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CULTO DOS ANCESTRAIS

Uma segunda explanação, igualmente parcial, dos fenômenos de impureza é aquela do culto dos ancestrais. Acredita-se que ele esteja baseado na impureza dos mortos. Também a proibição de certos ritos de lamento é atribuída à adoração dos mortos, enquanto que se supõe que outros surgiram de alguma atitude em relação aos mortos a ser falada à frente. Sob o princípio de que o que é sagrado em um culto se torna tabu em outro, acredita-se que o culto dos mortos, particularmente dos ancestrais, é responsável pelo tabu dos mortos no culto a Yahweh.

Quanto aos costumes de lamentação que estão sob consideração aqui, encontram-se o usar de um “saco”, significando primitivamente submissão religiosa, estendida, portanto, aos mortos como se fossem deuses. O cobrir da cabeça e o cobrir da barba vêm do mesmo motivo, que leva a pessoa a se cobrir ao ver a divindade. O retirar das sandálias era um ato comum ao se adentrar em solo santo. Assim, se isso ocorre em relação aos mortos ou seus túmulos, isso deve ter sido um ato religioso.

O rapar da barba ou da cabeça é da natureza da oferta de cabelo. O jejum tem um papel na adoração de Yahweh como lamentação; isso, da mesma maneira, deve ter sido uma parte da religião. Nudez e automutilação aparecem em outra parte como ritos religiosos; como lamentação, eles não podem ter qualquer sentido diferente

Mais uma vez, aqui, as objeções são várias. Nós mencionaremos somente a seguinte. Existem várias dessas coisas, por exemplo, jejum, que não são proibidas em Israel. Elas certamente teriam sido proibidas com base no suposto princípio de que se originariam de uma forma pronunciada de idolatria como o culto dos mortos. Isso se aplica a todas as práticas para as quais a analogia ao culto de Yahweh é encontrada. Além disso, a impureza surge por causa do corpo morto, mas o culto dos ancestrais ou dos mortos em geral não era concedido ao corpo. Ele se dirigia à “alma” ou “espírito” do morto. Nós podemos verificar isso de outros círculos nos quais o culto dos mortos existia. Para os gregos, o corpo morto, pelo menos num período da história deles, era impuro e, mesmo assim, apesar dessa crença, não há nenhuma adoração dos mortos. Não está provado que o cortar os cabelos era preparatório para uma oferta aos mortos, já que nada é dito em nenhum lugar sobre tal cabelo deixado junto à sepultura ou a fim de ser dado ao morto.

O retirar das sandálias não é, estritamente falando, um ato de adoração. Nem pode o sangue, feito por incisões, ter sido considerado como uma oferta aos mortos. Os números de costumes mencionados não são passíveis de serem interpretados como atos de adoração: nudez, rasgar o vestuário ou rolar no solo. Não está provado que o pó e as cinzas colocados sobre a cabeça eram obtidos do túmulo ou pira funerária. Porém, mesmo que fossem, isso não qualificaria o costume como um ato de adoração. Deve haver outra explicação dessas coisas com base na idolatria supersticiosa em geral.

Ainda mais, o modo como o assunto sobre a lamentação por parentes foi ordenado para os sacerdotes nos proíbe de derivar esses costumes de lamentação do culto dos ancestrais. O sumo sacerdote não podia chegar perto de um cadáver de maneira alguma. Mas aos sacerdotes ordinários era permitido executar os ritos de lamentação por seus parentes próximos, não pelos mais distantes. Se um protesto contra o culto dos ancestrais estivesse envolvido, então a proibição deveria ter sido a mais rigorosa com relação aos parentes próximos, pois eram precisamente eles que mais provavelmente receberiam esse tipo de culto.

— Retirado de: Geerhardus Vos – Teologia Bíblica – Antigo e Novo Testamento.