Mônica acordou às 14h da tarde, pegou o celular. Verificou se alguém tinha lhe respondido e Dom lhe mandou um oi. Começaram a conversar.
Ela passou a tarde toda deitada em sua cama, disse que em seu trabalho estava uma correria, mas a realidade é que estava com as pernas para o alto.
Mônica tinha trinta e cinco anos, mas aparentava ser mais nova.
A beleza exótica não era o seu único dom, mas também a inteligência fora do comum, sua altura que fazia chamar a atenção por onde passava, sua dicção bem articulada, sua voz um pouco rouca, e mais ainda seus gestos que eram a cereja do bolo na armadilha em que capturava suas vítimas.
Durante toda a conversa, se revelava uma mulher bem sucedida, romântica, parceira do seu companheiro, amante de passeios ao luar e que era para casar e ter filhos.
Assim, os homens caiam em sua lábia, mas mal sabiam quem era.
Mônica ou Medusa?
Mônica de nascimento, e Medusa por construção.
Medusa era o seu codinome dentro da quadrilha de estelionatário a qual participava. Todos a conheciam assim.
Ela atraia as vítimas, roubava seus dados e conseguia tomar todo o patrimônio que elas construíram.
Sua obsessão era tão grande pelo dinheiro e pelos status, que não tinha limite até onde deveria ir para conseguir suas vítimas.
Chegou uma hora que em seu coração, o dinheiro não era o mais importante, mas crescia o desejo de manipulação e o de ser cada vez mais poderosa
Don morava a uns 300 km de onde Mônica se encontrava. A conversa foi tão boa e tão envolvente, que ele queria encontrar aquela mulher fantástica que ele conheceu pelo Tinder.
Fazia tanto tempo que ele não se apaixonava por uma mulher apenas pelo conversar. Eles precisavam daquilo, sugeriu ele.
Ela topou, pois em seu coração sabia que ele seria mais uma vítima fácil aos encantos de Medusa.
Don era um homem bem sucedido, um médico de trinta e três anos, 1,82 de altura, forte, bonito e inteligente.
Após uma semana de conversa, se encontraram. Essa era a tática da Medusa: conquistava sua presa, ganhava sua confiança e dava o bote.
Só na terceira vez em que se encontravam, aceitava ir para a casa da vítima, pois não queria que pensasse que ela era mulher fácil, pois com isso ficava mais tranquilo, e facilitava a sua ação.
Mas naquela noite, algo deu errado, Mônica foi ao banheiro, e quando voltou, Don estava caído no chão do quarto sem respirar. Ele estava morto.
Antes de ir embora, se safar do ambiente, Mônica reparou algo estranho, que no sinal de nascença que Don tinha no lado direito do pescoço, havia uma mancha estranha.
Três meses se passaram, e Mônica estava em outra cidade pronta para aplicar suas habilidades.
Na fila de um mercado, enquanto andava com seu carrinho de compras, esbarrou em um rapaz, e a primeira coisa que reparou foi em uma marca que ele tinha no lado direito do pescoço.
O susto foi tão grande que conferiu para ver se não era o Don, e o alívio veio quando percebeu que não era ele.
Mas outra coisa lhe chamou a atenção, sentia que aquele homem era bem sucedido, e seria uma vítima perfeita.
Ela tinha o faro pra detectar homens de requinte, de posição e de dinheiro.
Conseguiu se aproximar, e mais uma vez, conquistou
Gregório era um homem de trinta e três anos, um advogado de sucesso e com o nome prestigiado, de 1,85 de altura, forte, bonito, gentil e muito inteligente.
Toda vez que ela olhava para ele, lembrava um pouco de Don, por possuírem algumas características parecidas.
E ela fez de novo, conquistava, ganhava e depois de um tempo topava ir para a casa da vítima. Não queria parecer fácil.
Na terceira noite em que estavam na casa de Gregório, deitados no sofá, uma noite de cinema, ambos capotaram, e quando Mônica acordou, Gregório estava morto, também com uma mancha estranha no sinal do lado direito do pescoço.
Como era bem treinada, Mônica conseguiu fugir do ambiente.
