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Um Polvo no Elevador

–Me falaram que esses elevadores subterrâneos demoram muito pra chegar lá embaixo, é verdade? – Perguntou Arnaldo, um homem baixinho, escuro e muito inteligente.

–Rá! Já está ansioso né? Não se preocupe soldado, quando passar no teste tem um elevador melhor. Esse aqui é um modelo antigo que usam na admissão por conta do Info-Injetor. Logo iremos passar por ele. – Disse Rodolfo, o examinador. Ele era alto, loiro e mesmo conversando casualmente, seguia o protocolo com muita rigidez. – Todos tem uma história diferente do porquê se candidataram para vir aqui. Já que se você falhar no teste vai virar comida dos Jughu’lus me diga, por que decidiu se candidatar justamente na área 51, Arnaldo? 

–Sabe, desde moleque eu gostava dos filmes do Alien, ET, Homens de Preto e outros filmes do gênero. Meus colegas de escola diziam que por eu ser baixinho e fraco nunca poderia entrar para o exército, então tive de tomar um caminho paralelo…

–Foi por isso que você foi pra Nasa? – interrompeu Rodolfo – Nunca poderia imaginar isso!

–É, isso mesmo. Modéstia à parte, aquelas equações realmente foram importantíssimas para o Gustauv fazer suas descobertas. Enfim, eu decidi tomar um caminho paralelo e ir para a Nasa. Agora que o Presidente decidiu aumentar a verba de exploração espacial achei que fosse uma boa hora para conhecer a área 51.

–Estamos chegando perto do Info-Injetor. Se prepare, os mais inteligentes sempre sofrem mais. 

O elevador tocou um aviso: “Atenção, você está chegando na zona do Injetor. Caso sinta dores de cabeça muito fortes ou náuseas não avise o examinador. Se ele perceber que você é um fracote, será desqualificado.”

–He he he… Eu adoro esse cara. – riu Rodolfo.

O elevador, que era de ferro maciço, tornou-se verde da cor d’um abacate e o elevador tocou outro aviso: “Iniciando processo de Injeção”.

Arnaldo sentiu uma dor de cabeça insuportável. Era como se memórias do passado viessem à tona muito rapidamente. A dor era tanta que começou a espumar pela boca, mas logo limpou com a gola do uniforme e fingiu que nada acontecia.

–Rá, você tem espírito mesmo!

–Aaaah! – Gritou Arnaldo – Então o presidente é um deles? Meu Deus! Os atores de Hollywood são todos uns demônios! A lua vai ser obliterada em 10 anos?  Foi a tecnologia dos Junghu’lus que nos levou para outras galáxias? Todo aquele papo de buraco de minhoca é uma farsa! O que aconteceu com Griggs Rogers e por que ele é tão perigoso para os Estados Unidos?

–Se acalme. Se pensar demais sua cabeça vai explodir, espertalhão. Não imaginei que você descobriria que o presidente é um deles. Sim, o presidente dos Estados Unidos já não é um humano desde a virada do século XIX. As outras perguntas eu não vou me dar o trabalho de responder, He he he… Se quiser descobrir vai ter que passar no teste.

–Meu Deus! Quais são as implicações? Meu Deus! Você sabe o que tudo isso significa, Rodolfo? Meu Deus do céu! 

Enquanto o elevador descia, um silêncio opressor tomou conta do elevador. Arnaldo já não estava muito interessado em qualquer coisa que Rodolfo podia dizer e Rodolfo estava acostumado demais com esse tipo de situação para interromper os pensamentos do recruta.

Depois de 15 minutos de silêncio o elevador parou.
–Chegamos? – perguntou Arnaldo.

–Falta um pouco ainda. Só viemos pegar um prisioneiro que vai ser transferido lá pra baixo. Sabe como é, né? Com um elevador lerdo desses não posso me dar o luxo de perder a viagem.

A porta se abriu revelando uma doca de enormes naves espaciais. Algumas eram grandes e redondas, enquanto outras pareciam mais ágeis, assemelhando-se a triângulos. Arnaldo, não pode ver mais da doca por conta de um enorme jarro de vidro com um polvo roxo dentro. 

–Esse camarada aqui que iremos levar. Só não nesse tamanho, não caberia no elevador. – E atirou no vidro uma ampola azul-claro que diminuiu o polvo a ponto de caber na palma da mão. – Agora sim! Você vem comigo, senhor Imókrastos.

–Algum dia eu ainda vou destruir todos vocês, cachorrinhos do sistema! Vivem a vida inteira para defender o planeta de um mal que vocês mesmo criaram! – Respondeu o polvo de dentro do vidro.

Logo a porta do elevador fechou-se e o elevador tornou a descer.

