Ausar, Auset, Heru

O historiador grego Heródoto (500 a.C) afirmou: “De todas as nações do mundo, os egípcios são os mais felizes, os mais saudáveis e os mais religiosos.” A excelente condição dos egípcios era atribuída à aplicação da realidade metafísica à sua vida diária, ou seja, a consciência cósmica total. As cenas de atividades diárias encontradas nas tumbas egípcias mostram uma correlação forte e perpétua entre a terra e o céu. As cenas são representações gráficas de todos os tipos de atividade: caça, pesca, agricultura, tribunais e todos os tipos de arte e artesanato.

A reprodução dessas atividades diárias, na presença dos Neteru (Deuses) ou com seu auxílio, significa sua correspondência cósmica. Esta correlação eterna – consciência cósmica – foi reafirmada no Asclepius III (25) dos Textos Herméticos: “…no Egito, todas as ações das forças que governam e atuam nos céus foram transferidas para a terra… mas deve-se dizer que todo o Cosmos habita no Egito como em seu santuário”. Todas as ações, não importa o quão mundanas, de alguma forma correspondiam a um ato cósmico: a aragem, o plantio, a colheita, a fabricação da cerveja, o tamanho de um copo de cerveja, o formato de uma pirâmide, a construção de navios, os combates, os jogos – todas eram vistas como símbolos terrenos das atividades divinas.

No Egito, o que hoje chamamos de religião, era tão amplamente reconhecido que nem mesmo necessitava de um nome. Para eles, não havia diferenças palpáveis entre o sagrado e o mundano. Todo o seu conhecimento, baseado na consciência cósmica, estava implantado em suas práticas diárias, que se tornaram tradições.

Os egípcios antigos acreditavam em um Único Deus que criou e concebeu a si mesmo, e que era imortal, invisível, eterno, onisciente, todo-poderoso, etc. Este Único Deus nunca era representado, as funções a atributos de seu domínio eram representados. Estes atributos eram chamados de Neteru. Somente é possível definir Deus através da multiplicidade de “seus” atributos/qualidades/poderes/ações.  Esta é a única maneira lógica, pois, por exemplo, referir-se a uma pessoa como sr. X não significa nada. No entanto, ao descrever seus atributos e qualidades, podemos conhece-lo. Durante seu reinado, o faraó Akhenaton pretendeu resumir todos esses atributos em um só – Aton. (*Mas sua ideia não seguiu adiante com seus sucessores).

O conhecimento cosmológico do Antigo Egito foi expresso no formato de uma história. Os contadores de história eram pessoas especialmente qualificadas que tinham a incrível responsabilidade de ser – Maa Kheru (Voz da Verdade). Citamos aqui três assuntos diferentes que são explicados por meio de histórias, usando quatro conceitos personificados: Ausar (Osíris), Auset (Ísis), Heru (Hórus) e Set (Seth).

1-Os quatro elementos do mundo (água, fogo, terra e ar) conforme citação em Moralia, Vol V de Plutarco: “Os egípcios dão o nome de Ausar (Osíris) a toda fonte e faculdade que criam a umidade, acreditando que esta era a origem e a substância da semente originária da vida. O nome de Set (Tífon em grego) deram a tudo o que é seco, fogoso e árido, em geral, e antagônico à umidade. Como os egípcios consideram o Nilo o derramamento de Ausar, acreditam que a terra é o corpo de Auset (Ísis), mas não toda a terra, apenas a parte coberta pelo Nilo, fertilizando-a e unindo-a a ele. Desta união, surge Heru (Hórus). Hora, que tudo conserva e nutre, isto é o abrandamento sazonal do ar ao redor, é Horu (Hórus). A esquematização traiçoeira de Set (Tífon), então, é o poder da seca, que controla e dissipa a umidade, que é a fonte do Nilo e de sua cheia.”

2-A estrutura do modelo social é expressa na lendária história de Ausar e Auset, seu filho Heru e seu tio set.