Um ano depois, mesmo sendo fria e calculista, Mônica demorou um tempo pra se recuperar das coisas que presenciou.
Ainda com toda frieza que carregava, podia se lembrar daquelas cenas, e lutava para que aquilo não ficasse em sua cabeça. Mas conseguiu seguir sua vida, seus planos e sua carreira.
Voltou para o aplicativo, em um outro lugar tão distante de tudo o que tinha acontecido. Alguém lhe respondeu.
Um homem atraente, de 1,80, trinta e quatro anos, formado em engenharia e atuante na área, lhe chamou a atenção.
Conversa vai, conversa vem e decidiram se encontrar. No primeiro encontro ocorreu tudo bem, mas no segundo, algo lhe chamou a atenção: aquele homem também tinha um sinal de nascença no lado direito do pescoço, igual a Don e a Gregório.
Na hora ela quis abandonar o lugar, mas depois percebeu que deveria ficar, e era coisa da sua cabeça, em que tudo não passava de coincidência, já que estava muito longe das outras cidades que ocorreram aquelas mortes e não acreditava em nada que a ciência não poderia explicar.
E como já se sabe a história, no terceiro encontro ela topou visitar a casa dele.
Quando foi ao banheiro na hora do jantar, ao voltar, se deparou com Bili morto, a cabeça dentro da pia e uma mancha estranha no lado direito do seu pescoço.
Conseguiu fugir, aquilo lhe deixou com medo, mas não a paralisou.
Por mais que algumas situações mexessem com ela, não se deixava levar pelas emoções, tinha uma reputação a zelar, era Mônica, a Medusa, a mulher mais indomável que existia.
Por mais que o laço estreitasse para o lado dela, nunca, ninguém, até aquele momento, tinha conseguido ser mais ligeiro do que ela, e estava sempre um passo à frente de suas vítimas e inimigos.
Seus planos eram muitos, deveria trabalhar duro, arduamente. O show deveria continuar.
Como Mônica era ser humano, batia o medo, mas ele era pequeno demais perto do que ela representava para a máfia, então decidiu atacar novamente.
Por mais que algumas situações mexessem com ela, não poderia mais perder tempo, pois tempo era dinheiro.
Foi para uma outra cidade distante, mais ou menos 500 km, conheceu um homem chamado Alexandre. Era alto, bonito, corpo atlético, bem sucedido como a maioria dos homens que escolhia para atacar, e psiquiatra de renome em toda aquela cidade.
Era um homem culto, um tanto inteligente, falava cinco idiomas pelo menos, e procurava por uma mulher para se relacionar, pois segundo ele sentia saudade de se apaixonar novamente.
Mas os planos da Medusa eram outros. Apenas dar o bote, sair de sua vida e da cidade.
Em um sábado de sol, foram pregar uma praia, e Mônica reparou algo na coxa esquerda de Alexandre, um sinal de nascença, como de Don, Gregório e Bill, mas em lugar diferente. Não era possível, devia ser apenas coisa de sua cabeça.
Os dias se passaram, e Mônica não teve sucesso em sua missão, e decidiu desaparecer. Algo deu errado. Foi a primeira vez que isso aconteceu depois de muitos anos. Qual foi seu erro? Pelo menos ele não morreu.
Um certo dia, em um dia qualquer, Mônica escutou sobre um caso de uma máfia que atuou alguns anos atrás em seu país, e que poderia estar ainda atuando.
Eram cientistas que realizavam experimentos clandestinos em uma suposta clínica de fertilização, prometendo filhos a mulheres estéreis que estavam tentando engravidar.
Há trinta e quatro anos, um casal caiu em uma armadilha, foram enganados. Ela com vinte e dois anos e ele vinte e sete.
Receberam a notícia da gravidez e celebraram. Só que com o passar dos dias, sua barriga foi crescendo mais do que o esperado. A notícia era de que só havia uma criança, mas, quando chegou o dia de dar à luz, uma grande surpresa: eram cinco crianças, mais especificamente, cinco meninos.
O pai prometeu denunciar a clínica, pois a vida da sua mulher estava em risco, mas não teve a chance de cumprir a sua palavra, tanto ele quanto a sua mulher foram brutalmente assassinados.