–Esse aqui é um figuraça também! – começou Rodolfo – Iniciou uma organização mercantil que se negava a pagar impostos para Federação e logo se tornaram uma potência em todas as galáxias. Tiveram de contratar mercenários para proteger a operação. Não só eram inimigos da Federação mas também se negaram a cumprir as exigências dos barões do Mercado negro. Não fosse a aliança que a Federação fez com os Mercenários, provavelmente esse carinha aqui  – disse enquanto limpava o vidro com os dedos – o Imókrastos, tiraria a Federação do poder. 

–Vocês são todos uns nojentos! Além de me prender ainda contam uma história falsa; tudo que eu estava fazendo era vender meus produtos. Apareceram uns brutamontes quebrando tudo para vir cobrar impostos; Impostos? Vá taxar a avó, desgraçados! – Respondeu Imókrastos.

–Eu ainda não consegui entender tudo isso. Me dê um pouco mais de tempo para pensar, por favor. – Disse Arnaldo.

–Ah, tudo bem. – Dessa vez Rodolfo ficou um pouco chateado de não poder esbanjar sua memória de elefante.

Depois de 5 minutos, Arnaldo escutou uma certa voz em sua cabeça: “Hector Berlioz? Olha que interessante! Um humano que fez o dever de casa. Não é todo dia que se acha um espécime de melodia interna tão acurada!” Arnaldo ficou confuso com o que estava acontecendo: “Não precisa dizer nada. Eu sei o que está pensando e o que pensou há pouco. Adorei seu plano de explodir a instalação, mas já vou logo avisando que aquela saída de emergência não está mais ali.” Arnaldo levou um susto quando o alienígena mencionou seus planos.

–Ele está te atormentando? – Percebeu Rodolfo – Não confie em nada que esse polvo disser. Os planos revolucionários podem até ser bonitos, mas no final ele acaba preso numa jarra de vidro. Entenda uma coisa: a Federação NÃO vai deixá-lo vender seus produtos; os Mercenários NÃO vão permitir que ele tenha os menores preços e você NÃO deve levar Imókrastos a sério. Ele é só um polvo roxo em uma jarra de vidro He he he… leve a experiência como parte do teste. – E botou-se a assobiar “Love me do” dos Beatles.

Imókrastos continuou: “Esse imbecil desse examinador, mal sabe ele que vai virar pó junto com a base que tanto ama. Rá! Então, aquela saída de emergência não existe mais. Eles mudam os cômodos de lugar todos os anos justamente para que doidos que estão dispostos a morrer pelo que acreditam, como você, não possam destruir dados importantes. Sabe, eu adoro isso. A sua sorte é que decidiram fazer minha transferência justo hoje. Quando o elevador abrir, corra para a esquerda e darei as instruções.” Arnaldo ficou feliz que teria auxílio em sua missão, mas ainda estava nervoso. E se eles soubessem do plano? “Relaxa, se soubessem já teriam feito alguma coisa. Não faz sentido. Por que trariam um dos membros da Resistência Armada para dentro da instalação central?”

–Chegamos. – Disse Rodolfo – Foi um prazer conhecer você, Arnaldo. É uma pena que esteja do lado errado. – E atirou uma arma de eletrochoque, paralisando Arnaldo. – Esse aqui é o piso dos prisioneiros. Uma vez que entrarem, não poderão sair. Não queremos que conheçam mais do que devem. Aproveitem o gás sonífero; He he he… Adeus. – E botou uma máscara de gás na cara enquanto descia uma nuvem de fumaça sobre eles.

Antes de Arnaldo desmaiar, Imókrastos disse: “Se você sobreviver, me encontre na cratera de Mariana. Todos por lá me conhecem e saberão onde levá-lo. Esperarei um mês.” E caiu.

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1 avaliações encontradas.

Plot Execução Escrita Estilo

Apesar de sermos apresentados a apenas um corte muito pequeno da vida desses personagens, o autor nos guia de forma tão magistral que somos capazes de compreender tudo. Há muitas pontas soltas, claro, mas isso apenas serve para nos deixar com vontade de ler mais sobre as aventuras de Arnaldo e Imókrastos.
Claro, se tudo der certo para eles.
Tanto o enredo, quanto sua execução são muito bons, ficando apenas alguns detalhes de escrita que atrapalham a leitura, especialmente no começo. Mas parece que a própria história dá uma guinada e fica mais clara, direta e fluida, conforme nos encaminhamos para o final do conto.
Por fim, é necessário dizer que o estilo de Hiel é único. Misturando uma linguagem mais rebuscada, clássica, com aspectos modernos, faz com que se crie uma verdadeira marca no conto. Goste ou não, é marcante.