Castor e Pólux

Castor e Pólux eram irmãos gêmeos, filhos de Leda. Embora tivessem esta peculiaridade, eram filhos de pais diferentes. O último era filho de Júpiter e o primeiro, filho de Tíndaro, rei de Esparta e pai putativo de ambos. Pólux, sendo filho de um deus, fora agraciado com o dom divino da imortalidade, enquanto Castor permaneceu um simples mortal. Castor adorava cavalos, enquanto Pólux era mais afeito às artes do atletismo. Os dois eram inseparáveis, E desde meninos estavam sempre metidos em aventuras, exercitando sem cessar a sua força e agilidade.

Um dia, quando iam em visita a Messena, pátria vizinha de Esparta, viram passear pelos campos duas belas jovens. Castor, mais afoito, cutucou o ombro do irmão.

— Veja, Pólux, que lindas jovens!

Pólux, que também as estivera observando, franziu bem os olhos:

— De fato, caro irmão, são as mais belas moças que meus olhos já viram.

— Vamos conversar com elas.

Como iam montados em seus cavalos, logo estavam na presença das duas moças.

Aproximaram-se tanto que a respiração dos cavalos fazia agitar as vestes curtas e vaporosas das duas moças, que com as mãos tentavam a todo instante evitar que elas subissem em demasia.

Uma delas, parecendo a mais decidida, encarou os dois e perguntou:

— Quem são vocês e o que querem aqui?

— Somos Castor e Pólux, da vizinha Esparta… — disse Castor.

— … e estamos encantados com a beleza de vocês — completou Pólux.

— Como você se chama? — perguntou Castor à primeira.

— Febe é meu nome — disse ela, afastando o cabelo dos olhos.

— E você, linda jovem? — disse Pólux à segunda.

— Hilária — disse ela, erguendo a alça da túnica, que se desprendera do ombro.

Com palavras amenas e sorrisos simpáticos os dois irmãos tentaram espichar a conversa, cada vez mais encantados com as duas. Hilária, porém, percebendo que as coisas marchavam no rumo de um possível namoro, atalhou a conversa.

— Os dois irão nos desculpar, mas devemos ir embora, pois nossos noivos nos aguardam.

Sem ouvir mais nada, Hilária pegou a mão da irmã e afastaram-se, deixando os dois ali boquiabertos.

— Ora essa, são noivas… — disse Castor, contrariado.

— … de dois idiotas, por certo! — completou Pólux.

Deviam ser idiotas, raciocinaram ambos, pois como podiam deixar que suas duas belas noivas andassem sozinhas pelos campos, naqueles trajes curtos e provocantes?

Pólux, esporeando com força seu cavalo, saiu-lhes no encalço, até emparelhar novamente com as duas. Hilária e Febe, contudo, desta vez não pararam.

— Que noivos são esses, que as deixam assim soltas pelos campos?… — perguntou Castor a elas, juntando-se logo com seu cavalo ao grupo reconstituído.

— … e por que cometem tal temeridade? — ajuntou Pólux.

— Eles estão muito atarefados e não podem estar sempre ao nosso lado -disse Febe.

— Ah, já sei, são daqueles que dão mais importância ao trabalho e aos afazeres do que às suas mulheres… — disse Castor, com ironia.

— … e que depois se queixam por terem sido traídos! — disse Pólux, com um riso franco.

Hilária, sentindo o sangue subir à face, parou de andar e virou o rosto para os dois.

— Nós somos virtuosas o bastante para saber respeitar-lhes a ausência.

— E o resto do mundo, minha graciosa dama, estará também disposto a respeitar-lhes a ausência?… — disse Castor.

— … ou julgam eles, em sua inocência, que o mundo seja tão inocente quanto eles?

— Seus noivos deveriam escolher o que é mais importante para eles, afinal…

— Eu, no lugar deles, jamais desgrudaria os olhos de vocês…

— Venha, Febe, vamos embora — disse Hilária, apertando o passo com sua irmã, confusa com a conversa picotada dos dois irmãos ladinos.

— Ei, esperem!… — disse Pólux.

— … sim, só queremos conversar! — completou Castor.

Assustadas, as duas resolveram correr pela campina, o que atiçou ainda mais o desejo dos dois irmãos, pois enquanto as moças fugiam, o vento lhes erguia as vestes quase até a cintura.

— Vamos lá, Pólux!… — disse Castor, disparando numa cavalgada.

— … é pra já! — gritou Pólux, eufórico.

Montados em seus ágeis cavalos, os dois irmãos sentiam o vento agitar os cabelos enquanto perseguiam as duas lindas mulheres.

“Deus poderoso, o que pode haver de melhor neste mundo?”, pensavam ambos, enquanto cavalgavam velozmente. O amor não prima muito pela razão por isso mesmo, em momento algum os dois se perguntaram se a ação que praticavam era justa ou injusta.

— Estas garotas estão precisando de um pouco de emoção! — gritava Castor.