3-O papel cósmico da tríade/triângulo é expresso na relação entre o pai (Ausar), a mãe (Auset) e o filho (Heru), que é análogo ao triângulo-retângulo. Todas as histórias cósmicas do Antigo Egito são impregnadas com a estrutura da sociedade. Em outras palavras, ela deve conduzir suas práticas de acordo com os mesmos princípios cósmicos presentes nessas histórias. A história mais comum pata todos os egípcios é a de Ausar (Osíris) e sua família. Entre todas as descobertas arqueológicas, não existe nenhum registro completo dessa história. O que conhecemos dessa lenda chegou-nos por meio de diversas versões escritas pelos primeiros escritores gregos e romanos, e a mais comum é a versão contada por Plutarco.

O MODELO DE CRIAÇÃO EGÍPCIO
A seguir, mostramos uma versão resumida do modelo egípcio:

Todos os textos egípcios sobre a criação começam com a mesma crença básica de que antes do início das coisas, havia um abismo primitivo líquido – por todos os lados, sem fim e sem fronteiras ou direção. Os egípcios denominaram este oceano cósmico/caos aquoso de  Nu/Ny/Nun – estado da matéria não polarizado. Nu/Ny/Nun é o “Ser Subjetivo” símbolo da energia/matéria não formada, indefinida, não diferenciada, inerte ou inativa, o estado não criado antes da criação, não pode ser a causa de sua transformação.

Atum, que criou a si mesmo, cuspiu os gêmeos Shu e Tefnut, que por sua vez, deu à luz Nut (o céu) e Geb (a terra/matéria). A união de Nut e Geb produziu quatro filhos, Ausar (Osíris), Auset (Ísis), Set (Seth) e Nebt-Het (Néftis).A história conta que Ausar casou-se com Auset, e Set casou-se com Nebt-Het. Ausar tornou-se rei da terra (Egito) após seu casamento com Auset. Auset é a herdeira legítima. A história de Ausar (Osíris) e Auset (Ísis) é a história de amor. Com Ausar e Auset existe uma polaridade harmoniosa: irmão e irmã, almas gêmeas, marido e mulher. Isto é reflexo da crença dos antigos e dos Baladi sobre as duas terras. O termo em egípcio antigo para irmão e marido é a mesma palavra, sn, assim como sn.t significa irmã e mulher. Portanto, é preciso ter cuidado ao ver sn ou sn.t em alguns textos, e não tirar conclusões sobre incesto e similares. )Tanto Ausar (Osíris) quanto Auset (Ísis) eram adorados pelos egípcios, porém seu irmão Set (Seth) odiava Ausar e tinha ciúmes de sua popularidade. Set arranjou uma briga com Ausar, assassinou-o e cortou seu corpo em 14 pedaços (um para cada noite de lua minguante), e espalhou-o por todo o Egito. Ausar é associado à lua crescente e à lua minguante e com a natureza cíclica do Universo.

Auset partiu em busca dos pedaços de seu amado Ausar. Depois da morte de Ausar, Set, como marido de Nebt-Het, tornou-se rei do Egito, e governou como um tirano. Auset, a esposa fiel de Ausar, encontrou todas as partes do corpo do marido, exceto o falo, que havia sido engolido por um peixe. Ela reconstituiu o corpo, criando a primeira múmia egípcia. Ausar e Auset não tinham filhos quando ele morreu, porém, por meio de meios místicos, a múmia de Ausar ressuscitou por uma noite e dormiu com Auset (equivalente a ser impregnado pelo Espírito Santo). Como resultado, Auset concebeu um filho, que foi chamado de Heru (Hórus) e que foi criado secretamente às margens do Delta do Nilo. Essa ação simboliza a reencarnação e o renascimento espiritual; um elemento chave para a compreensão da crença egípcia na vida após a morte. A concepção sobrenatural e o nascimento virginal de Heru também foram incorporadas pelo Cristianismo. Quando Set descobriu a respeito da criança (Heru), tentou matar o recém-nascido. Ao saber que Set estava a caminho, Auset escondeu seu filho em Buto.

