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A questão aqui é: como a cosmogonia de Anthares pode ser usada para os nórdicos? Este post indica como será feita a adaptação e a harmonização entre a concepção nórdica de mundo e da realidade com base no cânon de Anthares.
Antes de tudo, então, vamos conferir como é a visão nórdica, sinalizada como citação, intercalada com os nossos comentários.
A CRIAÇÃO DOS MUNDOS
A história da criação do mundo, segundo a Tradição Nórdica, é relatada no poema épico islandês “Völuspa“, que faz parte da coletânea de textos antigos Poetic Edda, onde Edda significa “avó” e é sinônimo de Erda, a Mãe Terra ancestral. “Völuspa” foi traduzido como “As Profecias – ou a Visão – da Grande Vala” (vidente, profetisa). Acredita-se que o poema tenha sido escrito por uma mulher, em torno do ano 1000, quando as pessoas temiam o fim do mundo, devido à sucessão inexplicável de três tenebrosos invernos que poderiam ser o prenúncio do “inverno sem fim” (Fimbul), precursor do Ragnarök (“fim dos tempos”).
A cosmogênese nórdica é centrada no perpétuo conflito entre as forças benevolentes e maléficas da Natureza, um dualismo universal representado pelo fogo e pelo gelo. Na visão da profetisa, o universo nasceu da união dessas energias opostas: a expansão, pela força ígnea, e a contração e a cristalização, pelo gelo.
Esse dualismo universal não existe em Anthares. Mas os dois elementos citados encontram uma certa conexão com o nosso universo a partir do Primeiro Discurso, onde a criação é descrita da forma como a conhecemos na ciência: com a luz expandindo a imensidão do Universo, desbravando a escuridão do vazio. Nesse caso, estamos falando especificamente do (1) espaço total da Realidade (dimensionada pelo universo dos Acsï, o “universo espiritual”) e do (2) universo físico que está em constante expansão (e assim continuará até encontrar a totalidade do que ele pode ser, que é justamente o tamanho do universo dos Acsï). Isso, contado de alguma certa forma e reinterpretado pela tradição oral, teria gerado essa versão dos nórdicos.
No início dos tempos, segundo a mitologia nórdica, não existia nada: céu, terra ou oceano; existia somente um abismo incomensurável, um enorme buraco negro chamado Ginungagap. Nesse vazio primordial, sem forma, cor ou vida, após incontáveis éons (divisão do tempo geológico) surgiram duas regiões distintas: uma situada no sul, regida pelo fogo cósmico, chamada Muspelheim; e outra no norte, imersa na escuridão, dominada pelo frio e pelo vento, chamada Niflheim.
(1) Perceba que Ginungagap combina com o “abismo” narrado em Gênesis 1:1-2, onde também é dito que, do ponto de vista humano (ou do universo físico), não havia nada ainda. Isso concorda com a mitologia nórdica, apesar dela notadamente incluir a própria existência dos deuses, que são mero acaso natural.
(2) O “vazio primordial” é a escuridão em Anthares, a partir de onde surgiu a vida, porém, não propriamente dela, apenas nela. Em Anthares, as coisas não ‘surgem” do nada, elas são criadas do nada por Nuhat
(3) As duas cidades citadas acima são um dualismo tão rudimentar que talvez nem sequer precise ser adaptado, ou podem ser considerados como o paraíso e o inferno, talvez até como o Éden e o Tártaro, já que existe a ideia de um guardião com uma espada de fogo, o que combina com o relato abaixo.
Esses mundos antagônicos foram se aproximando um do outro e, após milênios, se encontram no meio de Ginungagap. No centro de Niflheim, jorrava sem parar a fonte Hvergelmir, que alimentava doze grandes rios chamados Elivagar; à medida que a água recebia as lufadas do vento gélido, ela congelava, transformando-se em imensos blocos de gelo que rolavam ruidosamente para dentro do abismo. Muspelheim, ao contrário de Niflheim, era banhado pela luz e seu fogo perpétuo era guardado por Surt, um gigante, dono de uma espada flamejante. Fagulhas que saíam das chamas e da espada eram levadas pelo vento e caíam sobre os blocos de gelo no fundo do abismo, derretendo alguns.