— Sim, veja como fogem, embora com passo lento! — respondia Pólux. Talvez, apenas, os cavalos fossem mais velozes. De qualquer modo,

Castor logo emparelhou com Hilária, que ofegava no esforço da corrida. O braço forte do cavaleiro desceu até a cintura da jovem e ergueu-a sem esforço até aconchegá-la ao seu peito. No esforço de desvencilhar-se dos braços de seu delicado raptor, Hilária perdeu o manto. Mas Castor foi gentil o suficiente para voltar até onde a túnica de Hilária caíra e juntá-la, sem descer do cavalo ou abandonar a preciosa presa.

Seu irmão também já tinha na garupa de seu cavalo a assustada Febe, que, temerosa de cair ao solo, agarrara-se à cintura de seu seqüestrador.

— Calma, não vamos lhes fazer mal!… — disse Castor, procurando acalmar Hilária e sua irmã.

— Que querem? Cupido nos alvejou, nada podemos fazer! — exclamou o irmão, cujos olhos brilhavam de prazer ao sentir o corpo de Febe assim colado ao seu.

De repente, porém, atraídos pelos gritos, surgiram os dois noivos das moças raptadas.

Eram Idas e Linceu, dois heróis messênios, que, percebendo a situação, acorreram imediatamente.

— Larguem as duas, desgraçados! — gritou Idas, possesso.

Os dois também estavam montados e logo encostaram seus cavalos aos dos raptores, que por levarem peso dobrado cada um não conseguiram escapar por muito tempo à perseguição.

— Nós estamos apaixonados por elas! — disse Castor a Idas. — Como vocês não dão à beleza delas a mesma importância que nós, resolvemos tomá-las para nós!

— Cale a boca, desgraçado! -disse Linceu.-Devolvam já as nossas noivas ou serão mortos!

Os dois gêmeos, assim afrontados, decidiram apear e enfrentar os seus rivais.

Logo estavam os quatro contendores descidos dos cavalos, enquanto as duas moças fugiam numa corrida desenfreada pelos campos.

Os dois irmãos atracaram-se numa luta corpo a corpo com Idas e Linceu, e durante um bom tempo a luta transcorreu sem vantagem visível de parte a parte. Idas, no entanto, vendo que não poderia vencer a disputa, sacou de um punhal que trazia escondido à cintura e atravessou o peito de Castor, que caiu ao solo mortalmente ferido.

— Meu irmão! — exclamou Pólux, ao ver seu irmão tombar ensangüentado.

— Este é o preço por sua ousadia! — disse Idas, limpando o ferro em sua túnica.

Pólux, cego de ódio, foi até o seu cavalo e, pegando um dardo afiado, avançou para o agressor. Antes, porém, que alcançasse o assassino de seu irmão, enterrou o dardo no peito de Linceu, que pulara à sua frente.

— Maldito, pagará caro por isto! — disse Idas, brandindo o seu punhal, Júpiter, porém, que a tudo assistia do alto, enfureceu-se com a audácia

daquele mortal que pretendia ferir seu filho Pólux e disparou no mesmo instante um raio vingador, que reduziu a cinzas o furioso Idas, bem como o cadáver prostrado de Linceu.

Pólux, vendo seu irmão Castor caído ao solo, correu em direção ao seu corpo.

— Castor morto! — exclamou, com o rosto banhado em lágrimas. — Meu irmão, como poderei viver a partir de agora? Que prazer terei em minhas caçadas sem a sua companhia, irmão querido?

Durante muito tempo ainda esteve curvado sobre o corpo do irmão, até que, tomando-o em seus braços, Pólux carregou-o até o Olimpo. Todos os deuses pararam para assistir àquela cena trágica. Pólux, entrando no salão onde estava o trono celestial de seu pai, postou-se à sua frente, tendo sempre nos braços o corpo do irmão morto.

— Meu pai, não poderei continuar a viver sem a companhia de meu querido irmão! —

disse Pólux a Júpiter. — Venho aqui para pedir que lhe restitua a vida ou então que cancele a minha imortalidade, permitindo que eu desça com ele até a morada das sombras. Lá, ao menos, continuaremos juntos.

— Pólux, seu irmão era mortal, e seu destino não pode ser alterado — disse Júpiter.

— Mas como poderei ser feliz aqui no Olimpo, estando ele apartado de mim, para sempre nas profundezas do reino de Plutão? Uma imortalidade dessas seria como a morte para mim.

Júpiter parecia inflexível, mas ao ver a dor do filho, que em momento algum largara o corpo do irmão, resolveu reconsiderar.

— Está bem, já que deseja compartilhar do destino dele, tenho uma solução — disse finalmente o pai dos deuses. — Já que você insiste em não se apartar de seu irmão, farei com que ambos passem metade do ano em meu reino, gozando da imortalidade, e na outra metade irão habitar o reino das sombras, junto aos mortos, já que meu irmão Plutão não admitiria perder um súdito que já é seu de direito.

Pólux, que não queria outra coisa senão estar sempre junto de seu irmão, vibrou de alegria. No mesmo instante, Castor abriu os olhos e os dois se abraçaram, felizes.

— Mas lembrem-se, daqui a seis meses os dois deverão ir habitar o Hades sombrio —

advertiu-os Júpiter.

— Ótimo! — exclamou Pólux. — Dividiremos assim a morte como dividimos a vida.

Castor, agradecido, abraçou-se novamente ao irmão.


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