Quando cresceu, Heru (Hórus) desafiou Set pelo direito ao trono. Heru e Set vivenciaram muitas batalhas e desafios e, por fim, tanto Heru (o Ausar ressuscitado) e seu tio Set foram ao conselho de Neteru para determinar quem deveria ser o governante e os dois apresentaram seus casos. O Conselho de Neteru decidiu que Ausar/Heru deveria reassumir o trono no Egito, e Set deveria reinar sobre os desertos/áreas baldias. (Comentário do autor: A força física não decidiu o resultado da “Grande Luta”; a disputa entre Heru e Set; mas um júri formado por seus semelhantes resolveu o problema. O acordo e o princípio da co-existência pôs um fim no conflito).

Durante a batalha, Set arrancou o olho de Heru e jogou-o no oceano celestial. Tehuti (Toth) recuperou o olho que, posteriormente, foi identificado com a lua e tornou-se um símbolo de proteção muito popular. Heru usou este Olho para reviver seu pai adormecido e Ausar ressuscitou como uma alma para governar o Mundo dos Mortos. Para os Egípcios, Ausar tornou-se o espírito do passado, o Neter (Deus) dos Mortos e uma esperança para a ressurreição e a vida após a morte. Outra versão da história conta que assim que soube da tragédia, Auset (Ísis) partiu em busca dos fragmentos do corpo do marido, embalsamou-os com o auxílio do neter, Anbu (Anúbis), enterrou-os onde foram encontrados e criou santuários nesses locais. Segundo essa versão da história, a cabeça de Ausar (Osíris) foi enterrada em Abtu (Abidos), o coração, na ilha de Philae, perto de Assuan, e o falo foi jogado no Nilo e engolido por um peixe. Por isso, os sacerdotes eram proibidos de comer peixe.

Maat, A ordem Cósmica:Para o religioso povo do Egito, a criação do Universo não foi um evento físico que simplesmente aconteceu, e sim, um evento ordenado, pré-planejado e executado de acordo com uma Lei Divina ordenada que governa os mundos físico e metafísico. Por isso, lemos no Livro para Conhecer a Criação de Rá e Destruir Apep (Apophis), conhecido como Papiro de Bremner-Rhind: “Não havia ainda encontrado um local para me assentar. Concebi o Plano Divino da Lei e da Ordem (Maa), para criar todas as formas. Estava sozinho, ainda não havia cuspido Shu, e não havia cuspido Tefnut. E não havia ninguém que pudesse atuar comigo.”Maat é a Netert (Deusa) que personifica o princípio da ordem cósmica, o conceito pelo qual não só os homens, mas também os Neteru (Deuses) são governados, e sem o qual os Neteru (Deuses) são inúteis.

Amen, A força Oculta: Os egípcios afirmavam que não era possível explicar a criação de dentro dela, somente estando exterior a ela. O Criador não é o Universo criado. No papiro egípcio conhecido como Papiro Leiden, o Neter (Deus) Amen/Amon/Amun (que significa “escondido”) representa a força escondida ou oculta em que se baseia a criação. Ele é o Sopro da Vida. Apesar de indefinível, é a razão pela qual o Universo pode ser definido. O termo egípcio mais próximo a Deus é Amen-Renef (Aquele Cuja Essência Verdadeira é Desconhecida).

Tornando-se Um: A criação é a descoberta (definir a/ordenar a) de todo o caos (a energia/matéria não diferenciada e consciente) do estado primitivo. Todos os relatos do Antigo Egito sobre a criação demonstravam isto em etapas claramente demarcadas e bem definidas. A primeira delas foi a autocriação do Ser Supremo como criador e Ser, isto é, a passagem do ser subjetivo (Nu/Ny/Nun) para o Ser Objetivo (Atum). Em termos humanos simples, isto equivale ao momento de passagem do estado de sono (estado inconsciente, ser subjetivo). Assemelha-se a estar em solo firme. Esta etapa da criação era representada pelas sagas egípcias, por exemplo, a história de Atum originar-se de Ny/Ny/Nun. Nos Textos de Unas (chamados Textos das Pirâmides) há a seguinte invocação: “Salutamos a vós, Atum, Salutamos a vós, aquele que se torna a si mesmo! Vós sois ao alto em vosso nome o Altíssimo; Vós tornais a si mesmo em vosso nome Khepri (Aquele que torna a si mesmo). A sequência da criação é encontrada em muitos textos do Antigo Egito, sendo que a mais detalhada e claramente descrita está no já mencionado Papiro de Bremner-Rhind, que data do século IV a.C (e que acredita-se ser uma reprodução de um texto do Antigo Reinado, baseado no seu estilo de escrita). Uma porção deste papiro, conhecida como Livro para Conhecer a Criação de Rá e Destruir Apep (Apophis) diz: “- Concebi em meu coração, criei diversas formas de seres divinos, como as formas dos meus filhos e dos filhos dos meus filhos… – Criei o desejo com minha mão; copulei com minha mão, expeli com minha boca. Cuspi Shu e cuspi Tefnut… – Depois de me tornar um Neter (Deus), havia (então) três Neteru (Deuses) além de mim… – Criei todas as cobras, e tudo o que foi criado com elas.”

