturalmente. Não porque você se esforçou mais, mas porque você parou de atrapalhar.

O “foda-se” verdadeiro não é desistência, é transcendência. É dizer: — Eu topo viver a vida como ela é, sem precisar que ela me obedeça.

E nesse momento, você é livre.

A Água Turva da Mente e o Silêncio Como Cura

Imagine um lago: um lago calmo, sereno, fundo. Mas alguém desesperado para enxergar o fundo dele mete a mão na água e começa a mexer como um maníaco. O que acontece? A lama sobe, a água fica turva, e quanto mais mexe, menos se vê.

Bem-vindo à sua mente.

A verdade é que quase ninguém suporta o silêncio, o agora, o “nada acontecendo”. Somos viciados em agitação, em estímulo, em resolver, buscar, consertar, pensar, justificar. Estamos constantemente mexendo a água, achando que isso vai trazer clareza. Mas o que conseguimos mesmo é um caldo psicológico que parece sopa de ansiedade com tempero de frustração.

Alan Watts tinha a resposta simples e brutal: — Pare de mexer. Deixa a merda decantar.

Clareza não se força. Ela acontece quando você para de atrapalhar. E isso é o paradoxo da paz: todo mundo quer encontrar paz interior, como se fosse um item escondido numa dungeon espiritual, atrás de doze mantras e uma assinatura anual do app de meditação. Mas paz não se encontra. Ela emerge — e só emerge quando você para de caçar.

Quer clareza? Fica quieto. Quer a resposta? Escuta o silêncio. Quer alívio? Para de cutucar o incômodo.

Mas claro, isso vai contra tudo que nos ensinaram. Desde pequeno você é condicionado a “fazer alguma coisa”, a resolver o problema, a lutar pelos seus sonhos e, claro, a nunca desistir. Mas às vezes o caminho mais sábio é exatamente o oposto: desistir da merda toda e esperar — não passivamente, mas conscientemente. Como quem diz: — Já mexi demais, agora é a vida que se vira.

Parece absurdo, pode até ser, mas funciona. Porque é nesse espaço entre o desespero e o controle que mora a liberdade real.

Você já tentou resolver um problema emocional acelerando pensamentos? Já tentou sair de uma crise existencial fazendo checklist? Já tentou encontrar o propósito da sua vida com cinco vídeos de autoajuda e um café extra forte? Claro que tentou. E se fodeu.

Agora tenta o contrário: fica com o desconforto, para de se explicar, deixa o barulho da sua mente morrer de tédio. Não porque você é zen, mas porque você já cansou de se bater contra a parede.

A clareza é como a água parada. Quando a mente acalma, a vida aparece, o fundo se revela. E o que antes parecia um caos insolúvel vira só você — sem filtro, sem esforço, sem lama.

Esse é o anticlímax que ninguém quer ouvir: o fim da busca é parar de buscar. E o silêncio que você tanto evita talvez seja o único lugar onde a verdade realmente mora.

Então, da próxima vez que sua mente estiver turva, cheia de porquês, vontades e ansiedade, faz nada. Senta, respira e deixa a água baixar sozinha. Porque às vezes o que falta não é mais respostas — é menos agitação.