(1) A água que jorra de Hvergelmir pode ser associada ao rio que vertia do Jardim do Éden. (2) Surt, sem dúvida alguma, é o equivalente ao nosso Daxa. Clique e entenda o motivo, lendo seu apelido em negrito lá no post.
O vapor criado se condensou e, ao se depositarem camadas sobrepostas, preencheu o espaço central do abismo. Pelo seu movimento, as forças primevas do fogo e do gelo criaram a fricção necessária para ativar o potencial não-manifesto de Ginungagap e o impregnaram com a centelha geradora da vida.
ATENÇÃO: Daqui em diante, praticamente nada serve para a harmonização que faremos. Mas siga até o final, onde explicaremos como isso será resolvido.
Surgiram assim dois seres primordiais: uma vaca gigantesca – Audhumbla – e um gigante hermafrodita – Ymir, a personificação do oceano congelado e o ancestral de todos os Hrim, Thurs ou Rimethursar (gigantes do gelo). No início, os dois seres encontravam-se longe um do outro, mas Ymir sentiu-se só e faminto e começou a perambular, até encontrar Audhumbla. Ela o recebeu com carinho e permitiu-lhe se alimentar do leite que saia de suas nove tetas. Movida também pela fome, Audhumbla começou a lamber um bloco de sal congelado, até que dele formou-se um ser sobrenatural com feições humanas, chamado Buri. Enquanto isso, Ymir adormeceu deitado na beira da geleira e, aquecido pelas lufadas de ar quente que chegavam de Muspelheim, começou a suar. Do suor que brotou de suas axilas nasceram uma moça e um rapaz e, das virilhas, um ser gigante com seis cabeças – Thrudgelmir – que por sua vez, gerou Bergelmir, o progenitor de todos os gigantes de gelo. Quando os gigantes perceberam a presença de Buri e de seu filho Bor (que pode ter sido gerado apenas por Buri, um hermafrodita, ou com a moça nascida da axila de Ymir), partiram para a luta, iniciando a eterna rivalidade entre deuses e gigantes, que representavam as forças opostas do bem e do mau.
A batalha durou muito tempo sem que houvesse vencedores, até que Bor casou com Bestla (filha do gigante Bolthorn). Eles geraram três filhos poderosos – Odin (espírito), Vili (vontade), e Vé (sagrado) – que se uniram ao pai na luta contra os gigantes, matando, por fim, o mais temido e sagaz deles – o grande Ymir. O sangue que jorrou dos ferimentos de Ymir provocou um dilúvio, no qual todos os gigantes pereceram, exceto Bergelmir, que conseguiu escapar com sua mulher em um barco e se refugiou em uma região chamada Jötunheim (“A Morada dos Gigantes”). Lá, eles procriaram, multiplicando-se, e geraram descendentes que continuaram a ser inimigos de deuses e humanos, perpetuando assim a disputa original. Odin, Vili e Vé, satisfeitos com a morte de Ymir, decidiram melhorar o aspecto desolado de seu habitat e modelar um mundo novo e melhor. O corpo do gigante foi utilizado como matéria-prima, triturado no grande “Moinho Cósmico” e, de seus tecidos, Midgard (“o Jardim do Meio”), a própria Terra, foi construída. Posteriormente, Midgard foi colocada no centro do espaço vazio e c arcada por baluartes feitos das sobrancelhas de Ymir. Do sangue e do suor do gigante formou-se um grande oceano ao redor de Midgard; de seus ossos, foram modeladas montanhas e colinas; de seus dentes, elaborados rochedos e, de seus cabelos cacheados, surgiram árvores e o resto da vegetação. Os deuses, ao final, ao admirarem sua obra, ainda suspenderam o crânio de Ymir sobre a terra e o oceano, como uma abóbada celeste, e salpicaram seu cérebro no céu, formando as nuvens.
Para o post não ficar muito grande, você pode continuar lendo o restante da mitologia neste link.
Ou pode ler o post sobre a harmonização mais detalhada da Mitologia Nórdica com Anthares, neste link.
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