– O texto acima refere-se, entre outras coisas, aos seguintes conceitos do Antigo Egito: A criação como um Big-Bang, com a separação de partes (filhos) e partes menores (filhos de seus filhos). A dualidade da criação simbolizada por Shu e Tefnut. O conceito da Trindade (“Depois de me tornar um Neter, havia então três Neteru além de mim”). A criação de espaço/volume, onde o Universo deve se manifestar, sendo que as cobras simbolizam o delineamento espacial.

RA – AUSAR o Ciclo Perpétuo :

Os egípcios viam o Universo como um dualismo entre Maat – Verdade e Ordem – e a desordem. Amen-Renef convocou o Cosmo a partir do caos não-diferenciado ao distinguir ambos, dando voz ao ideal da Verdade. Maat, é normalmente retratado no formato duplo. O princípio dualista no estado da criação foi expresso pelo par Shu e Tefnut. O par formado por marido e mulher é o modo egípcio característico de expressar a dualidade e a polaridade. Esta natureza dualista manifestava-se nos textos e tradições do Antigo Egito, conforme mostram as descobertas arqueológicas. Mesmo os textos mais antigos do Antigo Reinado, conhecidos como Textos das Pirâmides, expressam a natureza dualista: “… e cuspiste como Shu e cuspiste como Tefnut”. Esta é uma analogia poderosa porque usamos o termo “cuspido e escarrado” para dizer que algo é exatamente igual a seu original. Outra forma de expressar a intenção da natureza dualista está presente no texto do Antigo Egito conhecido como Papiro de Bremner-Rhind: “Fui anterior aos Dois Anteriores que criei, pois tinha prioridade sobre os Dois Anteriores que criei, visto que meu nome é anterior ao deles, porque criei-os antes dos Dois Anteriores…”Neheb Kau – que significa “o provedor das formas/atributos”, era o nome dado à serpente que representa a primordial no Antigo Egito, Neheb Kau é retratado como uma serpente de duas cabeças, indicando a natureza dualista espiral do Universo.

O faraó egípcio sempre era chamado de “Senhor das Duas Terras”. Os acadêmicos ocidentais afirmam que as Duas Terras eram o Alto e o Baixo Egito. Não existe nenhuma referência que confirme essa afirmação, ou que ao menos defina esta fronteira entre Alto Egito e Baixo Egito nos textos do Antigo Egito. Por todos os templos do Antigo Egito, é possível encontrar numerosas representações simbólicas relacionadas com a cerimônia de União das Duas Terras, na qual são mostrados dois Neteru amarrando o papiro e flores de lótus. Nenhuma das plantas é nativa de uma área específica do Egito.

