Frey – Deuses Nórdicos

(Freyr, Frodhi, Fro, Yngvi, Ing)

“O Senhor”, “O Fértil”

Filho de Nerthus e Njord, irmão gêmeo de Freyja e marido de Gerda, Frey é o regente de Alfheim, o reino dos elfos claros responsáveis pelo crescimento e florescimento da vegetação. Frey é um deus da fertilidade, da abundância e da paz, cujo título é “O Senhor” (The Lord), enquanto o de Freyja é “A Senhora” (The Lady). Ele tem também uma simbologia solar por ser o dirigente dos elfos claros e senhor da luz. Junto a Njord e Freyja, Frey foi cedido pelos Vanir para o clã dos Aesir, como parte do tratado de paz e colaboração que pôs fim à prolongada guerra entre as divindades. Frey é um deus extremamente benéfico para a Natureza e a humanidade, sendo invocado para trazer tempo bom, calor, fertilidade, prosperidade e paz. Seu culto persistiu muito tempo após a cristianização, sendo chamado de Veraldar God, “O deus do mundo”. Outro título de Frey é Inn Frodhi, “O fértil”; também outorgava-se o nome de Frodhi aos reis para indicar sua ligação com os atributos do deus. Seu equivalente na Dinamarca era Frodhi, enquanto os anglo-saxões o reverenciavam com o nome de Ing ou Yngvi. Em alguns mitos, Frey aparece como consorte de Freyja e herdeiro dos atributos e características da sua mãe, Nerthus, a Mãe Terra ancestral. Assim como Nerthus, Frey era cultuado com procissões anuais, quando sua estátua era levada em uma carruagem para abençoar os campos, os animais e as pessoas. Em seus templos, não era permitida a entrada de homens armados e, durante as procissões, todas as batalhas e hostilidades deveriam ser interrompidas. No templo de Uppsala, na Suécia, Frey era reverenciado no solstício de inverno com um grande festival chamado Fröblot, que incluía sacrifícios (no templo dos Vikings, até mesmo humanos). Os sacerdotes encenavam dramas rituais, tocavam sinos, batiam palmas e dançavam, atitudes vistas com certo desdém pelos guerreiros, que preferiam adorar Odin e Thor. Do culto de Frey faziam parte os ritos de fertilidade, cujo objetivo era “despertar” a terra e incentivar fartas colheitas e a procriação dos animais. Conforme relatam vários historiadores, é possível que a morte cíclica e misteriosa de um grande número de reis suecos fosse decorrência de sacrifícios humanos.  Assim como os celtas, os povos nórdicos acreditavam que a missão do rei era trazer paz e prosperidade para a terra e o povo; se falhasse, deveria ser submetido a um sacrifício ritual. Frey é também associado ao culto dos cavalos, que eram a ele consagrados, fosse nas contendas ou em sacrifícios. São muitos os relatos em que o cavalo era enterrado ou queimado junto com o dono, quando este morria em combate. Outro animal sagrado de Frey é o javali. Tanto ele quanto Freyja têm javalis encantados; o de Frey, criado pelos anões Brokk e Sindri, chama-se Gullinbursti. Tinha pelos que brilhavam no escuro e corria mais rápido do que qualquer cavalo veloz. Os guerreiros nórdicos e anglo-saxões usavam figuras de javalis nos elmos, nos escudos e nos objetos cerimoniais, acreditando nos poderes mágicos e protetores desse animal. Máscaras de javali eram também usadas pelos sacerdotes de Frey, bem como pelos guerreiros pelos guerreiros suecos. Apesar de Frey não ser um deus da guerra, a proteção que oferece aos fiéis não se limita aos períodos de paz; o emblema do javali em elmos, escudos e máscaras evoca os dons protetores e inspiradores desse deus. Além dos animais sagrados, o símbolo de Frey era o barco mágico Skidbladnir, construído pelos anões e com o dom de atingir, sozinho, qualquer destino desejado. Apesar de ser grande o suficiente para abrigar todos os deuses, ele podia ser dobrado e reduzido até caber no bolso de Frey. O barco era um dos símbolos religiosos mais antigos dos povos nórdicos. Desde a Idade do Bronze, o barco era usado nas cerimônias fúnebres e nos rituais sagrados. Mesmo após a cristianização até a Idade Média, eram utilizados barcos nas procissões religiosas realizadas para abençoar as lavouras e os animais. Havia uma conexão entre Frey e as câmaras mortuárias das colinas (burial chambers, mounds). Acreditava-se que o próprio Frey jazia em um túmulo em uma colina. Colocavam-se oferendas no túmulo por uma porta, pela qual os espíritos dos mortos entravam e passavam a morar com Frey. Essa crença confirma o conceito dos cultos de fertilidade, nos quais se dá ênfase à veneração e celebração dos ancestrais, com festivais e oferendas nos túmulos. Havia uma antiga prática, chamada utiseta, na qual as pessoas pernoitavam sobre os túmulos dos ancestrais em busca de sabedoria e inspiração. Frey também era associado à ideia da peregrinação da alma pelo mar. Várias lendas relatavam a chegada de um rei pacificador, do “além-mar”, que, após governar por um período de paz e prosperidade, desapareceria no mar e deixaria o reino para um sucessor escolhido por ele. Essas lendas realçam a importância dos antigos mitos e das tradições das divindades Vanir, nas quais se valorizavam mais o renascimento e os valores ancestrais do que as promessas cristãs de ressurreição dos mortos, em um mundo divino, diferente e longínquo do dos homens e reservado apenas àqueles que preenchem certos requisitos. Frey possui uma espada flamejante que desfere golpes apenas com o comando da voz, a única arma capaz de deter os avanços de Surt, o gigante de fogo destruidor. Frey cedeu-a juntamente com seu cavalo, à deusa Gerd – ou a seu pai – como dote, para que ela aceitasse se casar com ele. Por isso, no Ragnarök, Frey luta contra Surt armado apenas com um par de chifres de alce (seu atributo que mostra sua semelhança com Cernunnos, o deus chifrudo celta, e cm o grego Pã), pois o pai de Gerd havia dado a espada mágica ao primo Surt. Frey é representado nu, com um chapéu pontudo, sentado e com um enorme falo ereto (prova de sua associação com a fertilidade e a procriação). Também pode ser retratado como um homem forte e ágil, com barba e cabelos ruivos, olhos verdes, usando túnica e calça brancas, botas e cintos de couro preto e várias pulseiras de prata nos braços. Às vezes, ele se apresenta nu sobre seu javali de pelos dourados, com um adorno de chifres de cervo na cabeça e empunhando uma espada luminosa. O grande destaque da vida de Frey, descrito em um dos poemas dos Eddas, é seu amor por Gerd, a linda filha do gigante Gymir. Após avistá-la do trono de Odin (no qual havia se sentado por um dia), Frey adoeceu de paixão. Seu assistente, Skirnir, tentou convencer Gerd a desposar Frey, oferecendo-lhe uma dúzia de maças douradas e o anel mágico Draupnir. Gerd, no entanto, recusou a proposta; somente veio a aceita-la depois de ter sido ameaçada por Skirnir com feitiços de runas malignas que lhe tirariam a beleza e a saúde. Frey conseguiu realizar seu sonho de amor, mas perdeu a espada e o cavalo. Por isso, no Ragnarök, ele é derrotado por Surt que, armado com a espada flamejante de Frey e cheio de ódio contra Asgard, passa a destruir os Nove Mundos, junto com os gigantes de fogo de Muspelheim.

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