O significado, para os gregos, de Elpis ter sido deixada para trás no pote de Pandora, e o significado potencial para nós, hoje, tem sido tema de debates intrigantes entre estudiosos e pensadores desde a invenção da escrita e talvez até antes disso.
Para alguns, reforça a terrível natureza da maldição de Zeus sobre os homens. Todos os males do mundo foram enviados para nos atormentar, argumentam eles, e nos foi negado até o consolo da esperança. O abandono da esperança, afinal de contas, é muitas vezes usado como expressão que prefacia o final do cuidado ou da luta. Os portões do inferno de Dante ordenavam a todos os que entravam que abandonassem qualquer esperança. Como é terrível, então, acreditar que a esperança possa nos abandonar.
Outros defendem que Elpis significa mais do que “esperança”, sugerem que significa expectativa e não apenas isso, mas expectativa do pior. Presságio, em outras palavras, apreensão e sentimento de perdição iminente. Essa interpretação do mito de Pandora sugere que o espírito final preso no pote era, na verdade, o pior de todos, e que, sem ele, o homem pelo menos fica sem um pressentimento de como seu destino é terrível e da crueldade sem significado da existência. Com Elpis trancada, em outras palavras, somos, como Epimeteu, capazes de viver cada dia, displicentemente ignorantes ou, pelo menos, não prestando atenção, às sombras da dor, da morte e do fracasso supremo que pairam sobre todos nós. Essa interpretação do mito é, de um ponto de vista sombrio, otimista.
Nietzsche olhou para ele ainda de outro modo, ligeiramente diferente. Para ele, a esperança era a mais perniciosa de todas as criaturas no pote, porque a esperança prolonga a agonia da existência humana. Zeus a tinha incluído no pote porque queria que ela saísse e atormentasse a humanidade todos os dias com a falsa promessa de que aconteceria alguma coisa boa. A prisão dela por Pandora foi um ato de triunfo que nos salvou da maior crueldade de Zeus. Com a esperança, argumentou Nietzsche, somos bobos o suficiente para acreditar que há um sentido na existência, um final e uma promessa. Sem ela, pelo menos podemos tentar ir adiante e viver livres de aspirações delirantes.
Esperançosamente ou desesperadamente, podemos decidir por nós mesmos.