A representação mais comum mostra os Neteru gêmeos, Hapi (uma imagem espelhada de cada um deles), ambos como unissex com um único seio. O termo “Duas Terras” é muito familiar aos egípcios Baladi, que referem-se a ele em sua vida diária. Eles acreditam fortemente que existem Duas Terras – uma é aquela em que vivemos e a outra é onde vivem nossos gêmeos idênticos (do sexo oposto). Ambos sujeitam-se às mesmas experiências desde a data de nascimento até a data da morte. Você e seu gêmeo “siamês”, que “aparentemente” separam-se no nascimento, serão reunidos novamente no momento da morte. Os Enumeradores Egípcios Baladi, em suas lamentações, depois da morte de uma pessoa, descrevem como o falecido é preparado para unir-se a seu sósia (do sexo oposto), como se fosse uma cerimônia de casamento. Isto é remanescente das muitas ilustrações simbólicas da amarração entre as Duas Terras. Casar é atar os laços do matrimônio. Em textos tão antigos quanto os Textos de Unas (Os Chamados “Textos das Pirâmides”), descobrimos que o faraó Unas (2356-2323 a.C) une-se/ junta-se a Auset imediatamente após deixar o mundo terreno. Isto baseia-se na premissa de que já que todos os homens são Ausar em sua forma “morta”, todos se unem a seu sósia (Auset, no caso dos homens) no momento de partir do mundo terreno.O ciclo perpétuo da existência – o de vida e morte – é simbolizado por Ra (Re) e Ausar (Osíris). Ra é o Neter Vivo que desce à morte para tornar-se Ausar – o Neter dos mortos. Ausar ascende e volta à vida como Ra. A criação é contínua: é um fluxo de vida que caminha em direção à morte, e Ausar representa o processo do renascimento. Assim, os termos da vida e da morte significa a ressurreição a uma nova vida. A pessoa morta, na morte, identifica-se com Ausar, mas ressuscitará e será identificada com Ra.

O ciclo perpétuo de Ausar e Ra domina os textos do Antigo Egito, como:No “Livro para Sair à Luz”, tanto Ausar quanto Ra vivem, morrem e renascem. No Mundo dos Mortos, as almas de Ausar e Ra encontram-se, e unem-se para formar uma entidade, descrita eloquentemente: “Sou suas Duas Almas em Seus Gêmeos”. No capítulo 17 do “Livro para Sair à Luz”, o morto, identificado com Ausar, diz: “Sou o ontem, conheço o amanhã.” E o comentário egípcio sobre essa passagem explica: “O que é isto? – Ausar é ontem, Ra é amanhã?”Na tumba da rainha Neferti (mulher de Ramsés II) há uma famosa representação do Neter solar (Deus) dos mortos, como um corpo mumificado com uma cabeça de carneiro, acompanhada de uma inscrição, à direita e à esquerda: “Este é Ra que descansará em Ausar. Este é Ausar que descansará em Ra.”A “Litania de Ra” é basicamente uma ampliação detalhada de uma curta passagem do Capítulo 17 do “Livro para Sair à Luz”, descrevendo a fusão de Ausar e Ra em uma Alma-Gêmea.Os eternos opostos, Set (Seth) e Heru (Hórus), têm papeis semelhantes nas representações de ritos simbólicos relacionados à cerimônia da “União das Duas Terras”, retratados nos relevos das pedras em Lisht, perto de Men-Nefer (Mênfis). O simbolismo é poderoso, pois os dois opostos são o Um em um estado polarizado, no qual Set personifica o desejo não desenvolvido e Heru, o desejo em desenvolvimento.Tanto Heru quanto Tehuti (Toth) são mostrados em diversas ilustrações nos templos do Antigo Egito realizando a simbólica União das Duas Terras. Heru personifica a consciência, a mente, o intelecto e é identificado com o coração. Tehuti personifica a manifestação e a entrega e é identificado com a língua. Pensamos com o coração e agimos com a língua. Essas exigências complementares foram descritas na Estela de Shabaka (716-701 a.C): “O Coração pensa em que desejas e a Língua realiza o que desejas.”

Um dos títulos do rei egípcio era “Senhor da Diadema do Abutre e da Serpente”.  O diadema é o símbolo terreno do homem divino, o rei, e é formado pela serpente (símbolo da função intelectual divina) e o abutre (símbolo da função reconciliatória). A serpente representa o intelecto, a facilidade, por meio da qual o homem divide o todo em partes constitutivas, como a serpente que engole a presa inteira, e faz a digestão ao dividi-la em partes digeríveis. Um homem divino deve conseguir distinguir e reconciliar. Já que essas forças dualistas residem no cérebro dele, o formato do corpo da serpente (no diadema) segue as suturas fisiológicas do cérebro, onde essas faculdades especificamente humanas se encontram. Esta função dualista do cérebro é vivida em ambos os lados. A parte do diadema que fica no meio da testa representa o terceiro olho, com todas as suas faculdades intelectuais.

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