O paradeiro dos meninos não se conhecia, mas a informação que se tinha, era que cada um dos quíntuplos foi levado para famílias diferentes em cidades diferentes. E ainda corria uma informação de que cada um dos irmãos teria uma marca no corpo em comum que os identificava como cinco gêmeos, mas não se sabia qual.
Mônica se calou e ficou reflexiva.
Bento era o nome do próximo que lhe mandou mensagem no aplicativo. Começaram a conversar, marcaram um encontro e foram se conhecer.
Não era novidade que atraia somente homens bem sucedidos.
Conversa vai, conversa vem naquela noite em que estavam no restaurante mais badalado da cidade, já em uma outra cidade em que ela se encontrava.
Ele tinha 1,83 de altura, empresário, belo, corpo atlético e falava tão bem como ninguém. Seus pensamentos eram tão articulados, que parecia que o impressionante rapaz tinha saído de um livro de filosofia da Grécia Antiga. Ela se pegou pensando: “com tantos homens bonitos, como eu não me apaixono?”, mas ela tinha um diferencial da maioria das moças, era fria e calculista.
Em um dado momento da conversa, ela reparou algo quando ele baixou o colarinho para coçar seu pescoço, algo incomodava. Foi quando notou o mesmo sinal que tinha em Dom, Gregório, Bill e Alexandre, sendo o último na coxa esquerda.
Assustada, deixou claro em seu rosto, se levantou e foi ao banheiro. Na volta, Bento perguntou se estava tudo bem, e ela disse que estava, mas que precisava ir para casa. Então, ele se prontificou a deixar em casa, mas recusou.
Será que tudo fazia sentido? Será que Don, Gregório, Bill, Alexandre e Bento eram os quíntuplos desaparecidos?
Ela saiu da cidade.
Em uma certa tarde ensolarada, decidiu se dar folga. Mônica foi caminhar pelo calçadão da praia.
Avistou um homem enquanto caminhava. Aquele era Don? Não seria possível.
Mais pra frente, avistou outro. Será que era Gregório? Não era possível. Esses homens estavam mortos, ela presenciou com os próprios olhos.
De repente, ela apagou.
Quando acordou, estava em uma sala vazia com um pouco de breu, iluminada por uma pequena fresta de luz. Ainda era dia.
“Olá, florzinha, aliás, Medusa”, era Alexandre falando, e continuou: “Lembra de mim? Ah, e lembra dos meus outros irmãos?” Mônica também avistou Don, Gregório, Bill e Bento.
“Mas como assim, não estavam mortos?”, foi o que ela pensou.
“Acho que deve estar se perguntando como estão vivos. Simples, você conferiu a respiração deles? Não? Acho que seu plano começou a falhar aí”.
Alexandre fez uma pausa e continuou: “Sabemos que você descobriu sobre a notícia dos quíntuplos, aliás, nós queríamos que você descobrisse. Vou até um pouco mais além: não foi você que veio até nós, nós que chegamos até você. Surpresa”.
Mônica não conseguia acreditar que estava escutando e presenciando tudo aquilo.
“Os bebês que foram mandados cada um para uma família diferente e em lares diferentes, adivinhe, somos nós! E sabe quem foi o cretino que nos separou de nossa mãe, adivinhe mais uma vez: seu pai”.
Mônica começou a gritar que era mentira, e Alexandre a interrompeu, sem dar a mínima para o que ela falava.
“Seu pai trabalhava na clínica clandestina em que nossos pais foram brutalmente assassinados, e ele foi o responsável por tirar a vida deles e se livrar dos corpos”.
“É mentira, é mentira, meu pai nunca faria uma coisa dessa. É mentira”.
“Crescemos sem pai, sem mãe, abandonados e largados em famílias cruéis. Mas ainda bem que nos encontramos, e juramos que a vingança seria feita. Seu pai morreu e só restou você, então, você vai pagar por ele”.
Dito isto, os quíntuplos pegaram um fórceps, abriram a boca de Mônica para lhe arrancar a língua e, depois, abriram as suas pernas e arrancaram os seus órgãos com o instrumento cirúrgico como se ela estivesse num parto.
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